Artigos e Opinião

EDITORIAL

Socorro à Santa Casa expõe má gestão

Não se trata de um episódio isolado. Ao longo do ano de 2025, esta foi a segunda vez que o poder público precisou lançar mão de ajuda extraorçamentária para manter o hospital

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No dia 30 de dezembro de 2025, quando a expectativa natural é de balanços, de encerramentos e de algum respiro administrativo, surgiu mais um capítulo da crise crônica da Santa Casa de Campo Grande.

Um acordo firmado às pressas garantiu novo fôlego financeiro ao maior hospital de Mato Grosso do Sul, reunindo recursos da Prefeitura, do governo do Estado, de emendas parlamentares e, claro, da verba regular do Sistema Único de Saúde (SUS).

O socorro evitou um colapso imediato, mas reforça um diagnóstico que já não pode mais ser ignorado: a Santa Casa vive uma crise estrutural de gestão.

Não se trata de um episódio isolado. Ao longo do ano de 2025, esta foi a segunda vez que o poder público precisou lançar mão de ajuda extraorçamentária para manter o hospital funcionando.

A recorrência desse tipo de intervenção revela que o problema não está apenas na falta pontual de recursos, mas em um modelo de administração que, há anos, demonstra incapacidade de se sustentar com previsibilidade, planejamento e eficiência.

A Santa Casa, instituição centenária e essencial para o atendimento de alta complexidade no Estado, parece não conseguir se manter em pé por conta própria. Já foi amplamente noticiado que uma das raízes dessa fragilidade está no peso do endividamento bancário.

Juros elevados, decorrentes de decisões financeiras tomadas no passado sem o devido cuidado, consomem parcela significativa do orçamento e drenam recursos que deveriam ser direcionados à assistência, aos profissionais de saúde e à modernização da estrutura hospitalar.

É evidente que há, do outro lado, um problema histórico de subfinanciamento do SUS, realidade que afeta hospitais filantrópicos em todo o País. No entanto, esse argumento, por si só, já não é suficiente para explicar a situação da Santa Casa de Campo Grande.

Quando a exceção vira regra e os pedidos de socorro se repetem, torna-se legítimo questionar a forma como o dinheiro é administrado e quais prioridades têm guiado a gestão da instituição.

Nesse contexto, a exigência do governo de Mato Grosso do Sul por uma auditoria independente não apenas é correta, como se mostra indispensável. Trata-se de um passo mínimo para garantir transparência, identificar gargalos, apontar responsabilidades e, sobretudo, reconstruir a credibilidade da administração hospitalar.

Recursos públicos, ainda mais em volume crescente e fora do orçamento regular, exigem controle rigoroso e prestação de contas clara à sociedade.

A Santa Casa cumpre um papel insubstituível no sistema de saúde estadual. Justamente por isso, não pode continuar refém de improvisos financeiros e de uma gestão que reage sempre no limite do colapso. O acordo firmado agora resolve uma urgência, mas não resolve o problema.

Sem mudanças profundas, profissionalização da gestão e compromisso real com a transparência, novos acordos emergenciais continuarão surgindo – sempre no apagar das luzes, sempre tarde demais.

Artigos e Opinião

Educação 5.0 vai da tecnologia ao afeto

Hoje o conhecimento é instantâneo, mas formar apenas mentes para o mercado é insuficiente

30/12/2025 07h45

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A mensagem do Papa Leão XIV durante o Jubileu do Mundo Educativo reacende um debate essencial: qual o verdadeiro sentido da educação em tempos de inteligência artificial (IA)?

Ele nos lembra que “a educação une as pessoas em comunidades vivas e organiza as ideias em constelações de sentido”. É disso que trata a educação 5.0: integrar tecnologia e humanidade, sem perder de vista a formação integral do ser.

Hoje, o conhecimento é instantâneo. Mas formar apenas mentes para o mercado é insuficiente. É preciso formar também corações capazes de empatia, solidariedade e transcendência. Educação é mais do que conteúdo: é cuidado, propósito, presença. Educar é um ato radical de esperança.

Leão XIV também afirma: “Vocês não são apenas destinatários da educação, mas seus protagonistas”. Este é o cerne da educação 5.0: o estudante como autor do próprio processo, em diálogo com o mundo.

Protagonismo, porém, não é solidão. Exige educadores como mentores, comunidades de acolhimento e escuta, e um ambiente emocionalmente seguro.

Outro pilar é o uso ético da tecnologia. “Sirvam-se dela com sabedoria e não permitam que a tecnologia se sirva de vocês”, alerta o pontífice. Em um mundo de telas onipresentes, a educação precisa garantir que o humano permaneça no centro. A tecnologia deve ampliar vínculos, não substituí-los.

A educação 5.0 busca exatamente essa síntese: preparar para um mundo em rede, mas enraizado em valores. Cientistas conscientes, líderes compassivos, empreendedores éticos e cidadãos planetários. Um modelo que ensina não só a programar máquinas, mas também futuros justos.

Exemplos concretos já existem. O Colégio Donaduzzi, no Paraná, alia personalização a resolução de problemas reais. Mentorias, laboratórios, iniciação científica precoce e atividades no contraturno ampliam o sentido do aprender. Como resume Ana Clara, de 17 anos: “Aqui me sinto acolhida. Venho porque quero”.

Outras iniciativas reforçam essa visão: a Steve Jobs School, na Holanda; a Ritaharju School, na Finlândia; La Cecilia, na Argentina; entre outras. São experiências que apostam na autonomia, na natureza, no trabalho em equipe e na conexão com a vida.

Mas não se deve romantizar. A Unesvo alerta que metade dos estudantes no mundo não tem acesso adequado a ferramentas digitais. O pesquisador Neil Selwyn vê a tecnologia como campo de poder, controle e desigualdade.

No Brasil, Martins (2019) denuncia a superficialidade do ensino remoto sem reflexão pedagógica. A tecnologia, sem mediação humana, não transforma: reproduz.

Por isso, menos fascínio tecnodigital e mais consciência crítica. O link não pode substituir o vínculo. A tela não pode apagar o encontro. Leão XIV fala de uma educação “desarmante e desarmada”, baseada no diálogo, no respeito e na escuta. Educação que acolhe o diferente e reconhece nele a possibilidade de transformação. Uma pedagogia da paz.

Educar, enfim, é confiar no poder transformador de cada pessoa. Em tempos de crise, a Educação deve ser farol e esperança. Como disse o Papa, “a Educação nos ensina a olhar para o alto”. E olhar para o alto é lembrar que aprender também é transcender.

Educação 5.0 não é só um modelo pedagógico. É um pacto civilizatório. Um compromisso para que escolas e comunidades sejam espaços de encontro, justiça e criatividade. Em que o saber técnico se alie à sabedoria do coração. E no qual onde a esperança continue sendo o motor do aprender.

ARTIGOS

Retrospectiva deste ano: as tensões no xadrez da política nacional

No contexto nacional, o principal deles é, sem dúvida, a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado

30/12/2025 07h30

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Este ano foi marcado por eventos políticos de impacto no Brasil e no mundo. No contexto nacional, o principal deles é, sem dúvida, a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.

Embora o julgamento tenha sido realizado apenas no fim do ano, a acusação formal ocorreu em fevereiro e os diversos desdobramentos do processo provocaram uma enorme tensão política no País ao longo de todo o ano, com acirramento do clima da polarização, reflexos na crise institucional interna, além de impactos econômicos e diplomáticos.

A análise retrospectiva do ano nos mostra que, já no mês de março, o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou a denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Bolsonaro. O ex-presidente se tornou réu no processo, fato que acirrou os ânimos da direita, culminando em uma série de protestos em todo País nos meses que antecederam o julgamento.

Na busca por apoio externo, Bolsonaro abriu diálogo com os EUA e, na sequência, o governo americano anunciou sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, que reagiu com abertura do inquérito contra Flávio Bolsonaro por suposta atuação contra o judiciário.

Em junho, o depoimento de Bolsonaro no STF foi mais um momento de tensão, que levou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a se posicionar em favor do ex-presidente em suas redes e, logo em seguida, anunciar o tarifaço de 40% sobre produtos brasileiros, que chegou a 50% somado aos 10% que já haviam sido impostos anteriormente.

Dias depois, a Polícia Federal (PF) apontou risco de fuga e Bolsonaro passo a usar tornozeleira eletrônica, que mais tarde seria avariada, fato que o levou à prisão na sede da PF em Brasília.

Em agosto, já havia sido determinada a prisão domiciliar de Bolsonaro e, em setembro, veio a condenação or golpe. Agora, a defesa pede que lhe seja concedida prisão domiciliar humanitária, em razão de problemas de saúde.

Em paralelo, a direita se mostra desnorteada sem a definição rápida de um nome capaz de liderar o movimento conservador no País e, especialmente, de ir às urnas em 2026.

Em meio a todo esse cenário, Lula viu sua imagem se fortalecer na opinião pública, especialmente após os ataques do governo americano contra o Brasil.

Embora inicialmente tenha sido criticado pela falta de habilidade diplomática, mais tarde o presidente ainda acabou conseguindo abrir diálogo com Trump que, no fim do ano, se posicionou pela remoção das tarifas impostas aos produtos agrícolas brasileiros.

As conversas entre ambos ainda incluem debates sobre ampliação das ações de cooperação das duas nações no combate ao crime organizado internacional, evidenciando que o governo federal compreendeu que a segurança pública precisa estar no centro da pauta.

O novo posicionamento veio especialmente em razão dos estragos políticos causados pela Operação Contenção, deflagrada pelo governo do Rio de Janeiro contra a facção criminosa Comando Vermelho nos complexos do Alemão e da Penha.

A ação chamou a atenção de todo País ao deixar 122 pessoas mortas, número que ultrapassa o massacre do Carandiru, sendo considerada a mais letal do País. O episódio acabou ocupando grande espaço na narrativa ideológica nacional, com embates intensos entre direita e esquerda, e ainda evidenciou um racha importante entre lideranças do PT.

Além da crise interna partidária, o governo de Lula ainda enfrentou momentos de desgaste com a Câmara dos Deputados, que giraram em torno de pautas como a PEC da Blindagem, o chamado PL da Devastação, a MP da Taxação BBB (bilionários, bets e bancos) e o PL da Anistia.

A realização da COP30 no Brasil, inicialmente considerada uma vitória e oportunidade de prestígio internacional para Lula, também acabou se tornando momento conturbado, com as imagens da invasão e do incêndio nos pavilhões repercutindo de forma negativa em todo o mundo.

Fora da esfera política, o ano foi marcado por episódios como os casos de intoxicações e mortes por metanol, o tornado que atingiu o Paraná deixando o município de Rio Bonito do Iguaçu completamente destruído, e a morte comovente da brasileira Juliana Marins no Monte Rinjani, na Indonésia.

Os debates sobre a proteção de menores da internet também tiveram dois momentos importantes no decorrer do ano, sendo o primeiro motivado pelo lançamento da série “Adolescência”, na Netflix, e o segundo, pelas denúncias do influencer digital Felca, que detalhou ações de pedófilos no ambiente virtual.

Para 2026, quando se realizam novas eleições presidenciais, a tendência é que sejam ampliadas ainda mais as tensões já instaladas no xadrez da política nacional. O que podemos esperar é que, apesar da radicalização, os debates sobre as disputas ideológicas ocorram de forma respeitosa, com a construção de um processo eleitoral íntegro e democrático.

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