Artigos e Opinião

opinião

Sylvia Cesco: "Mais sentimentos, menos intelecto"

Professora

Redação

04/02/2015 - 00h00
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Amigo Juca Ganso,  dá licença, mas quem ouvir favor avisar que  tenho, sim,  dois vícios , graças a Deus, incorrigíveis: “escrivinhar “ versos e ouvir rádio. Sobre o primeiro, não se tem o que falar, pois poesia não se discute: sente-se. É gosto pessoal, de foro íntimo de cada ser, de cada alminha desse nosso mundo de meu Deus. Independentemente de credo, raça e gênero. Dizia  nosso Poeta Manoel de Barros: “Ao poeta  faz bem desexplicar, tanto quanto escurecer acende os vagalumes”. E mais:   “O poeta não gosta de palavras: escreve para se ver livre delas. A palavra  torna o poeta pequeno e sem invenção”. 

Já ouvir rádio,  esse  gostoso vício do qual não quero me livrar, implica também em mais uma das inúmeras possibilidades de se medir o comportamento de nossa gente, além de nos trazer  melhores e muito mais bonitas sensações  do que aquelas que querem nos fazer engolir, via telinha, os péssimos BBS da vida, as esdrúxulas  personagens das novelas, construídas com tantas aberrações e contrassensos que  fariam corar de espanto, raiva e vergonha quaisquer cientistas estudiosos do psiquismo  Freud, Lacan,  Klein e outros. 

Uma das  qualidades de uma rádio, a interatividade  com os ouvintes,  é um poderoso termômetro de se avaliar a quantas anda a nosso conteúdo humano, nosso grau de aceitação do outro,  nosso entendimento sobre o que seja religião, ética, enfim, como é que estamos exercendo nossa cidadania.  

Numa dessas manhãs, por exemplo, eu ouvia um programa na mesma FM Educativa,onde estava sendo tratada a questão da violência contra a mulher. Uma das participantes, ao ser questionada pelo repórter de rua,  se denunciaria  um homem que agride sua mulher,  cândida e educadamente respondeu em bom português mas péssima cidadania: “Não, nunca. Mas incentivaria outras pessoas a fazê-lo” (!!!) .

Essa interatividade que  nos permite refletir  sobre os rumos de como questões sociais estão sendo pensadas pela nossa população, na rádio, é tão forte que  muitos ouvintes querem, por alguns minutos, também ser locutores, e tais como estes, se alongam em  seus proseios telefônicos , chegando a imitar  até o seu  linguajar,  uns,  com  fala mansa; outros, com  voz contundente;  outros, ainda, que, sem emoção, como se estivessem lendo frases feitas, emitem o seu : “Bom dia, caros ouvintes”. Só não ouvi ainda -  que bom!-  quem tenha se atrevido  a imitar  aqueles locutores que  parecem estar  num rodeio para surdos , tão altos são os decibéis  com que se comunicam.  

Neste ano, nós, ouvintes habituais de rádio, estamos assistindo a um fenômeno, no mínimo, interessante: a proposta de uma  mudança na programação da melhor- na minha opinião- rádio do nosso Estado, a FM 104. 7, que começa a causar até um certo “frisson” nas redes sociais. O time do “Sou contra” e a galera do “Sou a favor” não têm deixado por menos. Enquanto os primeiros alegam que  “os locutores mandam mais abraços do que tocam música”, os outros, pelo contrário, estão gostando deste resgate de nossa autêntica cultura musical. Não negamos que ainda existem exagerados falatórios por parte de alguns locutores. Mas, é preciso considerar que alguns bons programas (a “Hora do Chamamé”,  “Quebra Torto”, por ex, ) ficaram mais de oito anos fora do ar, sendo natural que seus ouvintes cativos queiram, neste retorno, ligar, aparecer, dar boas vindas ao Mengual, ao Aral (paremos por aqui com as rimas) e a outros  locutores. Não foi assim que fizemos com o conhecido  amigo Ciro de Oliveira, quando, por motivos alheios,  “roubaram” seu  chão e sua alma – e as dos milhares de seus ouvintes também,   ao tirarem  do ar  o seu  “Encontro de Gerações”? 

Reclama ainda o Grupo do contra que os locutores vivem mandando abraços para Fulano, Beltrano e Sicrano, da Cophavilla, Cophatrabalho, Cophamorena, Cophaisto, Cophaquilo. Mais uma vez, defendo que  há que se ter um mínimo de condescendência com o cidadão comum, que quer, sim, ser acarinhado, lembrado, enaltecido em seu ego com a citação de seu nome por aquele seu locutor amigo que no momento é o seu ídolo,  domador  de  ondas da rádio, falando só pra ele, humilde Zé ou  apenas pra comadre Zefa, seja num gostoso sotaque fronteiriço ou caipirourbana, que importa? Por instantes, suas dores e sofrimentos estarão  sendo anestesiados. Saudades virão à tona. Alegrias  e tristeza serão  exorcizadas  sob os acordes de uma guarânia, de um chamamé, de um bolero ou de uma das lindíssimas canções dos nossos compositores urbanos. 

Como dizem os versos  cantados de Geraldo Espíndola: “Pela rádio mandei avisar . Tô voltando pra te reencontrar. Eu pensei que você se apaixonou. Não duvidei. Coração não se enganou”. Que não se engane seu coração também... Mais sentimentos, menos intelecto.

EDITORIAL

Judiciário não é palco nem mercado

Restringir a atuação como coach e impor limites a determinadas docências, especialmente aquelas transformadas em verdadeiros cursos caça-níqueis, é fundamental

13/12/2025 07h15

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A decisão do presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Edson Fachin, de proibir que magistrados atuem como coaches, seja nas redes sociais ou fora delas, não é apenas correta como necessária.

Trata-se de um freio institucional que chega em boa hora a um Judiciário que, nos últimos anos, tem convivido com excessos de exposição, vaidade e práticas que colocam em xeque a sobriedade exigida da magistratura.

Não é de hoje que esse limite vem sendo testado.

Há cerca de dois anos, causou perplexidade o caso de um ex-juiz federal que passou a vender cursos na internet ensinando “táticas” para ganhar recursos judiciais. O paradoxo salta aos olhos: quem julgava recursos passou a faturar dinheiro “por fora” ensinando advogados a vencê-los.

Ainda que se alegue liberdade profissional após deixar a toga, a prática é, no mínimo, eticamente questionável e contribui para corroer a confiança da sociedade na imparcialidade do sistema de Justiça.

A medida de Fachin reconhece um problema real: tem faltado comedimento à parte da magistratura brasileira.

Em tempos de redes sociais, palestras remuneradas e cursos de viés mercadológico, alguns juízes parecem ter esquecido uma máxima antiga, simples e ainda extremamente atual: o lugar em que o magistrado mais deve falar é nos autos.

A autoridade da toga não se constrói com likes, seguidores ou discursos performáticos, mas com decisões técnicas, fundamentadas e discretas.

Restringir a atuação como coach e impor limites à determinadas docências, especialmente aquelas transformadas em verdadeiros cursos caça-níqueis, é fundamental. Não se trata de censura nem de cerceamento da liberdade intelectual, mas de preservação da função jurisdicional.

O juiz não é um influenciador digital, tampouco um vendedor de fórmulas de sucesso processual. É agente do Estado, investido de poder para decidir conflitos com independência e imparcialidade.

Isso, porém, não significa defender um Judiciário hermético ou alheio à sociedade. Ao contrário: as cortes precisam, sim, se comunicar melhor nestes novos tempos, explicar decisões complexas, dialogar institucionalmente com a população e prestar contas de seu funcionamento. Comunicação institucional é necessária; autopromoção individual, não.

No fim das contas, o que está em jogo é o respeito à própria instituição. O Judiciário é, talvez, o Poder que mais precisa ser respeitado para que a democracia funcione. E esse respeito não é um privilégio – é uma obrigação que começa dentro de casa.

Seriedade, sobriedade e autocontenção não são virtudes acessórias para magistrados; são requisitos essenciais para quem exerce uma das funções mais sensíveis do Estado.

ARTIGOS

Novas regras do Banco Central sobre ativos virtuais: um marco de maturidade regulatória

Brasil consolida seu papel de protagonista na integração entre inovação financeira e solidez regulatória, aproximando-se dos padrões internacionais de governança e Prevenção à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo

12/12/2025 07h45

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Em 10 de novembro, o Banco Central do Brasil deu um passo histórico ao publicar as Resoluções BCB nº 519, nº 520 e nº 521, que inauguram um novo ciclo de regulação do mercado de ativos virtuais no País.

Com essas normas, o Brasil consolida seu papel de protagonista na integração entre inovação financeira e solidez regulatória, aproximando-se dos padrões internacionais de governança e Prevenção à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo (PLD/FT).

Mais do que um conjunto técnico de regras, essas resoluções representam um amadurecimento institucional do sistema financeiro brasileiro diante da realidade cripto. Até então, o setor operava em uma zona cinzenta regulatória, com supervisão limitada e grande diferenças de informações entre prestadores e usuários.

Agora, o País passa a estabelecer bases claras para a operação de Sociedades Prestadoras de Serviços de Ativos Virtuais (Psav), além de definir, pela primeira vez, o tratamento cambial para operações internacionais com criptoativos.

A Resolução BCB nº 519/2025 impõe um padrão de governança que coloca as Psav sob um nível de exigência comparável ao das instituições financeiras. Exige-se segregação patrimonial, controles internos robustos e políticas de PLD/FT equivalentes às do sistema bancário.

Essa medida mitiga riscos de uso indevido dos recursos dos clientes e reduz o espaço para fraudes e práticas abusivas. Pontos sensíveis em um setor historicamente marcado por volatilidade e escândalos.

Já a Resolução BCB nº 520/2025 institui o processo de autorização prévia para funcionamento das Psav, com vedações expressas à oferta de crédito e à captação de recursos de clientes qualificados.

O objetivo é proteger investidores e garantir que as operações com criptoativos não contaminem o sistema financeiro tradicional com riscos de liquidez e solvência. A exigência de sede no Brasil e critérios rigorosos de idoneidade e gestão de riscos também reforçam o compromisso com a responsabilidade corporativa e a transparência operacional.

Por sua vez, a Resolução BCB nº 521/2025 corrige uma lacuna importante ao enquadrar as operações internacionais com criptoativos, como operações de câmbio, sempre que houver conversão de moeda ou transferência internacional de valores.

Essa regra coloca as transações de cripto sob a mesma lente de compliance cambial que rege outras formas de movimentação financeira internacional, prevenindo brechas para evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

Para bancos e instituições financeiras, o novo marco regulatório representa tanto uma oportunidade quanto uma responsabilidade. A integração dos serviços com ativos virtuais ao portfólio bancário passa a ser viável, desde que sejam obedecidos os novos parâmetros de segurança, segregação de recursos e reporte regulatório.

Ao mesmo tempo, essas instituições terão de repensar suas estruturas de governança e compliance para acomodar o ecossistema cripto dentro de uma lógica de controle prudencial.

Alguns pontos, entretanto, merecem atenção especial: a vedação de crédito com recursos próprios em operações cripto, a segregação total de fundos de clientes, o reforço dos controles de PLD/FT, e o tratamento cambial obrigatório em transações internacionais.

Tais exigências sinalizam que o Banco Central, de maneira mais que devida e assertiva, pretende equilibrar o incentivo à inovação com a blindagem contra riscos sistêmicos e ilícitos financeiros.

Contudo, o período de adaptação será curto. As regras entram em vigor a partir de 2 de fevereiro de 2026 e as obrigações adicionais de reporte internacional passam a valer a partir de 4 de maio de 2026.

Empresas que já atuam no mercado precisam, portanto, iniciar imediatamente seus processos de adequação, revisando estruturas societárias, sistêmicas, políticas de custódia e mecanismos de compliance.

Por fim, as novas resoluções não devem ser vistas como um freio à inovação, mas como um sinal evidente de maturidade regulatória do País.

Ao oferecer um ambiente seguro, transparente e supervisionado, o Banco Central cria as condições para que o Brasil se consolide como um polo confiável de desenvolvimento em blockchain e ativos digitais. É o início de uma nova era em que a confiança institucional passa a ser o ativo mais valioso do universo cripto.

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