Artigos e Opinião

EDITORIAL

Uma nova rota para as rodovias sul-mato-grossenses

O Crema é uma ponte entre o velho modelo de empreiteiras e a nova geração de concessões por desempenho. O Estado deve apostar no modelo como eixo da modernização da malha rodoviária

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O Brasil e o estado de Mato Grosso do Sul ainda carregam o peso de uma malha rodoviária degradada, marcada por trechos malconservados, buracos e altos custos de transporte. Diante da escassez de recursos públicos e das limitações das concessões tradicionais, o modelo Crema surge como uma alternativa viável e inteligente.

O governo se organiza para esse tipo de modelo, buscando especialmente a desburocratização e a agilidade que esperamos do serviço público. O modelo demonstra a redução dos custos no longo prazo e a ampliação da vida útil das vias.

Embora menos conhecido que as parcerias público-privadas, o Crema busca garantir qualidade e continuidade na manutenção das nossas estradas, sem depender exclusivamente da cobrança de pedágio.

A principal virtude do modelo é sua simplicidade operacional. Diferentemente das concessões plenas, nas quais o investidor privado assume o risco total e obtém receita pela tarifa ao usuário, o Crema se baseia em contraprestações públicas condicionadas ao desempenho. A empresa contratada recupera, conserva e mantém a rodovia em padrões de qualidade definidos em contrato.

O pagamento é feito conforme o cumprimento desses níveis de serviço – como, por exemplo, a regularidade do pavimento, sinalização, drenagem e segurança. Isso permite contratos de menor escala, aplicáveis inclusive em trechos que não suportariam pedágios.

Outra vantagem está na agilidade. Como o foco é a reabilitação e a manutenção, o Crema tende a gerar resultados mais rápidos: pavimentos restaurados em poucos meses e manutenção contínua, evitando o ciclo de abandono seguido e, posteriormente, a reconstrução total, sem contar com a infinidade burocrática que envolve uma licitação pública.

A eficiência do Crema depende da adoção de uma fiscalização rigorosa. Se o poder concedente não monitorar de perto os indicadores para garantir um bom resultado, este pode ficar aquém do esperado e levar o modelo ao fracasso.

Do ponto de vista econômico, o Crema representa uma oportunidade de modernização. O modelo incentiva o setor privado a entregar resultados a curto prazo e, por isso, cabe ao Estado estimular os investimentos.

Ocupamos uma posição geoeconômica privilegiada, estando localizados entre os grandes centros consumidores.

A proximidade com São Paulo e Paraná pode garantir vantagens logísticas com o objetivo de redução dos custos e ampliação da competitividade. Essa condição, porém, exige visão de longo prazo, devendo o Estado se incumbir desse papel.

A infraestrutura de transportes, a diversificação da matriz produtiva e o fortalecimento das cadeias industriais locais precisam avançar de forma planejada e sustentável e, com isso, a logística é fundamental para o desenvolvimento na matriz econômica do Estado.

Transformar a localização estratégica em prosperidade depende da capacidade de o Estado consolidar políticas de desenvolvimento que unam eficiência logística, inovação e equilíbrio ambiental – bases de um crescimento que se sustente no tempo.

O desafio, agora, é garantir que essa “nova rota” não se perca nos desvios da burocracia e da falta de planejamento, e sim conduza Mato Grosso do Sul a um caminho mais seguro, próspero, eficiente e duradouro.

EDITORIAL

Judiciário não é palco nem mercado

Restringir a atuação como coach e impor limites a determinadas docências, especialmente aquelas transformadas em verdadeiros cursos caça-níqueis, é fundamental

13/12/2025 07h15

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A decisão do presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Edson Fachin, de proibir que magistrados atuem como coaches, seja nas redes sociais ou fora delas, não é apenas correta como necessária.

Trata-se de um freio institucional que chega em boa hora a um Judiciário que, nos últimos anos, tem convivido com excessos de exposição, vaidade e práticas que colocam em xeque a sobriedade exigida da magistratura.

Não é de hoje que esse limite vem sendo testado.

Há cerca de dois anos, causou perplexidade o caso de um ex-juiz federal que passou a vender cursos na internet ensinando “táticas” para ganhar recursos judiciais. O paradoxo salta aos olhos: quem julgava recursos passou a faturar dinheiro “por fora” ensinando advogados a vencê-los.

Ainda que se alegue liberdade profissional após deixar a toga, a prática é, no mínimo, eticamente questionável e contribui para corroer a confiança da sociedade na imparcialidade do sistema de Justiça.

A medida de Fachin reconhece um problema real: tem faltado comedimento à parte da magistratura brasileira.

Em tempos de redes sociais, palestras remuneradas e cursos de viés mercadológico, alguns juízes parecem ter esquecido uma máxima antiga, simples e ainda extremamente atual: o lugar em que o magistrado mais deve falar é nos autos.

A autoridade da toga não se constrói com likes, seguidores ou discursos performáticos, mas com decisões técnicas, fundamentadas e discretas.

Restringir a atuação como coach e impor limites à determinadas docências, especialmente aquelas transformadas em verdadeiros cursos caça-níqueis, é fundamental. Não se trata de censura nem de cerceamento da liberdade intelectual, mas de preservação da função jurisdicional.

O juiz não é um influenciador digital, tampouco um vendedor de fórmulas de sucesso processual. É agente do Estado, investido de poder para decidir conflitos com independência e imparcialidade.

Isso, porém, não significa defender um Judiciário hermético ou alheio à sociedade. Ao contrário: as cortes precisam, sim, se comunicar melhor nestes novos tempos, explicar decisões complexas, dialogar institucionalmente com a população e prestar contas de seu funcionamento. Comunicação institucional é necessária; autopromoção individual, não.

No fim das contas, o que está em jogo é o respeito à própria instituição. O Judiciário é, talvez, o Poder que mais precisa ser respeitado para que a democracia funcione. E esse respeito não é um privilégio – é uma obrigação que começa dentro de casa.

Seriedade, sobriedade e autocontenção não são virtudes acessórias para magistrados; são requisitos essenciais para quem exerce uma das funções mais sensíveis do Estado.

ARTIGOS

Novas regras do Banco Central sobre ativos virtuais: um marco de maturidade regulatória

Brasil consolida seu papel de protagonista na integração entre inovação financeira e solidez regulatória, aproximando-se dos padrões internacionais de governança e Prevenção à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo

12/12/2025 07h45

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Em 10 de novembro, o Banco Central do Brasil deu um passo histórico ao publicar as Resoluções BCB nº 519, nº 520 e nº 521, que inauguram um novo ciclo de regulação do mercado de ativos virtuais no País.

Com essas normas, o Brasil consolida seu papel de protagonista na integração entre inovação financeira e solidez regulatória, aproximando-se dos padrões internacionais de governança e Prevenção à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo (PLD/FT).

Mais do que um conjunto técnico de regras, essas resoluções representam um amadurecimento institucional do sistema financeiro brasileiro diante da realidade cripto. Até então, o setor operava em uma zona cinzenta regulatória, com supervisão limitada e grande diferenças de informações entre prestadores e usuários.

Agora, o País passa a estabelecer bases claras para a operação de Sociedades Prestadoras de Serviços de Ativos Virtuais (Psav), além de definir, pela primeira vez, o tratamento cambial para operações internacionais com criptoativos.

A Resolução BCB nº 519/2025 impõe um padrão de governança que coloca as Psav sob um nível de exigência comparável ao das instituições financeiras. Exige-se segregação patrimonial, controles internos robustos e políticas de PLD/FT equivalentes às do sistema bancário.

Essa medida mitiga riscos de uso indevido dos recursos dos clientes e reduz o espaço para fraudes e práticas abusivas. Pontos sensíveis em um setor historicamente marcado por volatilidade e escândalos.

Já a Resolução BCB nº 520/2025 institui o processo de autorização prévia para funcionamento das Psav, com vedações expressas à oferta de crédito e à captação de recursos de clientes qualificados.

O objetivo é proteger investidores e garantir que as operações com criptoativos não contaminem o sistema financeiro tradicional com riscos de liquidez e solvência. A exigência de sede no Brasil e critérios rigorosos de idoneidade e gestão de riscos também reforçam o compromisso com a responsabilidade corporativa e a transparência operacional.

Por sua vez, a Resolução BCB nº 521/2025 corrige uma lacuna importante ao enquadrar as operações internacionais com criptoativos, como operações de câmbio, sempre que houver conversão de moeda ou transferência internacional de valores.

Essa regra coloca as transações de cripto sob a mesma lente de compliance cambial que rege outras formas de movimentação financeira internacional, prevenindo brechas para evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

Para bancos e instituições financeiras, o novo marco regulatório representa tanto uma oportunidade quanto uma responsabilidade. A integração dos serviços com ativos virtuais ao portfólio bancário passa a ser viável, desde que sejam obedecidos os novos parâmetros de segurança, segregação de recursos e reporte regulatório.

Ao mesmo tempo, essas instituições terão de repensar suas estruturas de governança e compliance para acomodar o ecossistema cripto dentro de uma lógica de controle prudencial.

Alguns pontos, entretanto, merecem atenção especial: a vedação de crédito com recursos próprios em operações cripto, a segregação total de fundos de clientes, o reforço dos controles de PLD/FT, e o tratamento cambial obrigatório em transações internacionais.

Tais exigências sinalizam que o Banco Central, de maneira mais que devida e assertiva, pretende equilibrar o incentivo à inovação com a blindagem contra riscos sistêmicos e ilícitos financeiros.

Contudo, o período de adaptação será curto. As regras entram em vigor a partir de 2 de fevereiro de 2026 e as obrigações adicionais de reporte internacional passam a valer a partir de 4 de maio de 2026.

Empresas que já atuam no mercado precisam, portanto, iniciar imediatamente seus processos de adequação, revisando estruturas societárias, sistêmicas, políticas de custódia e mecanismos de compliance.

Por fim, as novas resoluções não devem ser vistas como um freio à inovação, mas como um sinal evidente de maturidade regulatória do País.

Ao oferecer um ambiente seguro, transparente e supervisionado, o Banco Central cria as condições para que o Brasil se consolide como um polo confiável de desenvolvimento em blockchain e ativos digitais. É o início de uma nova era em que a confiança institucional passa a ser o ativo mais valioso do universo cripto.

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