Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) estão desenvolvendo uma nova ferramenta que promete revolucionar o conhecimento sobre a biodiversidade da Amazônia. O Wikiflora ou Wikibio, uma espécie de Wikipedia florestal, está em fase embrionária e pretende ser apresentado pelos pesquisadores na Conferência das Nações Unidas em Desenvolvimento Sustentável (Rio +20) em junho de 2012.
Alberto Vicentini, pesquisador do Inpa e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Botânica do instituto, afirmou que a ideia do projeto surgiu em fevereiro deste ano, durante uma visita do ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante à Reserva Ducke, em Manaus. Esta reserva é a área mais estudada da Amazônia brasileira, com centenas de espécies catalogadas. Na ocasião, os pesquisadores do Inpa revelaram a necessidade de fazer um levantamento mais ágil da biodiversidade local. Apenas na Reserva Ducke, que tem 10 mil hectares de floresta tropical (o equivalente a 10 mil campos de futebol), estima-se que existam, pelo menos, mil espécies de plantas ainda não registradas.
“O ministro, sensibilizado pela debilidade da ciência botânica na região norte do Brasil, gostou tanto do livro e da ideia da plataforma digital que decidiu apoiar fortemente a iniciativa fazendo dela uma proposta de ministério a ser capitaneada pelos três institutos de pesquisa do MCT na Amazônia: o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, de Manaus, o Museu Emílio Goeldi, de Belém, no Pará, e o Instituto Mamirauá de Tefé (Amazonas)”, explicou Vicentini.
“A Amazônia é a região que abriga a maior diversidade de plantas e a maior extensão de florestas tropicais do mundo. No entanto, o conhecimento dessa diversidade botânica é muito incipiente, muitas áreas nunca foram exploradas cientificamente e muitas novidades ainda são descobertas mesmo em áreas consideradas bem conhecidas”, complementou. O projeto não tem uma data especifica para ser concluído.
O pesquisador afirmou ainda que existe uma preocupação muito grande com relação à produção de conhecimento da biodiversidade da Amazônia e que o Wikiflora deve atenuar esse problema, atraindo mais pessoas para a botânica. “O número de pesquisadores que produzem esse conhecimento básico e que atuam na Amazônia é muito baixo e esse tipo de profissional, o taxonomista, é uma espécie ameaçada de extinção. , pontuou. “Wikiflora seria também um instrumento para fortalecer a botânica da região Norte, carente de pessoal especializado no assunto”, complementou.
Parceria
Na semana passada, o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) anunciou uma parceria com a IBM para o desenvolvimento da plataforma digital que vai abrigar a wikiflora. Hoje, existe até um domínio da ferramenta na internet, o wikiflora.org, mas o modelo conceitual dessa plataforma ainda está em fase de elaboração.
O que se tem é um esboço, que vem sendo abastecido por dados de alguns projetos do próprio Inpa. “Dois fundamentos guiaram a criação dessa plataforma embrião: liberdade de inovação para criar ferramentas que permitam conhecer espécies, manipular dados e disponibilizar informação e a estruturação de um repositório de dados taxonômicos brutos, que atrele informações diretamente a testemunho, seja ele uma árvore marcada em algum lugar ou uma amostra depositada num herbário”, explicou o professor.
"O Wikiflora não é apenas um catálogo ou enciclopédia das espécies de plantas da Amazônia, mas uma ferramenta que pode modernizar a maneira pela qual os botânicos reconhecem e descrevem espécies, além de também favorecer a democratização da produção desse conhecimento ao permitir que pesquisadores não botânicos e o público contribuam com informações sobre plantas”, complementou.
Albertini também pontuou que esse projeto irá ajudar em atividades de conservação e preservação ambiental já que agências ambientais e empresas de manejo florestal também serão usuárias do sistema. “É uma ferramenta importante também para promover o uso sustentável da biodiversidade e atividades de bioprospecção. Todas essas atividades dependem de espécies bem delimitadas e ferramentas adequadas de identificação”, finalizou.


