Quase cinco anos depois de acompanhar outras cidades do Brasil e implementar o chamado método Wolbachia, os resultados da ação começaram a aparecer e as notificações de dengue neste ano em Campo Grande caíram cerca de 65% em relação aos registros de 2024. A continuidade da queda de casos é a esperança da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) para os próximos anos.
Em dezembro de 2020, após a Capital enfrentar uma epidemia da doença por dois anos consecutivos, a Sesau implementou o método Wolbachia, que consiste em colocar a bactéria de mesmo nome em insetos Aedes aegypti, que transmitem tanto a dengue quanto a zika, a chikungunya e a febre amarela, para impedir que o vírus se desenvolva dentro do mosquito e infecte humanos. E parece estar funcionando, conforme números da Sesau.
Em 2024, foram 11.751 notificações, 740 casos confirmados e 1 óbito, o que já havia sido uma redução significativa em relação ao ano anterior, quando foram registrados 17.368 notificações, 12.017 casos confirmados e 6 mortes.
Mantendo a tendência, neste ano, até o momento, foram 4.095 notificações, 488 casos confirmados e 1 óbito (uma idosa de 74 anos com três comorbidades).
Mesmo que a queda significativa tenha sido registrada após a adoção da tecnologia, a superintendente de Vigilância em Saúde da Sesau, Veruska Lahdo, afirma que a efetividade do método se somou a outros fatores, que resultaram na diminuição de notificações no Município.
“Essa diminuição não é resultado apenas da implementação do método Wolbachia, mas de um conjunto de ações contínuas desenvolvidas pelo município. Entre elas, destacam-se as ações de rotina realizadas pelas equipes de vigilância, visitas domiciliares, os mutirões de limpeza, educação em saúde, a capacitação dos profissionais de saúde das unidades para a coleta e a identificação de casos suspeitos”, reforça.

Veruska ainda afirma que é esperado que a redução continue nos próximos anos. Para que isso aconteça, a superintendente explica que as ações preventivas continuam antes mesmo de o ano acabar, com o objetivo de manter Campo Grande abaixo do limiar epidêmico – número de casos ou incidência de uma doença acima da média no qual uma resposta de saúde pública urgente é necessária.
Porém, ela alerta que os casos devem aumentar entre novembro e dezembro, época mais chuvosa na Capital, o que acarreta acúmulo de água parada em vasos de plantas, garrafas, pneus, calhas entupidas, caixas d’água destampadas ou qualquer outro objeto aberto, onde os mosquitos despejam seus ovos e ajudam a proliferar as arboviroses.
Somente nos primeiros sete dias deste mês, os campo-grandenses enfrentaram chuvas que ultrapassaram 25 mm, resultando em queda de energia prolongada e alagamentos em alguns bairros.
“As chuvas e as altas temperaturas criam condições ideais para a reprodução do mosquito, o que exige atenção redobrada tanto do poder público quanto da população”, explica Veruska.
PACIÊNCIA
Iniciada em dezembro de 2020, a implementação do método Wolbachia foi dividida em quatro etapas, que duraram três anos até sua conclusão. Até julho de 2021, foram contemplados os bairros Guanandi, Aero Rancho, Batistão, Centenário, Coophavila II, Tijuca e Lageado.
Em seguida, entre julho e outubro de 2021, os insetos “salvadores” chegaram aos Bairros Taquarussú, Jacy, Jockey Club, América, Piratininga, Parati, Pioneiros, Alves Pereira, Centro Oeste e Los Angeles.
Na terceira fase, entre outubro de 2021 e março de 2022, foi a vez dos Bairros Jardim Veraneio, Carandá Bosque, Vila Carlota, Chácara Cachoeira, Dr. Albuquerque, Estrela Dalva, Jardim Paulista, Maria Aparecida Pedrossian, Noroeste, Rita Vieira, São Lourenço, Tiradentes, TV Morena, Universitário e Vilas Boas.
Por fim, foram beneficiadas as populações dos Bairros Coronel Antonino, José Abrão, Mata do Jacinto, Monte Castelo, Vila Nasser, Novos Estados, Nova Lima e Jardim Seminário. Esta última fase foi encerrada em dezembro de 2023, segundo confirmou Veruska Lahdo.
“O estabelecimento desses mosquitos no meio ambiente tem sido considerado satisfatório pelas equipes responsáveis pela implantação do método”, destaca a superintendente da Sesau.
VACINAÇÃO
Uma das formas de garantir que qualquer doença não se prolifere é a imunização, porém, Campo Grande é a quinta pior cidade no Estado no número de pessoas que receberam apenas uma dose da vacina contra a dengue.
Segundo a última atualização, feita no dia 11 de outubro pela Secretaria de Estado de Saúde (SES), a Capital aplicou 25.614 de 30.197 doses recebidas, uma cobertura vacinal que corresponde a 41,89% das 61.139 pessoas de 10 a 14 anos da cidade. O Município está à frente apenas de Dourados, Nova Alvorada do Sul, Maracaju e Terenos.
Destes que já tomaram o primeiro imunizante, 12.203 completaram o esquema vacinal, ao tomarem a segunda dose.
No panorama geral, 121.803 tomaram a primeira dose e 67.072 completaram o esquema vacinal em Mato Grosso do Sul, com destaques para os municípios de Eldorado, Novo Horizonte do Sul e Rio Negro.


