A indígena Catarina Ramos da Silva, reconhecida e premiada pelo trançado de aguapé, será uma das homenageadas pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) nesta segunda-feira (27), durante a Cerimônia de Entrega de Títulos Doutor Honoris Causa.
O evento acontecerá no Teatro Glauce Rocha, com início às 19h, e terá transmissão ao vivo pelo canal da TV UFMS.
O título de Doutor Honoris Causa, que em latim significa “por motivo de honra, é a distinção mais importante entregue por instituições universitárias, e busca celebrar pessoas que serviram de exemplo para a comunidade universitária e para a sociedade.
Conheça Catarina
Indígena Guató, uma etnia quase extinta, Catarina Ramos da Silva nasceu na Ilha Ínsua, localizada a aproximadamente 350 quilômetros da área urbana de Corumbá.
Aos sete anos de idade, iniciou sua vida escolar, que durou apenas 30 dias, já que teve que deixar os estudos para trabalhar e ajudar sua mãe na pesca.
Quando adulta, sofreu violência doméstica do marido, decidiu largá-lo e se mudou para Campo Grande com os filhos. Foi na Capital que Catarina foi alfabetizada, e começou a utilizar a arte do trançado de aguapé, planta típica do Pantanal, como fonte de renda.
Ela ficou conhecida pelo artesanato após uma reportagem publicada em uma revista, e então, com apoio, desenvolveu um projeto para ensinar a arte a comunidades do Pantanal, Porto da Manga e Porto Esperança.
Depois, participou da Expedição da Cidadania da Justiça Federal, onde levou oficinas a diversas comunidades ribeirinhas e com o auxílio do curso de Direito da UFMS, fundou a Associação Renascer das Mulheres da Barra do São Lourenço. Em 2022, recebeu premiação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) pelos saberes compartilhados.
Artesanato Guató
Em seu livro "Vozes do Artesanato", publicado em 2011, Fábio Pellegrini conta a história de Catarina, e todo o processo criativo das peças feitas com o trançado de aguapé, "planta macrófita, cujos aglomerados são conhecidos como camalotes, abundantes na calha do rio Paraguai e seus afluentes, além de baías e corixos da planície pantaneira", como explica o autor.
A artesã alugava uma canoa para ir até os aglomerados de aguapé extrair os caules. Confira trecho do livro:
"Na canoa, ela seleciona cuidadosamente cada caule de uma rama de aguapé que tira do rio e não extrai mais que três talos da mesma planta, com as mãos, sem utilizar quaisquer ferramentas: 'Senão a planta morre', diz ela. (...) 'Tem que cuidar com cobra, além da sucuri tem a boca-de-sapo. Fica escondida no aguapé, enroladinha. Minha mãe morreu picada de cobra. Quando for assim não pode levar susto, senão morre mais rápido', conta ela"
Após extrair os caules, ela retornava para a cidade, e carregava o material até a Casa do Artesão de Corumbá, uma espaço cedido pela Prefeitura onde Catarina e outros artesãos mantinham suas oficnas.
"Na confecção de seus produtos, a preferência de Catarina é pelo aguapé de caule comprido, ou o 'aguapé dourado' encontrado rio acima, longe das impurezas da cidade. Há também algumas peculiaridades sobre o modo de produção original. A tradição oral diz que o caule deve ser coletado em lua minguante, mas hoje em dia, por ser sua fonte geradora de renda, qualquer lua é válida", relata o livro.
Quando seco, o material é cortado em tiras, e junta-se três tiras, sendo duas pontas (a parte superior do caule onde começam as folhas) e um “pé” (base do caule que se interliga com a raiz), para começar o trançado.
"Ao acabar o comprimento, insere-se mais uma tira, de forma a manter a espessura da trança, tendo cuidado ao apará-la e já deixando-a pronta para encaixar outras duas fibras, sempre dando preferência aos talos mais finos. Na medida em que o trançado vai aumentando, a artesã, sentada e descalça, prende a trança entre o dedão do pé e o segundo dedo, de forma que o emaranhado de fibras fique esticado horizontalmente", explica Pellegrini.
A atividade é delicada, minuciosa e exige paciência. São necessários cerca de 50 metros de tiras de fibra para a confecção de um único tapete de 1,2 metros.
Foto: Fábio Pellegrini/Arquivo (2012)Demais homenageados
Além de Catarina, também serão homenageados o juiz aposentado e fundador do Instituto Luther King, Aleixo Paraguassú; a artesã indígena reconhecida e premiada pelo trançado de aguapé, Catarina Guató; e o líder do setor empresarial, Sérgio Longen. As personalidades de destaque foram indicadas e aprovadas pelo Conselho Universitário da UFMS.
Aleixo Paraguassú Netto
Nascido em Belo Horizonte (MG), Aleixo Paraguassú Netto ingressou no mercado de trabalho e na carreira militar ainda muito jovem. Casou-se, teve filhos e voltou a estudar, graduando-se em Direito. Atuou como juiz em diversas cidades do estado, antes de aposentar-se e assumir a Secretaria Estadual de Segurança Pública. No estado, foi também secretário de Educação, presidente da Caixa de Assistência dos Advogados e da Associação dos Magistrados. Foi professor universitário, atuou no Tribunal Regional Eleitoral, foi ouvidor agrário estadual e presidente da Escola de Governo do Estado.
Está na militância no Movimento Negro de MS desde 1985, tendo presidido o Conselho Estadual de Desenvolvimento e Defesa dos Direitos do Negro. Aleixo se destacou com a fundação do Instituto Luther King – Ensino, Pesquisa e Ação Afirmativa, que promove cursos gratuitos a pessoas em vulnerabilidade socioeconômica. A iniciativa tem proporcionado oportunidades para o acesso de muitos jovens à Universidade. Dentre os vários títulos honoríficos recebidos, estão a Comenda Darcy Ribeiro do Senado Federal e a Comenda de Direitos Humanos Dom Helder Câmara.
Sérgio Marcolino Longen
Natural de Toledo (PR), Sérgio Marcolino Longen mudou-se com a família para Mato Grosso do Sul aos 15 anos. Aos 19, foi para Roraima, onde iniciou a trajetória empresarial com uma loja de produtos agropecuários. Ampliou os negócios e adquiriu um posto de combustíveis, chegando a ter quatro postos e uma transportadora. Liderança empresarial nata, ajudou a fundar a Federação do Comércio do Estado de Roraima, sendo o primeiro tesoureiro da instituição.
Após 10 anos, Sérgio Longen retornou a Mato Grosso do Sul e investiu no ramo alimentício, com uma indústria em Campo Grande, que posteriormente foi expandida para João Pessoa (PB). O empresário sempre gostou de atuar na área sindical, foi presidente do Sindicato das Indústrias da Alimentação do estado, diretor conselheiro e depois presidente da Federação das Indústrias de MS.
Mato Grosso do Sul está em alerta para tempestades (Reprodução / Inmet)


