Serviço está presente em 70 dos 79 municípios de Mato Grosso do Sul, segundo dados enviados pelo Ministério da Saúde
O programa Farmácia Popular, serviço que garante medicação gratuita ou mais barata à população de todo o País, está presente em apenas 16% das farmácias de Mato Grosso do Sul.
Relançado pelo governo federal em 2023, atualmente, é oferecido em apenas 419 das 2.546 farmácias de Mato Grosso do Sul, de acordo com dados do Ministério da Saúde repassados ao Correio do Estado.
A iniciativa, porém, está ausente em 14% dos municípios do Brasil. Ou seja, está presente em apenas 759 cidades do total de 5.570. Em Mato Grosso do Sul, o programa está presente em 70 dos 79 municípios.
As cidades que não tem o programa no Estado são: Corguinho, Coronel Sapucaia, Figueirão, Japorã, Jaraguari, Jateí, Ladário, Paraíso das Águas e Terenos.
Em junho de 2023, o programa passou a ser ofertado para os 55 milhões de beneficiários do Bolsa Família. Ao todo, o serviço oferta 41 itens, entre remédios, fraldas e absorventes, distribuídos por meio de parcerias com farmácias da rede privada.
À época de seu relançamento, o programa tinha a expectativa de contemplar 5.207 municípios do País, porcentual equivalente a 93% do território nacional.
PROGRAMA
Criado em 2004, o programa de atenção à saúde primária cresceu majoritariamente durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (PT), entre 2011 e 2014, período com 17.580 estabelecimentos credenciados, conforme matéria da Folha de São Paulo.
O número de adptos praticamente não cresceu entre os governos de Michel Temer (MDB) e de Jair Bolsonaro (PL).
A presidente do Conselho Regional de Farmácia em Mato Grosso do Sul (CRF-MS), Daniely Proença dos Santos, destacou ao Correio do Estado que o programa é fundamental para garantir que parte da população tenha acesso a medicamentos essenciais oferecidos em programas de saúde, bem como para acessá-los a partir das parcerias entre governo federal e as farmácias e drogarias da iniciativa privada, sem precisar se deslocar até o posto de saúde.
FALTA DE INFORMAÇÃO
Daniely declarou que, apesar da oferta, muitos idosos deixam de conseguir o medicamento mais barato ou de forma gratuita por falta de informação ou mesmo por questões burocráticas.
“Quando conversamos com os farmacêuticos, ouvimos que muitas pessoas deixam de receber o serviço [mais barato] por burocracia, demora de atendimento ou mesmo por não ter as informações necessárias. Se o cliente vai até a farmácia e encontra o medicamento com valor acessível, não vai atrás dessa informação”, disse a presidente do CRF-MS.
Questionada sobre o número de farmácias credenciadas junto à Farmácia Popular em MS, Daniely disse que a adesão à modalidade de atendimento está a cargo dos donos das farmácias, que, segundo ela, por vezes, veem-se prejudicados ao entrarem no programa.
“O dono da farmácia faz o cadastro e adere ao Farmácia Popular. Em contrapartida, recebe [do governo federal] parte do valor sobre cada medicamento. Compra um dipirona a R$ 1,99 e recebe R$ 0,60. Por vezes, se veem prejudicados, fizeram esse cálculo”, falou a presidente do CRF-MS.
Daniely destacou que, ao longo dos anos, muitos estabelecimentos deixaram de participar do programa, por conta da falta de atenção do poder público em relação às suas vantagens e desvantagens, sobretudo no valor oferecido como reembolso aos medicamentos dispensados e à demora no recebimento desse valor.
QUEM PRECISA
Natural de Porto Murtinho e moradora de Campo Grande, há pelo menos 22 anos a balconista aposentada Eladia Franco, de 72 anos, faz uso de medicação contínua para controlar a pressão alta. O remédio é retirado por meio do programa Farmácia Popular.
Ao Correio do Estado, ela afirmou que garante o medicamento por meio de acompanhamento cardiológico semestral, o que permite a retirada do remédio de forma gratuita na farmácia mais próxima de sua casa, no Jardim Panamá.
“Durante todo esse tempo, eu nunca tive problema para fazer a retirada do meu remédio. A gente vai ficando idoso, meio ‘tan-tan’, mas ninguém que eu conheço já foi ludibriado ou não conseguiu retirar a medicação que precisava”, declarou a aposentada.
Além da pressão alta, Eladia gasta cerca de R$ 250 por mês com outros dois medicamentos que a ajudam a controlar problemas cardiovasculares e o colesterol.
Ela disse que, apesar do alívio na conta, ao longo dos anos, o gasto com a compra de medicamentos só cresceu.
“Minha sorte é que a minha aposentadoria subiu para R$ 1,5 mil. Às vezes você precisa de um remédio específico e paga R$ 300. Como que um aposentado vive? Além disso, você vai no posto de saúde e não acha nada”, reclamou Eladia.
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