As Investigações da Operação Águas Turvas, do Grupo Especial de Combate à Corrupção (GECOC) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul, revelam como a chefe do setor de licitações da Prefeitura de Bonito, Luciane Cintia Pazette, teria atuado para "moldar" editais e direcionar contratos para o empresário Genilton da Silva Moreira.
As conversas entre os dois, obtidas pelo GECOC, mostram o empresário interferindo diretamente na elaboração de um relatório técnico que definiria as regras de uma licitação que ele mesmo viria a vencer. Ela também cita um personagem oculto chamado "Pouca Sombra", a quem Genilton deveria “se acertar".
O diálogo ocorreu em abril de 2023, quase um mês antes da publicação da Tomada de Preços nº 004/2023. Luciane enviou a Genilton o rascunho do relatório técnico e, em resposta, o empresário determinou a inclusão de uma exigência específica: a "Construção de jogo de esteio > 2.00m". Segundo o GECOC, a manobra visava comprovar uma capacidade técnica que, possivelmente, apenas sua empresa possuía.
A interferência era tão explícita que, ao final, o documento devolvido por Genilton foi o utilizado por Luciane. Em áudio, a servidora pede ao empresário para indicar o número do item que ele havia inserido: "Comadre, vê qual que é o item aí. Eu só num coloquei o número do item, tá. Você vê qual que é o número do item e coloca aí. Mas, é isso aí que eu ti mandei, tá".

"Pouca Sombra"
A investigação também aponta que a servidora atuava sob ordens de um superior hierárquico, apelidado nas conversas de "pouca sombra". Ela pergunta a Genilton, em 13 de abril de 2023, se ele havia entrado em um acordo com "Pouca Sombra". "Malaaaa, vc entrou em acordo com pouca sombra", diz a mensagem no whatsapp.
O relatório do MP supôs que é um apelido para o chefe do esquema e alguém "baixinho”. “Ao que tudo indica, é/era um agente público de baixa estatura do alto escalão da Prefeitura Municipal de Bonito".
Ela ainda pergunta a Genilton se ele tem o rascunho da reunião, com o que ficou combinado com Pouca Sombra. O empresário diz que não está com o rascunho no momento e nem tirou foto e ouve uma carraspana de Luciane: “Não tirou nenhuma foto, vc tbm é bizonho".
No dia seguinte Genilton envia foto parcial de um relatório técnico que daria base a um novo processo licitatório de tomada de preços para manutenção e conservação de pontes de madeira.
Luciane, Genilton, o secretário de Finanças Edilberto Cruz Gonçalves e o fiscal de obras Carlos Henrique Sanches Corrêa foram presos na terça-feira.
A operação investiga a fraude em contratos de R$ 4 milhões no município e que tem elos com a Operação Spotless, em Terenos, com algumas das empresas promovendo as fraudes nas contratações. O prefeito do município, Josmail Rodrigues (PL) não se pronunciou sobre o caso.




