Cidades

Cegos com visão de empreendedor

Deficientes visuais apostam na abertura do próprio negócio

Deficientes visuais apostam na abertura do próprio negócio

Osvaldo Júnior - Jornal Correio do Estado

26/02/2011 - 12h00
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Foto: Bruno Henrique

Os polegares de Jorge Arruda, 42 anos, conhecem os caminhos e, numa habilidade que dispensa a visão, atingem os pontos exatos dos pés dos pacientes, aliviando-lhes a dor. As mãos, que deslizam firmes sobre solas de pés, já carregaram tijolos, seguraram martelos, subiram paredes... O processo de mudança profissional e melhoria de renda se iniciou após a perda de visão: o pedreiro se tornou massoterapeuta e passou a enxergar um futuro que não pode ser encerrado em quatro paredes, como as das casas que construía.

Assim como Jorge, outras pessoas com deficiência visual, empurradas pelo preconceito para fora do mercado de trabalho formal, acabam se tornando empreendedoras e, como resposta ao senso comum, passam a se destacar em suas atividades. Buscam ser notadas não pelo que lhes falta, mas pelo que têm a oferecer. “Precisamos que observem nossas possibilidades e parem de observar os nossos limites”, traduziu essa contradição a pedagoga Telma Nantes de Matos, presidente do Instituto Sul-Mato-Grossense para Cegos Florivaldo Vargas (Ismac) e integrante da direção da Organização dos Cegos do Brasil (ONCB).

As possibilidades de Jorge são observadas por quem já passou por suas mãos. “Estava travada, com muita dor nas costas. Fiz uma sessão na quarta-feira. Na quinta, já estava maravilhosa”, afirmou uma cliente de 55 anos, que não quis ser identificada.

A rotina do massoterapeuta é intensa: trabalha diuturnamente para atender os atuais 30 clientes fixos e outros que o buscam vez e outra. Há oito meses, aprimorou com um massoterapeuta chinês a reflexologia podal, técnica de massagem nos pés para liberação de toxinas pelo sangue e cura de dores no corpo. O trabalho lhe assegura renda muito superior a seu salário de pedreiro e lhe permite pagar as faculdades dos dois filhos, que estudam Música e Engenharia Civil. Ele também tem projeto para iniciar a faculdade de Fisioterapia no próximo ano. “Assim serei completo”, brinca. Quando era pedreiro e enxergava, seus sonhos eram quase invisíveis. “Antes, nunca imaginava que pudesse parar de assentar tijolo”.

Acidente de trabalho
E foi assentando tijolo que Jorge perdeu a vista esquerda há 13 anos. Uma lasca da parede com um pouco de massa com brescal (produto químico) lhe perfurou o olho. As três cirurgias não resolveram.

Colocou uma prótese e continuou trabalhando na construção civil por mais dois anos, quando perdeu a visão do olho direito. Dessa vez, por capricho raro do sol: Jorge estava à beira de uma piscina, quando olhou diretamente no reflexo de um raio refletido na água e sentiu o olhar ofuscar. O nevoeiro que se formou em sua vista não mais o abandonou. Ele ficou, então, com apenas 15% de visão direita. “O chão fugiu dos pés”, lembra-se. E perguntou na ocasião: “Por que comigo?”

A recuperação da autoestima contou com a ajuda do Ismac, onde aprendeu o necessário para viver com a deficiência visual. “Hoje eu me sinto uma pessoa feliz”, afirma Jorge, que passou a enxergar bem o próprio talento após se limitar a ver sombras de tudo que lhe distancia a mais de um metro.

Corretor é obrigado a mostrar que é capaz de fazer bem o seu trabalho

Foto: Gerson Oliveira

A memória do corretor de imóveis Marcelo Senzano, 50, causa inveja a qualquer elefante. “Os clientes ficam admirados por eu conduzi-los certinho aos imóveis”, conta Senzano, que também trabalha com venda de títulos de um clube de lazer de Campo Grande e ajuda a mulher no caixa do restaurante da família. “Quando enxergava tinha que matar um leão por dia. Agora tenho que matar dois: convencer as pessoas da minha capacidade e fazer bem o meu trabalho”, metaforiza. E brinca: “A cota aumentou”.

Marcelo conta que ficou cego, em 2006, por causa de ausência de tratamento da diabetes.  Após um ano de hibernação em si mesmo, Marcelo resolveu buscar ajuda e chegou ao Ismac. Passou pela reabilitação e hoje lida sem grandes problemas com a deficiência visual.  

Durante a perda da visão, sua memória, que já era boa, segundo ele, tornou-se espetacular. A geografia da cidade mora em sua cabeça. “Quando minha mulher dirige, eu guio ela. Digo ‘vira à esquerda, na próxima pega à direita’. E a gente chega direitinho”, conta.

A boa memória é aliada da atividade de corretor. Antes de oferecer um imóvel, vai conhecê-lo com um colega corretor. “Ele me fala como é a casa, se o acabamento é de primeira... Eu guardo tudo na memória”. Também memoriza o trajeto. Assim, consegue guiar o cliente até o imóvel e tecer um bom discurso de vendedor. Já fechou bons negócios assim.

No topo de seus projetos, Marcelo ostenta a publicação de um livro. “Quero contar para todos como é a realidade quando surgem as restrições. Quero mostrar que perder a visão não é o fim, mas um recomeço”, adianta Marcelo o conteúdo de seu livro. 

Policial quer abrir empresa de transporte

Foto: Bruno Henrique

O mercado de trabalho formal é cego frente à capacidade dos deficientes visuais. A sobrevivência, em muitos casos, passa a ser procurada, então, na informalidade. “Procuramos a informalidade por despreparo das pessoas, que não veem nossa competência”, afirma Eduardo Minari Higa, 47, que está no processo de abertura de uma empresa de transporte logístico com a ajuda do Sebrae.

Eduardo conta que participa do projeto “Nascer Bem” do Sebrae. O policial aposentado, que ficou cego em acidente de trabalho, projeta, com seu negócio, reduzir um problema de trânsito existente nas áreas centrais: a presença de caminhões que entregam produtos para lojas travando o fluxo de veículos. “Minha ideia é oferecer o serviço de distribuição de produtos em carros ou motos”, afirma.

Para aprofundar seus conhecimentos, Eduardo faz curso superior de Gestão Comercial. Eduardo sente que, após a perda da visão, quis produzir ainda mais. “Nossa capacidade laboral aumenta”, avalia.

Desigualdade em números

Os deficientes visuais precisam de muito esforço. Menos para vencer a deficiência física e mais para superar a desvalorização do mercado de trabalho. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dimensionam essa desvalorização. De acordo com o último Censo, em Mato Grosso do Sul, havia 198.358 cegos trabalhando em 2000 (ano de referência do último Censo divulgado). Desses, 54% recebiam entre meio a dois salários mínimos.  A situação da mulher é ainda mais precária.

Mesmo com os esforços para se destacar, os cegos recebem baixos salários, um dos fatores que fazem do empreendedorismo a via, talvez única, de crescimento financeiro.  Conforme o IBGE, 84.997 cegos trabalhavam em 2000, sendo 53.311 homens e 31.687, mulheres.  
O rendimento, para a maioria, não passava de dois salários - eram 46.207 nessa faixa de renda. A situação da mulher, é ainda pior. A maioria delas (9.568) tinham que viver com apenas um salário mínimo.

Foto: Bruno Henrique


A discriminação à mulher cega se evidencia ainda mais se considerado o componente escolaridade. Apesar de receberem menos, elas estudam mais. Dos 148.482 cegos alfabetizados, 52% eram mulheres e 48%, homens.

saúde

Novas diretrizes médicas ajudam a prevenir a ocorrência de AVCs

Objetivo é ajudar as pessoas e seus médicos a adotarem medidas de prevenção para evitar os riscos

25/12/2024 20h00

Reprodução/Agência Brasil

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A maioria dos acidentes vasculares cerebrais (AVCs) pode ser evitada, segundo as novas diretrizes que pretendem ajudar as pessoas e seus médicos a fazerem exatamente isso.

O AVC foi a quarta principal causa de morte nos EUA em 2023, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, CDC. Anualmente, mais de 500 mil americanos sofrem um AVC. Mas até 80% deles podem ser evitados com melhoras na alimentação, nos exercícios físicos, e na identificação de fatores de risco.

As primeiras novas diretrizes sobre prevenção de AVC em 10 anos, da Associação Americana de AVC, uma divisão da Associação Americana do Coração, incluem recomendações para o público e aos profissionais de saúde que refletem uma melhor compreensão de quem sofre AVCs e por quê, além de novos medicamentos que podem ajudar a reduzir os riscos.

A boa notícia é que a melhor forma de reduzir o risco de AVC também é a melhor forma de reduzir o risco de uma série de problemas de saúde: tenha uma dieta saudável, faça exercícios e não fume. A má notícia é que manter esses hábitos nem sempre é tão fácil.

O Dr. Sean Duke, especialista em AVC no Centro Médico da Universidade de Mississippi, atribui essa responsabilidade às forças da sociedade que mantêm as pessoas sedentárias e com alimentação inadequada, como os celulares e os alimentos baratos e pouco saudáveis. "Nosso mundo está armado contra nós", diz.

O que você precisa saber sobre AVC e as novas diretrizes:

O que é um AVC?

Um AVC acontece quando o fluxo de sangue para uma parte do cérebro fica bloqueado, ou quando um vaso sanguíneo do cérebro se rompe. Isso prejudica a oxigenação do cérebro e pode causar danos cerebrais que levam a dificuldades para pensar, falar e caminhar, ou até mesmo à morte.

Como uma alimentação saudável pode reduzir o risco de AVC

Segundo a associação médica, uma alimentação saudável pode ajudar a controlar vários fatores que aumentam o risco de AVC, incluindo colesterol alto, glicemia alta, e obesidade.

A organização recomenda os alimentos da chamada dieta mediterrânea, como frutas, verduras, legumes, grãos integrais e azeite de oliva, que podem ajudar a manter baixos os níveis de colesterol. Uma das sugestões é limitar a carne vermelha e outras fontes de gordura saturada. A proteína pode ser obtida de leguminosas, castanhas, aves, peixes e frutos do mar.

Limitar também os alimentos ultraprocessados e as bebidas e alimentos com muito açúcar adicionado. Isso também pode ajudar a reduzir o consumo calórico, que ajuda a manter o peso sob controle.

Manter o corpo em movimento pode ajudar a prevenir AVCs

Levantar e caminhar por pelo menos 10 minutos por dia pode reduzir "drasticamente" o risco individual, diz a Dra. Cheryl Bushnell, neurologista da Faculdade de Medicina da Universidade Wake Forest, que integrou o grupo que criou as novas diretrizes. Entre os principais benefícios: o exercício regular pode ajudar a reduzir a pressão arterial, um dos principais fatores de risco para o AVC.

Mas claro, quanto mais, melhor: a associação recomenda a prática semanal de pelo menos 150 minutos de atividade aeróbica moderada, ou 75 minutos de atividade vigorosa, ou alguma combinação dessas modalidades. A forma como você faz isso não importa tanto, segundo os especialistas: vá à academia, faça uma caminhada ou uma corrida pelo seu bairro, ou use esteiras e aparelhos elípticos em casa.

Novas ferramentas para reduzir a obesidade, um fator de risco do AVC

Dieta e exercícios podem ajudar a controlar o peso, outro importante fator de risco para os AVCs. Mas uma nova categoria de medicamentos que podem reduzir drasticamente o peso foi aprovada pelos órgãos reguladores, fornecendo novas ferramentas para reduzir o risco de AVC desde a última atualização das diretrizes.

As diretrizes agora recomendam que os médicos avaliem a possibilidade de prescrevê- los para pessoas com obesidade ou diabetes.

No entanto, embora os remédios possam ajudar, as pessoas ainda precisam se alimentar bem e fazer exercícios, alerta o Dr. Fadi Nahab, especialista em AVC no Hospital Universitário Emory.

Novas diretrizes ajudam os médicos a identificarem quem pode ter risco mais alto de AVC

As novas diretrizes, pela primeira vez, recomendam que os médicos avaliem os pacientes por outros fatores que podem aumentar o risco de AVC, incluindo sexo e gênero, além de outros fatores não médicos, como estabilidade econômica, acesso aos cuidados de saúde, discriminação e racismo. Por exemplo, o risco de ter um primeiro AVC é quase duas vezes maior para adultos negros nos EUA em relação aos adultos brancos, segundo os CDC.

"Se uma pessoa não tem plano de saúde ou não consegue chegar ao consultório médico por problemas de transporte, ou se não consegue faltar no trabalho para buscar atendimento (...) todas essas coisas podem impactar a capacidade de se prevenir um AVC", diz Bushnell.

Os médicos podem indicar recursos para obter assistência de saúde ou alimentos a baixo custo, assim como dar sugestões para aumentar o nível de atividade física sem gastar muito com uma mensalidade de academia.

As diretrizes agora também recomendam que os médicos avaliem condições que podem aumentar o risco de AVC em mulheres, como pressão alta durante a gravidez ou menopausa precoce.

Como saber se estou tendo um AVC e o que devo fazer?

Três dos sintomas mais comuns de AVC são fraqueza facial, fraqueza nos braços e dificuldade na fala. O tempo também importa, porque os danos cerebrais podem acontecer rapidamente, e se o AVC é tratado logo, eles podem ser limitados.

Especialistas em AVC criaram uma sigla em inglês para ajudar na memorização: FAST. F de face (rosto), A de arm (braço), S de speech (fala), e T de time (tempo). Se você acha que você ou alguém próximo pode estar sofrendo um AVC, ligue imediatamente para o número de emergência.

Cidades

Aplicativo sobre de prevenção de desastres já tem 2 mil downloads

Mais de 1,7 mil municípios já foram mapeados

25/12/2024 19h00

Aplicativo sobre de prevenção de desastres já tem 2 mil downloads

Aplicativo sobre de prevenção de desastres já tem 2 mil downloads MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASI

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O aplicativo Prevenção de Desastres, desenvolvido pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), já conta com mais de 2 mil downloads. Mais de 1,7 mil municípios já foram mapeados e têm áreas de risco indicadas no app.

O aplicativo, lançado em maio deste ano, traz alertas sobre áreas de risco de inundações, deslizamentos de terra, enxurradas e outros fenômenos que podem impactar a segurança da população do país.

Na interface do app, o usuário pode visualizar informações do local onde está ou selecionar áreas de interesse. Entre os dados disponíveis, estão o número de edificações da região e de pessoas em áreas de risco.

O serviço de monitoramento também permite que os usuários possam inserir informações no mapeamento de risco e cadastrar inundações ou deslizamentos que tenham presenciado. O processo deve ser feito por meio da inserção de vídeos ou fotos e a descrição do fato.

IOS

O app já estava disponível para usuários do sistema Android e está sendo ampliado para outros dispositivos. Agora, usuários dos celulares e outros dispositivos desenvolvidos para sistemas IOS (Apple) já podem baixar o aplicativo. 

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