A diretora-presidente da MSGás, Cristiane Alkmin Junqueira Schmidt, passou 66 dias úteis deste ano fora de Campo Grande. Quando comparado com os 206 dias úteis do ano até agora, isso significa que a número um na hierarquia da estatal de gás e energia de Mato Grosso do Sul esteve ausente em 26,1% do período, o que equivale a dizer que a cada quatro dias úteis ela esteve um dia fora da cidade onde está localizada a sede da empresa.
A empresa, controlada pelo estado de Mato Grosso do Sul, desembolsou até o momento R$ 57,2 mil para pagar as 66 diárias da dirigente. No total, entre janeiro e agosto, a MSGás gastou R$ 197,1 mil em diárias. O valor destinado à diretora-presidente representa 30% do total desembolsado pela companhia.

O destino mais frequente de Cristiane Schmidt é o Rio de Janeiro (RJ), sua cidade de origem. Embora São Paulo (SP) seja considerada a capital financeira do Brasil, o Rio concentra a maior parte das reuniões do setor de gás e energia. Cristiane passou 45 dias na capital fluminense, período em que recebeu 40 diárias exatas, descontados os dias de deslocamento.
Foram 12 viagens entre janeiro e agosto. Na mais longa, realizada entre os dias 9 e 19 de maio, ela permaneceu 10 dias no Rio. O motivo foram compromissos no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) e no evento Conexão AT Gás.
As diárias também cobriram eventos em que a presidente da MSGás participou como palestrante. Em muitos casos, os custos desse tipo de evento são arcados pelos organizadores. No entanto, em ocasiões como a promovida pela Procuradoria-Geral do Estado do Rio de Janeiro (PGE-RJ), em que Cristiane integraria uma mesa de debate sobre o mercado de gás e a reforma tributária, as despesas foram custeadas pela estatal.
Houve ainda participações em encontros na FGV Direito, no Rio de Janeiro, e em eventos em capitais do Nordeste, todos com a presença da presidente. Curiosamente, nas visitas aos prefeitos do interior do Estado ou em audiências públicas com a população, Cristiane não participou diretamente – nessas ocasiões, enviou representantes.
Salário milionário
A diretora-presidente da MSGás passará a declarar no Imposto de Renda (IR) a renda anual de até R$ 1.248.269,52, somando salários e gratificações. Segundo a ata da 13ª Assembleia Geral Extraordinária da empresa, realizada em 28 de agosto, o salário-base da executiva subiu de
R$ 35.009,20 para R$ 58.500,00, um reajuste de 67,09%.
Na prática, a remuneração mensal total de Cristiane Schmidt alcança R$ 89.397,46, incluindo gratificação natalina, férias, vale-alimentação, vale-refeição, seguro de vida e planos de saúde e odontológico. Além disso, ela poderá receber até três salários adicionais como participação nos lucros e resultados (PLR).
O novo valor é mais do que o dobro do salário do governador Eduardo Riedel (PP), que recebe R$ 35.462,27, conforme o Portal da Transparência. O primeiro pagamento com o reajuste foi feito em setembro, e o aumento também contemplou os demais diretores da estatal.
O diretor técnico e comercial, Fabrício Marti, passará a ter renda anual de R$ 980.744,16, valor pago pela sócia privada da MSGás, a Commit Gás S.A., formada pelas empresas Compass e Mitsui. Já a diretora administrativa e financeira, Gisele Barreto Lourenço, receberá R$ 970.036,68 por ano, com salário-base de R$ 45 mil e benefícios idênticos aos da presidente. Seu reajuste foi de 44,38%, ante os R$ 31,1 mil que recebia anteriormente.
A decisão provocou reação do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria e Comércio de Energia do Estado (Sinergia-MS), que enviou ofício à diretoria da MSGás criticando a disparidade salarial.
A entidade destacou que, enquanto a presidente recebeu aumento de 67%, a maioria dos empregados “está há 10 anos sem ganho real”, acumulando perdas que “impactaram significativamente o poder de compra e a qualidade de vida”.
O sindicato defendeu uma política de valorização mais equilibrada e sustentável, que contemple também os servidores de base. A MSGás foi procurada pelo Correio do Estado para comentar os reajustes, mas não respondeu – a estatal está sem departamento de comunicação.
Na mesma assembleia, presidida pelo secretário Jaime Verruck da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), também foi definido o novo jeton do Conselho de Administração da empresa: cada conselheiro passará a receber R$ 7.020,00 mensais, sendo R$ 5.850,00 livres de encargos.
O Correio do Estado tentou contato com a MSGás. A empresa está sem responsável pela comunicação. Durante o contato, a reportagem foi destinada para um gravador eletrônico de mensagens. Uma mensagem, solicitando resposta, foi deixada.


