Sofrendo há décadas com assoreamento, o Lago do Amor em obras - há cerca de duas semanas - chama atenção dessa vez devido a uma das etapas do processo de "solução" dos transbordamentos, que envolve jogar mais terra nas águas que já acumulam sedimentos comprometedores ao "tempo de vida" do ponto turístico.
Essa situação do volume de sedimentos, acumulados no fundo do lago com o passar do tempo, é acompanhada pelo trabalho do Laboratório de Hidrologia, Erosão e Sedimentos (Heros), da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e da Hidrosed Engenharia.
Além do assoreamento, basta chover um pouco mais na Capital para que o Lago do Amor transborde e a água invada a pista, sendo que a solução prevista em execução é a construção de um novo vertedouro.
Bernardo Chagas é engenheiro da Secretaria Municipal De Infraestrutura E Serviços Públicos (Sisep) e, ao Correio do Estado, explicou que esse vertedouro ficará em um nível mais alto do que a primeira saída de água que já existe no lago.
"Enquanto o primeiro vertedouro é 'tulipa', esse segundo vai ser tipo 'monge' e vai ter mais uma drenagem de 80", explica ele.
Entretanto, ver ainda mais terra ser jogada no Lago do Amor, diante do problema do acumulo de sedimentos no fundo, chamou atenção.
Estudante de 22 anos, Matheus Lima confessa que sequer entendeu o que estava acontecendo com o montante de terra que invade a água na região. "Provavelmente, acho que vão fazer alguma coisa para gente observar lá de dentro. É estranho", revela ele.
Movido pela curiosidade, José Carlos (57 anos), comerciante da região, conta que foi questionar os trabalhadores do trecho para entender o processo. "Isso daí é para fazer um novo buraco, e eles falam que vai fazer um sumidouro", complementa ele.
Andamento e problemas
José Carlos completa destacando a falta de velocidade do andamento das obras. "Está bem lenta, até por causa da chuva também né", cita.
Passando pela região com frequência, Matheus também engrossa o coro de que as obras tem demorado dar sinal de um andamento notável.
"Tá lento, porque era um problema simples e virou dois, tendo que mexer dos dois lados. Acho que não resolve dentro do prazo, vai demorar um pouco mais", frisa.
Ainda, o estudante faz questão de ressaltar as "barreiras" que aparecem, diante da falta de comunicação do andamento dos trabalhos, para quem depende exclusivamente do transporte coletivo para chegar até a região, citando que os fechamentos atrapalham a movimentação.
"Quem pega ali na [Universidade] Federal tem que caminhar até mais pra frente. Às vezes está fechado do lado de lá, a gente não sabe direito como está funcionando, o ônibus vira e a gente perde a volta, está bem complicado", diz.
Carlos também pontua que, caso o Lago do Amor não receba o devido trabalho de desassoreamento, as atuais obras tendem a ser apenas paliativas.
"Vai ficar do mesmo jeito, porque está bem raso, então assoreado a água vai continuar passando por cima. Ao invés de fazer essa obra, deveriam limpar aqui", expõe.
Conforme o Heros, pelo estudo de caso do assoreamento, o ponto turístico vem diminuindo em área e, devido ao assoreamento, em uma década, registrou perda de 37% de volume em comparação com o primeiro levantamento
Confira as marcações do estudo:
Data | Volume (m³) | Área (m²) |
Agosto de 2008 | 199225,14 | 96354,30 |
Novembro de 2011 | 182002,59 | 90001,35 |
Fevereiro 2013 | 165742,92 | 87179,87 |
Novembro de 2013 | 155096,42 | 84476,44 |
Outubro de 2014 | 152310,47 | 82110,31 |
Março de 2016 | 158289,58 | 81777,36 |
Março de 2017 | 140759,07 | 75661,60 |
Novembro de 2018 | 125558,53 | 58913,87 |
Dados do ano passado (2022) mostram que esses últimos 37% registrados saltaram para 45% de perda da capacidade de retenção de água.
Inicialmente, considerando as taxas de variação de volume, o tempo de vida útil estimado do reservatório era de 18 anos, ainda em 2018.
Pelas previsões do estudo, o assoreamento completo do Lago do Amor é previsto até 2036, sendo que o ponto tem redução maior em área do que no volume, graças aos sedimentos depositados no deságue dos córregos que abastecem o reservatório, Cabaça e Bandeira.
"Esses dias tinham uns caras medindo e perguntei quantos metros tinha de 'fundura', disseram 'rapaz, a última vez que medimos tinha lugar que dava nove metros, agora tem 5m no máximo", conclui José Carlos.
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