O flagrante que levou à prisão do investigador Augusto Torres Galvão Florindo, detido pela Polícia Federal ao receber cerca de R$ 160 mil em Três Lagoas, reacendeu um alerta antigo dentro das forças de segurança de Mato Grosso do Sul, a atuação de servidores envolvidos com contrabandistas na faixa de fronteira.
Segundo o secretário de Justiça e Segurança Pública, delegado Antônio Carlos Videira, o caso não é isolado e que há procedimentos internos em andamento há algum tempo, conduzidos pela Corregedoria da Polícia Civil, para apurar desvios de conduta ligados a crimes transfronteiriços, como contrabando, descaminho e facilitação de atividades criminosas.
“Já existiam investigações instauradas antes mesmo do flagrante. Alguns servidores, inclusive, foram exonerados recentemente. As corregedorias, tanto da Civil quanto da Militar, têm atuado para coibir esse tipo de conduta”, afirmou Videira. Ele destacou que o crime organizado tenta corromper policiais que atuam no enfrentamento ao contrabando e ao tráfico na fronteira.
Apesar de não detalhar quantos servidores podem estar envolvidos, o secretário confirmou que há suspeita de participação de outras pessoas, além do agente preso. A apuração segue sob sigilo.
O flagrante
A prisão de Augusto e do ex-guarda municipal, identificado como Marcelo Raimundo da Silva, ocorreu após uma denúncia anônima recebida pela PF indicando que uma mulher sacaria grande quantia em dinheiro para o pagamento de propina a um policial supostamente ligado a contrabandistas.
Com base na informação, os agentes passaram a monitorar a movimentação e identificaram registros criminais por contrabando e descaminho relacionados ao casal citado na denúncia — ela e Raimundo, tinham histórico ligado ao crime.
A PF acompanhou o saque e flagrou o momento em que o dinheiro foi entregue aos agentes que foram presos em flagrante. Ambos devem responder por corrupção passiva, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
Durante interrogatório, Augusto confessou o desvio das mercadorias e afirmou que o valor recebido era referente à venda de produtos contrabandeados, supostamente oriundos de apreensões oficiais. Ele declarou ter atuado apenas no recebimento da quantia e se recusou a identificar outros envolvidos.
Em nota, a Polícia Civil informou que solicitou o compartilhamento do material da investigação federal e determinou a abertura imediata de procedimento administrativo disciplinar. O órgão reforçou que o caso diz respeito exclusivamente ao servidor investigado e não tem relação com a atuação da Garras.
A Corregedoria-Geral conduz a apuração com “independência, isenção e prioridade”, segundo o documento. A instituição reiterou que não tolera desvios de conduta e adotará todas as medidas cabíveis.
MPMS
Durante as investigações foi informado também que a esposa de Augusto é a promotora Luciana Moreira Schenk, que atuou por quase uma década, no grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial (Gacep/MS) que tem como objetivo atuar diante da prática de ilegalidades, abuso de poder ou de omissões dos integrantes das forças policiais e equiparados, promovendo a responsabilização, nas esferas civil, administrativa e criminal.
Após repercussão, a Associação Sul-Mato-Grossense dos Membros do Ministério Público (ASMMP) divulgou nota expressando apoio integral à integrante. No texto, a entidade repudiou publicações que associaram o nome da promotora ao crime praticado pelo marido e afirmou que o conteúdo gerou comentários ofensivos, alguns em “potencial caráter criminoso”.
A associação informou que tomará providências para preservar a honra e a segurança institucional da promotora, reconhecida, segundo a nota, pela conduta ética e trajetória exemplar no Ministério Público.
Investigações continuam
Com o flagrante e a confissão parcial do investigador, as corregedorias e a PF aprofundam as apurações para entender a extensão da rede responsável por desviar e comercializar produtos de alto valor apreendidos em operações.
A Sejusp, por sua vez, reforça que o trabalho interno segue “de forma firme, fiscalizando, punindo e, nos casos mais graves, exonerando”, enquanto tenta blindar os setores que atuam na linha de frente do combate ao crime organizado na fronteira.


