Cidades

Realidade

Falta de materiais, uniformes, e escolas "abandonadas" marcam primeiro dia de aula na Capital

De escola sem energia a matagal: estrutura da Rede Municipal não é a ideal

Continue lendo...

Nesta quarta-feira (8), cerca de 108 mil alunos da Rede Municipal de Ensino (Reme) retornaram às aulas em Campo Grande. Para as crianças, o início do ano letivo marca o começo de uma nova fase, cheia de expectativas.

Ao fim do dia, na porta das escolas, pais e responsáveis aguardavam por suas crianças. Ao tocar o sinal, elas saíram, felizes, agitadas e querendo contar como foi o primeiro dia.

O Correio do Estado acompanhou a movimentação no horário de saída dos alunos da Escola Municipal Senador Rachid Saldanha Derzi, localizada no Jardim Noroeste.

A empolgação das crianças era visível, mas, ao olhar em volta, é possível notar que a estrutura não está adequada para atendê-los. Através da grade, ao lado da entrada, é possível observar o mato alto, e o espaço “abandonado” no entorno das salas de aula.

Procurada pela equipe de reportagem, a diretora da escola não quis falar sobre o assunto, e afirmou que as pergutas deveriam ser direcionadas à Secretaria Municipal de Educação (Semed). Em resposta, a pasta informou que executa serviços de manutenção nas unidades da Reme durante todo o ano, com trabalho contínuo de limpeza, roçada, podas de árvores e pequenos reparos. No entanto, não respondeu quando a equipe passará pelo local.

Do lado de fora, a situação não é diferente. As crianças e seus responsáveis precisam escolher entre andar no mato ou na rua de terra, que nesta quarta-feira estava lamacenta por causa das chuvas.

Gerson Oliveira/Correio do Estado

Carmen da Silva, que mora em uma rua próxima à escola, relatou que em dias de chuva, como as que atingiram o local na última terça-feira (7), o caminho se torna um “rio”. 

“Nós somos alagados aqui. A gente está cobrando que o Município dê um respaldo para a gente, e até agora nada. São seres humanos que moram aqui. A gente não tem condições de passar aqui quando está tendo enxurrada. Tem crianças que precisam andar por aqui para ir para a aula”, desabafou.

Além destes obstáculos, as crianças saíram da aula sem os kits de materiais e uniformes, prometidos pela Prefeitura. Alguns utilizavam uniformes antigos, que às vezes nem estavam servindo mais.

Mãe de um aluno de 7 anos, que preferiu não se identificar, relatou que em 2022 o kit de materiais e uniformes demorou quase duas semanas para chegar. 

“Eu já imaginava que eles não iriam entregar os materiais no primeiro dia, então comprei para ele poder começar”, relatou. “Vamos ver como vai ser, porque ano passado eu peguei (os materiais) com duas semanas de aulas”.

Uma outra mãe, que buscava seu filho na porta da escola, mencionou que teve um ano em que o material chegou com um mês de atraso.

Alunos da Escola Municipal Professora Ione Catarina Gianotti Igydio, localizada no mesmo bairro, também saíram da aula sem seus materiais e uniformes. 

Caroline Lima, mãe de uma aluna de 6 anos da escola, foi buscar sua filha em seu primeiro dia de aula, e relatou que não tinha expectativas de que os kits fossem entregues hoje.

“Tinham nos informado que o uniforme e os materiais seriam entregues no primeiro dia de aula, mas eu duvidei, e acabei comprando materiais para ela não começar a escola sem nada”, comentou.

Durante entrega simbólica de uniformes, na escola de tempo integral Kamé Adania, no Bairro Nascente do Segredo, a prefeita Adriane Lopes afirmou que todas as escolas estavam preparadas para receber os alunos, mas explicou que a distribuição dos kits será feita gradativamente.

“Hoje as escolas estão recebendo as crianças totalmente equipadas, preparadas, com merenda e kit escolar, que está sendo distribuído em todas as sete regiões. Hoje inicia a entrega, mas estamos fazendo gradativo, por regiões”.

A Semed informou que os materiais e uniformes serão distribuídos conforme organização da direção de cada unidade escolar, e que algumas escolas já iniciaram hoje a entrega dos uniformes aos alunos.

Um outro problema preocupava Caroline: naquela manhã, a escola amanheceu sem energia, depois de mais de uma semana sem reparos. Segundo a Prefeitura, os fios haviam sido roubados.

A energia foi restabelecida no meio da manhã desta quarta-feira, enquanto os alunos do período matutino estavam em aula. 

“Se a energia não voltasse, eu não a traria para a aula”, comentou.

Além da escola Profª Ione Catarina Gianotti Igydio, outras duas estavam sem energia no início da semana: a Escola Municipal Nerone Maiolino e a Profª Maria Regina Vasconcelos Galvão.

Funcionários da Escola Municipal Nerone Maiolino temiam que os alunos ficassem até sem merenda, já que não havia energia para armazenar os alimentos refrigerados. No entanto, ao Correio do Estado, a escola informou que a energia foi restabelecida na última terça-feira, e que o primeiro dia de aula não teve imprevistos.

Na E.M. Profª Maria Regina Vasconcelos Galvão, a energia também foi restabelecida, sem prejudicar o primeiro dia de aula dos alunos.

LOA

Poderes ignoram crise e projetam gastança de era das 'vacas gordas'

Executivo prevê alta de 2,9% nas receitas, mas a Assembleia, TJ, MPE, TCE e Defensoria estimam alta de 7,9% nos gastos

16/12/2025 12h15

Em ano eleitoral, dentre as cinco instituições, o maior aumento de gastos está previsto na Assembleia Legislativa de MS

Em ano eleitoral, dentre as cinco instituições, o maior aumento de gastos está previsto na Assembleia Legislativa de MS

Continue Lendo...

Em meio ao cenário de corte de gastos por conta da queda na arrecadação de tributos, a Lei Orçamentária Anual (LOA) do Governo do Estado publicada no diário oficial desta terça-feira revela que os chamados Poderes estão longe de qualquer crise.

Prova disso é que seus orçamentos para o próximo ano cresceram 7,9%. Enquanto isso, a estimativa de crescimento geral de receitas do Executivo, responsável pelos repasses a estes órgãos públicos, teve acréscimo de apenas 2,9%. 

Na LOA do ano passado o Governo do Estado estimava despesas e receitas da ordem R$ 26,402 bilhões. Para o próximo ano, a expectativa é de que o montante passe para R$ 27,190 bilhões. O crescimento de 2,9% fica está abaixo do índice oficial da inflação dos últimos 12 meses, que é de 4,46%. Ou seja, em valores reais orçamento de 2026 está menor que o deste ano. 

Ao mesmo tempo,  a Assembleia Legislativa, o Tribunal de Contas, o Tribunal de Justiça, o Ministério Público e a Defensoria Pública fizeram orçamentos prevendo aumento médio de 7,9% em seus duodécimos, que passarão de um máximo de R$ 3,353 bilhões para R$ 3,620 bilhões. 

Os mais afoitos para aumentarem seus gastos foram os deputados, que passaram de um orçamento R$ 520.202.200,00 para R$ 567.574.000,00, o que representa aumento de 9%, ou mais que o dobro da inflação dos últimos  12 meses. 

A Defensoria Pública, que historicamente se dizia  o "primo pobre" dos poderes, aparece em segundo lugar neste ranking de aumento na gastança. Sua proposta orçamentária teve um acréscimo de 8,6%, saltando de R$ 347.325.900,00 para R$ 377.319.900,00. 

Logo em seguida aparece o Ministério Público, que tem a atribuição legal de fiscalizar a legalidade e a moralidade dos gastos públicos, com aumento de 8,3% na previsão de gastos. O orçamento anual subiu de R$ 705.520.700,00 R$ 767.151.800,00. 

O Tribunal de Justiça, o mais caro de todos, simplesmente acrescentou R$ 100 milhões e está elevando seu orçamento dos atuais  R$ 1.364.912.200,00 para R$ 1.464.780.100,00, o que equivale a um acréscimo de 7,3%.

Por último, mas também com um índice mais de 100% acima do percentual do Executivo, aparece o Tribunal de Contas, que está elevando em 6,9% seu orçamento, que passa de R$ 415.307.900,00 para R$ 444.019.300,00. 

Praticamente 90% destes valores são destinados ao pagamento de salários e justamente por conta dos generosos repasses do Executivo é que existem os supersalários, principalmente no Tribunal de Justiça, no Ministério Público e no Tribunal de Contas. 

CORTE DE GASTOS

E, ao mesmo tempo em que os aumentos de orçamento nos Poderes apontam para a criação de novos benefícios salariais, o Executivo deixa claro que está prevendo uma espécie de arrocho. 

Na LOA publicada no fim do ano passado, a administração central destinou R$ 14.159.962.800,00 para despesas com pessoal e encargos. Para o próximo ano, estão sendo destinados R$ 12.986.205.400,00,  o que representa redução de 8,3%. 

Situação parecida está prevista no que se refere às despesas com custeio, que devem recuar de R$ 7,69 bilhões para R$ 6,37 bilhões. Despesas com custeio envolvem, entre outros, gastos com combustíveis, energia, água e material de consumo nas diferentes secretarias. 

Mas, em ano eleitoral, os repasses aos deputados para as chamadas emendas parlamentares terão um generoso aumento, de 33%. O orçamento do ano passado previu R$ 72 milhões. Agora, serão R$ 96 milhões. Isso significa que cada deputado terá R$ 4 milhões para agradar suas bases eleitorais. Em 2025 este valor foi de R$ 3 milhões. 

 

FISCALIZAÇÃO

Em meio a crise, TCE faz pente fino em postos de saúde

Fiscalização do Tribunal de Contas começou nesta terça-feira (16) por unidade do Guanandi e vai avaliar 74 UBS e unidades de saúde da família em Campo Grande

16/12/2025 11h45

Ao todo, 74 unidades de saúde da Capital serão avaliadas ao longo da ação

Ao todo, 74 unidades de saúde da Capital serão avaliadas ao longo da ação Marcelo Victor

Continue Lendo...

Em meio às reclamações da população e denúncias de desabastecimento de medicamentos, o Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul (TCE-MS) iniciou, na manhã desta terça-feira (16), mais uma etapa da II Fiscalização Ordenada da Atenção Primária à Saúde nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidades de Saúde da Família de Campo Grande. A primeira unidade visitada foi a UBS Dona Neta, localizada no bairro Guanandi.

Ao todo, 74 unidades de saúde da Capital serão avaliadas ao longo da ação, que integra o calendário anual de fiscalizações do órgão e ocorre em um momento considerado sensível para a rede pública municipal de saúde.

Equipes formadas por auditores do TCE-MS percorrem as unidades para inspeção física, registros fotográficos, análise documental, entrevistas com servidores e usuários, além da aplicação de questionários técnicos.

Segundo o Tribunal, o objetivo é levantar um diagnóstico situacional detalhado das unidades, identificar falhas e apontar oportunidades de melhoria, como a elaboração de planos de ação que garantam atendimento mais eficiente à população.

A Atenção Primária à Saúde é considerada a principal porta de entrada dos usuários no Sistema Único de Saúde (SUS) e responde, em média, por cerca de 80% das demandas de saúde da população, resolvendo diretamente os casos ou encaminhando para níveis mais especializados de atendimento.

De acordo com o chefe de fiscalização de saúde do TCE-MS, Haroldo Oliveira Souza, a escolha pela atenção primária não é aleatória. “A nossa estratégia foi começar pela atenção primária porque ela impacta diretamente a população. É o primeiro contato que as pessoas têm com o SUS e onde muitos problemas podem ser resolvidos de forma mais rápida”, explicou.

Ele destacou ainda que a fiscalização em Campo Grande representa a etapa final de um trabalho iniciado ao longo do ano em municípios do interior do Estado. “Nós somos divididos por regiões de atuação e a Capital fecha esse ciclo de fiscalizações em 2025”, afirmou.

Infraestrutura, medicamentos e recursos 

Durante as visitas, os auditores seguem uma metodologia baseada em critérios da Política Nacional de Atenção Básica. Entre os principais pontos avaliados estão a infraestrutura das unidades, a distribuição e o acondicionamento de medicamentos, a disponibilidade de recursos humanos, além de itens como atendimento à gestante, imunização, equipamentos, informações aos usuários e fluxo assistencial.

A fiscalização funciona como um checklist. “O auditor confere item por item. Se algo não estiver de acordo com os critérios, isso vira um achado de auditoria”, explicou Haroldo. Esses achados são consolidados em um relatório que será encaminhado ao conselheiro relator, responsável por definir as providências, que podem incluir recomendações, orientações e até sanções.

A ação também foi impulsionada por denúncias recentes de desabastecimento de medicamentos em unidades da Capital, amplamente divulgadas por entidades médicas e pela imprensa.

“Dentro da nossa teoria do controle externo, a oportunidade é um fator importante. Nós já tínhamos a metodologia pronta, mas, diante das notícias sobre desabastecimento e da crise aparente na saúde de Campo Grande, decidimos ampliar e concluir esse trabalho agora, para colaborar com a solução do problema”, afirmou o chefe de fiscalização.

População cobra fiscalização

Para o TCE-MS, a iniciativa atende a uma demanda direta da sociedade. Segundo a diretora de controle externo do TCE-MS, Valéria Saes Cominale, que participa da ação, a saúde pública foi apontada como uma das principais áreas que a população deseja ver fiscalizada.

“Quase 50% da população, em consultas do nosso Plano Anual de Fiscalização Participativa, clamou por fiscalizações na área da saúde. Diante das denúncias e do que temos observado nas nossas matrizes de risco, ficou claro que Campo Grande precisava entrar nesse circuito de auditorias”, explicou.

Ela reforçou que o impacto da fiscalização é direto na vida dos usuários. “Avaliamos desde a estrutura física até a forma como a população é recepcionada. O cidadão tem direito a um bom serviço público, e é dever do Tribunal fiscalizar como esse serviço está sendo prestado.”

Na prática, os problemas apontados pelo Tribunal refletem o dia a dia de quem depende da rede básica. A doméstica Sueli Moreira de Oliveira, que buscava atendimento em uma unidade da Capital, relatou dificuldades para conseguir consulta médica.

“É a terceira vez que eu tento. Vim ontem e hoje de novo. Cheguei hoje às 5h30 da manhã e estou esperando até agora, sem saber que horas vou ser atendida”, contou. Segundo ela, a falta de médicos e a demora no atendimento acabam gerando prejuízos financeiros. “A gente perde o dia de serviço, paga Uber para vir e ainda corre o risco de ter o salário descontado.”

Apesar das dificuldades, ela avalia positivamente a fiscalização. “Eu acho excelente. Não só na saúde, mas em todo o Estado. Se levarem a sério, vai dar resultado. Não é possível passar ano após ano e continuar faltando medicamento.”

Além de Sueli, quem também estava aguardando um médico é a dona de casa, Edivânia Rodrigues dos Santos, que contou estar esperando antes das 6h um encaixe para sua filha, de acordo com ela, o médico havia saído para outro atendimento. 

"Não sei que horas ele chega, conversei com outra senhora que já tentou a consulta também e ela saiu 15h da tarde, eu não posso esperar até esse horário, é a primeira que estamos precisando", disse.

Maria da Silva também estava presente e afirmou que nem sempre consegue retirar o medicamento que precisa. “Não é qualquer remédio que tem. Alguns a gente consegue, outros não e aí todo mês tem que sair do nosso bolso né.”

Interior já revelou falhas graves

A primeira etapa da II Fiscalização Ordenada da Atenção Primária à Saúde ocorreu em municípios do interior, como Jaraguari, Rio Negro, Bandeirantes, São Gabriel do Oeste, Camapuã, Rochedo, Corguinho e Rio Verde de Mato Grosso. Ao todo, 40 unidades foram avaliadas por 12 auditores.

Entre os principais problemas identificados estavam a ausência de médicos no momento da fiscalização, precariedade na infraestrutura, falta de alvarás sanitários e do Corpo de Bombeiros, armazenamento inadequado de medicamentos, uso de geladeiras domésticas para imunização, equipamentos inoperantes e ausência de canais formais para reclamações dos usuários.

Agora, a expectativa é que o diagnóstico em Campo Grande sirva como base para correções imediatas e para o monitoramento contínuo das unidades, garantindo que a Atenção Primária cumpra seu papel de prevenir doenças, evitar a sobrecarga dos hospitais e assegurar atendimento digno à população.

Assine o Correio do Estado

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).