Enquanto Campo Grande esbanja alto poder aquisitivo com a instalação de novos shoppings, grandes lojas de varejo, mercado da construção civil em grande expansão e a administração municipal alardeia o fim das favelas, do outro lado do muro um contingente de miseráveis continua à espera de mudanças em sua vida.
Na Portelinha do Segredo, também conhecida por Morada Verde ou “Favela das Cobras” – alusão à presença e ao ataque desses répteis –, numa área de preservação ambiental 120 pessoas se espremem nos casebres numerados com spray.
É precária a fiação de energia elétrica – gato mesmo. Geladeiras, camas de solteiro e de casal, mesas e beliches velhos ocupam os espaços reduzidos. Duas motos e um automóvel usado estão estacionados em dois pequenos quintais.
São famílias que sobrevivem de empregos na construção civil, serviços domésticos, venda de alimentos e sonham com a casa própria.
Sofreram alguns pesadelos depois dos ataques de animais peçonhentos, insetos, aranhas e escorpiões. A maioria não está inscrita no Programa Bolsa Família.
Tainara Sofia Oliveira Fernandes, 23 anos, mãe de Beatriz, 4, Mateus, 2, e grávida de oito meses, correu para o Posto de Saúde 24h, do Bairro Coronel Antonino, levando o menino picado no calcanhar esquerdo por uma cobra jararaca. Mateus foi atacado no quintal, enquanto a mãe cuidava do casebre. “Só deu tempo de avisar o pai (Douglas, 27, pedreiro) no trabalho; aplicaram o soro (antiofídico) no Mateus e ele voltou para casa com os remédios (amoxilina e dipirona)”, conta a mãe.
Uma é pouco. No barraco da família de Marluce Oliveira, 33, faxineira, três filhos, apareceram duas corais, providencialmente mortas a pauladas pelos filhos e por vizinhos. Antes de sacrificá-las, Marluce telefonou para a Vigilância Sanitária. Queria capturá-las vivas, mas não lhe atenderam. “Dizem que tem gente que compra, né?” – indaga ao repórter.
Quem conta é o filho Diego Oliveira dos Santos, 16: “A gente chegou da igreja (Deus é Amor) e achou uma debaixo da roupa lavada em cima da cama, outra no banheiro.” Foi um sufoco.
Leia mais no jornal Correio do Estado