O ex-major da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul (PMMS) Sérgio Roberto de Carvalho, 62 anos, foi preso nesta terça-feira (21) em Budapeste, na Hungria.
Conhecido como Pablo Escobar Brasileiro, Carvalho movimentou R$ 2,25 bilhões entre os anos de 2018 e 2020, com exportações de 45 toneladas de cocaína à Europa, conforme a Polícia Federal.
Após desaparecer de Campo Grande em 2016 e iniciar o processo de logística internacional para o tráfico de drogas, Carvalho foi inserido na lista da Interpol em 2018.
O megatraficante, que foi expulso da PMMS em março de 2018 e condenado a 15 anos de prisão por tráfico de drogas, estava com um passaporte mexicano falso e era procurado pelas polícias do Brasil e da Europa. Ainda não há confirmação se o ex-major ficará preso na Europa ou se será extraditado para o Brasil.
Ao Correio do Estado, o secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul, Antônio Carlos Videira, destacou que a prisão do ex-major só foi possível por meio da cooperação internacional das forças policiais.
“A prisão do ex-major Carvalho mostra a integração da Polícia como um todo. Aqui no Estado, por exemplo, tivemos nos últimos dias a prisão de foragidos no Paraná [Luccas Abagge], fugitivos que foram repatriados no Brasil, e agora temos essa prisão na Hungria de um megatraficante. Isso mostra a integração da polícia não só nos países vizinhos, mas em todos os continentes”, salientou.
Conforme Videira, a prisão de Carvalho gera benefícios além do prejuízo ao tráfico de drogas. “Quando um megatraficante é preso, conseguimos combater outros crimes relacionados, principalmente o homicídio”, frisou o secretário.
Em nota, a Polícia Federal relatou que a prisão de Carvalho foi realizada em cooperação internacional com outras agências estrangeiras.
“A ação foi deflagrada pelo Escritório Central Nacional da Interpol em Budapeste na Hungria e teve como elemento essencial a troca de informações e difusão vermelha publicada a pedido da Polícia Federal”, diz a nota.
A prisão do ex-major foi realizada após investigações desenvolvidas no âmbito da Operação Enterprise, deflagrada pela Polícia Federal em 2020, que culminou na expedição de mandados de prisão para Carvalho e outros investigados, bem como na apreensão de mais de R$ 500 milhões da organização criminosa da qual ele era líder.
HISTÓRICO
O ex-major ingressou na Polícia Militar de Mato Grosso do Sul no fim da década de 1980 como comandante do Batalhão Militar de Amambai, área de fronteira do Estado com o Paraguai.
Na década de 1990, Carvalho já estava envolvido com atos ilícitos, como o contrabando de pneus. Anos depois, o ex-major foi pego contrabandeando uísque.
Em 1997, Carvalho já transportava cocaína da Colômbia e da Bolívia até o interior de São Paulo. No mesmo ano, o ex-major foi transferido para a reserva remunerada da Polícia Militar de MS.
No ano seguinte, foi condenado a mais de 15 anos de prisão pelo tráfico de 237 quilos de cocaína.
Após um longo processo e perda de seu posto e patente, sua aposentadoria foi suspensa em 2010. No entanto, em 2016, conseguiu reaver na Justiça o benefício de R$ 9,5 mil mensais.
Em 2019, o narcotraficante foi novamente condenado, desta vez a 15 anos e três meses de prisão, por usar laranjas em empresas de fachada para movimentar R$ 60 milhões.
O ex-policial militar também foi condenado, em 2008, a 15 anos de prisão por tráfico de drogas. No Brasil, o Porto de Paranaguá (PR) era o preferido da quadrilha de Carvalho para as remessas de drogas ao Velho Continente.
No território europeu, os integrantes da organização criminosa escolhiam com maior frequência o Porto de Antuérpia, na Bélgica, e depois o de Roterdã, na Holanda.
INVESTIGADO NA ESPANHA
Em janeiro deste ano, o ex-major também passou a ser investigado, na Europa, por fraudar um atestado de óbito.
A apuração corre na Espanha, e o foco da investigação é o médico Pedro Martín Martos, acusado de ter assinado o documento que alegava a “morte” do ex-major.
Conforme reportagem do Correio do Estado na época, os dados do médico constavam em um processo de mais de 6 mil páginas, que tramita na Justiça da Espanha sobre tráfico internacional de drogas, envolvendo Carvalho.
Martos assinou o atestado da morte de Paul Wouter, um dos nomes falsos usados pelo ex-major. No atestado de óbito é mencionado que Paul Wouter seria um cidadão do Suriname, nascido em 16 de dezembro de 1965 e com endereço domiciliar em San Juan Bosco, em Marbella, Málaga.
O documento diz ainda que a morte ocorreu às 10h50min de 29 de agosto de 2020. Contudo, o motivo do eventual óbito não consta no documento. Há informações de que o corpo foi cremado em Marbella, território espanhol.
Carvalho, no entanto, está vivo e falsificou documentos e passaportes com o nome de Paul Wouter e forjou a morte desta pessoa. Em 2020, um outro atestado circulou pelos juizados da Europa dizendo que Carvalho havia morrido em decorrência da Covid-19.
LISTA DE PROCURADOS
Conforme levantamento realizado pelo Correio do Estado, a lista da Difusão Vermelha da Interpol conta com 14 sul-mato-grossenses entre os mais procurados.
O último a ser inserido no sistema é o campo-grandense Juanil Miranda Lima, 45 anos, apontado como um dos pistoleiros denunciados na Operação Omertà.
Entre os procurados, 13 são homens. A única mulher de MS na lista da Interpol é Maria Ivonete Yamaguti Dutra, 70 anos. Natural de Bandeirantes, ela é procurada por furto contra entidade pública. Ao todo, 108 brasileiros fazem parte da lista de 7.199 procurados pela Interpol.
SAIBA
De acordo com a Polícia Federal, o ex-major Carvalho tentou importar 36 milhões de máscaras para o governo de São Paulo, por R$ 104,4 milhões. No entanto, o negócio não deu certo porque houve atraso na entrega do material e a nota de empenho foi cancelada.