Cidades

ENTREVISTA

"Hoje a escola de tempo integral entrega mais que uma escola parcial no Estado"

O secretário de Estado de Educação de Mato Grosso do Sul vê como positiva a mudança no Ensino Médio, mas propõe um aumento na carga horária básica para o ensino profissionalizante

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Na última semana, o governo do presidente Lula (PT) divulgou algumas mudanças no modelo do Ensino Médio público.

De acordo com a proposta, o governo federal pretende reduzir a carga horária destinada à diversificação do currículo e passar de quatro para duas as opções de áreas de aprofundamento a serem escolhidas pelos alunos, os chamados itinerários formativos.

O Ministério da Educação (MEC) encaminhará até o início de setembro um projeto de lei para efetivação das mudanças pelo Congresso Nacional. Antes disso, será preciso encontrar um consenso com os secretários de Educação dos 27 entes federativos.

O secretário de Estado de Educação de Mato Grosso do Sul e representante das demais unidades federativas, Hélio Queiroz Daher, explicou em entrevista ao Correio do Estado que os estados já encaminharam algumas propostas para alterar a carga horária básica. 

“A gente oficializou uma proposta. Dentro dessa proposta, tinha justamente uma readequação da carga horária, para aumentar um pouquinho a formação geral básica que já tinha sido diminuída”.

Daher também afirma que a mudança é positiva para o Estado e que a preocupação maior estava relacionada às disciplinas profissionalizantes, o que já foi resolvido pelo governo federal. 

"Nós temos 170 escolas que oferecem ensino em tempo integral. A nossa meta é universalizar a oferta. Todos os municípios do Mato Grosso do Sul têm de ter pelo menos uma escola oferecendo tempo integral. Faltam oito municípios apenas para a gente conquistar isso”.

O governo federal encaminhou para o Congresso novas mudanças para o Ensino Médio, com o aumento da carga horária das disciplinas obrigatórias e a redução da carga horária das disciplinas dos itinerários formativos. Como você avalia essa mudança? 

Essa alteração que o governo federal está propondo até conversa com aquilo que os estados propuseram e entregaram há um mês, mais ou menos. Eu coordeno o Ensino Médio dos 27 estados, assumi essa função.

Então, a gente oficializou uma proposta. Dentro dessa proposta, tinha justamente uma readequação da carga horária, para aumentar um pouquinho a formação geral básica que já tinha sido diminuída. 

Voltar a ter uma carga horária maior de formação geral básica era uma preocupação que os estados também tinham, principalmente Língua Portuguesa e Matemática. Então, havia essa preocupação. 

É positivo para nós esse aumento de carga horária, mas fica um gancho de preocupação com relação à carga horária da educação profissional.

Porque a gente tem de ofertar a educação profissional de nível médio e ela tem de ter, no mínimo, 1.200 horas de carga horária mínima. Se eu reduzo a carga horária do itinerário [formativo], eu não consigo mais encaixar a formação técnica de nível médio. 

Mas, para isso, o próprio governo federal apontou que as escolas que ofertam educação profissional vão poder utilizar uma carga horária mais flexível, ou seja, diminuir a formação geral básica para colocar a educação profissional, então, deu essa flexibilizada no processo.

Os estados, Mato Grosso do Sul incluído, acharam positiva essa mudança. 

Além da carga horária, o governo federal também quer estabelecer outras disciplinas como obrigatórias, além de Português e Matemática. O que isso vai trazer de mudanças para a forma como o Ensino Médio é aplicado hoje em MS?

Mato Grosso do Sul não vai ter diferença nenhuma, pois aqui já estava convencionado que essas unidades curriculares, essas disciplinas que o governo federal apontou agora, eram obrigatórias. 

Mato Grosso do Sul, desde o processo de implementação, quando surgiu a Lei nº 3.415, já havia definido que aqui não seria suprimido nenhum componente, então, aqui, Língua Portuguesa e Matemática, além de Geografia, Filosofia e Sociologia, vão permanecer como estão, porque, no caso de Mato Grosso do Sul, realmente não tinham sido suprimidas.

É que alguns estados passaram a trabalhar por área do conhecimento. Como aqui a gente atua na concepção diária, mas cada um com sua disciplina, não houve mudança na prática para nós. 

Outra crítica do governo federal é em relação às disciplinas que fazem parte dos itinerários formativos. Em MS, nós temos algumas disciplinas que são polêmicas, como a que ensina a fazer sabão.
Isso foi discutido com o governo federal? Quais seriam essas mudanças? O que será alterado e retirado dos itinerários formativos lecionados atualmente?

Na verdade, a proposta do governo federal direciona para dois grandes itinerários propedêuticos e o técnico. Dentro do que está no escopo dos itinerários, os estados vão permanecer com liberdade de propor.

Não é muito a questão da disciplina em si, como no exemplo da disciplina de fabricar sabão: você trabalha concepções de química na fabricação do sabão que são muito mais ricas, às vezes, que uma aula de química padrão.

Você trabalha ali a construção, a composição e a reação química para chegar em um determinado produto, e aí você envolve empreendedorismo, para como vender o sabão, envolve matemática e envolve física. Há uma relação de profundidade nisso. 

Então, o que ficou especificado no processo é que, dentro do que eles estão pensando, são menos itinerários, porque antes eram quatro itinerários e um técnico, agora passam a ser dois itinerários e um técnico.

Dentro do itinerário, você não vai replicar os componentes curriculares da formação geral básica, você tem de aprofundar, [já que] o itinerário é um aprofundamento. É muito importante agora aproveitar para realmente organizar a casa. 

{Perfil}

Hélio Queiroz Daher
Professor efetivo da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande, graduado em Geografia pela Universidade para o Desenvolvimento do Estado e Região do Pantanal (Uniderp) e especialista em Gestão Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Tem mestrado profissional em Educação pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).

Foi professor de Geografia nas redes municipal e estadual em Campo Grande. Foi coordenador de Educação Básica, superintendente de Gestão da Rede e Normatização, superintendente de Orçamento e Finanças da Secretaria de Estado de Educação (SED), membro da Comissão Técnica Nacional de Geografia do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD 2020) do Ministério da Educação.

Como os estados ficaram muito soltos, se você comparar um estado com outro, realmente os currículos meio que não conversam nos itinerários. E a gente espera que o MEC converse com os estados, para a gente construir juntos uma relação de possíveis itinerários que conversem entre si.

Com as mudanças, o governo federal também tenta incentivar o ensino em tempo integral. MS tem o objetivo de abrir mais 40 escolas até 2024. Essa meta deve ser cumprida? 

Vai, a gente vai cumprir. Hoje nós temos 170 escolas que oferecem ensino em tempo integral. A nossa meta é universalizar a oferta de ensino em tempo integral em Mato Grosso do Sul.

Todos os municípios do Estado têm de ter pelo menos uma escola oferecendo tempo integral. E isso está no escopo das 40 escolas para chegar. 

Faltam oito municípios apenas para a gente conquistar isso, então, a gente está bastante feliz, hoje MS é um dos estados que tem o maior porcentual de escolas oferecendo ensino em tempo integral, já passamos de 50% das escolas, mas a gente tem de continuar buscando ampliar.

É importante ressaltar que a gente não vai deixar de oferecer a escola em período parcial, porque a gente tem muitos jovens no Ensino Médio que já atuam no mercado de trabalho, que precisam do outro período para trabalhar.

Então, o Estado, da mesma forma que vai investir muito na ampliação do tempo integral, vai garantir para o jovem trabalhador que haverá espaço para poder estudar no período diurno em alguma das nossas escolas em qualquer município.

Quais os principais benefícios que você aponta para os alunos que estão em escolas de tempo integral? Acredita que a abertura dessas escolas reduzirá a evasão escolar?

 Hoje a gente pode afirmar, com números, que a escola de tempo integral entrega mais que uma escola parcial. Então, nós temos resultados de desempenho propedêutico melhor, os resultados de proficiência dessas escolas são melhores. Os índices de evasão e abandono também são bem menores.

Então, normalmente, o estudante da escola de tempo integral tem realmente um bom desempenho. 
A expectativa é de que, naturalmente, quanto mais estudantes nós tivermos em tempo integral, melhor serão os resultados.

Essa é a proposta. A gente ficou contente que há essa visão de que o governo federal vai ajudar a investir, porque a escola de tempo integral é cara, tem de ter refeitório, ter uma estrutura mais pesada, mais robusta.

É uma contrapartida que os estados esperam que o governo federal realmente ofereça, para apoiar e para que, justamente, a gente possa ampliar, já que para nós é superinteressante ampliar. Se o governo federal, ajudar melhor ainda. 

O governo do Estado resolveu manter as escolas cívico-militares por fazerem parte de um programa diferente daquele do governo federal. Algumas escolas municipais do interior também querem manter o programa. O Estado vai ajudar esses municípios a manter essas escolas?

Nós temos o programa estadual de escolas cívico-militares que não depende do programa federal. Então, as quatro escolas estaduais não foram afetadas, direta ou indiretamente, por essa medida. 

Nós temos um outro grupo de escolas municipais que tem programas de escola cívico-militares que não estão ligados diretamente ao programa estadual, mas que recebem ajuda do governo do Estado na formação de professores e na formação de equipe técnica, da parte da educação, e a cedência de servidores militares, da parte da segurança pública, como policiais militares e bombeiros. 

Existiam mais duas escolas que recebiam militares federais, e estas foram realmente impactadas porque vão perder os militares por conta do encerramento desse programa.

A gente vai ampliar a ajuda nesse sentido de formação de servidores. A parte de cedência de militares não é com a Secretaria de Estado de Educação, é com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública.

O secretário Carlinhos [Antonio Carlos Videira] já me procurou, para ver se a gente pode ajudar melhor, mas tem de ouvir os prefeitos, ver qual é a expectativa deles de investimento, ver como é que eles entendem isso, mas a nossa parte da questão – consultoria e formação – está mantida. 

Como o governo do Estado avalia o ensino das escolas cívico-militares? 

O que eu posso dizer é que as quatro escolas cívico-militares vêm apresentando um bom desempenho, melhor do que tinham antes de se tornarem escolas militares.

Então, para essas quatro escolas, a proposta de se tornar uma escola cívico-militar deu resultado. Realmente elas apresentaram melhora, tanto na frequência quanto na questão da proficiência. Então, a gente conseguiu realmente se estabelecer. 

Na comunidade, a presença de uma escola cívico-militar realmente contribui muito, principalmente em comunidades carentes, que têm um convívio com militares, que passam a dar uma sensação de segurança às vezes em comunidades muito inseguras, mas é importante salientar que a gente não considera que elas são melhores que uma escola comum. 

Nós temos escolas comuns que têm resultados melhores que escolas cívico-militares. Eu particularmente não acredito que elas [escolas cívico-militares] são melhores.

Elas apenas oferecem de forma diferente o conteúdo. Nelas você tem uma pegada de disciplina maior, e vai muito da vontade da família de ter a oferta dessa maneira. 

Tem pai que acha legal colocar em uma escola dessas, e o pai que não acha tem outras 74 escolas em Campo Grande que são comuns em que ele pode matricular o filho. Eu sempre faço essa observação, primeiro, para tirar essa questão de que a escola cívico-militar é melhor. Não é.

Ela tem bom desempenho, mas eu não posso dizer que ela é melhor porque eu tenho escolas comuns que também têm um ótimo desempenho. 

É como a escola confessional: nós temos escolas confessionais, que são ligadas à Igreja Católica, há muitas décadas elas existem e têm uma forma diferente de ensino também.

Nelas, tem-se uma relação com a missa e com o ensino religioso, e elas têm bons resultados. Inclusive, elas trabalham muito a disciplina, a gente até brinca que, às vezes, são mais rígidas que as escolas militares. 
Eu acho que, em um processo democrático, a gente tem de considerar a vontade da sociedade.

O que nós fizemos foi oferecer diferentes formas, por meio de uma escola cívico-militar, de uma escola confessional, de uma escola comum, de uma escola indígena, de uma escola quilombola, de uma escola para estudantes privados de liberdade, formas diferentes de oferecer educação para atender toda a sociedade. 

 

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Tribunais reunidos

Em meio a escândalo de venda de sentenças, MS recebe cúpula da Justiça brasileira

Com cinco desembargadores afastados, Tribunal de Mato Grosso do Sul é anfitrião do congresso do CNJ que definirá as metas do Poder Judiciário para 2025

25/11/2024 16h33

Operação Ultima Ratio foi desencadeada no dia 24 de outubro

Operação Ultima Ratio foi desencadeada no dia 24 de outubro Marcelo Victor

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Alvo de um dos maiores escândalos de venda de decisões judiciais da história recente do Brasil, com cinco desembargadores afastados no momento, sendo que o atual presidente e o próximo estão entre eles, o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul será anfitrião, nos próximos dias 2 e 3 de dezembro, do 18º Encontro Nacional do Poder Judiciário, organizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Em meio às investigações da Polícia Federal da Operação Ultima Ratio, que apura um esquema de venda de decisões que resultou em transferências de fazendas com escrituras falsas, em decisões tomadas por um desembargador sem ler o processo, e por uma ação de execução de honorários contra o Banco do Brasil levada adiante pelo escritório de um casal de filhos de um desembargador, cujo valor se assemelha a um prêmio de Mega-Sena, o evento do início do próximo mês vai “avaliar a Estratégia Nacional do Poder Judiciário”.

O 18º Encontro Nacional do Poder Judiciário, organizado localmente pelas autoridades de Mato Grosso do Sul e nacionalmente pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ainda vai, segundo o próprio TJMS, avaliar a “Estratégia Nacional do Poder Judiciário” e “aprovar as Metas Nacionais e Específicas para 2025”. “Bem como divulgar os tribunais agraciados com o Prêmio CNJ de Qualidade 2024.

Este ano serão debatidos temas vinculados à tecnologia, comunicação e sustentabilidade”, informa o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, um dos organizadores do evento juntamente com o CNJ.

A partir do próximo dia 2, quando se completará aproximadamente 40 dias da deflagração da Operação Ultima Ratio, o encontro reunirá a cúpula do Judiciário brasileiro, inclusive corregedores dos tribunais.

“O Encontro conta com a participação de presidentes e corregedores dos tribunais, integrantes da Rede de Governança Colaborativa do Poder Judiciário, responsáveis pela área de Gestão Estratégica e servidores da área de estatística”, acrescenta o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul.

O encontro que reunirá a cúpula do Judiciário do Brasil estava previsto muito antes da Operação Ultima Ratio, da Polícia Federal. Neste ano, para a realização do encontro, o CNJ realizou duas reuniões preparatórias, a primeira em maio e a segunda em agosto.

O evento, que é direcionado a “presidentes e corregedores dos tribunais, integrantes da Rede de Governança Colaborativa do Poder Judiciário, responsáveis pela área de Gestão Estratégica e servidores da área de estatística”, ainda será antecedido por outro evento, o “Arquipélago da Inovação”, que ocorrerá na tarde do dia 2 de dezembro.

“Esta atividade será exclusiva para gestores técnicos e negociais dos serviços de tecnologia da informação dos tribunais, e visa discutir desafios atuais e construir uma visão de futuro para a área de tecnologia do CNJ e dos tribunais brasileiros.”

Enquanto o Encontro Nacional do Poder Judiciário será realizado no Centro de Convenções Rubens Gil de Camilo, em Campo Grande, o “Arquipélago da Inovação” terá como sede o Bioparque Pantanal, conhecido popularmente como “Aquário do Pantanal”, também na Capital de Mato Grosso do Sul.

Balcão de Negócios

A Operação Ultima Ratio, da Polícia Federal (PF), com o apoio da Receita Federal, foi desencadeada no dia 24 de outubro. Ela fechou um imenso balcão de negócios que funcionava no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul e que envolve desembargadores, juiz de primeira instância, advogados (muitos deles, filhos dos desembargadores), conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul (TCE-MS) e empresários e lobistas que se beneficiaram do esquema de venda de sentenças.

A decisão que autorizou a operação foi do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Francisco Falcão.

Ele determinou o afastamento de cinco desembargadores de suas funções: o presidente da Corte, Sérgio Fernandes Martins; o presidente eleito da Corte, Sideni Soncini Pimentel; o vice-presidente eleito, Vladimir Abreu da Silva; e Marcos José de Brito Rodrigues e Alexandre Bastos. Todos eles estão proibidos de se comunicar entre si e de retornar ao TJMS e deverão utilizar tornozeleira eletrônica.

Os cinco, entretanto, levaram 12 dias para “vestirem” as tornozeleiras eletrônicas. Quando eles passaram a usar o aparelho de monitoramento, todo o processo envolvendo a operação já estava no Supremo Tribunal Federal (STF), sob a relatoria do ministro Cristiano Zanin.

Também estão afastados de seus cargos, com uso de tornozeleira eletrônica e impedidos de se comunicar com outros investigados, o conselheiro do TCE-MS Osmar Domingues Jeronymo e seu sobrinho Danillo Moya Jeronymo, servidor comissionado do TJMS.

Zanin, desde que recebeu a relatoria do caso, não tomou decisão alguma. Os alvos da operação seguem sem prestar depoimento. Também praticamente não há movimentações significativas no processo, que tramita em segredo de Justiça.

Na representação encaminhada no mês passado a Francisco Falcão, os investigadores da Polícia Federal queriam, na verdade, a prisão de alguns dos envolvidos, como o já citado Osmar Jeronymo, além do desembargador aposentado e atualmente advogado Júlio Roberto Siqueira Cardoso, o advogado Felix Jayme Nunes da Cunha, Diego Moya Jeronymo, Everton Barcelos de Souza e Percival Henrique de Souza Fernandes. Felix Jayme e Diego, segundo apuração da PF, eram grandes operadores do esquema, lidando com os pagamentos feitos aos desembargadores.

As decisões suspeitas

As vendas de decisões, popularmente conhecidas como vendas de sentenças, ocorriam de diversas formas e em vários processos. Um caso emblemático envolve desembargadores do TJMS, que aceitaram decisões baseadas em uma escritura falsa, lavrada no estado do Paraná, para transferir a propriedade de uma fazenda em Maracaju.

Outro caso envolve o desembargador Marco José Brito Rodrigues, que deu uma ajuda a um colega do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS): o procurador de Justiça Marco Antônio Sottoriva, após ele ter feito um mau negócio na compra de uma fazenda. Sottoriva queria desistir da compra e enfrentava um contencioso de R$ 5 milhões na Justiça com a outra parte.

Brito Rodrigues decidiu sem ler o processo, delegando ao seu assessor a elaboração da decisão, e atendeu ao pedido do amigo. Posteriormente, Sottoriva conseguiu um acordo para se livrar de pagar parcelas, aluguéis e lucros cessantes no desfazimento do negócio. Sottoriva agradeceu a Brito pela decisão favorável: “Graças a Deus e a seu trabalho”.

Há também o caso do ex-prefeito de Bodoquena, Jun Iti Hada, que pediu para parcelar a compra de uma decisão (para rescindir uma sentença em que ele havia sido condenado) em duas vezes, além de decisões favoráveis para soltar traficantes.

Também há o caso em que o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul impõe um prejuízo de R$ 178 milhões ao Banco do Brasil (BB), referente ao pagamento de honorários advocatícios aos filhos do desembargador Vladimir Abreu da Silva e ao advogado Felix Jaime Nunes da Cunha, apontado como lobista do esquema.

O valor, caso fosse um prêmio da Mega-Sena, seria o oitavo maior da história.

Curiosamente, o valor tem origem em uma dívida cobrada do Banco do Brasil a um casal de Três Lagoas na década de 1990 e nunca recebida. Após a prescrição do processo de execução ajuizado pelo banco, advogados do casal viram o valor dos honorários, negados em primeira instância, subir astronomicamente para R$ 178 milhões na segunda instância.

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Apostas Online

Pessoas procuram CAPS para tratar vício em Bets em Campo Grande

Desde que o Ministério da Saúde enviou uma orientação nacional para o enfrentamento do vício em jogos de azar online, os CAPS estão recebendo pacientes que sofrem de ludopatia

25/11/2024 16h00

Pagu / Correio do Estado

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A Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) informou que, entre março e outubro, 42 pacientes procuraram atendimento no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) para tratar o vício em jogo online que ficaram conhecidos como Bets.

Conforme explicou a coordenadora da rede de saúde mental da Sesau, Gislayne Budib, a patologia de vício em jogos é conhecida como ludopatia ou transtorno do jogo. Em entrevista ao Correio do Estado, contou que o transtorno tem como característica a necessidade compulsiva de jogar, mesmo que isso acabe trazendo prejuízos financeiros - como os jogos ilegais.

No entanto, é importante ressaltar que, muito antes do tema ganhar a mídia com a explosão dos jogos de azar online, os CAPS já recebiam e realizavam tratamento de pessoas que eventualmente apresentavam problemas com esse tipo de vício. A nota em questão chegou para alinhar a oferta de tratamento diante do problema enfrentado em todo o país.

Nota 


Diante do aumento de usuários de jogos online, o Ministério da Saúde distribuiu, no final de outubro, uma nota técnica a todas as secretarias de saúde com orientações sobre o atendimento.


A nota foi divulgada nas 17 Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF) e 74 CAPS.


A Sesau ressalta que essas unidades têm funcionamento 24 horas, com atendimento médio de 1.300 consultas ambulatoriais de saúde mental e 2.000 atendimentos mensais.

Atendimento


O Departamento de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas (DESMAD) do Ministério da Saúde reforçou que tanto a Atenção Primária à Saúde (APS) quanto os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) devem acolher pessoas com vício em jogos, prestar tratamento e realizar o acompanhamento do paciente.

  • Equipe multidisciplinar: compostas por profissionais de saúde de diferentes áreas (EMULIT), trabalhando de forma complementar e integrada às outras equipes da Atenção Primária à Saúde (APS).

  • Rede de Apoio: Familiares e amigos dos pacientes devem receber suporte e orientações sobre como lidar com o paciente no enfrentamento do transtorno de jogo.


A especialista ressaltou que a nota esclarece dúvidas, inclusive entre os profissionais de saúde, sobre como proceder para oferecer o melhor atendimento ao paciente que chega em estado de sofrimento.

O que leva a pessoa a procurar o jogo online?


No começo o jogo pode servir como diversão e até eventuais conexão social, mas depois evolui para outros fatores, como:

  • Conexão e interação social;
  • Satisfação de necessidades psicológicas não atendidas;
  • Escape emocional (principalmente em pessoas mais velhas);
  • Necessidade financeira;
  • Redução de estresse;
  • Ansiedade, depressão e solidão;
  • Luto;
  • Aposentadoria;
  • Dor física e problemas físicos.

Além do jogo, conforme explicou a médica, é comum o uso de outras substâncias, como tabaco e álcool. Eventualmente, a pessoa que desenvolve o vício apresenta:

  • Transtornos afetivos e de humor;
  • Transtornos obsessivos-compulsivos;
  • Risco de suicídio e autolesão.
  • Sinais de alerta
  • A pessoa dedica menos tempo à família;
  • Aumento do consumo de álcool e outras drogas;
  • Sentimento frequente de culpa, arrependimento, insegurança e vergonha;
  • Mentir sobre o tempo e/ou o dinheiro que gasta com o jogo.


Sintomas nas crianças

  • Crianças e adolescentes mostrando sinais de angústia e enfrentando dificuldades na escola;
  • Desempenho reduzido nos estudos ou no trabalho;
  • Mudança nos padrões de sono, alimentação ou relacionamento sexual;
  • Sentimentos de raiva, desesperança, solidão, desvalia e isolamento social;
  • Ideação suicida.

Vício das Bets


Segundo a Pesquisa DataSenado, 22,13 milhões (13%) dos brasileiros com 16 anos ou mais disseram ter jogado algum tipo de jogo de Bet na internet.


O recorte de pessoas que costumam fazer apostas esportivas é o seguinte:

  • Homens: 62%
  • Homens com idade entre 16 a 39 anos: 52%
  • Com ensino médio incompleto: 40%
  • Dos que costumam jogar online, cerca de 3% afirmaram ter usado mais de R$ 769 mil em jogos de aposta.

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