O crime organizado em Mato Grosso do Sul tem implantando diferentes níveis de complexidade em suas ações para promover ilegalidades e escapar de medidas judiciais. Além de lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e porte ilegal de armas, a proximidade com os países vizinhos instiga fugas, na tentativa de dificultar investigações.
É o caso de Fábio Corrêa da Costa, vulgo Cabeça, que tem uma condenação a mais de 23 anos de reclusão e tentava se esconder na Bolívia. Ele também traficava fuzis vindos dos Estados Unidos.
Cabeça foi extraditado no dia 21 e entregue à Polícia Federal (PF) em Corumbá. O condenado a 23 anos e 4 meses de prisão, por posse irregular de arma de fogo, tráfico internacional de arma de fogo, tráfico de drogas e organização criminosa, é envolvido em mais de uma quadrilha.
Uma delas tem ramificações em Campo Grande, Aquidauana, Anastácio, Bela Vista, Jardim, Caracol e Nioaque. Além dessa condenação, o preso responde a outro processo por organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Nesse caso da quadrilha com ramificações em sete cidades do Estado que envolve Fábio Corrêa, investigações conduzidas pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), apontaram que o preso tinha uma atuação centrada na logística para transporte de droga.
Ele é natural de Corumbá, mas a organização criminosa em que está envolvido usava principalmente Ponta Porã e Bela Vista para trazer maconha do Paraguai.
A droga acabava ficando estocada em entrepostos localizados em Anastácio, Aquidauana e Campo Grande. Depois, era levada por via terrestre para outros estados, como Bahia, Goiás e São Paulo, principalmente.
Por conta das conexões criminosas que o condenado Tem e dos dois mandados de prisão em aberto emitidos pela Justiça estadual, o nome dele constava na lista vermelha da Interpol.
A Dirección General de Migración, da Bolívia, divulgou que o nome de Fábio Corrêa constava em uma lista emitida para 196 países. Os detalhes da prisão no país vizinho não foram divulgados pelas autoridades brasileiras e bolivianas.
Porém, o ministro de Governo da Bolívia, Roberto Ríos, emitiu nota para destacar a importância de ações de cooperação internacional.
“Informamos à população que, por meio da Interpol Santa Cruz, foi executada a saída obrigatória do cidadão brasileiro Fábio Corrêa de Souza, que tinha notificação vermelha por tráfico internacional de armas, tráfico de drogas e outros crimes. Por meio de ações concretas, reafirmamos o nosso compromisso com a segurança e a cooperação internacional contra o crime organizado”, divulgou Ríos em uma rede social.
ARMAS VINDAS DE MIAMI
Nas investigações que ocorreram contra o condenado, Cabeça respondeu a processo também na Justiça Federal em Campo Grande. Nesse caso, ele estava envolvido com tráfico de armas, em conjunto com outras 18 pessoas.
Essa apuração ocorreu depois que sete fuzis foram apreendidos durante uma tentativa de levar o armamento de Corumbá para o Rio de Janeiro, em 2010. O trabalho investigativo ligou esses armamentos a traficantes no Rio de Janeiro e assaltantes que atuavam na Região Nordeste do Brasil.
O Ministério Público Federal (MPF), que ofereceu essa denúncia, apontou que as armas eram compradas em Miami (EUA) e trazidas para a Bolívia. Depois disso, os criminosos cruzavam a fronteira, via Corumbá, para entrar no Brasil e faziam a distribuição do armamento para compradores brasileiros de forma ilegal.
Parte das negociações que ocorriam eram feitas, inclusive, de dentro do presídio de Corumbá, na época, a partir de um telefone celular mantido clandestinamente.
O homem preso na Bolívia neste mês tinha a função de organizar o esquema do tráfico de drogas e armas, já que na época dessa investigação ele tinha um comércio em Corumbá e agia do lado de fora do presídio.
Além de fuzis vindos dos EUA, essa outra quadrilha em que Fábio estava envolvido fazia o tráfico de cocaína. Nas investigações da época, 217 quilos da droga chegaram a ser apreendidos em uma remessa destinada a São Paulo.
*SAIBA
Acordo binacional
A prisão de Fábio Corrêa ocorreu menos de um mês depois que houve a criação do Comitê Técnico Operativo Bilateral para Enfrentar as Organizações Criminosas Transnacionais.
Esse trabalho conjunto foi firmado em 17 de setembro e envolveu reunião feita em Brasília (DF) entre o ministro de Governo da Bolívia, Roberto Ríos, e o ministro de Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski.
Com a criação desse mecanismo, um canal direto para compartilhamento de informações relacionadas a chefes de redes do narcotráfico, tráfico de pessoas, quadrilhas ligadas a roubo de veículos e contrabando da fauna silvestre está em funcionamento.
Entre as determinações desse comitê, houve a definição de que as extradições ocorram de forma menos burocrática. As ações atingem a atuação do crime organizado na região de Corumbá, bem como na Amazônia.


