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Idoso com Covid-19 morre sem conseguir leito adequado para tratar doença

Homem de 66 anos de Naviraí estava em UTI, mas precisava de vaga que tivesse máquina de hemodiálise

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A três meses de completar 67 anos, Alcides Cavéquia morreu vítima de complicações da Covid-19 por não ter sido transferido para um leito adequado a sua complicação. 

O paciente estava intubado em uma unidade de terapia intensiva (UTI) de Naviraí, mas necessitava de uma vaga no setor crítico que possuísse máquina de hemodiálise. 

Sem conseguir o leito, o aposentado morreu e o Ministério Público de Mato Grosso do Sul promete abrir investigação sobre o fato. Essa pode ser a primeira pessoa de Mato Grosso do Sul a morrer pela doença sem receber atendimento adequado.

Segundo uma das filhas de Alcides, a biomédica Karla Cavéquia, 27 anos, o pai foi internado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no dia 5 de janeiro, já em estado grave, e dois dias depois foi solicitado a transferência dele para um leito com a máquina de hemodiálise.

“No dia 7, se não me engano, já começaram a pedir transferência para algum lugar para fazer hemodiálise, só que a gente não conseguiu. Comecei a correr atrás, tentei transferência para Três Lagoas, tentei transferência para Dourados, mas estava cheio, Campo Grande também. Aqui em Três Lagoas descobri que tinha uma vaga e eu tentei, só que na hora que eles foram aceitar, a vaga foi negada e eu não consegui transferir e aí meu pai começou a piorar”, contou a biomédica, que mora em Três Lagoas e tentou a vaga à distância.

Karla disse que a negativa de Três Lagoas se deu porque o município não é referência para o tratamento de hemodiálise para pacientes de Naviraí. 

“Eu só tentei a transferência para Três Lagoas porque eu liguei e perguntei se tinha vaga com hemodiálise e a moça me disse que tinha uma única vaga, então tentei fazer de tudo para ser o mais rápido possível. Mas na hora de aceitar, negaram falando que Três Lagoas não era referência com hemodiálise”.

Depois da negativa, os familiares partiram para a Justiça para tentar um leito por meio do vaga zero, quando o paciente tem prioridade de tratamento. 

“Como não consegui, no sábado entrei com uma ação com a Defensoria Pública, devia ter feito antes, mas achei que ia conseguir uma vaga. Foi solicitado [pelo hospital] desde o dia 7 [um leito], eles tinham que ter conseguido uma vaga. O defensor foi muito bom, ele fez de tudo para fazer o mais rápido possível e deu total atenção para o meu pai, ele tentou agilizar tudo para o processo ir mais rápido, ele disse que em média demora três dias para o juiz aceitar. Mas aí, no dia 10, meu pai não resistiu. Do dia 9 para o dia 10 ele entrou em estado gravíssimo e conseguiu chegar até de manhã”.

“O meu pai estava respondendo bem ao tratamento no pulmão, ele só morreu porque não tinha nenhuma vaga para fazer hemodiálise. Ele só precisava da máquina de hemodiálise e não conseguiram transferência para nenhum lugar para isso”, lamentou a biomédica.

Ainda segundo Karla, em Naviraí não há máquina de hemodiálise, nem na rede pública e nem na rede privada.

A reportagem tentou contato com o prefeito de Três Lagoas, Angelo Guerreiro, para entender o motivo da recusa do paciente, mas até o fechamento desta matéria não conseguiu retorno.

Por causa desse vai e vem de pedidos, e de a família ter acionado a Justiça para tentar salvar o idoso, o Ministério Público ficou sabendo do ocorrido e promete abrir inquérito para investigar em que circunstâncias isso ocorreu e onde houve falhas.

“Pelo menos vai diminuir a possibilidade de isso acontecer com outra pessoa. Ninguém merece passar por isso. Não desejo isso para ninguém. Ele estava sendo forte. Estava resistindo. Só não está comigo agora por não conseguirem um leito para ele”, declarou a filha sobre a investigação.

VAGA

Segundo a filha mais nova, quando foi dado a notícia da morte do pai, também foi contato que, naquele dia, foi aberta uma vaga para transferência do paciente, o que não pode ser feito.

“Segundo os médicos, ele tinha conseguido uma vaga, mas no mesmo momento que abriu uma vaga o médico me ligou dizendo que ele não tinha resistido. Então não sei se essa vaga era mesmo real ou se disseram para minha irmã para acalmá-la. Pode até ser que essa vaga tenha existido, mas foi muito tarde, eles pediram no dia 7 e só no dia 10 que liberaram em Dourados. E mesmo assim, pelo estado que ele estava não conseguiria chegar. Quando o médico me ligou para dizer que ele faleceu, disse que talvez ele não chegasse nem a Dourados, porque demorou muito para conseguir”, declarou a filha.

 

COVID

O aposentado morava com a filha mais velha, Stephanie Cavéquia, e um neto. A família ainda não sabe como ele pode ter contraído a Covid-19. O idoso não trabalhava, mas era ativo e costumava fazer seus afazeres, respeitando as medidas de biossegurança.

“Vivia de máscara e usava álcool nas mãos o tempo todo. Mas não foi o suficiente. Pode ser sido no mercado, no banco, na lotérica. Não sei como isso aconteceu. Ele precisava resolver as coisas, só dependia dele”, contou Karla.

Nem a irmã mais velha, nem o sobrinho, que tinham contato diário com Alcides, contraíram a doença. Como a biomédica morava em outra cidade, foi Stephanie quem o acompanhou durante seus últimos dias.

De acordo com uma das filhas, o idoso tinha pressão alta e estava acima do peso. Ele foi diagnosticado no dia 28 de dezembro, mas teve poucos sintomas nos primeiros dias.

“Ele já estava com sintomas há três dias antes de fazer o exame, mas os sintomas estavam muito brandos, só estava com corpo dolorido, nem febre ele estava. Ele fez todos os exames, o médico passou remédios para ele, fez um raio-X e estava normal, o pulmão dele estava ótimo. Não sei se porque os exames dele estavam normais e o raio-X também, o médico pediu para ele voltar só uma semana depois para o retorno. E uma semana depois, quando ele voltou, que foi no dia 5, os médicos falaram que ele já estava em estado grave e que tinha que ter levado ele antes. Meu pai não foi porque o médico disse para ele voltar uma semana depois só. Quando ele voltou ele já estava em estado grave e na hora já internaram ele e em poucas horas já intubaram”, lembra.

A última vez que Karla viu o pai foi no Natal, quando ela foi até Naviraí passar a data com a família. “Graças a Deus pude ver o meu pai, se eu soubesse que era a única vez, teria passado mais tempo colada nele”.

Um dia depois da morte de Alcides, um irmão dele que morava no Paraná também faleceu, da mesma doença. 

“Meu tio estava no Paraná. Ficou internado quase 90 dias. Estava intubado, fazendo hemodiálise. Ele faleceu um dia depois do meu pai. Eles não tiveram contato. Pegaram em locais diferentes”, relatou.

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Barroso diz que legalização de drogas leves é tendência mundial

Em palestra, ministro também falou de aborto e união homoafetiva

22/04/2024 21h00

Reprodução: Rovena Rosa/Agência Brasil

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O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, afirmou nesta segunda-feira (22) em palestra na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que no mundo democrático existem duas posturas possíveis para a questão das drogas ilícitas: uma, a da repressão, e outra, que vem ganhando corpo em todo o mundo, que é a da legalização das drogas mais leves. Segundo ele, a segunda acontece pela constatação de que a guerra contra as drogas fracassou e o modelo repressivo não conseguiu diminuir o poder do tráfico nem o consumo.

“A discussão que está no Supremo é a quantidade. A legislação brasileira não pune com prisão o usuário de drogas, o que faz muito bem, porque punir o usuário é um equívoco completo. Se ele estiver fora de controle, você vai tratar como dependente químico. Colocá-lo na cadeia é colocar mais um agente para o crime organizado. Nada, na minha visão, justificaria a prisão pelo porte pessoal para consumo. E o legislador acabou com a prisão do porte pessoal para o consumo, mas manteve a criminalização do tráfico”, disse.

Ele observou que se um jovem for pego com 40 gramas de maconha na zona sul do Rio de Janeiro, por exemplo, é considerado um portador para consumo próprio; porém se o outro jovem, geralmente negro, for pego com a mesma quantidade na periferia do Rio de Janeiro, é preso como traficante.

“Portanto, a mesma quantidade é tratada com pesos diferentes pela polícia, e o que o Supremo está discutindo não é descriminalização, não é a não prisão, porque isso já foi decidido. O que o Supremo está decidindo é qual a quantidade que vai distinguir traficante de usuário para que essa escolha não seja feita pela polícia por critérios discriminatórios”, explicou.

Outra questão abordada na palestra é a das uniões homossexuais. Para Barroso, a homossexualidade é um fato da vida que gera consequências jurídicas. “A ordem jurídica não dispunha sobre as relações entre pessoas homossexuais, que eu prefiro chamar de relações homoafetivas, porque uma relação de projeto de vida não é puramente sexual e no projeto afetivo existem as reuniões homoafetivas”, disse.

Nesse caso, segundo Barroso, era necessário definir quem tem o direito de herdar o que é construído ao longo de uma relação, se é a família de sangue ou é o companheiro ou companheira com quem a pessoa viveu por anos. “Alguém tinha que decidir isso, e o Supremo decidiu, na minha opinião, com acerto, que deve tratar como você trata as uniões estáveis convencionais. São os mesmos direitos sucessórios, previdenciários. Eu tenho o maior respeito pelo sentimento religioso das pessoas e a Bíblia expressa condenação ao homossexualismo, porém no mundo laico eu preciso ter uma solução jurídica para isso”.

De acordo com Barroso, caso contrário essas pessoas ficariam em um limbo jurídico, sem saber exatamente o que fazer. “E aí vem o casamento. Nós não achamos que o casamento é uma coisa boa, que diminui a promiscuidade, estreita as relações afetivas? Por que nós vamos excluir essas pessoas da prosperidade de terem um casamento? Essa é a minha posição, mas eu tenho o maior respeito pelas posições contra apostas”, ressaltou.

Com relação ao aborto,o ministro classificou a questão como a mais difícil do mundo, e uma coisa ruim, lembrando que o papel do Estado é evitar que aconteça, proporcionando educação sexual, distribuindo contraceptivos e amparando a mulher que queira ter o filho e esteja em condições adversas. “É perfeitamente legítimo a alguém ser contra, pregar contra e não fazer. Porém, tudo isso é diferente de achar que a mulher que viva o infortúnio de ter que fazer vá para a prisão. Nenhum país democrático e desenvolvido do mundo criminaliza, nem os mais católicos".

O ministro Barroso reforçou que prender a mulher que resolve interromper a gravidez não é uma boa política pública, e que a criminalização impede que as mulheres pobres tenham acesso aos serviços públicos de saúde que podem ser prestados. Ele reconheceu ser difícil para a sociedade chegar a um consenso sobre o tema, que é eticamente divisível, já que o momento do nascimento, do surgimento da vida, é uma questão de fé e de convicção.

“Tem gente que acha que desde o momento inicial da concepção com duas células já há vida. Tem gente que acha que é quando se forma o sistema nervoso, tem gente que acha que quando começa a formação da consciência. Existem muitas visões de mundo quando você trata de matéria em desacordo moral. É razoável que pessoas esclarecidas e bem intencionadas pensem de maneira diferente. O papel do Estado não é escolher um lado, e sim permitir que cada um viva a sua crença, a sua convicção", ponderou.

Questionado sobre os rumos que a inteligência artificial está tomando, Barroso respondeu que está preocupado e ao mesmo tempo animado, já que ela tem imensas potencialidades para fazer o mundo melhor e de tomar decisões melhor do que os seres humanos em alguns casos.

"A inteligência artificial é a transferência de capacidades humanas para computadores, feitas por softwares. Essas capacidades envolvem tarefas cognitivas e tomada de decisões. Como a inteligência artificial é capaz de armazenar uma quantidade de informações muito maior do que o cérebro humano e processadas em muito maior velocidade e muitas áreas, ela vai ser mais eficiente do que a capacidade humana", avaliou.

Ele citou como exemplo a medicina, campo no qual a IA já vem sendo usada em cirurgias e diagnósticos, e com melhor qualidade. Segundo ele, o uso dessa tecnologia automatizará tarefas que levam pessoas a neuroses causadas por tarefas repetitivas. Além disso, poderá evitar a exposição dos humanos a atividades de alto risco, como desarmar uma mina ou passar um cabo no fundo do oceano, por exemplo.

"Eu acho que tem muita coisa boa com a inteligência artificial, mas tem muitos riscos, como a discriminação, a privacidade, e o maior é a singularidade, que a IA adquira consciência. Porque se ela adquirir consciência de si própria e passar a ter vontade própria são as máquinas que vão dominar a condição humana e não vice versa porque elas têm muita muito maior capacidade de processamento de informação com muito mais velocidade", afirmou.

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Pedidos de isenção da taxa do Enem podem ser feitos até sexta-feira

Solicitações devem ser feitas pela Página do Participante

22/04/2024 20h00

Reprodução: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

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Termina na próxima sexta-feira (26) o prazo para pedir a isenção de pagamento da taxa de inscrição para a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Os pedidos devem ser feitos pela Página do Participante, com o login único do Gov.br.

Têm direito a fazer o Enem de graça os alunos matriculados no 3º ano  do ensino médio em 2024, em escola pública, e quem fez todo o ensino médio em escola pública ou como bolsista integral em escola privada. Também podem ser beneficiados participantes do programa Pé-de-Meia, do Ministério da Educação, e alunos de famílias de baixa renda – com registro no Cadastro Único para programas sociais do governo federal (CadÚnico).

O estudante que teve isenção no Enem 2023, mas não compareceu aos dois dias do exame, e quer participar da edição de 2024 gratuitamente precisa justificar a ausência. O prazo para a justificativa também encerra em 26 de abril.

O Enem é a principal porta de entrada para a educação superior no Brasil, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e do Programa Universidade para Todos (Prouni). Os resultados do Exame são utilizados como critério único ou complementar dos processos seletivos, além de servirem de parâmetro para acesso a auxílios governamentais, como o proporcionado pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

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