Cidades

PERSISTÊNCIA E DEDICAÇÃO

Capinador de lotes conquista vaga em Medicina na UFMS

Além disso, fez uma infinidade de outros bicos ao longo de anos. O último deles foi de garçom, em uma festa de formatura de uma turma de Medicina, em dezembro de 2024

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Com 26 anos completados no último dia 24, João Vitor Santos de Souza, que no dia 10 de março começa a realizar seu sonho de cursar Medicina na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,  certamente é o que se pode chamar de exemplo de dedicação e persistência. 

Morador do bairro Zé Pereira, na periferia oeste de Campo Grande, concluiu o ensino médio em 2016, na escola estadual conhecida como ADA, na Avenida Júlio de Castilhos. De família simples, sempre teve que trabalhar para se manter e ajudar no sustento da família. 

Dentre as muitas atividades que desempenhou, faz questão de destacar que desde criança capinava lotes para juntar algum dinheiro, principalmente na época de Páscoa, quando ele e um primo queriam comprar ovos de chocolate. 

Mas, mesmo depois de “marmanjo”, com mais de 20 anos, capinar lotes foi sempre uma alternativa que ele diz ter usado em períodos nos quais estava apertado e precisava de algum dinheiro para conseguir manter o foco e dar prioridade aos estudos. 

“Eu estudava de madrugada, atravessava a cidade de bicicleta e por isso chegava cansado no trabalho. Acho que por conta disso não tinha um bom desempenho”, avalia ele ao falar sobre a demissão depois de um período de 11 meses em que conseguiu se manter como estoquista em uma loja de revenda de peças para máquinas agrícolas. Neste período, lembra, almoçava rápido e aproveitava o intervalo para estudar. 

Além de capinar lotes, João Vitor também trabalhou durante muito tempo como vendedor em feiras-livres, atuou como pintor de paredes, atendente em conveniências e, entre outras atividades, fez bico em lava-jato. 

Mas uma destas atividades ele revela que tem sabor especial e orgulho  ainda maior. Ele se refere às “noitadas” trabalhando como garçom. Em dezembro do ano passado, por exemplo, semanas antes de sair o resultado do vestibular, foi garçom na festa de formatura de uma turma de Medicina.

João Vitor trabalhando como garçom na formatura de turma de Medicina

Ainda adolescente, quando já tinha o sonho de ser médico, trabalhou durante dois anos, como integrante do Instituto Mirim, na sede da Delegacia Geral da Polícia Civil (DGPC), no Parque dos Poderes.   

PAIS EXEMPLARES

Filho de uma auxiliar de serviços gerais que atua em uma empresa que faz a manutenção de prédios no Parque dos Poderes e de um pai que aos 45 anos cursou enfermagem (pelo FIES) e que hoje ganha a vida como cuidador de idosos, João Vitor faz questão de enfatizar que estes inúmeros trabalhos nunca lhe tiraram a certeza de que cedo ou tarde conseguiria uma vaga em Medicina em uma universidade pública em Campo Grande.

E esta conquista veio oito anos depois de concluir o ensino médio. Nunca teve condições de fazer cursinho. Por isso, estudou sozinho, com mais dedicação nos últimos seis anos. Além de receber material de amigos e pessoas que conheciam sua determinação, lembra que um livro de Física que pegou em uma prateleira em um terminal de ônibus foi fundamental para chegar onde chegou. 

Além disso, faz questão de citar a plataforma Aprovatotal, pela qual pagava, em média, R$ 35,00 por mês para ter acesso aos conteúdos oferecidos pelo educador conhecido como Jubilu, um professor de Biologia com 3,7 milhões de inscritos no Youtube. Nos 1,2 mil vídeos publicados, tem 627 milhões de visualizações. Uma parcela ínfima destes ecessos foram de João Vitor.

Embora seja dedicado, João Vitor nunca foi daqueles que podem ser classificados como nerd ou CDF. Sua meta era estudar pelo menos cinco horas por dia. Na prática, porém, estudava somente duas a três horas diariamente. 

Nos fins de semana, tinha ajuda da namorada, uma jovem que também é procedente de escola pública, conseguiu concluir Direito na UFMS, trabalha na Procuradoria-Geral do Estado e que promete só parar de estudar  quando for aprovada em concurso para ser defensora pública. 

Quando não estava trabalhando ou estudando, só se dava ao “luxo” de jogar futebol e frequentar academia rotineiramente. “Nunca fui de sair muito”, diz.

Seu ponto fraco sempre foi a Matemática e por isso sempre soube que tinha poucas chances de ser aprovado pelo Enem. Por isso comemorou o retorno do vestibular na UFMS, onde conseguiu uma das sete vagas destinas a negros e egressos de escolas públicas de famílias com baixa renda. 

E, mesmo que conseguisse vaga em alguma universidade fora de Campo Grande, dificilmente conseguiria se manter em outra cidade. Agora, mesmo morando na casa dos pais, já está em busca de bolsa de estudos para conseguir se manter ao longo dos seis anos em que deve durar o curso. 

Adepto de muita leitura, só foi aprovado, acredita ele, por conta do bom desempenho em redação. Enquanto a maioria conseguiu em torno de 650 pontos, obteve 800 dos avaliadores da Fapec, conhecidos pelo rigor na correção dos textos. 

Inicialmente a reportagem entrou em contato com a mãe de João Vitor, a faxineira Meire Santos, que nas redes sociais comemorou a aprovação do filho. “Não posso falar agora. Estou ocupada demais. Mas não é comigo que você deve falar, o mérito é todo dele”, limitou-se a afirmar a orgulhosa mãe, como se o exemplo dela e do marido não tivessem sido fundamentais para a conquista do jovem negro do Zé Pereira. 

O resultado do vestibular saiu no dia 28 de janeiro  e antes de efetivar a matrícula, João Vitor teve de passar por uma série de avaliações para atestar que tem direito a uma das vagas oferecidas aos cotistas. Nesta quinta-feira, porém, todas as etapas estavam cumpridas e agora se prepara para o primeiro dia na universidade pública, 10 de março. 

CAMPO GRANDE

Bioparque Pantanal terá Papai Noel mergulhador em programação especial de Natal

Atração promete encantar visitantes de todas as idades

14/12/2025 18h00

Atração promete encantar visitantes de todas as idades

Atração promete encantar visitantes de todas as idades Divulgação/ Gov MS

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O Bioparque Pantanal preparou uma programação especial de Natal para receber o público em dezembro, com uma das atrações mais aguardadas do período: o Papai Noel Mergulhador.

A apresentação está marcada para as 10h dos dias 23 e 24 e promete surpreender famílias e visitantes ao unir magia, educação ambiental e o contato direto com a biodiversidade.

A ação, que já se tornou tradicional no calendário do atrativo, leva o personagem natalino para dentro dos tanques, reforçando de forma lúdica a importância da conservação ambiental e da relação harmoniosa entre o ser humano e a natureza.

Atenção nos horários!

No dia 24 de dezembro, o Bioparque Pantanal funcionará em horário especial, das 8h30 às 14h30, permitindo que o público aproveite a véspera de Natal com uma experiência diferente em um dos maiores complexos de água doce do mundo. O último horário de entrada será até 13h30.

Já nos dias 25 e 31 de dezembro, não haverá visitação. O empreendimento também permanecerá fechado entre 1º e 7 de janeiro de 2026, período destinado à realização de manutenções internas, voltadas à segurança dos visitantes e ao bem-estar dos animais. As atividades serão retomadas normalmente no dia 8 de janeiro.

Bioparque Pantanal

Inaugurado em março de 2022, o Bioparque Pantanal já recebeu mais de 1 milhão de visitantes e se consolidou como referência nacional em turismo científico, inclusivo, sustentável e contemplativo. O espaço é reconhecido pela estrutura moderna e pelo compromisso com a educação ambiental, acessibilidade e conservação da fauna.

A visita ao Bioparque Pantanal é gratuita, mas o agendamento é obrigatório e deve ser feito exclusivamente pelo site bioparquepantanal.ms.gov.br.

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MANIFESTAÇÃO

"Sem anistia", manifestantes protestam contra PL da Dosimetria em todo o Brasil

Atos ocorreram em diversas cidades e classificam projeto como anistia disfarçada aos envolvidos no 8 de Janeiro

14/12/2025 17h00

Os atos foram organizados pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo

Os atos foram organizados pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo Divulgação/ Agência Brasil

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Manifestantes de diversas cidades brasileiras foram às ruas neste domingo (14) em protesto contra a aprovação do chamado Projeto de Lei da Dosimetria, que altera o cálculo das penas aplicadas aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Para os organizadores, o texto representa uma “anistia disfarçada” e abre caminho para beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro e integrantes de seu governo.

Os atos foram organizados pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, que reuniram movimentos sociais, centrais sindicais, estudantes e partidos de esquerda. Pela manhã, manifestações ocorreram em capitais como Belo Horizonte, Campo Grande, Cuiabá, Maceió, Fortaleza, Salvador e Brasília.

Na capital federal, o protesto teve início em frente ao Museu da República e seguiu em direção ao Congresso Nacional. Durante o trajeto, manifestantes entoaram palavras de ordem e exibiram cartazes com frases como “Sem anistia para golpista” e críticas diretas ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB).

Campo Grande

Em resposta a aprovação por 291 a 148 votos na última quarta-feira (10), centenas de campo-grandenses liberais se encontraram na esquina da Rua 14 de Julho com a Avenida Afonso Pena para protestar contra a tentativa de Anistia das pessoas que foram condenadas pelo 8 de janeiro, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Além de apoiadores, a manifestação contou com a presença de algumas autoridades da esquerda de MS, como o deputado estadual Pedro Kemp (PT), que foi o primeiro político a chegar no local.

Em conversa com a reportagem, o parlamentar falou sobre o movimento desta manhã e a importância de dar uma rápida resposta ao PL da Dosimetria.

"Mais uma vez, a população dá um recado para a Câmara dos Deputados, que está votando na contramão de tudo aquilo que a população deseja, porque quem atentou contra a democracia, quem quebrou a série dos poderes em Brasília, quem tentou dar um golpe de estado no Brasil tem que ser condenado e pagar por esses crimes. Dar uma lição na história de que nós não aceitamos mais golpes no Brasil", disse o petista.

O ex-deputado estadual e agora candidato ao governo de Mato Grosso do Sul pelo Partido dos Trabalhadores, como oficializado neste sábado (13) pelo presidente do partido, Fábio Trad também compareceu ao protesto.

"É um momento muito importante, mas não só para a esquerda, para todos os democratas. Eu convido também a direita liberal que respeita a democracia, aquela direita dos anos 90 que respeitava a vontade das urnas, que não apoiava os Estados Unidos contra o próprio Brasil. Ela deveria estar aqui conosco, porque o que está em jogo aqui hoje não é só uma disputa partidária, é uma questão de civilização e barbárie", destaca.

Paulista ocupada

Em São Paulo, a Avenida Paulista foi ocupada por manifestantes concentrados nos quarteirões próximos ao Museu de Arte de São Paulo (Masp). O ato reuniu representantes de sindicatos, movimentos sociais, estudantis e partidos políticos contrários ao projeto.

Durante o protesto, o coro de “sem anistia” foi repetido diversas vezes. Cartazes com dizeres como “Congresso inimigo do povo” ganharam destaque, assim como críticas ao comando da Câmara. Parte dos participantes vestiu roupas verde e amarelas para reforçar a rejeição à anistia dos envolvidos nos atos golpistas.

A votação do PL na Câmara ocorreu em meio a um episódio de tensão, após a retirada forçada do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) da Mesa Diretora pela Polícia Legislativa. Jornalistas foram impedidos de acompanhar a ação, e profissionais da imprensa relataram agressões.

Parlamentares da oposição avaliam que, com as mudanças previstas no texto, Bolsonaro poderia ter a pena reduzida de 7 anos e 8 meses para cerca de 2 anos e 4 meses em regime fechado, conforme o cálculo atual da Vara de Execuções Penais.

Segundo Juliana Donato, da Frente Povo Sem Medo, a mobilização foi motivada pela gravidade da proposta. “Nós entendemos que isso é uma anistia. Os crimes cometidos contra a democracia são muito graves e não podem ser perdoados. A impunidade abre espaço para novas tentativas de golpe”, afirmou. Ela acredita que a pressão popular pode influenciar a tramitação do projeto no Senado.

Protestos no Rio

No Rio de Janeiro, milhares de pessoas ocuparam as ruas próximas ao Posto 5, em Copacabana. O ato contou com a participação de movimentos sociais, sindicatos, estudantes, parlamentares, artistas e militantes de esquerda.

A manifestação ganhou caráter cultural com a participação de artistas como Caetano Veloso e Gilberto Gil, que se apresentaram durante a tarde. O evento foi batizado de “Ato Musical 2: o retorno”, em referência a uma mobilização anterior contra a PEC da Blindagem.

Além do PL da Dosimetria, os participantes protestaram contra a escala de seis dias de trabalho por um de descanso, o marco temporal para demarcação de terras indígenas, o feminicídio e cobraram transparência em investigações envolvendo o Banco Master.

Uma performance realizada por um grupo de mulheres chamou atenção ao comparar parlamentares favoráveis ao projeto a “ratos traiçoeiros”, com a distribuição de animais de borracha e fotos de deputados que votaram pela redução das penas.

A aposentada Angela Tarnapolsky, de 72 anos, afirmou que não poderia se omitir diante do que considera retrocessos democráticos. “Depois de tudo o que vivi desde a ditadura, é impossível aceitar um Congresso com esse nível de retrocesso”, declarou.

O deputado Glauber Braga participou do ato e agradeceu o apoio popular. Com a suspensão de seu mandato por seis meses, ele afirmou que levará o gabinete “para as ruas” e seguirá mobilizado contra o PL da Dosimetria e contra as chamadas emendas Pix, que permitem repasses de recursos públicos sem detalhamento do uso.

O que prevê o projeto

O PL da Dosimetria estabelece que os crimes de tentativa de golpe de Estado e de abolição do Estado Democrático de Direito, quando cometidos no mesmo contexto, sejam punidos apenas com a pena mais grave, e não pela soma das penas. O texto também reduz o tempo necessário para a progressão de regime, do fechado para o semiaberto ou aberto.

A proposta pode beneficiar, além de Bolsonaro, militares e ex-integrantes do alto escalão do governo anterior, como Almir Garnier, Paulo Sérgio Nogueira, Walter Braga Netto e Augusto Heleno.

Parlamentares da oposição preveem, para o ex-presidente Jair Bolsonaro, que o total da redução pode levar ao cumprimento de 2 anos e 4 meses em regime fechado em vez dos 7 anos e 8 meses pelo cálculo atual da vara de execução penal, segundo a Agência Câmara de Notícias. Mas a definição dos novos prazos será do STF e pode ser influenciada pelo trabalho e estudo em regime domiciliar, que diminuem o período de prisão.

O texto original previa anistia a todos os envolvidos nos atos de 8 de janeiro e dos acusados dos quatro grupos relacionados à tentativa de golpe de Estado julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Mas esse artigo foi retirado do projeto.

**Colaborou Felipe Machado**

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