As autoridades de segurança pública de Mato Grosso do Sul estão em alerta após a alta de casos de latrocínio (roubo seguido de morte) no ano passado. Em comparação com 2023, o número cresceu quase quatro vezes no Estado, saindo de 6 para 22 vítimas em 2024.
Esse aumento interrompeu uma queda que já durava seis anos: desde 2018 não se registrava um número tão grande de vítimas desse tipo de crime.
De acordo com o titular da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), Antônio Carlos Videira, o delito de latrocínio foi um dos dois tipos de crimes contra a vida que tiveram aumento no ano passado em Mato Grosso do Sul – o outro foi o feminicídio.
Por ser um tipo de crime considerado hediondo, a pena para quem comete latrocínio varia de 20 a 30 anos, e o condenado não tem direito a benefícios como progressão de regime e anistia.
Para Videira, um dos fatores que podem ter contribuído para essa alta seria um perfil que ele chamou de “o mais violento dos criminosos” e o desejo de eles não serem pegos.
“Muitos eram autores buscando não serem presos ou serem identificados. São sujeitos altamente perigosos e muitos de fora do Estado”, declarou o titular da Sejusp ao Correio do Estado.
O secretário também afirmou que esse aumento serviu de alerta para a Pasta, a qual busca, por meio do investimento da delegacia que investiga esses casos, uma forma de conter o ímpeto de quem comete esse tipo de crime.
“Temos tratado esses casos com muita rigidez, porque muitos das ocorrências que pareciam ser um homicídio simples você descobre que sumiu algo de dentro da casa da vítima e se tornam latrocínio, então temos que continuar investindo na Delegacia [Especializada] de Homicídios [e Proteção à Pessoa – DHPP], que é por onde esses casos entram. Estamos focando nisso para que os autores não fiquem impunes”, disse Videira.
Em maio do ano passado, uma portaria publicada com mudanças na delegação de investigações de homicídios sem autor conhecido, como no caso das execuções, colocaram essas ocorrências sob a guarda da DHPP.
Para isso, naquela mesma época, o quadro de funcionários da delegacia especializada foi ampliado, recebendo mais oito investigadores do Grupo de Operações e Investigações (GOI).
O investimento na delegacia, segundo Videira, é um outro fator que contribuiu para a identificação do tipo de crime e dos autores.
“Praticamente todos os autores foram identificados. O investimento que fizemos foi focando muito nisso, porque se esse sujeito comete um roubo seguido de morte uma vez, ele pode fazer outras vezes”, analisou o secretário.
A reincidência pode ser observada em pelos menos um dos latrocínios registrados no ano passado. Em junho de 2024, o taxista Devanir da Silva Santos, de 35 anos, foi morto em Ribas do Rio Pardo por um trio armado que teria obrigada a vítima a fazer saques em sua conta bancária.
Nesse caso, conforme os investigadores, os três envolvidos eram de fora de Mato Grosso do Sul, sendo dois vindos da Bahia e o terceiro, do estado de São Paulo. Um deles – o que teria executado a vítima – já teria passagem por um outro crime de latrocínio, dessa vez ocorrido no Paraná.
CONFRONTO
O titular da Sejusp ainda revelou que muitos dos autores envolvidos nesses casos de roubo seguido de morte também foram mortos em confronto com a Polícia Militar de Mato Grosso do Sul.
“Alguns desses autores morreram em embates com a polícia. Por ser um tipo de crime cujos acusados ficam mais tempo presos, muitos deles não querem ir para a prisão ou voltar para lá, como foi o caso de um fazendeiro que foi morto em Corumbá, tinha dois ex-detentos como seus funcionários e que ambos o mataram para roubar alguns pertences”, ressaltou Videira.
O exemplo citado pelo secretário ocorreu em fevereiro do ano passado. João Luiz Martins Cavalheiro, de 75 anos, foi morto a facada por dois de seus funcionários, os quais roubaram uma caminhonete Chevrolet S10 LTZ e outros pertences. Nesse caso, a dupla foi presa.
Porém, o mesmo não ocorreu em setembro do ano passado, quando Weslei Galvani, de 38 anos, foi morto em um confronto com o Batalhão da Polícia Militar de Choque.
O homem era suspeito de ter roubado e matado um policial militar em 2014.
Segundo dados reportados em matéria do Correio do Estado, no ano passado, 86 pessoas foram mortas por policiais no Estado, uma redução de 55% em relação ao quantitativo de 2023, quando 131 pessoas perderam a vida em supostos confrontos com policiais.