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Maior favela, Rocinha é estratégica para o tráfico e símbolo do caos do RJ

Maior favela, Rocinha é estratégica para o tráfico e símbolo do caos do RJ

Nicola Pamplona e Lucas Vettorazzo, Folhapress

22/09/2017 - 15h07
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No fim da manhã de domingo (17), após intensos tiroteios, moradores da favela da Rocinha, na zona sul começaram a postar em redes sociais os estragos provocados pela guerra de traficantes no local: paredes e veículos esburacados, muitos cartuchos pelo chão e, na cena mais chocante, um corpo carbonizado em meio a uma pilha de lixo ainda em chamas.

As cenas trouxeram à memória lembranças de outras guerras sangrentas na comunidade e deram início a uma operação policial que chega nesta sexta (22) ao seu quinto e mais conturbado dia, com tiroteios e ônibus queimados em retaliação ao avanço das tropas na comunidade.

Para especialistas, a volta dos confrontos representa um sintoma do fracasso das políticas de segurança no Rio, que vem passando por uma grave crise financeira -no último fim de semana, houve também guerra de facções no Juramento, no zona norte, com pelo menos sete mortos.

"Em um cenário de crise generalizada e aumento da violência, é natural que a disputa entre traficantes se intensifique", alerta o sociólogo Ignacio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Uerj.

Encravada em uma encosta de frente para São Conrado e de costas para a Gávea, bairros nobres da zona sul do Rio, a Rocinha era, de acordo com o último Censo do IBGE, a maior favela do Brasil em 2010, com 69.156 habitantes -a maior de São Paulo, Paraisópolis, ocupava na época a oitava posição, com 42.826 pessoas.

São, segundo o IBGE, 23.357 domicílios. Em 71% deles, o chefe de família tinha uma renda inferior a dois salários mínimos.

É ponto estratégico para o tráfico de drogas do Rio pelas facilidades logísticas: está próxima da zona Sul e da Barra, na zona Oeste -a principal entrada fica na maior via de ligação entre as duas regiões-, o acesso às vielas é difícil e a mata no alto do morro possibilita rotas de fugas para os bandidos.

DISPUTAS

A localização privilegiada fez da Rocinha alvo frequente de disputas entre facções. De meados dos anos 1980 até o início dos anos 2000, era controlada pelo CV (Comando Vermelho). Passou por diversos confrontos até a ascensão, em 2007, de Antonio Bonfim Lopes, o Nem, que é apontado como mandante da invasão desta semana.

Um dos piores momentos durou uma semana, teve 12 mortos -entre civis, suspeitos e o chefe anterior, Luciano Barbosa da Silva, o Lulu- e resultou na aproximação da facção ADA (Amigos dos Amigos) com o então novo chefe local, Erismar Rodrigues Moreira, o Bem-Te-Vi.

Em 2012, o governo do Rio implantou no local uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), que, se não acabou com o tráfico de drogas, mas pôs fim a um período de conflitos sangrentos na área.

A ocupação se deu dois anos após a invasão, por traficantes locais, do Hotel Intercontinental, em São Conrado, motivada pela interceptação, pela polícia, de um bonde de traficantes que voltavam de uma festa no Morro do Vidigal.

Naquela ação, estavam dois dos pivôs da guerra deste domingo (17): Ítalo de Jesus Campos, conhecido como Perninha, e Rogério Avelino, o Rogério 157. Com mais oito criminosos, eles fizeram cerca de 30 reféns e se entregaram depois de cerco policial ao hotel.

No último dia 13 de agosto, Perninha foi morto pelo grupo de Rogério 157, em uma declaração de guerra contra Nem, preso em 2011 durante o cerco à favela para a ocupação que implantaria a UPP.

De presídio federal de segurança máxima em Rondônia, Nem vinha demonstrando insatisfação com o comando de 157, que passou a cobrar dos moradores por serviços como fornecimento de água e mototáxi, e já tinha emitido ordens para destituí-lo.

No domingo (17), com apoio de homens de outras favelas controladas pela ADA (São Carlos, Vila Vintém e Macacos), seu grupo invadiu a comunidade. O grupo de Rogério 157 foi reforçado por homens dos morros da Babilônia e Chapéu Mangueira, controlados pelo CV, que vê no conflito uma oportunidade para retomar o tráfico na Rocinha.

Embora a polícia descarte a participação de representantes de criminosos do PCC (Primeiro Comando da Capital), a aproximação de Nem com o grupo paulista nos últimos anos pode ter influenciado na adesão do CV a Rogério 157, já que CV e PCC são rivais.

CRISE

A guerra pelo controle da Rocinha ocorre menos de um mês após a redução em 30% dos efetivos das UPPs, reflexo da crise financeira do Estado -impedido de repor policiais mortos e aposentados e com dificuldades para suprir as tropas com equipamentos adequados.

Ignácio Cano diz que, embora as UPPs não tenha impedido o tráfico de drogas onde foram implantadas, a presença policial inibia tentativas de outras fações de tomar aqueles territórios. "O custo de oportunidade dessas invasões aumentou com a presença da polícia", comenta.

Na segunda (18), a polícia iniciou uma operação por tempo indeterminado na Rocinha e, desde então, vem realizando operações nas comunidades de onde saíram reforços para a guerra, na tentativa de prender suspeitos.

Na Rocinha, comércio e escolas têm funcionado de forma irregular, dependendo da sensação de segurança e a área onde os conflitos foram mais fortes ficou sem luz até quarta (20), quando funcionários da empresa de energia puderam entrar para consertar transformadores queimados.

Entre segunda e esta sexta, cerca de 3.000 alunos de escolas públicas da região ficaram sem aulas devido à falta de segurança.

"Hoje foi o dia em que o bem perdeu para o mal, e foi de lavada!", escreveu no domingo (17) em sua conta do Facebook Mariana Alves, diretora do Projeto de ensino Cultural e Educação Popular (Pecep), curso pré-vestibular comunitário, após saber que seus alunos perderam a prova da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) porque não conseguiram sair de casa durante o tiroteio.

"Ao longo deste ano, eles passaram quase todos os dias estudando, aprendendo a aprender, descobrindo que são mais inteligentes que pensavam e que podem chegar mais longe do que fizeram eles acreditar durante tanto tempo."

TRANSPORTE COLETIVO

Quadro societário do Consórcio Guaicurus é apurado em CPI do Ônibus

Após algumas empresas se desfazerem de veículos e até de suas garagens, investigação pediu a comprovação de sociedade

10/04/2025 09h30

Lotação é uma das denúncias feitas para os integrantes da CPI

Lotação é uma das denúncias feitas para os integrantes da CPI Foto: Gerson Oliveira/Correio do Estado

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A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o contrato de concessão do transporte coletivo de Campo Grande com o Consórcio Guaicurus quer saber qual o quadro societário da empresa, que assinou com a prefeitura com a composição de quatro sócios-proprietários.

Segundo o vereador e presidente da CPI do Ônibus, Livio Viana Leite (União Brasil), o Dr. Livio, um dos requerimentos enviados visa justamente saber qual o atual quadro societário da concessionária.

“A grade societária, as empresas que formam o consórcio, tudo isso nós também pedimos nesta fase. Demandamos por meio de ofício para que nos fosse enviada a composição societária, e isso a gente vai apurar”, declarou o vereador.

Quando o contrato entre a Prefeitura de Campo Grande e o Consórcio Guaicurus foi assinado, em outubro de 2012, o grupo era formado por quatro empresas: Viação Cidade Morena Ltda. (empresa líder), Viação São Francisco Ltda., Jaguar Transporte Urbano Ltda. e Viação Campo Grande Ltda. Entretanto, ao longo dos anos, algumas delas venderam seus veículos, inclusive a garagem onde os carros ficavam.

No caso da Viação São Francisco, no ano passado, a empresa chegou a vender até a garagem onde ficavam os carros, enquanto a Jaguar manteve a venda de veículos e a sua garagem se tornou a sede do Consórcio Guaicurus.

Segundo a concessionária, as empresas seguem na sociedade, porém, não confirmou se elas ainda contam com carros em operação no transporte coletivo.

Para o advogado André Borges, apesar de o contrato de concessão determinar que as empresas devem mandar o nível do serviço, a saída de qualquer uma delas do grupo não deve resultar em penalidades à concessionária.

“O contrato de concessão trata disso. É um consórcio. Então, eles têm que manter o mesmo nível, a mesma quantidade e qualidade, durante todo o tempo. Não haveria quebra se alguma empresa saísse ou deixasse de existir, como já ocorreu com uma das viações [São Francisco ou Campo Grande]”, declarou o jurista.

CPI

Essa é apenas uma das linhas que a comissão tem apurado. De acordo com o presidente da CPI, ao longo desses primeiros dias, 212 denúncias sobre problemas no transporte coletivo já chegaram até a Câmara Municipal.

“[Recebemos] as denúncias dos usuários do dia a dia, questão da frota, de ônibus quebrado, de motorista que abandona trajeto, basicamente [tudo] relacionado aos usuários”, declarou Dr. Livio.

Uma das maiores reclamações, segundo o parlamentar, é com relação à superlotação dos carros.

“Vários cidadãos relataram que os ônibus estão operando com excesso de passageiros, especialmente nos horários de pico. Há, então, a preocupação com a segurança e o desconforto dos usuários”, pontuou o vereador.

Entre outros temas de reclamação também estão a má conservação da frota, problemas em linhas específicas (como a 138) e em bairros específicos (como as Moreninhas e o Noroeste), etc.

“A linha 138, por exemplo, foi citada por não atender adequadamente os usuários. Moradores se queixam da demora, da irregularidade nos horários e da ausência de veículos nos fins de semana. Algumas denúncias trazem reclamações genéricas sobre o sistema de transporte público, sem detalhamento técnico, mas que indicam um sentimento de descaso por parte do poder público e das empresas operadoras”, contou Dr. Livio ao Correio do Estado.

CRONOGRAMA

A CPI do Ônibus ainda está na fase de coleta de dados, de acordo com o seu presidente, cuja programação deve seguir até o dia 17. Se o cronograma for cumprido corretamente, as oitivas devem começar a partir do dia 23, uma vez que os depoimentos serão feitos sempre às quartas-feiras.

Os primeiros a serem ouvidos devem ser os diretores das autarquias responsáveis pela concessão, a Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetran) e a Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos (Agereg). As oitivas têm previsão de término para o dia 15 de maio.

A CPI do Ônibus foi instituída no dia 18, após várias tentativas de outros parlamentares de investigar o contrato entre a Prefeitura de Campo Grande e Consórcio Guaicurus. A comissão tem 120 dias de trabalho, podendo ser prorrogado por igual período. A previsão de término da investigação é para o dia 17 de julho, com a entrega do relatório final.

SAIBA

As denúncias para a CPI do Ônibus podem ser realizadas pelo número de telefone (67) 3316-1514, pelo formulário no site da Câmara ou pelo e-mail cpidotransporte@camara.gov.br.

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EM MS

PEC da Segurança reforça guardas e forças federais na fronteira

O aumento de efetivo nas corporações federais que atuam em Mato Grosso do Sul é uma das mudanças que se espera caso a proposta seja aprovada no Congresso

10/04/2025 09h00

A PRF deve ser a força com mais mudanças e aumento de efetivo

A PRF deve ser a força com mais mudanças e aumento de efetivo Foto: Gerson Oliveira/Correio do Estado

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Mudanças sugeridas pela Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública devem reforçar a atuação de guardas nos municípios e de forças federais na fronteira de Mato Grosso do Sul. Nesse contexto estadual, a ampliação das funções da Polícia Rodoviária Federal (PRF) deve ser a alteração mais significativa.

Além do trabalho já realizado hoje nas rodoviais, a PRF também faria a patrulha de ferrovias e rios, inclusive rios internacionais como o Paraná e o Paraguai.

Em entrevista para o Correio do Estado, o titular da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), Antônio Carlos Videira, informou que a PEC pode garantir para MS os investimentos necessários para a compra de equipamentos e para a melhoria de infraestrutura das forças de segurança que atuam no combate ao crime organizado na fronteira.

“A PEC da Segurança Pública é importante para garantir, por meio do Sistema Único de Segurança Pública [Susp], o aporte de recursos no custeio de coletes e equipamentos junto a investimentos na compra de armas, veículos, drones e tudo mais”, disse.

O secretário também declarou que a constitucionalidade do Susp, presente na proposta da PEC, é importante na garantia de orçamento e manutenção das ações de combate à criminalidade em âmbito nacional, tendo assim uma verba própria destinada para essa área.

Videira afirma que outros itens dentro da PEC devem ser discutidos, mas reiterou que a proposta também assegura o combate de crimes de grandes quadrilhas transnacionais e interestaduais.

“O principal, em regra geral, é você ter condições de combater o crime organizado de forma contundente muito além das fronteiras e das divisas, e quando você garante isso na Constituição Federal, que os recursos serão mantidos, é uma grande ferramenta”, frisou.

A PEC que passará por votação e possíveis emendas na Câmara dos Deputados e no Senado também abre o caminho para a transformação das guardas municipais em polícia, um movimento que já tramitava no Supremo Tribunal Federal (STF), a fim de dar esse poder para essa modalidade de força de segurança.

Entre as principais propostas nas mudanças dentro da PEC da Segurança Pública estão a padronização de protocolos, informações e dados estatísticos e a atualização das competências da Polícia Federal (PF) e da PRF, garantindo, no caso da PF, a atuação ostensiva no combate a crimes ambientais, bem como contra práticas cometidas por organizações criminosas e milícias privadas.

Ainda, a constitucionalização do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP) e do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) e a definição das atribuições das guardas municipais, incluindo-as entre os órgãos de segurança pública que poderão atuar na segurança urbana, em ações de policiamento ostensivo e comunitário, além de fazer prisões em flagrante.

EFETIVO

Durante entrevista para o Correio do Estado, o superintendente da PRF em MS, João Paulo Pinheiro Bueno, opinou sobre a importância de ocorrer um aumento de efetivo na PRF caso a PEC da Segurança seja aprovada.

“A gente entende que, com essa nova PEC, deve ter um aumento de efetivo, até para que a gente possa conseguir cumprir com a missão que vai ser dada a nós, que vai ser desempenhada pela PRF. Hoje, o efetivo da PRF é de 13 mil policiais, e aqui no Estado são 620. Então, a gente vai precisar de mais policiais, concursos, treinamentos e equipamentos”, declarou Bueno.

O superintendente ainda enfatizou que as mudanças já devem ocorrer com o término da construção da ponte em Porto Murtinho, que fará a ligação do Estado com a Rota Bioceânica.

“Vamos ter a nossa unidade operacional lá em Porto Murtinho, que será dentro do complexo da Receita Federal e da Polícia Federal. Essa nova unidade é para a gente poder cuidar de toda essa nova realidade no combate ao tráfico de drogas e de fiscalização da fronteira com o aumento do turismo”, analisou.

AVALIAÇÃO DA PEC

A reportagem do Correio do Estado repercutiu a apresentação da PEC na Câmara dos Deputados com os deputados federais e os senadores sul-mato-grossenses.

De acordo com o senador Nelson Trad Filho (PSD), a PEC da Segurança traz avanços importantes, sendo um deles o reconhecimento constitucional das guardas municipais.

“Dar esse respaldo jurídico [para a Guarda Municipal] ajuda a organizar essa atuação, padronizar procedimentos e valorizar esses profissionais. Outro ponto positivo é a blindagem do FNSP, impedindo que ele seja contingenciado. Isso garante mais previsibilidade e estabilidade para investimentos em tecnologia, capacitação e equipamentos”, disse.

Para o deputado federal Beto Pereira (PSDB), existem pontos favoráveis e outros bastantes complexos dentro da PEC da Segurança.

“A proposta ainda vai passar por uma comissão especial que vai debater o tema. Acredito que o Congresso vai melhorar muito a PEC. Vou propor que o Exército também faça parte das forças de segurança pública, principalmente nos estados de fronteira como é nosso”, afirmou.

Segundo o deputado federal Geraldo Resende (PSDB), a avaliação da PEC é positiva, principalmente na ampliação da atuação da PF e no reconhecimento das guardas municipais.

“A PEC promove uma integração mais estruturada entre os governos federal, estadual e municipal na formulação de políticas públicas para a área da segurança. Pretendo analisar a proposta com atenção e, se necessário, apresentar emendas que contribuam para reforçar o combate ao contrabando, ao crime organizado e a todas as atividades ilegais que ocorrem nas regiões de fronteira”, salientou o parlamentar.

Já o deputado federal Vander Loubert (PT) entende que a proposta representa um avanço inédito na coordenação entre as polícias federais e estaduais e as guardas municipais.

“Essa PEC é um esforço do governo federal, por meio do Ministério da Justiça, para criar um sistema nacional articulado para enfrentar o crime organizado”, declarou.

Questionados sobre a votação a favor ou contra a PEC da Segurança Pública, os parlamentares Loubert e Resende pronunciaram que votarão a favor da proposta.

SAIBA

A PEC da Segurança Pública tem como objetivo desburocratizar e dar maior eficiência ao trabalho de todas autoridades no combate às organizações criminosas.

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