A raiva, vírus que pode ser transmitido por vetores como o cachorro e o morcego, está no centro de um esforço binacional. Mais de 100 pessoas foram mobilizadas para realizar a vacinação de mais de 2 mil animais domésticos em Puerto Quijarro e Puerto Suárez neste mês.
As prefeituras de Corumbá e Ladário ficaram responsáveis por atravessar a fronteira e participar da vacinação feita de porta em porta.
O último caso de raiva no Brasil foi registrado em Corumbá, em 2015, no Bairro Nova Corumbá, e por isso as ações seguem intensificadas desde então. Como não há cura para a doença, fatal para os seres humanos, só a prevenção pode salvar vidas.
Além disso, um caso de doença que possa voltar recebe a classificação de “falência do sistema de saúde”, de acordo com as autoridades da área.
“Essa ação é um fortalecimento da vigilância na fronteira. Não há como separar essas realidades, já que a rotina e o fluxo de pessoas e animais entre as cidades são diários”, afirmou a gerente de Vigilância em Saúde de Corumbá, Walkíria Arruda da Silva.
SARAMPO
A raiva não é a única doença com esforços de combate na fronteira. Um surto de sarampo que vem se espalhando pela Bolívia, a Argentina e o México, bem como nos Estados Unidos, no Canadá e na Europa, ameaça o Brasil pelas fronteiras, como é o caso da região de Corumbá.
Esse risco para a saúde pública em Mato Grosso do Sul envolve uma mobilização binacional entre Brasil e Bolívia, com participação do Fundo Rotatório da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
Em julho, 600 mil doses de vacinas contra o sarampo foram doadas para o país vizinho, sendo metade dos imunizantes a vacina tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba) e outros 300 mil a vacina dupla viral (sarampo e rubéola). O trabalho é para imunizar crianças e adolescentes bolivianos com idade entre 1 ano e 14 anos, especialmente em Santa Cruz de la Sierra.
Mas, apesar dessas doses de vacinas, a Opas emitiu um comunicado no 15 para alertar novamente que haja reforço da vacinação e aumento da vigilância sobre a doença, para que haja intervenções rápidas por conta da escalada no número de casos.
Uma mensagem direta que orienta as ações em Mato Grosso do Sul, principalmente em Corumbá e em cidades de fronteira com Paraguai. No sábado, a prefeitura de Corumbá realizou mobilização na cidade para a aplicação de vacinas, começando no Bairro Ernesto Sassida. A ação vai se espalhar por outros bairros.
“A Organização Pan-Americana da Saúde pediu aos países das Américas que reforcem as atividades de vacinação, melhorem a vigilância de doenças e agilizem as intervenções de resposta rápida, diante do aumento de casos de sarampo na região. Até 8 de agosto de 2025, foram confirmados 10.139 casos de sarampo e 18 mortes relacionadas em 10 países, o que representa um aumento de 34 vezes, em comparação com o mesmo período de 2024”, divulgou a autoridade internacional.
Os estudos da Opas mostraram que a falta de vacinação está contribuindo com esse cenário em outros países. “Os surtos estão relacionados principalmente à baixa cobertura vacinal: 71% dos casos ocorreram em pessoas não vacinadas e 18% em indivíduos com situação vacinal desconhecida”.
Os esforços de imunização em 2024 alcançaram 89% de cobertura da primeira dose da vacina tríplice viral (MMR) na região, enquanto a cobertura da segunda dose aumentou de 76% para 79%. O nível recomendado, principalmente por conta do surto, é de 95%.
Conforme apurado com a equipe da Secretaria Municipal de Saúde de Corumbá, além das 600 mil doses distribuídas para a Bolívia em 12 de julho, em uma operação de grande porte que envolveu Ministério da Saúde, Ministério da Saúde e Esportes da Bolívia, Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores, Opas, bem como governo do Estado e prefeitura de Corumbá, já houve a distribuição de mais 20 mil doses de vacina para o país vizinho neste mês.
Até o fim deste ano, a informação dos bastidores é de que serão 1 milhão de doses doadas. Todos esses esforços significam mais de R$ 11 milhões investidos para tentar brecar o início de surto na Bolívia.
CASOS NO PAÍS VIZINHO
O cenário de surto nas Américas apresenta esses números: 4.548 casos no Canadá, 3.911 casos no México e 1.356 casos nos Estados Unidos, os três países com situações mais graves.
Depois, aparecem na lista Bolívia (229), Argentina (35), Belize (34), Brasil (17), Paraguai (4), Peru (4) e Costa Rica (1). Conforme a Opas, o Paraguai foi o último país a notificar um surto neste ano.
Com o aumento de casos, os registros de mortes acabaram aumentando. O México teve 14 óbitos, seguido por Estados Unidos, com 3, e Canadá, com 1. No México, autoridades de saúde informaram que a maioria das mortes ocorreu entre pessoas indígenas com idade entre 1 ano e 54 anos. O Canadá notificou um caso fatal de sarampo congênito em um recém-nascido.
Mato Grosso do Sul, com os esforços locais e estadual, vem conseguindo parcialmente frear o surto. Os casos identificados no Brasil atualmente se concentram no Tocantins (12).
“Os surtos atuais estão associados a dois genótipos do vírus do sarampo. Um deles foi identificado especialmente em comunidades menonitas, que estão presentes no Canadá, Estados Unidos, México, Belize, Argentina, Bolívia, Brasil e Paraguai. Como o sarampo é altamente contagioso, ele se propaga rapidamente entre populações não vacinadas”, detalhou a Opas.




