Cidades

Campo Grande

MS usa cabelo apreendido para fazer perucas para Rede de Combate ao câncer

Reeducandas do setor de artesanato do Estabelecimento Penal Feminino "Irmã Irma Zorzi" entregaram 123 perucas e receberam mais 40 quilos de cabelo humano apreendido pela Receita Federal que será matéria-prima para continuidade da ação

Continue lendo...

Nas mãos de reeducandas do Estabelecimento Penal Feminino "Irmã Irma Zorzi”, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, apreensões de cabelo humano que são feitas pela Receita Federal tornam-se perucas que, de mulher para mulher, fortalecem a Rede Feminina de Combate ao Câncer. 

Todo esse ciclo em prol do bem-estar e valorização da vida acontece através de uma parceria, que envolve tanto a Rede Feminina como também a Receita Federal e a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen). 

Rosana Aguilar Macedo é presidente da Rede Feminina de Combate ao Câncer, e destaca a importância das perucas para essas mulheres, que tornam-se símbolo de autoestima e esperança para as pacientes oncológicas. 

"Muitas mulheres chegam até nós fragilizadas e saem com um sorriso no rosto. É um trabalho que nos enche de alegria e gratidão. Agradeço à Receita Federal, à Agepen e às internas que confeccionaram com tanto carinho cada peça”, disse ela durante a cerimônia de entrega. 

Nessa última ação foram entregues 123 perucas, confeccionadas pelas reeducandas do setor de artesanato da Unidade Penal da Capital, com mais quarenta quilos de cabelos humanos apreendidos pela Receita Federal repassados como matéria-prima para continuidade da ação. 

Voltadas para pacientes em tratamento oncológico, o trabalho prisional aparece como um ato de solidariedade e simbolizando esperança quanto à valorização da vida, o que o próprio diretor-presidente da Agepen, Rodrigo Rossi Maiorchini classifica como uma das iniciativas mais bonitas. 

Para ele, essa ação que ultrapassa os muros do presídio demonstra o papel transformador do trabalho prisional, agradecendo inclusive o engajamento das equipes da Unidade Irmã Irma Zorzi. 

"As internas colocam dedicação e talento em algo que leva amor, autoestima e solidariedade a outras pessoas. Isso mostra que o trabalho prisional é uma ponte de transformação — dentro e fora das unidades", complementou em sua fala.  

Mari Jane Boleti Carrilho é responsável por dirigir o Estabelecimento Penal Feminino “Irmã Irma Zorzi”, e fez questão de ressaltar a mensagem passada através da parceria e ação no mês de outubro, de autocuidado e prevenção entre as mulheres.

 "Embora pareça um ato simples, a entrega das perucas representa um gesto de grande valor humano e solidário, resultado do trabalho dedicado das internas com o apoio voluntário da instrutora Dirce Ramos", disse. 

Apreensões de cabelo

O delegado da Receita Federal em Campo Grande, Zumilson Custódio da Silva, expôs em nota que esse destino para os carregamentos de cabelos humanos que são apreendidos também demonstram uma nova postura do órgão. 

Conforme o delegado, a RF em Campo Grande que tem priorizado ações sociais por meio do programa Receita Cidadã, já que antes o destino dessas apreensões eram somente serem levadas para leilões. 

"Transformam-se em solidariedade, em dignidade. Essa parceria com a Agepen e a Rede Feminina mostra o quanto o trabalho conjunto pode transformar vidas", cita ele. 

Em nome do Hospital de Câncer Alfredo Abrão, ao qual a Rede de Combate é vinculada, a presidente Sueli Lopes Telles também fez questão de ressaltar o grande valor simbólico dessa iniciativa, com os perucas sendo muito mais que um acessório. 

"Elas devolvem a confiança e a autoestima das mulheres em tratamento. Nosso hospital é responsável por 72% dos atendimentos oncológicos do Estado e trabalha com amor e acolhimento, em parceria com a Rede Feminina e voluntários que fazem do SUS um verdadeiro símbolo de esperança”, afirmou. 

Cabe destacar que, essa não é a primeira vez que o Hospital do Câncer é beneficiado com apreensões de cabelo, tendo em vista os 400 kg doados pela Receita Federal ainda em junho deste ano, uma vez que a unidade Alfredo Abrão é uma entidade filantrópica, que responde por 72% dos atendimentos oncológicos no Mato Grosso do Sul, com serviços prestados por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).

Apreensão de carregamentos ilegais de cabelos humanos tem sido frequente em Mato Grosso do Sul nos últimos anos, com centenas de quilos apreendidos nas mais diversas fiscalizações. 

Em 10 de abril, em Mundo Novo, por exemplo, a Receita Federal e equipe da Vigilância e Repressão da Alfândega da Receita Federal do município abordaram um carro que trazia: 

185 quilos de óculos, 2,3 mil maços de cigarro, 56 frascos de perfume, 19 kg de relógios de pulso, 6 mil unidades de pilha, 82 esteróides anabolizantes, 15 unidades de medicamento controlado, eletrônicos diversos e um revólver calibre 38.

Nesse caso, o motorista foi preso em flagrante e assumiu que receberia R$100 para levar as mercadorias até o município de Eldorado. 

Além disso, é importante frisar que esse transporte ilegal de cabelo humano pode gerar condenações, como no caso da mulher abordada em bloqueio em agosto de 2023, que transportava  141 quilos de uma carga avaliada em R$ 804,245 mil, presa em flagrante por descaminho. 
**(Com assessoria)

 

Assine o Correio do Estado

RELATÓRIO

MS lidera ranking de indígenas presos e terá de adaptar presídios

Estado tem a maior população carcerária indígena do País, superando o Amazonas, e deverá seguir novas diretrizes que garantem intérpretes e alimentação tradicional

31/12/2025 09h00

Estado teve 510 indígenas presos no primeiro semestre de 2025, segundo levantamento da Secretaria Nacional de Políticas Penais

Estado teve 510 indígenas presos no primeiro semestre de 2025, segundo levantamento da Secretaria Nacional de Políticas Penais Gerson Oliveira/Correio do Estado

Continue Lendo...

Mato Grosso do Sul é o estado brasileiro com o maior número de indígenas sob custódia do sistema penal, segundo dados revelados pela Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen).

A secretaria emitiu nota técnica revelando os dados, que integra o novo Plano Pena Justa e que estabelece uma série de mudanças obrigatórias para garantir os direitos da população indígena, pressionando a administração penitenciária sul-mato-grossense a adaptar suas rotinas de segurança e acolhimento.

“Ao relacionar as 10 unidades federativas com o maior número de pessoas indígenas custodiadas no Brasil, nota-se que há diferença se comparados com os estados que têm a maior quantidade de população indígena no País”, revela o documento.

De acordo com o levantamento federal, Mato Grosso do Sul tem 510 indígenas presos, no primeiro semestre de 2025.

O número coloca o Estado na liderança do ranking nacional, muito à frente de Roraima (2º lugar, com 304 detentos) e Rio Grande do Sul (3º lugar, com 234 detentos).

O dado chama atenção pela desproporcionalidade quando comparado à população total. Embora o Amazonas tenha a maior população indígena do País (quase 491 mil pessoas), ele ocupa apenas a 6ª posição no ranking carcerário, com 126 presos indígenas.

Já Mato Grosso do Sul, que tem a 3ª maior população indígena (cerca de 116 mil), encarcera quatro vezes mais indígenas que o estado do Norte.

A nota técnica da Senappen impõe “desafios logísticos e culturais” para a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen).

O governo federal determinou que a identidade cultural dos detentos não pode ser apagada pela máquina prisional.

O levantamento do Ministério da Justiça alerta ainda para um problema crônico que mostra que os números de MS podem ser ainda maiores: a classificação errônea de indígenas como pardos no momento da prisão.

A Senappen critica a prática de definir a raça/cor pela percepção do policial ou do agente penitenciário. A nova regra exige a pergunta direta: “Você se considera indígena?” Se a resposta for sim, deve-se perguntar o povo e a aldeia de origem, acionando imediatamente a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) da região.

Saúde e rituais

A nota técnica cita especificamente a estrutura de saúde de Mato Grosso do Sul como um ponto de atenção e potencial.

O documento destaca que a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) no Estado conta com profissionais capacitados, mas exige que o atendimento médico dentro dos presídios seja intercultural.

Isso inclui permitir a entrada de pajés e rezadores para assistência religiosa e espiritual, equiparando-a à assistência dada a padres e pastores.

As determinações da nota visam, de acordo com o Ministério da Justica, que o sistema penitenciário de Mato Grosso do Sul cumpra o Plano Pena Justa, visando retirar o Brasil do que o STF classificou como estado de coisas inconstitucional (ECI) nas prisões.

>> Mudanças nos presídios

Proibição do Corte de Cabelo > A administração não pode mais invocar higiene para cortar o cabelo de indígenas compulsoriamente. O corte é considerado uma violação da personalidade e identidade cultural.

Intérpretes Obrigatórios > Se o preso tiver dificuldade com o português, o Estado deve garantir um intérprete da sua etnia para todos os atos processuais e administrativos.

Alimentação Tradicional > Os presídios deverão permitir a entrada de alimentos tradicionais levados por familiares ou adequar o cardápio, respeitando hábitos alimentares da etnia.
 
Respeito aos Nomes >
O registro de entrada deve respeitar a autodeclaração, incluindo o nome indígena e a etnia, e não apenas o nome de registro civil aportuguesado.

Assine o Correio do Estado

SAÚDE

Acordo tira Santa Casa do sufoco, mas inicia pente-fino em suas contas

Termo prevê auditoria custeada pelo governo do Estado para fiscalização operacional, financeira e contábil do hospital

31/12/2025 08h15

O valor total do acordo feito entre prefeitura, governo do Estado e bancada federal para a Santa Casa é de R$ 54,1 milhões

O valor total do acordo feito entre prefeitura, governo do Estado e bancada federal para a Santa Casa é de R$ 54,1 milhões Marcelo Victor/Correio do Estado

Continue Lendo...

A Santa Casa de Campo Grande e o poder público fecharam um acordo aos “45 do segundo tempo” de 2025 para garantir o retorno integral de todos os atendimentos do hospital a partir de repasses adicionais, mas mediante uma auditoria terceirizada que será custeada pelo governo do Estado para fiscalizar setores internos da entidade filantrópica.

Conforme o termo de acordo assinado na noite de segunda-feira, ao qual o Correio do Estado teve acesso, a quinta cláusula deixa explícito que o Executivo estadual se comprometeu a pagar a realização de uma auditoria independente para analisar as ações operacionais, financeiras, contábeis e finalísticas da entidade.

“O governo do estado de Mato Grosso Do Sul se compromete a custear a realização de auditoria independente operacional, financeira, contábil e finalística da Associação Beneficente Santa Casa de Campo Grande, indicada pelo estado de Mato Grosso do Sul, com o objetivo de avaliar a gestão dos recursos públicos, identificar irregularidades, verificar o cumprimento das obrigações contratuais relacionadas à assistência, bem como propor medidas de melhoria operacional, abrangendo não só o objeto do presente acordo, mas toda a administração do hospital”, informa o documento.

Ainda segundo o acordo, serão feitas, pelo menos, seis avaliações na auditoria: análise da aplicação dos recursos públicos repassados à Santa Casa; verificação da conformidade das despesas com as normas de contabilidade pública e privada; avaliação do modelo de gestão e da estrutura organizacional; análise da terceirização (contratos) e quarteirização de serviços; verificação do cumprimento das metas de atendimento pactuadas; e recomendações para melhoria da eficiência operacional e financeira.

Inclusive, é destacado que a implementação das sugestões de melhorias expostas nos documentos será de responsabilidade da Santa Casa. Os relatórios da auditoria serão apresentados aos representantes da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), da Secretaria de Estado de Saúde (SES), e às Promotorias de Justiça de Saúde de Campo Grande.

A auditoria será realizada por uma empresa especializada, que deverá ser credenciada e com experiência em outras auditorias de instituições de saúde.

Além do pente-fino nas ações do hospital, a Santa Casa deverá prestar contas da utilização dos recursos previstos no acordo ao Estado, ao Município e ao Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), em 30 dias após cada pagamento.

O valor total do acordo feito entre prefeitura, governo do Estado e bancada federal para a Santa Casa é de R$ 54,1 milhõesProcurador-geral de Justiça falou sobre o acordo em coletiva - Foto: Marcelo Victor/Correio do Estado

Caso não seja feito dentro do prazo determinado, o documento prevê consequências aos gestores da entidade.

“A não comprovação da correta aplicação dos recursos implicará a suspensão imediata dos repasses subsequentes e na apuração de responsabilidade civil e administrativa dos gestores da Associação Beneficente Santa Casa de Campo Grande”, reforça a quarta cláusula do acordo.

FÔLEGO

O acordo prevê o repasse adicional de R$ 54,1 milhões à Santa Casa que serão parcelados pelos próximos quatro meses (R$ 24 milhões em janeiro, R$ 16 milhões em fevereiro, R$ 16 milhões em março e R$ 4,8 milhões em abril), dos quais R$ 23 milhões são do governo do Estado, R$ 15,1 milhões do Executivo Municipal e R$ 16 milhões da bancada federal.

Com isso, o hospital terá 100% dos seus serviços oferecidos retomados, após, nos últimos meses, 15 atendimentos chegarem a paralisar por causa da crise financeira da entidade.

“Com a assinatura do presente termo, a Associação Beneficente Santa Casa de Campo Grande se compromete a restabelecer de imediato todos os serviços médicos e hospitalares das equipes médicas (pessoas jurídicas) com as quais mantém contrato”, diz o documento.

Em conversa com o Correio do Estado, João Carlos Marchezan, diretor de Negócios e Relações Institucionais da Santa Casa, disse “que o acordado é começar imediatamente a urgência a 100% e eletivas num cronograma de retorno”, mas que ainda não há precisão de quais serviços vão ser retomados primeiro.

Ademais, R$ 9 milhões dos R$ 54,1 milhões serão usados para pagar o 13º salário dos funcionários e médicos celetistas até o dia 10 de janeiro, benefício que está em atraso desde o dia 20 de dezembro. Alguns setores do hospital chegaram a entrar em greve no fim de ano.

Para garantir que o acordo será cumprido de forma integral, uma comissão formada por representantes de ambas as secretarias de Saúde e do MPMS vai fiscalizar e acompanhar as ações durante os quatro meses.

Na manhã desta terça-feira, o procurador-geral de Justiça, Romão Ávila Milhan Junior, esclareceu que tanto o Estado quanto a prefeitura sofrerão uma multa de R$ 6 milhões caso descumpram os cronogramas de repasses.

Vale destacar que o acordo não substitui a contratualização entre a Santa Casa e o poder público para atendimento via Sistema Único de Saúde (SUS), sobre o qual o hospital alega que o repassado atualmente (R$ 32,9 milhões) não é suficiente para cobrir as despesas operacionais e pede reajuste para R$ 45 milhões.

Assine o Correio do Estado

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).