Cidades

falso

Não há evidências de que experimentos feitos no Zimbábue possam gerar energia limpa e infinita

Os experimentos atribuídos a Maxwell Chikumbutso nunca foram comprovados por cientistas independentes

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São falsas as afirmações feitas em um vídeo de que todo o mundo poderia ter energia limpa, gratuita e infinita citando uma suposta invenção feita por um homem no Zimbábue. De acordo com cientistas consultados pelo Comprova, é impossível que as ondas eletromagnéticas presentes no meio ambiente, como as do rádio, sejam transformadas em voltagem a ponto de alimentar um carro, por exemplo.

Conteúdo investigado: Em vídeo, uma mulher que não se identifica alega que todos poderiam ter energia gratuita, limpa e infinita, mas que a “elite do mundo não quer”.

Ela se baseia em invenções de Maxwell Chikumbutso, do Zimbábue, que teria criado um carro, um helicóptero e um televisor elétricos sem necessidade de carregar baterias graças à uma máquina que produz, a partir das frequências eletromagnéticas, até 50 mil volts, o que poderia alimentar até 10 mil casas. Junto da narração são apresentadas imagens do homem e das invenções.

Onde foi publicado: Facebook, Kwai

Conclusão do Comprova: É falso que as invenções de um cidadão zimbabuano possam fornecer energia elétrica gratuita e infinita. Os experimentos atribuídos a Maxwell Chikumbutso nunca foram comprovados por cientistas independentes.

O homem sequer divulgou como funciona exatamente o gerador de energia limpa que diz ter construído, informando, apenas, que a máquina utiliza um material que não pode ser divulgado por “segredo comercial” para gerar eletricidade a partir de radiofrequência.

Em contato com Chikumbutso, o Comprova questionou se foram registradas patentes, mas ele respondeu somente ser o inventor dos dispositivos autoalimentados.

De fato, há estudos demonstrando que frequências de rádio podem ser coletadas e convertidas em energia, mas isso ocorre em quantidades pequenas, capazes de alimentar apenas pequenos eletrônicos.

Físicos ouvidos pelo Comprova afirmam que é impossível que as ondas eletromagnéticas presentes no meio ambiente sejam transformadas em voltagem a ponto de alimentar um carro, por exemplo.

Além disso, para os especialistas, o conceito de “energia gratuita infinita” é, por si só, um “absurdo físico”, pois todas as transformações na natureza têm um custo, tanto natural, por necessidade de troca para que a energia seja captada, quanto financeiro, uma vez que são necessários investimentos para qualquer meio de produção e distribuição de energia.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O post aqui checado teve 12,5 mil curtidas no Facebook até o dia 27 de fevereiro, além de 4,3 mil compartilhamentos. No Kwai, foram mais 12,7 mil visualizações.

Como verificamos: Primeiramente, procuramos informações, via Google, sobre o inventor citado no conteúdo aqui checado e as invenções atribuídas a ele. Em seguida, pesquisamos se esses produtos haviam sido testados por cientistas ou instituições independentes.

Também entramos em contato com o homem e tentamos falar com jornalistas que acompanharam uma demonstração feita por ele. Por fim, consultamos físicos e estudos científicos sobre geração de energia.

Leis básicas da física impedem geração infinita de energia, dizem cientistas

No vídeo investigado, Maxwell Chikumbutso é apontado como suposto inventor de uma máquina que produz, a partir das frequências eletromagnéticas, até 50 mil volts, o que poderia alimentar até 10 mil casas.

Mas de acordo com o físico Clemente Augusto Souza Tanajura, professor do Instituto de Física da Universidade Federal da Bahia (UFBA), é impossível que as ondas eletromagnéticas presentes no meio ambiente sejam transformadas em voltagem a ponto de alimentar eternamente um aparelho eletrônico de grande porte, como um carro elétrico, por exemplo.

“O vídeo diz que é possível tirar energia dessas ondas eletromagnéticas. O que eu digo é que essas ondas têm pouca energia a ponto de ele [o inventor] conseguir ter algum mecanismo de extração. São ondas com pouca energia, pois não são ondas de alta frequência, como é a radiação solar, que se propaga através de ondas eletromagnéticas”.

Atualmente, a energia solar já responde por quase 15% da matriz elétrica brasileira. No entanto, ela sozinha não é capaz de gerar energia infinita, gratuita ou mesmo 100% limpa, embora o impacto ambiental seja bem menor do que outras fontes, de acordo com Tanajura.

“Para usar a energia solar, você tem que fabricar painéis fotovoltaicos. Isso tem um custo de mineração. E os painéis têm vida útil. Duram cerca de 20 a 25 anos. Depois, vai ter que repor e o que sobrou vira resíduo”.

Além disso, não é possível gerar energia solar durante a noite ou em dias nublados, o que impossibilita a infinitude.

“De acordo com o vídeo, esse cara está querendo pegar uma radiação eletromagnética que está a todo momento fluindo no ar, seja pelo rádio ou televisão, por exemplo. E que disso é possível extrair eletricidade. Eu não vejo como, pois teria que ser uma energia brutal, radiações de altíssima intensidade para serem convertidas em eletricidade. Numa situação dessa, estaria todo mundo andando na rua e tomando choque”, explicou Tanajura.

Também do Instituto de Física da UFBA , o professor Victor Mancir concorda com o colega.

“Se fosse da maneira como o vídeo apresenta, toda torre de rádio seria fonte infinita de energia. Essas radiações de radiofrequência, por si só, não são suficientes para desencadear processos capazes de fazer um carro se mover, por exemplo”.

Para o cientista, o conceito de “energia infinita” é um “absurdo físico”, pois todas as transformações na natureza têm um custo.

“Para que todo processo ocorra, algo tem que ser trocado. Logo, energia infinita é como se tivesse alguma coisa que sugasse o tempo todo a energia que vem do nada e vai para lugar nenhum”, explicou Mancir.

Já Tanajura lembra que toda geração de energia tem custo de produção, o que também torna sem sentido o termo “energia gratuita”.

“A usina hidrelétrica, por exemplo, se utiliza de água. Ela armazena a água em represas, que gastamos dinheiro para construir. A água fica armazenada e, quando cai, move uma turbina, que também precisou de dinheiro para ser produzida. E a energia é transmitida em cabos que também precisam ser mantidos. Então, mesmo a energia vinda da água da chuva, que seria uma fonte gratuita, precisa de investimento. O mesmo ocorre com a fotovoltaica e solar. As fontes são gratuitas, mas a produção tem custo. Portanto, é infantil o discurso do vídeo”.

Ondas de rádio podem gerar energia, mas para pequenos eletrônicos

Há diversos estudos demonstrando que frequências de rádio podem ser coletadas e convertidas em energia, mas capazes de alimentar apenas pequenos eletrônicos.

Conforme noticiado pelo Science Daily em 2021, por exemplo, uma equipe de cientistas da Universidade Nacional de Singapura e da Universidade Tohoku do Japão desenvolveu uma tecnologia que utiliza pequenos dispositivos para colher e converter as frequências em energia.

No estudo, os pesquisadores coletaram a energia usando sinais de wi-fi para alimentar uma lâmpada de LED de 1,6 volts. Atualmente, são feitas transmissões de informações por meio de ondas eletromagnéticas, como a rede wi-fi, cuja frequência de onda gira em torno de 2,4 GHz.

Ao Science Daily, o professor Yang Hyunsoo, do Departamento de Engenharia Elétrica e de Computação da Universidade de Singapura, informou que o resultado do estudo é um passo para transformar ondas de 2,4 GHz em uma fonte verde de energia, reduzindo, assim, a necessidade de baterias para alimentar eletrônicos. Contudo, ele se refere a pequenos dispositivos elétricos e sensores.

Algo semelhante é relatado pela Fundação Beneficente Optica a partir de um estudo da Universidade do Sul da Flórida, publicado em 2022. Pesquisadores desenvolveram uma antena para coletar energia de ondas de rádio e abastecer sensores, LEDs e outros dispositivos simples com baixos requisitos de energia.

O que se sabe sobre Maxwell Chikumbutso e suas invenções?

Alegações semelhantes à aqui investigadas foram objetos de checagens de agências internacionais ao longo dos últimos anos (Lead StoriesSnopesPolitifactAP News e Usa Today).

Todas as verificações informam que Chikumbutso fundou a empresa Saith Technologies no Zimbábue, na África, e que apresentou ao público três produtos: um carro elétrico, um helicóptero e um drone, todos com alimentação própria.

O evento ocorreu em 21 de julho de 2015, na capital Harare, e a realização foi antecipada pelo Techzim, um site do país voltado aos temas de tecnologia. No dia do evento, uma equipe do portal foi enviada ao local e outros três textos foram publicados.

primeiro é um resumo do que foi apresentado, acompanhado de fotos do evento. O segundo é uma análise sobre uma discussão iniciada no campo de comentários do anterior, sobre as invenções serem ou não verdadeiras.

Neste, o autor destaca não terem sido mostradas provas científicas das alegações feitas pelo suposto inventor.

terceiro analisa cada alegação de Chikumbutso, inclusive sobre o “gerador verde”, que, segundo o fabricante, dá suporte a todos os outros produtos.

Conforme a reportagem, o inventor alega que essa máquina expõe um material não divulgado pela empresa, alegando necessidade de “segredo comercial”, à radiofrequência, o que geraria energia.

O site de notícias afirma não ter como confirmar essa afirmação e esperar que um fórum de cientistas a coloquem à prova.

Snopes entrevistou o editor do Techzim, Leonard Sengere, que afirmou que o site nunca mais teve acesso ao inventor após o evento.

Naquele dia, acrescentou, o carro elétrico e o gerador foram mostrados funcionando, mas não havia chance de alguém verificar exatamente de que forma. O Comprova tentou contato com o Techzim, mas não recebeu retorno.

O evento de 2015 teve cobertura, ainda, do canal South African Broadcasting Corporation e imagens deste trabalho ainda estão disponíveis no YouTube. Uma parte dessas gravações é usada no vídeo aqui checado.

Lead Stories informa que a história apresentada por Maxwell Chikumbutso foi tema do documentário “Thrive II: This Is What It Takes”, de 2020, em que os cineastas afirmam ter sido apresentados ao gerador descrito como uma “máquina de energia verde fora da rede” e a um “dispositivo de energia microssônica” capaz de alimentar 300 residências.

Em uma página do site do documentário (arquivada aqui) há uma atualização sobre o tema afirmando que a pandemia atrasou a disponibilidade dos produtos da Saith Technologies e uma orientação para que se consulte o site da empresa, porém a página da Saith está inativa.

Os responsáveis pelo documentário acrescentam que garantem a eficácia da tecnologia que examinaram, mas que, em junho de 2021, a empresa estava “gravemente inadimplente” na entrega de dispositivos comprados internacionalmente.

A agência de checagem, que publicou a verificação em fevereiro de 2023, afirma que chegou a entrar em contato com uma conta do X atribuída a Chikumbutso e recebeu como resposta que o homem ainda está trabalhando no projeto, mas de forma reservada “por causa das sérias ameaças à segurança na minha vida”. O perfil, contudo, ignorou os pedidos de evidências científicas sobre os dispositivos.

A reportagem também enviou mensagens para a conta de Chikumbutso no X, questionando se ele registrou patentes e por que até hoje essas invenções não se tornaram populares. Ele respondeu somente ser o inventor dos dispositivos autoalimentados.

E-mails foram enviados para o governo do Zimbábue perguntando se o país reconhece o funcionamento dessas invenções na região, mas não houve resposta.

O que diz o responsável pela publicação: A autora da publicação viralizada no Facebook não respondeu à tentativa de contato.

O que podemos aprender com esta verificação: É essencial aplicar um olhar crítico e cético quando se deparar com alegações extraordinárias nas redes sociais, como a criação de dispositivos que desafiam leis estabelecidas da física e, principalmente, que fazem promessas distantes da realidade, como a produção de energia gratuita, limpa e infinita.

O cenário atual é justamente contrário a essa alegação, uma vez que crises energéticas são uma realidade em vários países por falta de insumos e há uma constante preocupação em encontrar fontes de energia sustentáveis.

Além disso, o simples fato de uma pessoa afirmar ter inventado algo não é suficiente para aceitar sua validade, sendo necessárias evidências sólidas e revisão por pares para confirmar a legitimidade de novas tecnologias ou descobertas, o que não ocorreu, até o momento, com os produtos anunciados por Maxwell Chikumbutso.

Informações sobre assuntos tecnológicos e, principalmente, quais as limitações deles, devem ser consultadas em fontes de qualidade, como relatórios científicos publicados em revistas conceituadas e reportagens em veículos de imprensa especializados.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Conteúdos semelhantes a esse foram checados por Lead StoriesSnopesPolitifactAP News e Usa Today.

O Comprova já verificou outros assuntos relacionados à eletricidade, como o fato de a taxa sobre energia solar ter sido sancionada no governo de Bolsonaro, não de Lulaser falso que o MST tenha destruído uma estação de energia no Amapá e que uma postagem engana ao relacionar apagão a decreto para compra de energia na Venezuela.

SISTEMA CARCERÁRIO

Em Campo Grande, 148 presos terão "saidinha" neste Natal

Durante o dia, presidiários não podem frequentar bares, boates ou locais de aglomerações e ingerir bebida alcoólica; já a noite, devem, obrigatoriamente, permanecer em casa

25/12/2025 17h45

Centro Penal Agroindustrial da Gameleira

Centro Penal Agroindustrial da Gameleira Paulo Ribas - ARQUIVO/CORREIO DO ESTADO

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Dados divulgados pela Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen-MS) apontam que dezenas de presos do Centro Penal Agroindustrial da Gameleira e Presídio Feminino serão beneficiados com a “saidinha temporária”, neste Natal, em Campo Grande.

Ao todo, 148 presos, sendo 138 internos e 10 internas do regime do semiaberto, poderão deixar temporariamente o sistema carcerário neste Natal, entre 24 e 26 de dezembro.

Além disso, 11 internas em regime aberto sairão no período de 24 de dezembro a 2 de janeiro. Outro grupo de internos e internas do regime semiaberto sairão no período de 31 de dezembro a 2 de janeiro.

De acordo com o Poder Judiciário de Mato Grosso do Sul, os reeducandos, que cumprem pena no regime aberto e semiaberto e que não tenham registro de sanção disciplinar ou má comportamento de natureza leve, média ou grave – estão autorizados a deixarem temporariamente a Unidade Prisional e passarem o Natal e Ano Novo com a família.

De dia, não podem frequentar bares, boates ou locais de grande aglomeração. De noite, das 19h às 6h, devem obrigatoriamente permanecer na residência de seus familiares. É proibido ingerir bebida alcoólica.

No Natal, poderão se ausentar das 7h do dia 24 de dezembro até às 17h de 26 de dezembro. No Ano Novo, a saidinha ocorrerá das 7h de 31 de dezembro até 17h de 2 de janeiro.

Os presidiários devem optar por uma única saída (Natal ou Ano Novo) para visitar a família. É de responsabilidade da Direção do Estabelecimento Prisional a separação dos presos em duas turmas proporcionalmente divididas.

Em Mato Grosso do Sul, o benefício referente ao ano de 2025 foi regulamentado por portaria do juiz Albino Coimbra Neto, da 2ª Vara de Execução Penal de Campo Grande.

PORTARIA

Cidades de MS serão monitoradas para que Pantanal sobreviva às mudanças climáticas

Instaurado pelo Ministério Público Federal, procedimento vai acompanhar se municípios vão implementar políticas públicas no enfrentamento contra a crise climática

25/12/2025 17h25

Pantanal de Mato Grosso do Sul é regido por nova legislação desde fevereiro do ano passado, que também criou fundo para o bioma

Pantanal de Mato Grosso do Sul é regido por nova legislação desde fevereiro do ano passado, que também criou fundo para o bioma Foto: Rodolfo César

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O Ministério Público Federal (MPF) determinou o monitoramento dos municípios de MS envolvidos pelo Pantanal para garantir que o bioma sobreviva às mudanças e crises climáticas, que já havia ficado de fora do relatório final da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30).

A determinação foi publicada no diário eletrônico extrajudicial do órgão no início de dezembro, por meio da Procuradoria da República em Mato Grosso do Sul. Dentre os argumentos colocados pelo procurador Marco Antonio Delfino de Almeida, que assinou a portaria, cita que reduzir desigualdades socioterritoriais e enfrentar a crise climática são dois dos maiores desafios urbanos do Brasil neste século.

“O modelo de urbanização consolidado no século XX produziu cidades desiguais e insustentáveis, levando à ocupação de Áreas de Proteção Permanente, em especial encostas íngremes, e a uma profunda segregação socioterritorial”, afirma.

“A adaptação das cidades às mudanças climáticas exige a promoção de um novo modelo de desenvolvimento urbano, que seja mais justo, sustentável e responsável, requerendo obras de mitigação de riscos, como o remanejamento de populações em áreas vulneráveis, a recuperação de fundos de vale, a arborização urbana, a criação de áreas verdes e a adoção de soluções baseadas em natureza, como o conceito de ‘cidades esponja’, que ampliam a permeabilidade do solo e reduzem enchente”, acrescenta o procurador no documento.

Diante desses dois pontos, Marco Antonio comenta que é preciso promover a transição ecológica urbana de maneira justa, focando nas pessoas que mais sofrem com desastres naturais, como forma de garantir o acesso à habitação social para famílias de baixa renda.

Mesmo citando os municípios de forma abrangente, o procurador destaca Corumbá e Ladário, que, segundo ele, reúnem “ecossistemas frágeis, vasta biodiversidade e áreas alagáveis de relevância mundial, sendo polos turísticos e culturais”. Por isso, faz alerta referente às altas temperaturas que só tendem a subir mais com o passar dos anos.

“As projeções científicas divulgadas pelo Inpe e por estudos internacionais, que apontam para um aumento médio de 2°C a 4°C nas temperaturas da região Centro-Oeste até meados do século XXI, com maior frequência e intensidade de ondas de calor superiores a 40°C, especialmente em Corumbá e Ladário; que tais perspectivas agravam os riscos de secas prolongadas, incêndios florestais e impactos severos sobre a biodiversidade, o turismo e a qualidade de vida da população local, reforçando a necessidade de políticas públicas urgentes de adaptação e resiliência”, explica.

Como último argumento, Marco Antonio cita a COP30, que foi realizada em Belém (PA) durante 20 dias do mês passado e “reforçou a noção de continuidade obrigatória das
políticas públicas de adaptação, vinculando os compromissos internacionais às legislações nacionais”.

Diante dos pontos expostos, o procurador determinou a instauração de Procedimento Administrativo de Acompanhamento, que é uma ferramenta extrajudicial do Ministério Público para fiscalizar de forma contínua políticas públicas, instituições ou o cumprimento de acordos (TACs), sem efeito criminal, mas apenas como forma de apurar fatos e gestão do patrimônio público.

“Acompanhar a implementação de políticas públicas municipais, estaduais e federais para
adaptação e resiliência das cidades às mudanças climáticas e eventos extremos, garantindo a integração entre o enfrentamento da crise climática e a redução das desigualdades socioterritoriais, conforme diretrizes da COP30 e do Plano Nacional de Adaptação”, determina no documento, sob incumbência 4ª Câmara de Coordenação e Revisão (4ªCCR), que trata especificamente dos temas relacionados ao meio ambiente e patrimônio cultural.

COP30

Apresentado após encerramento da COP30, o texto com os acordos e as propostas visando melhorias climáticas deixou o Pantanal de fora. Lacunas no documento foram apontadas por especialistas de Mato Grosso do Sul.

Gustavo Figueirôa, diretor de Comunicação e Engajamento do Instituto SOS Pantanal, diz que houve apenas um avanço prático que se relaciona ao Pantanal: o manejo integrado do fogo.

Em suma, é um sistema de planejamento e gestão que combina aspectos ecológicos, culturais, socioeconômicos e técnicos para gerenciar o uso do fogo de forma segura e sustentável.

Além disso, Gustavo acredita que o evento foi essencial para apresentar o Pantanal e entregar a carta de proteção às áreas úmidas para autoridades e personalidades ambientais importantes no cenário nacional.

Angelo Rabelo, diretor-presidente do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), concorda ao citar que o bioma foi bem-apresentado durante o evento climático.

“Mesmo a COP acontecendo no coração da Amazônia, em Belém, eu diria que o Pantanal nunca foi tão representado e incluído em uma pauta global para a situação de emergência climática que vivemos”, afirmou.

“Não houve o mesmo espaço dado à Amazônia, mas foi apresentado que é um território atingindo seriamente pelas mudanças climáticas e que precisa de políticas públicas. A questão do sequestro de carbono e a relevância que o Pantanal desempenha nesse fator, além do grande ativo que o território tem, que é a grande biodiversidade encontrada por aqui e que está presente porque temos uma realidade de alta taxa de conservação”, completa Rabelo.

Porém, mesmo com a ação de levar o nome do bioma pela conferência tendo sido considerada um sucesso, o texto não incluiu nada sobre proteção às áreas úmidas, atitude que decepcionou Gustavo, visto que o Pantanal é a maior planície alagável do mundo.

“Especificamente acerca do Pantanal, eu digo que não tem avanço prático no texto final da COP”, disse o diretor do SOS Pantanal.

As áreas úmidas são cruciais para o clima, já que armazenam grande quantidade de carbono na atmosfera e atuam como “esponjas”, que absorvem o excesso de água para controlar inundações e liberam água lentamente para evitar secas severas, protegendo contra eventos climáticos extremos.

Agora, os especialistas esperam que essa questão seja debatida e colocada no texto da próxima COP, que será a 31ª, sediada na Austrália ou na Turquia.

DESPREZO

Como reportou o Correio do Estado em dezembro do ano passado, um estudo organizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae) e pela Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc) mostra que, quando se trata de se preocupar com as mudanças climáticas e se preparar para uma cultura de redução das emissões de carbono, 42 dos 79 municípios de Mato Grosso do Sul estão bem mais atrasados do que o próprio governo.

O levantamento foi feito em 42 dos 79 municípios do Estado, mas a lista é representativa e a estimativa das autoridades estaduais e do Sebrae é que a realidade nas cidades não pesquisadas não seja muito diferente da encontrada.

O estudo, chamado “Roadmap Território Carbono Neutro”, teve o objetivo de identificar o estágio dos municípios em relação às políticas de mudanças climáticas, propor uma agenda local adequada à realidade do território e facilitar a captação de recursos para o financiamento da ação climática.

Em uma classificação que vai de A, para a cidade com as melhores práticas, até E, para a cidade com as piores práticas conforme os critérios acima, Campo Grande teve a melhor nota: B, que ainda não é a classificação máxima.

Um total de 26 das 42 cidades analisadas obteve a classificação E, e a principal causa para o péssimo desempenho desses municípios é o baixo desempenho no quesito “mudanças climáticas”, indicando que há muito pouco ou quase nada sendo feito nas cidades sobre o tema.

Os outros quesitos são “ambiente de negócios”, “governança”, “gestão territorial”, “capacidade administrativa” e “capacidade financeira”.

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