Mato Grosso do Sul registra, em 2025, o maior número de feminicídios dos últimos três anos do período de janeiro a agosto. O aumento constante dos números da violência no Estado é destaque nacional quando se compara a outros estados do Brasil.
De acordo com o Mapa da Segurança Pública dos anos 2023 e 2024, o Estado foi o 5º com maior crescimento de assassinatos contra a mulher no período, com um aumento de 16,67%. Com isso, Mato Grosso do Sul atingiu a segunda maior taxa do país, 2,39 feminicídios por 100 mil mulheres, mais que o dobro da média nacional, de 1,34.
Em 2025, foram confirmados 22 casos de feminicídio em MS e 12.819 registros de violência contra a mulher, de acordo com o Monitor da Violência contra a Mulher, promovido pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).
Diante de dados que não mostram melhora, surge dúvida quanto à eficiência dos programas desenvolvidos pelas pastas do Estado com relação ao assunto.
Com isso, questionado sobre a razão de tantos números e casos em Mato Grosso do Sul, o secretário da Sejusp, Antônio Carlos Videira, afirmou que isso se deve à transparência e à divulgação real dos casos.
“Não mascaramos números. Nós estabelecemos uma política de ampliação dos canais de comunicação. Não se enfrenta feminicídio sem combater violência doméstica e nem todas as vítimas terão acesso a esses canais disponíveis”.
O secretário afirmou que, mesmo com a transparência dos números e a gama de canais de denúncias disponíveis, muitos casos ainda são subnotificados. Por isso, é dever do Estado “ir atrás dessas pessoas”.
“Nem todas as vítimas terão oportunidade de ir numa delegacia, e bem disse aqui a doutora Patrícia, de uma mulher que ficou 20 anos em cárcere. conselhos comunitários de segurança, principalmente nas aldeias, onde são os maiores volumes de violência doméstica em municípios e crimes sexuais, em decorrência do uso muito grande de álcool e drogas Então, quando nós capacitamos conselheiros, conselhos comunitários indígenas, principalmente professores e agentes de saúde, nós estamos indo até a vítima, porque é a professora que percebe a falta da aluna na segunda e na terça-feira ela com indícios, que foi abusada; é a agente de saúde que ingressa uma residência, não só numa aldeia, mas numa periferia, e verifica uma mulher com lesões incompatíveis com a versão dela”.
Em complemento, o governador de Mato Grosso do Sul em exercício, José Carlos Barbosa, o Barbosinha, relembrou que a violência contra a mulher e o feminicídio não serão combatidos somente com medidas repressivas, mas, sim, através de uma mudança de comportamento da população, através da informação.
"As medidas são absolutamente necessárias, mas são as medidas preventivas que vão fazer a diferença, como campanhas de conscientização que, às vezes, são criticadas porque não se compreende a importância delas, mas também com a educação para as futuras gerações, para transformarmos essa cultura patriarcal e machista e criarmos as novas gerações com uma perspectiva de tolerância, de respeito, de igualdade e, sobretudo, entendendo que a mulher é um ser igual e que tem direito à autodeterminação”.
Medidas ampliadas
Durante a coletiva de imprensa desta quinta-feira (14) promovida pelo Governo do Estado, ações e panoramas à prevenção e enfrentamento à violência contra as mulheres foram expostas por líderes dos Poderes.
Entre os avanços citados, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública anunciou uma nova unidade da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) em Campo Grande.
O secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Antônio Carlos Videira, informou que a nova unidade teve o contrato assinado na quarta-feira (13) e está em processo de locação.
O espaço funcionará na Rua Abrão Julio Rahe e terá a função de receber pessoas que serão ouvidas durante o procedimento policial, como testemunhas, e, se necessário, realizar eventuais escutas da vítima, caso haja a necessidade de complementar algum ponto da investigação.
Além disso, Videira mostrou outros avanços promovidos pelo órgão, como a implementação de Inteligência Artificial para transcrição de áudios e vídeos de depoimentos; a ampliação do atendimento do Instituto de Medicina e Odontologia Legal (Imol) para 24 horas por dia, fazendo com que mais vítimas fossem atendidas; a implementação até o final deste mês de um boletim de ocorrências virtual, onde as vítimas poderão registrar suas denúncias sem sair de casa.
Falando sobre a proteção às mulheres, a secretária executiva da Mulher, Angelica Fontanari, destacou ações como as capacitações promovidas neste semestre voltadas ao atendimento humanizado a ocorrências pontuais; a contratação de psicólogas e assistentes sociais para a Casa da Mulher Brasileira e a contratação de psicopedagogas nas brinquedotecas para que possam identificar possíveis violências contra as crianças; e a criação do Proteja + Mulher, que faz parte da família de aplicativos Proteja+CG, que possibilita mulheres a acionar um botão em situações de emergência com sua geolocalização e cinco segundos de áudio ao vivo.
O Procurador do Ministério Público de Mato Grosso do Sul, Izonildo Gonçalves, destacou a criação da ferramenta Alerta Lilás, que monitora reincidentes em violência doméstica; a criação da 78ª Promotoria de Justiça em Campo Grande voltada a ocorrências dessa natureza; além da criação de programas e ações do MPMS como a Acolhida, o Agosto Lilás, o Alô Maria da Penha, Não é Não, Paralelas e Protagonistas do MS.
As ações dos órgãos foram ampliadas e as Instituições passaram a adotar medidas de conscientização e prevenção após o feminicídio da jornalista Vanessa Ricarte, em fevereiro deste ano.
“Esse grito da Vanessa é o grito de todos nós e das 22 mulheres que foram assassinadas esse ano. Dentre essas 22 vítimas, temos um bebê que foi queimado. Esse grito atingiu nosso coração, todas as instituições e estamos aqui hoje para deixar esse dia registrado como um símbolo de luta por todas essas mulheres que vêm morrendo ano a ano. As famílias precisam de paz. E todos nós, de mãos dadas, mostramos que algo está sendo feito”, afirmou Izonildo.
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