Obra da Avenida Cafezais rememora caso de morte de universitária que comoveu Campo Grande
Construtores terão de remover duas cruzes fincadas no trajeto, uma delas a Elizete Boldori, morta aos 19 anos de idade
Obra já em período de conclusão, o recapeamento e duplicação da Avenida dos Cafezais, via que cruza ao menos seis bairros, em Campo Grande, indo até a região do Los Ângeles, extensão de uns 4 quilometros, vai "manter viva" a memória de um crime que comoveu a cidade há exatos 28 anos .
É que no trajeto da obra os construtores se depararam com duas cruzes que marcaram época dada a repercussão de um destes episódios. Apesar da amplitude da obra, as duas cruzes foram mantidas intactas e estão chamando a atenção de quem transita pela região.
Uma das cruzes foi instalada no local, perto do hipódromo, numa região marcada por vários motéis, na saída para São Paulo, após um crime bárbaro que aconteceu em 23 de março de 1994, quase três décadas atrás. Naquele local, a polícia achou o corpo de uma universitária de 19 anos que havia sumido depois de descer do ônibus após voltar da universidade.
Era tarde da noite e ela seguia para a casa depois de sair da aula na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco). Duas semanas depois, o triste desfecho: ela tinha sido estuprada e assassinada.
Outra cruz posta na mesma localidade recorda a morte de um operário, Vilson Pinheiro de Castro, que morreu em 2010, aos 29 anos de idade, vítima de acidente de trabalho, segundo moradores da região
Agora, os responsáveis pela obra, para preservar as memórias de Elizete e Vilson vão remover as cruzes para o outro lado da via, gesto que, para os construtores, é um sinal de respeito às famílias destas duas pessoas.
CASO DA UNIVERSITÁRIA
Elizete Lourdes Boldori tinha 19 anos em 23 de março de 1994, data em que sumiu a cerca de quatro quarteirões de casa, na região do Joquei Clube, em Campo Grande. O histórico comoveu a cidade. Ela foi abordada por quatro ou cinco cinco jovens que, bêbados, a arrastaram até um matagal, violentaram sexualmente e depois a mataram.
Ela estudava na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), e ia para casa de ônibus. Desceu do coletivo e seguia a pé. Seu pai a aguardava na porta de casa, segundo familiares.
O sumiço da acadêmica causou desespero na família Boldori e comoção na cidade. À época, a imprensa centrou as atenções no caso. Exemplares de jornais como do Correio do Estado e do extinto Diário da Serra esgotavam nas bancas logo cedo, tamanho o interesse dos leitores pelo caso. No dia em que o corpo foi encontrado.
No dia em que o corpo foi encontrado, o jornal Diário da Serra, hoje extinto, estampou extensa reportagem com esse título: "Lágrimas e desespero: Elizete está morta". O caso despertou tanta atenção que, naquele dia, o jornal teve de imprimir uma edição extra a pedido dos leitores.
Fato parecido ao que havia ocorrido também no Correio do Estado, na década de 1970, no dia em que o filho do ex-senador e prefeito de Campo Grande, Ludio Coelho, foi achado morto depois de sequestrado.
Da morte até a elucidação do caso e prisão dos assassinos, que durou meses, ocorreram episódios repreensíveis, um deles erro grosseiro na investigação policial.
Os criminosos foram capturados quase por que acaso. Do local onde o corpo da estudante foi achado até trecho da Avenida Costa e Silva, já perto do cemitério Santo Antônio, uma pessoa viu no chão pedaços de papeis amassados que seriam escritos de Elizete. Os bandidos teriam mexido na bolsa da estudante e tirado dela cadernos, livros e documentos.
A partir dessa peça, os investigadores descobriram o trajeto dos criminosos que, depois do crime, uns a pé outros de bicicleta, seguiram até a parte central da cidade, distância de uns 5 quilômetros.
Parentes da universitária também agiram de maneira isolada nas investigações. Recorreram, inclusive, a ajudas espirituais, como consultas com pessoas sensitivas que teriam o dom de prever o futuro.
Assim que capturados os envolvidos no crime, no dia 29 de março de 1994, sete dias depois do desaparecimento, a polícia achou o corpo da estudante. Os denunciados pelo crime foram detidos em pontos distintos da cidade, alguns deles no emprego.
INVESTIGAÇÕES
Antes da prisão dos culpados pela morte de Elizete, a polícia prendeu suspeitos que depois foram soltos por falta de provas. Um dos detidos seria namorado da acadêmica.
Depois de achado o corpo da universitária, indicado por um dos criminosos e do comovente velório, a polícia noticiou que teria de recorrer à exumação do corpo. Motivo: a estudante tinha sido sepultada com uma prova do crime.
Para impedir que gritasse, um dos matadores da acadêmica tinha rasgado parte da camiseta que vestia e posto na boca da vítima assim que a dominou e a levou para o matagal. Ela morreu asfixiada.
O caso de Elizete mudou, à época, a rotina de estudantes que frequentavam aulas à noite. Familiares passaram a esperar, principalmente filhas, já no ponto de ônibus, ou iam até o prédio da universidade.


