A Polícia Federa, com apoio da Receita Federal e Policiais Militares, iniciou nesta quarta-feira (16) uma devassa contra o núcleo financeiro da chamada “máfia do cigarrro”, grupo acusado de movimentar mais de R$ 200 milhões nos últimos cinco anos.
Na denominada Operação Collector, policiais foram às ruas de Narivaí, Caarapó, Itaquiraí e Mundo Novo para cumprir 21 mandados de busca e apreensão e 21 ordens de sequestros e a suspensão de atividades de seis empresas.
Conforme nota divulgada pela assessoria da PF, provas coletadas durante a investigação comprovaram que a organização criminosa envolvida no contrabando de cigarros paraguaios contratava grupo criminoso especializado na cobrança de dívidas oriundas do crime.
Ainda de acordo com a PF, o grupo fazia “as cobranças em diversos estados do país e, após o recebimento do pagamento por diversas formas, sobretudo por dação em pagamento (entrega de veículo, imóveis etc.), outro grupo criminoso – este composto por empresários – assumia o protagonismo, com a liquidação dos bens, normalmente com a compra e venda de veículos. Para operacionalizar todo esse complexo esquema, inúmeros atos de lavagem de capitais foram praticados”.
Ao contrário do que normalmente ocorre, a PF não explicou a escolha do nome da operação, mas collector, em inglês, pode significar tanto colecionador quanto cobrador. O resultado da operação também não foi divulgado ainda, mas imagens divulgadas pela PF mostram a apreensão de jóias, dinheiro e de veículos de luxo.
PROBLEMA CRÔNICO
Esta é somente mais uma de uma infinidade de operações contra o contrabando de cigarros paraguaios. Dezenas de policiais de diferentes instituições já foram presos por envolvimento com essa prática ilícita.
E, ao que tudo indica, os crimes estão longe de acabar, isso porque o tabaco é um dos principais motores da economia paraguaia, mas quem consome seu cigarro é, na maioria, o brasileiro.OParaguaiproduz, em média, 71 bilhões de cigarros por ano e só consome 2,3 bilhões. A maior parte do restante entra no Brasil por meio do contrabando.
Um levantamento feito pelo Instituto Ipec Inteligência apontou que, em 2021, a ilegalidade correspondeu a quase metade (48%) de todos os cigarros consumidos no Brasil – sendo que 39% foram contrabandeados, principalmente do Paraguai. No total, estima-se que 53,1 bilhões de cigarros ilegais circularam no território brasileiro em 2021.
Conforme autoridades de saúde, os riscos com o produto contrabandeado são altos. Por ser isento de impostos e custar mais barato, pode gerar um maior consumo. O cigarro contrabandeado também não tem aprovação da Anvisa e pode conter uma quantidade superior e mais nociva de nicotina.
Além disso, esse crime afeta a economia De acordo com Edson Vismona, presidente do Fórum Nacional Contra a Pirataria e Ilegalidade (FNCP), para o tesouro brasileiro o contrabando gera uma evasão fiscal que representa R$ 10,2 bilhões. Já para a estrutura produtiva no Brasil, são menos 173 mil empregos.
"Por fim, o dinheiro do contrabando é utilizado para financiar organizações criminosas e milícias, afetando diretamente a nossa segurança pública, especialmente nos estados fronteiriços,", explica Vismona.
Um dos principais fabricantes de cigarros no país vizinho é o ex-presidente Horácio Cartes, que ficou no comando do país de 2013 a 2018. Ele chegou a ser denunciado por autoridades do país por lavagem de dinheiro, contrabando de cigarros e tráfico de drogas, mas suas indústrias continuam a pleno vapor.