Receita Federal e a Polícia Federal conseguiram interceptar 168 toneladas de ácido bórico sendo transportado na região de Corumbá sem documentação regular.
Essa substância química é monitorada porque traficantes a utilizam no processo de produção da cocaína e o seu uso faz com que a droga aumente o valor no mercado ilegal.
Esse total apreendido poderia produzir cerca de 450 toneladas desse tipo de entorpecente, algo que equivale a mais de R$ 11 bilhões no mercado ilegal.
Conforme as autoridades, essa é a maior apreensão desse tipo de mercadoria em território brasileiro que se tem registro.
Em 12 de abril deste ano, um caminhão transportava 1,5 tonelada do insumo e acabou interceptado pela Receita Federal no Posto Esdras, que fica na fronteira do Brasil com a Bolívia, na rodovia Ramão Gomes.
A carga apreendida agora tinha origem no Peru e estava sendo transportada em seis caminhões. A apreensão aconteceu na terça-feira (18) e as autoridades divulgaram a interceptação nesta quarta-feira (19) à tarde.
Esse insumo químico tem uso controlado por conta de estar envolvido no processamento, em diferentes fases, da cocaína.
No mercado formal, a carga tem valor de US$ 200 mil, o que representa em mais de R$ 1 milhão. O ácido é usado pelos traficantes porque permite que a droga ganhe “brilho”.
De acordo com as autoridades, a substância é conhecida como mineíta, ou escama mágica. Os criminosos fazem o “batismo” do entorpecente com o ácido bórico para ofertar a preços maiores nos mercados ilegais.
Durante a fiscalização feita nos caminhões que transportavam o insumo, houve a identificação que o ácido bórico encontrado apresentava-se em cristais brancos e brilhantes, condição que favorece no uso do “batismo” do entorpecente.
“Com base na proporção de ácido bórico presente em apreensões de cocaína realizadas anteriormente, é possível afirmar que se toda a quantidade retida no dia de hoje (terça) fosse destinada ao tráfico de drogas, resultaria em, pelo menos, 450 toneladas de cocaína pronta para consumo.
Trata-se da maior apreensão dessa substância química já realizada em solo brasileiro”, informou a Polícia Federal e a Receita, em nota conjunta.
Investigação vai procurar aprofundar, a partir de agora, qual era o destino desse carregamento e as pessoas envolvidas na compra da mercadoria.
Como a Receita Federal e a Polícia Federal já identificaram que a origem do insumo era no Peru, inquérito deve envolver ligações internacionais para conseguir identificar envolvidos.
“A apreensão reforça o compromisso das instituições envolvidas com o combate aos desvios de precursores químicos nas fronteiras como forma de combater o tráfico internacional de drogas. Estratégia que considera não apenas os insumos químicos que deixam o país com destinos aos principais países produtores de cocaína; como também aqueles que buscam internalizar o território nacional sem o devido lastro legal”, apontou as autoridades federais, em nota.
De acordo com o relatório mundial sobre drogas do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, sigla em inglês), autoridades internacionais estão atentas para os chamados mercados produtores de drogas, e isso direciona holofotes para Bolívia, Peru e Colômbia.
“As cadeias de fornecimento de cocaína para a Europa estão se diversificando, fazendo baixar os preços e aumentar a qualidade, ameaçando assim a Europa com uma maior expansão do mercado de cocaína. Isso provavelmente ampliará os danos potenciais causados pela droga na região. O número de novas substâncias psicoativas [NSP] emergentes no mercado global caiu de 163 em 2013 para 71 em 2019. Isso reflete as tendências na América do Norte, na Europa e na Ásia”, apontou relatório da ONU.
Em março deste ano, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) indicou que cerca de 2,1 toneladas de cocaína foram apreendidas entre janeiro e março deste ano.
O aumento foi de 616% do primeiro bimestre de 2021 para primeiro bimestre de 2022 e 1.114% do primeiro trimestre de 2021 para o primeiro trimestre de 2022.