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Promotor pede que governo do Estado embargue lavouras na região pantaneira

Pesquisas vão ao encontro de indicação do MPMS e estimam um processo acelerado de assoreamento de rios do Pantanal

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O Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) instaurou inquérito nesta semana para apurar omissão e permissividade por parte do governo do Estado e do Instituto de Meio Ambiente de MS (Imasul) a respeito de desmatamentos autorizados no Pantanal. Entre as indicações do órgão está o embargo de áreas de monocultura na região. 

Segundo o promotor responsável pela investigação, Luiz Antônio Freitas de Almeida, atualmente não há necessidade de licenciamento ambiental para o estabelecimento de monoculturas (plantação de apenas uma cultura) em Mato Grosso do Sul.

A atividade, no entanto, é altamente poluidora e, de acordo com a Lei Federal nº 6.938, depende de licença. 

“Só que o Estado, por uma resolução de 2012, dispensou essa atividade de licenciamento ambiental, e isso contraria, ao nosso entender, a legislação federal, como contraria a própria resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente”, relata o promotor. 

O embargo dessas atividades de monocultura viria também acompanhado da suspensão de imediato de novas concessões de desmatamento, emitidas pelo Imasul, para que estudos técnicos sejam feitos por entidades científicas oficiais, como a Embrapa. 

“O desmatamento atingiu o patamar que seria de, mais ou menos, 324 mil campos de futebol, por exemplo, 82 florestas da Tijuca ou quase duas vezes o [tamanho do] Parque Nacional do Iguaçu.

Então, nesse ritmo, alguns estudos apontam que, se o desmatamento continuar avançando, talvez em 45 anos já não haja mais vegetação nativa no Pantanal”, alerta Almeida. 

A sugestão do MPMS é de que haja uma avaliação ambiental integrada do impacto acumulativo de todos os desmatamentos, ilegais e legais, que vêm sendo realizados ao longo dos últimos anos, para verificar se o bioma comporta esse ritmo de desmatamento, e que as áreas de monocultura sejam embargadas até serem autorizadas ou não por meio do licenciamento ambiental. 

O Estado pode ou não aceitar as indicações feitas pelo MPMS, que estão de acordo com diretrizes do Ministério do Meio Ambiente e de outras entidades ambientais. 

O MPMS acredita que a participação da sociedade é fundamental para uma “maior reflexão do gestor”. Caso o Estado não atenda às recomendações, a via judicial pode ser acionada.

ASSOREAMENTO

A pesquisa feita por estudiosos das universidades federais de Mato Grosso do Sul e de Minas Gerais vai ao encontro das preocupações levantadas pelo MPMS.

O levantamento foi feito na Bacia do Alto Paraguai, que abrange porções do Cerrado, da Amazônia e do Pantanal Sul-Mato-Grossense, e aponta aumento no risco de assoreamento dos rios do Pantanal. 

A estimativa é decorrente da perda de solo em algumas regiões do Estado, principalmente no Cerrado, tanto por processo natural de erosão, causada por chuva e vento, quanto pela ação do homem, em razão do avanço desordenado da agricultura, industrialização, urbanização, pastoreio excessivo e instalação de usinas hidrelétricas. 

Essas ações humanas impactam diretamente a aceleração dos processos erosivos no Cerrado, pois desmatam o bioma, retiram a cobertura vegetal e deixam o solo mais exposto, facilitando o processo erosivo causado pelas chuvas. 

Pastoreio, agricultura ou urbanização, sem a adoção de práticas que visam conservar o solo, removem a vegetação e aumentam o transporte de matérias orgânicas, como lodo e argila, para regiões mais baixas. 

A região abaixo do Cerrado é onde se concentram os rios do Pantanal Sul-Mato-Grossense, e esse processo de transporte de matérias orgânicas também acelera o assoreamento dos rios. 

André Almagro, engenheiro ambiental e doutor em Saneamento Ambiental e Recursos Hídricos, participou do estudo que avaliou os impactos do uso e manejo do solo na Bacia do Alto Paraguai e comenta que o processo de assoreamento está diretamente ligado à perda de solo. 

“Parte do solo erodido em uma bacia hidrográfica acaba chegando nos corpos d’água, em um processo chamado de produção de sedimentos. Uma vez que os sedimentos chegam aos rios, uma das consequências é o assoreamento, que consiste no acúmulo dos sedimentos no leito dos rios”, relata o pesquisador. 

Almagro alerta também para a diminuição da quantidade e da qualidade da água disponível para abastecimento, que é uma consequência direta do assoreamento dos rios, além da perda de capacidade de navegação, aumento do risco de enchentes e extravasamentos de água e desequilíbrio do ecossistema. 

De acordo com o estudo realizado em 2019, o pior cenário para a conservação de solo e água no Brasil seria a conversão do Cerrado e da Amazônia em terras agrícolas, pois isso poderia aumentar a erosão total do solo no País em até 20%.

Os estudos apontam que o mau uso e a ocupação podem ter maior influência sobre a erosão do solo do que as mudanças climáticas. 

Além da região da Bacia do Alto Paraguai, foi observado pelos pesquisadores um aumento da perda de solo nos municípios de Bodoquena, Bonito, Jardim e Porto Murtinho, onde está o Parque Nacional da Serra da Bodoquena, importante polo turístico, em razão das características hidrológicas e geológicas da região, que contém diversos rios cristalinos, cachoeiras, represas naturais e cavernas, mas que ultimamente tem se tornado uma “área atraente” para a indústria de mineração, o que intensifica os processos erosivos e altera a qualidade dos cursos d’água. 

O estudo aponta também que, em Corumbá, na área central do Pantanal, houve uma importante perda de solo ao longo dos anos. Em 2014, por exemplo, em 99% dos casos, as áreas naturais convertidas para outros fins em Corumbá foram para pastagens, 0,6%, para agricultura, e 0,4%, para mineração. 

“Essas atividades promovem o aumento da erosão do solo e riscos com sedimentos nas barragens. Barragens de mineração reservam água contendo resíduos minerais nocivos ao meio ambiente.

Quando mal administrada, o rompimento de uma barragem pode trazer sérios impactos ambientais, como aconteceu em Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais”, cita o estudo. 

RIO TAQUARI 

O Rio Taquari é um exemplo do assoreamento de rios. Dados históricos apontam que foi a partir da intensa ocupação agropecuária na região, durante a década de 1970, que a produção de sedimentos aumentou, principalmente em razão do desmatamento, cujo índice em 1974 era de 5,6% e no ano 2000 saltou para 62%, segundo o Observatório Pantanal. 

Essa ocupação aumento o volume de sedimentos na planície pantaneira, causando o assoreamento do rio em seu baixo curso. 

Segundo o Mapa de Conflitos da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), o Rio Taquari tem papel de destaque na socioeconomia da Nhecolândia e da Paiaguás, regiões criatórias de bovinos de corte mais populosas do Pantanal. 

A Embrapa Pantanal, que acompanha o processo de assoreamento da bacia, estimou que em 2021 cerca de 36 mil toneladas de sedimentos eram depositados no rio. 

O Rio Taquari é um dos principais leitos de drenagem das águas da Bacia Pantaneira para o Rio Paraguai, e seu processo de assoreamento causa uma série de problemas, como inundações e prejuízos à atividade pesqueira. 

DESMATAMENTO 

O Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RAD) de 2022, feito pelo MapBiomas, alerta para um aumento do desmatamento no País em cinco dos seis biomas em território nacional, entre eles, o Pantanal, que teve um aumento de desmatamento de 4,4% entre 2021 e 2022. O único bioma que teve queda no índice foi a Mata Atlântica. 

Apesar de Mato Grosso do Sul ter apresentado uma variação positiva de 2021 para 2022, com uma queda de 12% no desmatamento, passando de 55.959 mil hectares para 49.162 mil hectares, Corumbá está entre os 50 municípios brasileiros que mais desmataram no ano passado. 

Esses 50 municípios respondem por 52% da área total desmatada no Brasil. Corumbá teve 15.749 mil hectares desmatados no ano passado, um aumento de 45% entre 2019 e 2022 – em 2019, a área desmatada foi de 4.283 mil hectares. O município foi o único de MS a estar na lista.

MATO GROSSO DO SUL

Primavera terá recorde histórico de calor e chuva abaixo da média

Estação será extremamente quente, abafada e calorenta, com temperaturas altíssimas e retorno das chuvas

19/09/2024 10h15

Primavera começa neste domingo (22) em Mato Grosso do Sul

Primavera começa neste domingo (22) em Mato Grosso do Sul ARQUIVO/CORREIO DO ESTADO

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Primavera começará às 8h44min de 22 de setembro e terminará às 5h20min de 21 de dezembro de 2024 em Mato Grosso do Sul.

A estação é caraterizada pela

  • Floração de plantas
  • Aumento da umidade
  • Retorno das chuvas
  • Dias mais longos/noites mais curtas
  • Transição entre inverno (seca) e verão (chuvoso)

De acordo com prognóstico divulgado pelo meteorologista Natálio Abrahão, a estação será extremamente quente, abafada e calorenta, com temperaturas altíssimas.

Segundo o meteorologista, outubro será o mês mais quente do ano. Além disso, as chuvas retornam, com possibilidade de tempestades e enchentes.

Há 66% de probabilidade de ocorrência de La Niña de novembro/dezembro de 2024 a março de 2025.

Mas, também há 55% de chance de um evento climático neutro se manter até o final do ano e seguir até o começo do outono de 2025.

CHUVA

As chuvas retornarão, nesta estação de primavera, em Mato Grosso do Sul. Mas, ficarão com volumes abaixo da média.

A precipitação aliviará a seca e estiagem que predominam no estado há meses e resultaram em incêndios no Pantanal Sul-matogrossense.

Com a chuva prevista, queimadas podem reduzir em intensidade e frequência nas regiões centro, sul, sudoeste e sudeste de Mato Grosso do Sul. Mas, chances de ocorrer queimadas não estão descartadas.

O período de chuvas começará com pancadas rápidas, trovoadas e descargas elétricas.

As pancadas ocorrem nas primeiras horas da tarde, prosseguem para o fim da tarde e vão até o começo da noite.

Pode haver tempestades com chuva forte, grandes volumes em curto espaço de tempo, ventos de 60-70 km/h, raios, relâmpagos, trovoadas e granizo. Pode ocorrer enchentes e inundações.

Umidade relativa do ar melhora com a ocorrência de chuvas, mas, pode atingir valores de emergência em alternância, devido à formação de áreas de instabilidade com pancadas de chuvas isoladas e ventos fortes. Valores mínimos abaixo dos 20% são possíveis entre setembro e o mês de outubro.

“Em outubro, o período de chuvas será mais dentro das médias, regular com o prognostico de chuva mais ao Sul e Central e mais irregular em todas as outras regiões. A região Norte e parte do Nordeste deve em atraso no início das chuvas ficar próximo ou ligeiramente abaixo das médias para o estado. Em novembro, há chance de enchentes e as chuvas podem ficar localmente acima das médias em algumas nas regiões do Sul e Sudoeste e dentro das médias nas regiões Norte, abaixo no Nordeste e Oeste do Estado. Pancadas de chuva, trovoadas e rajadas de ventos, até fortes surgem nos fins de tarde e à noite”, explicou o meteorologista.

CALOR

O calor será intenso, nesta estação de primavera, em Mato Grosso do Sul.

Dias serão quentes, abafados e calorentos, com temperaturas altíssimas. Segundo Abrahão, outubro será o mês mais quente do ano.

Temperaturas máximas poderão variar entre 37ºC e 44ºC, em função

da forte radiação solar e da incidência vertical dos raios solares, atingindo os maiores termômetros da história de MS.

Haverá dias muito quentes, mas com menor frequência na região centro, nordeste, oeste e leste do Estado. Ou seja, haverá dias muito quentes, mas não dias seguidos de calor intenso. A radiação ultravioleta atingirá níveis máximos durante a primavera.

VENTO

De acordo com Abrahão, ventos mais fortes e intensos podem ser identificados no Sul, Sudoeste, Sudeste e Centro do Estado, principalmente no mês de outubro e parte de novembro.

Há 90% de probabilidade em ocorrer danos consideráveis no Centro-Sul, 70% nas regiões Sudeste e Leste e de 50% nas regiões Oeste e Norte do estado causados por ventos de rajadas e pancadas muito fortes de chuvas.

A chegada de frentes associadas aos ventos fortes pode trazer também, descargas elétricas, trovoadas e pancadas de chuva associados ao granizo nesses dois primeiros meses da estação.

Primavera começa neste domingo (22), e, nesta data, o dia e a noite serão exatamente iguais com 12 horas cada um (equinócio).

MATO GROSSO DO SUL

Corpo de indígena segue em perícia 24h após assassinato em MS

Peritos federais realizam o procedimento pericial no corpo de Nery no município de Ponta Porã

19/09/2024 09h59

Kaiowá morto deixa bebê de 11 meses e se junta à triste lista que já vitimou outros 3 na mesma Terra Indígena

Kaiowá morto deixa bebê de 11 meses e se junta à triste lista que já vitimou outros 3 na mesma Terra Indígena Reprodução

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Passado mais de 24 horas da morte registrada na Terra Indígena Ñanderu Marangatu na madrugada de quarta-feira (18), o corpo de Nery Ramos da Silva Guarani Kaiowá ainda segue sem liberação para ser velado por seus patrícios residentes na TI de Antônio João. 

Informações obtidas com o advogado do Conselho Missionário Indigenista apontam que até por volta de 10h da manhã de hoje (19), o corpo de Nery seguia em posse da perícia, sem previsão de quando será liberado para velório. 

Distante cerca de 280,9 km da Capital de Mato Grosso do Sul, importante destacar que a TI foi alvo de homologação ainda em 2005, anulada posteriormente no mesmo ano pelo até então Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim. 

Cabe lembrar que, a mais recente escalada de violência contra os povos originários de Mato Grosso do Sul começou no último dia 12, quando os indígenas fizeram ação para retomada da propriedade onde hoje existe a chamada Fazenda Barra, ocasião em que três acabaram feridos, como bem acompanhou o Correio do Estado

Peritos federais realizam o procedimento pericial no corpo de Nery no município de Ponta Porã.

Conflito 

Nery foi morto durante ação acompanhada por forças policiais sul-mato-grossenses, sendo que desde o primeiro momento já era apontado para uma possível execução, já que o tiro fatal teria atingido a região da nuca do Guarani Kaiowá. 

Diante da violência, o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) inclusive emitiu nota, com pedido de afastamento imediato do Policial Militar responsável pelo disparo, acionando inclusive Polícia e Ministério Público Federal, bem como Defensoria Pública da União. 

Importante ressaltar, também, que os agentes da Força Nacional não estavam na Terra Indígena, uma vez que foram destacados apenas para acompanhar membros da Coordenação Regional da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), de Ponta Porã. 

Ou seja, baseados no município de Douradina, no Mato Grosso do Sul, estavam distantes cerca de 182 km de onde aconteceu o conflito que vitimou Nery Ramos da Silva Guarani Kaiowá.  

Assassinado aos 23 anos, Neri Ramos da Silva Kaiowá deixa um bebê de 11 meses, somando-se a outros três nomes mortos desde a década de 80 nessa mesma Terra Indígena de Antônio João, sendo: 

  • 1983 | Marçal de Souza: morto em casa com 5 tiros, na Aldeia Campestre 
  • 2005 | Dorvalino Rocha: morto com 2 tiros por segurança privado de fazendas da região. 
  • 2015 | Simião Vilhalva: morto com tiro na cabeça durante conflito por terras

Briga pela terra

À espera de uma resposta há praticamente 20 anos, a derrubada da homologação em 2005 da Terra Indígena contou com apoio da atual dona da fazenda em que Nery foi morto, segundo informações da Mobilização Nacional dos Povos Indígenas. 

Roseli Ruiz é dona da fazenda que, atualmente, conta com proteção da Polícia Militar por meio de rondas, além de um pelotão designado para proteção dos proprietários e funcionários da propriedade. 

A decisão sob a qual a polícia age foi inclusive estendida, para que as forças policiais garantam o "ir e vir" dos funcionários e "proprietários" da fazenda, desde a rodovia até a sede, num percurso de mais de 10 quilômetros. 

A família Ruiz, como ressalta a Mobilização Nacional Indígena, esteve envolvida na ação de fazendeiros que, em 2015, vitimou o indígena Simeão Vilhalva, que foi baleado na cabeça em dezembro de 2015. 

Com diploma em antrologia, Roseli foi indicada pelos partidos Liberal (PL) e Republicanos, como uma "especialista" para - participar da audiência de conciliação no Supremo Tribunal Federal, marcada para o próximo dia 23, sobre a constitucionalidade do marco temporal. 

Inclusive, a advogada ruralista Luana Ruiz - filha de Roseli Ruiz e Pio Queiroz Silva, proprietários da Fazenda Barra -, como destaca o Conselho Indigenista, atua na assessoria especial da Casa Civil de Mato Grosso do Sul. 

Segundo apuração do Cimi, a advogada atuou na ação deferida pela Justiça Federal de Ponta Porã, em busca da proteção da Fazenda Barra, através da decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) 

Agora, os indígenas pedem revogação dessa decisão que, segundo os indígenas, "ampara, ilegitimamente, a presença violenta da Polícia Militar no território homologado".

**(Colaboraram Alanis Netto e Daiany Albuquerque) 

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