Apesar do inédito e acelerado fenômeno de proliferação de plantas aquáticas no lago da hidrelétrica de Mimoso nos últimos meses, no município de Ribas do Rio Pardo, o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (SEMADESC), Jaime Verruck, vê a situação como normal e diz que o problema é decorrente da escassez de chuvas.
Ao ser questionado sobre o fenômeno nesta segunda-feira (6), Jaime Verruck afirmou que o problema ocorre também em outras represas, como em Jupiá, no Rio Paraná, em Três Lagoas, onde existe um lago de 33 mil hectares.
Informou, ainda, que a empresa responsável pela usina de Mimoso, instalada no Rio Pardo, já foi notificada pelo Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) e, além de ter recebido autorização para aumentar a vazão e despachar parte das plantas pelos vertedouros, terá de coletar o excesso de vegetação e devolver a normalidade ao lago de 1.540 hectares.
A proliferação das plantas aquáticas no lago de Mimoso coincide com o primeiro ano de funcionamento da fábrica de celulose da Suzano em Ribas do Rio Pardo. Porém, Jaime Verruck garante que já foi feita análise dos dejetos despejados pela fábrica e ficou comprovado que estão dentro do padrão.
Com isso, o secretário responsável pela concessão de licenças ambientais em Mato Grosso do Sul descarta, automaticamente, que as plantas aquáticas sejam uma espécie de efeito colateral da atividade industrial na região do chamado Vale da Celulose.
Além disso, fiz, foi feita a análise dos rejeitos de esgoto da estação de tratamento da Águas Guariroba do bairro Nova Lima, em Campo Grande, e estes despejos no Córrego Botas também estão dentro do padrão, segundo o secretário.
Sedo assim, entende o secretário, a culpa é de São Pedro, o santo ao qual a crença popular atribui a responsabilidade pela regulação das chuvas. "É normal nesse período de seca. Você aumenta a carga orgânica e aí começa a nascer. Como não tem chovido e a usina não estava liberando a água, por causa da escassez de chuvas a usina está retendo a água. Então não é só liberar mais água. A usina vai ter que retirar o excesso", declarou o secretário.
O lago de Mimoso existe desde 1971, há 54 anos, e segundo proprietários de fazendas e casas de campo construídos às margens, esta é a primeira vez que o fenômeno ocorre, embora em anos anteriores tenham ocorrido estiagens bem mais severas que agora.
O fato novo que ocorreu na região no último ano foi a ativação da fábrica de celulose da Suzano em Ribas do Rio Pardo. Diariamente ela despeja no Rio Pardo em torno 180 milhões de litros de rejeitos do processo de industrial. Isso equivale ao despejo da carga de 5,1 mil carretas-tanque, de 35 toneladas/cada, por dia.
E, assim como o secretário, a empresa também garante que faz o descarte destes rejeitos dentro dos padrões. Porém, nenhum dos dois informa se estes "padrões" significam que a água está livre de material orgânico que serve de alimento para estas plantas aquáticas que tomaram conta do lago.
A maior fábrica de celulose do mundo, que demandou investimentos de R$ 22,3 bilhões, entrou em operação em julho do ano passado e anualmente a produz 2,55 milhões de toneladas de celulose. Para isso, retira do rio em torno de 200 milhões de litros de água por dia e em torno de 90% disso é devolvido, depois de passar por tratamento, ao rio.
Para justificar que a proliferação de plantas é um fenômeno natural nesta época do ano, o secretário cita o caso de Jupiá, onde os controladores da hidrelétrica também são obrigados a fazer o recolhimento para não atrapalhar a geração de energia.
Ele não cita, porém, que naquele lago, que é 21 vezes maior que o da usina de Mimoso e com vazão de água proporcionalmente superior, também existe uma fábrica de celulose. A unidade da Eldorado foi ativada no final de 2012 e o mesmo lago receberá, a partir de 2028, os rejeitos da fábrica da Arauco, de Inocência. A fábrica de Suzano em Três Lagoas está instalada abaixo da usina de Jupiá.
A barragem da hidrelétrica de Mimoso está localizada a cerca de 40 quilômetros abaixo do local onde está a fábrica de celulose da Suzano. Seu lago, porém, se estende até perto da fábrica. E próprio secretário admite, conforme ele mesmo constatou em sobrevoo, que o lago está praticamente todo tomado pelas plantas. E, segundo ele, "vai piorar".
Proprietários de ranchos cobram providências e garantem nunca terem visto algo parecido com aquilo que está ocorrendo nos últimos meses. Atividades aquáticas, como competições e passeios de jet ski, que eram comuns, agora estão inviáveis, já que o espelho d'água está todo encoberto pelas plantas.
NOTA DA SUZANO
Em nova enviada ao Correio do Estado, a Suzano diz que "na Unidade de Ribas do Rio Pardo, todos os efluentes industriais são tratados na Estação de Tratamento de Efluentes (ETE), retornando ao rio Pardo com qualidade que não apenas atende, mas é mais restritiva que os limites legais vigentes e cujos resultados são entregues e monitorados pelo órgão ambiental responsável.
Para demonstrar nosso compromisso com a conservação dos recursos naturais, destacamos que o sistema de captação de água da unidade está localizado a jusante do ponto de lançamento dos efluentes tratados. Isso significa que utilizamos a própria água que devolvemos ao rio, garantindo sua qualidade."


