Depois de consumir R$ 45,45 milhões dos cofres estaduais, a avenida que foi anunciada para ser o novo acesso da região central às Moreninhas, na região sul de Campo Grande, está literalmente virando “caminho para a roça”, já que a nova avenida acaba no meio de uma pastagem e a segunda etapa da obra segue sem previsão para começar.
Conforme a previsão, a segunda etapa vai ligar o final da Avenida Alto da Serra (Moreninhas) à Rua Salomão Abdala (Itamaracá), criando conexão com as avenidas Guaicurus, Rita Vieira de Andrade e Eduardo Elias Zahran.
Na primeira fase, que começou em dezembro de 2022, a Avenida Alto da Serra foi toda asfaltada, inclusive recebendo ciclovia e passeio público. Os trabalhos estão praticamente concluídos. Porém, como este asfalto acaba em uma pastagem, a avenida frenquentemente está sendo utilizada como caminho de dezenas de vacas leiteiras e bezerros.
Na tarde do último sábado (9), por exemplo, a avenida de R$ 45,45 milhões foi tomada por cerca de 40 bovinos e um “peão boiadeiro” que, em vez de um cavalo, estava montado em uma pequena motocicleta.
Vez ou outra recebendo ajuda de adolescentes que já o conhecem, o “peão” conduziu sua boiada por cerca de dois quilômetros ao longo desta quase deserta avenida. De acordo com o proprietário, os animais começaram a fugir porque, com a nova avenida, a meninada está chegando com maior facilidade ao córrego, invadem sua propriedade e danificam a cerca.
E, depois da primeira fuga, as vacas descobriam que existe pastagem abundante em outros locais e viraram “fujonas”, explica o chacareiro, que tira o sustendo com a venda de leite. O córrego que virou alvo dos banhistas é o Lageado, sobre o qual já foi construída uma ponte.
A obra dessa avenida acaba cerca de 50 metros depois da ponte e o local, embora existam placas vetando o acesso, virou um grande depósito de entulho e lixo. Dezenas de cargas de restos de material de construção, de galhos e lixo comum foram depositados no local.
Em julho, após série de reportagens do Correio do Estado sobre a demora para início da segunda etapa, os secretários de obras do Estado e da prefeitura de Campo Grande chegaram a se reunir para definirem os rumos do projeto.
Mas, apesar do anúncio de que a licitação estava prestes a ser anunciada, até agora o projeto segue parado. Em janeiro do ano passado chegou a ser anunciada a abertura da licitação, mas ela não evoluiu.
Na mesma época também foram desapropriados 52 imóveis na região do bairro Itamaracá. Conforme a previsão inicial, feita em janeiro de 2023, seriam necessários R$ 10,49 milhões para indenizar os moradores ao longo da rua Salomão Abdala e da região onde atualmente ainda é pastagem.
Assim como a obra de pavimentação e drenagem, os custos desta indenização também estão sendo bancados pelo Governo do Estado. Ao município coube a parte burocrática das desapropriações e negociação dos valores.
Com estes pagamentos demoraram, teve proprietário que recorreu à Justiça. Em pelo menos um destes casos, o valor foi parcelado em seis vezes e três parcelas já foram pagas.
Conforme a previsão inicial, para a segunda etapa da avenida serão necessários em torno de R$ 32 milhões. Porém, este era o valor informado no final de 2022.
Além de beneficiar os moradores da região, já que a avenida Alto da Serra foi toda recapeada e outras vias do bairro receberam asfalto novo, a obra tem o objetivo principal de oferecer uma nova via de acesso às Moreninhas e desafogar o trânsito de avenidas como a Costa e Silva, Guri Marques e Guaicurus.
O Correio do Estado procurou o Governo do Estado em busca de informações sobre a previsão de data para continuidade da obras, mas até a publicação desta reportagem não havia obtido retorno.