O período de quarentena para a mulher que é vítima de violência doméstica nunca foi tão difícil. O lar onde deveria ser o lugar mais seguro, hoje é uma das preocupações das famílias e autoridades de Mato Grosso do Sul para o aumento da violência e crimes de feminicídio. Isso porque dados do mapa de feminicídio lançado nesta segunda-feira (8) apontam que das mortes ocorridas no passado (30 óbitos), 77% das mulheres foram assassinadas pelos seus parceiros dentro de casa.
A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul trabalha com um total de 110 casos de feminicídios consumados e 220 casos de feminicídios na forma tentada no período de 2015/2018, sendo 21,8% na capital e 78,2% no interior. Em 2019, foram 30 feminicídios consumados e 98 tentativas, sendo 16,6% das mortes ocorridas na capital e 83,4% no interior.
Enquanto essas mulheres tiveram suas vidas encerradas pela frustração de seus parceiros, neste ano, o número já é superior do que os primeiros meses do ano passado. Em apenas cinco meses, Mato Grosso do Sul já registra 15 mortes por feminicídio, desses, 5 em Campo Grande.
Junho é mês da Campanha Estadual de Combate ao Feminicídio e diversas campanhas são realizadas diariamente para conscientizar todas as mulheres que passam por algum tipo de violência, ou mesmo, aquelas que ajudam as outras que passam por esse problema.
Na semana passada, o Conselho Estadual de Direitos da Mulher de Mato Grosso do Sul (CED/MS) realizou workshop virtual com tema "Violência contra a Mulher em tempos de pandemia" com especialistas e vítimas que passaram por essa mesma problemática.
Para a subsecretária de Políticas Públicas para Mulheres (SBPPM) Luciana Azambuja, o isolamento social em casa com relacionamento abusivo, ou seja, estar ao lado do agressor o tempo todo, com todo um contexto social dentro de casa, faz com que o abusador possa ter maior controle sobre a mulher.
“O isolamento é necessário, mas pode ser muito cruel, a gente precisa dizer para essas mulheres que elas não estão sozinhas, elas devem guardar o isolamento social, mas precisam buscar orientação, nós entendemos o medo, a vergonha, a preocupação com a criação dos filhos, mas incentivamos que buscam ajuda especializada, não é tabu, violência contra mulher mata, o silêncio mata”, destacou a subsecretária.
Ainda segundo Mapa divulgado pelo Governo do Estado, 56,66% das mulheres foram mortas por homens com quem conviviam e tinham relacionamento afetivo e 76% delas deixaram os filhos órfãos. Os motivos, sempre pela não aceitação do término do relacionamento, 40% foram vítimas do machismo do parceiro, enquanto 33,33% por ciúmes como sentimento de posse da mulher. Os dados ainda apontam que em 37% dos casos, os autores utilizaram de arma branca (faca, canivete ou machadinha) para matar suas parceiras.
Para a subsecretária de políticas para a mulher, dos casos analisados todos os autores foram identificados, presos e condenados pela justiça. Porém, dos 30 casos, apenas 2 tinham medidas protetivas. “Cerca de 93% dos casos não tinham medida protetiva, ou seja, a medida salva vidas, porque está debaixo da nossa proteção”, contou Luciana.
Segundo a delegada titular da Delegacia Especializada da Mulher (DEAM), Fernanda Félix, o aumento de casos de violência doméstica bem como os crime de feminicídio é consequência da mulher mais tempo em casa com o agressor e também destacou a importância dos canais on-line para denúncia (Confira ao final).
Isso porque só no mês de maio, foram registrados na Delegacia da Mulher, 547 boletins de ocorrência, bem como 368 medidas protetivas foram ativadas, 36 agressores foram presos em flagrante e 15 mandados de prisão foram cumpridos apenas neste mês.
“A violência doméstica é uma consequência mundial, o número dobrou em São Paulo e aqui não é diferente. O feminicídio é um crime evitável, se ela [vítima] buscar ajuda, é possível evitar esse tipo de crime, a gente sempre trabalha divulgando os canais de ajuda e o nosso trabalho diário, é importante denunciar”, explicou a delegada.
VÍTIMA
Uma das vítimas que participou do workshop na semana passada quase foi assassinada pelo ex-marido. “Eu já estava separada havia dois meses quando ele entrou na minha casa de madrugada e começou a me bater com um pé de cabra. Eu estava dormindo, acordei com as pancadas e demorou para entender se o que estava acontecendo era real ou um pesadelo”, relatou.
“Eu quero alertar as mulheres de que a violência não é sua culpa, pois era assim que eu me sentia. Quando estávamos casados, eram constantes as pequenas demonstrações de violência. Eu achava normal, pensava que casamento era assim mesmo. Infelizmente, isso acontece com outras mulheres também”, finalizou.
AJUDA
Mesmo em quarentena, as denúncias podem ser feitas de forma on-line através de três canais de atendimento. Pelo site da Polícia Civil, Não Se Cale, e no aplicativo MS Digital. A Defensoria Pública também tem o canal Nudem na capital e está atendendo por meio do telefone (67) 3313-5835 e também pelo site.
*Com informações da assessoria