Marcada para acontecer ontem, a vistoria da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro) na Fazenda Clarão da Lua, no Pantanal da Nhecolândia, onde supostamente havia bovinos clandestinos, foi remarcada para o dia 22 e, com isso, o “mistério” sobre a situação do gado continua.
Na semana passada, após reportagem do Correio do Estado mostrar que uma briga judicial teria descoberto que 1,6 mil bovinos que estão na Fazenda Clarão da Lua simplesmente não existem para a Iagro. A agência afirmou que o gado não representa risco sanitário ao status de área livre de febre aftosa sem vacinação.
O status de área livre de febre aftosa sem vacinação conquistado por Mato Grosso do Sul foi reconhecido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
De acordo com a Iagro, a vistoria para contagem do gado e conferência da documentação dos animais que havia sido marcada para ontem foi transferida para a semana que vem, a pedido de um dos envolvidos na briga judicial.
“A Iagro informa que a contagem do rebanho estava agendada para esta segunda-feira, 14 de abril. No entanto, na sexta-feira, dia 11 de abril, foi proferida uma decisão judicial que determinou a reintegração de posse em favor de uma das partes envolvidas. Em decorrência dessa decisão, a parte beneficiada solicitou o reagendamento da contagem para o dia 22 de abril, a fim de viabilizar o deslocamento da equipe responsável pelo manejo e reunião do gado”, declarou a agência.
A disputa judicial envolve três pessoas: o ex-proprietário Marcos Garcia Azuaga, Rodrigo Ricardo Ceni, que comprou a fazenda e a revendeu quatro dias depois, e Amerco Rezende de Oliveira, que comprou a fazenda, mas arrendava o local há mais de 10 anos.
Agora que a fazenda terá de ser devolvida a Oliveira, arrendatário da terra há mais de 10 anos, a exigência é de que o gado seja minimamente contado e que exista documentação. Porém, no sistema de controle da Iagro, não consta nenhum documento.
A reintegração de posse foi dada no dia 7, apesar de a alegação da Iagro apontar para o dia 11.
“A mesma parte alegou ainda que houve danos à estrutura da sede da propriedade, supostamente causados pela parte contrária, o que teria comprometido as condições de permanência das equipes envolvidas na contagem. Um boletim de ocorrência foi registrado relatando o episódio de depredação”, completou a nota da agência.
PRIMEIRA VISITA
Os técnicos da Iagro já estiveram na Fazenda Clarão da Lua, que tem 3 mil hectares de área, com um oficial de Justiça. Na ocasião, vistoriaram o local e confirmaram a existência dos bovinos.
“Todos em bom estado sanitário e sem sintomas de doenças infectocontagiosas”, afirmou a Iagro em nota na semana passada. No entanto, a justificativa da agência de que o gado não representa risco sanitário seria uma “pulada de cerca”.
“Durante a inspeção, realizada a partir de notificação judicial, foram identificadas marcas compatíveis com o cadastro de uma propriedade vizinha, registrada em nome de uma das partes envolvidas no litígio. Houve movimentação dos animais entre as áreas sem a devida comunicação ao órgão, o que configura infração administrativa e será devidamente apurada. O proprietário responsável será autuado conforme prevê a legislação sanitária vigente”, informou nota da semana passada.
A exposição do gado sem qualquer registro na fazenda veio dias antes da viagem das autoridades de Mato Grosso do Sul a Paris, na França, onde o Estado receberá da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) o status de área livre da febre aftosa sem vacinação.
*Colaborou Eduardo Miranda