A conexão entre fã e ídolo pode render mais que um caso de identificação e afeto. Em muitos casos, o talento artístico é descoberto ou aprimorado em virtude de fortes referências e inspirações. A admiração se torna força de vontade e estimula a criatividade para iniciar a própria produção cultural. Em Campo Grande, muitos artistas relatam como seus ídolos foram cruciais em suas carreiras.
A historiadora sul-mato-grossense Raquel Anderson, 51 anos, sempre acompanhou a carreira de Maria Bethânia. Fã da Música Popular Brasileira, Raquel cresceu ouvindo artistas como Chico Buarque e Caetano Veloso e se descreve como uma “leitura compulsiva”.
Além de apreciar a música, também nutre paixão por Maria Bethânia como declamadora de poesia. “Eu observo com muita intensidade como ela faz o uso da palavra, a forma como se expressa. Eu a considero uma das maiores declamadoras de expressão universal”, explica.
A admiração foi decisiva para que Raquel começasse a se aventurar na escrita, há cerca de um ano. Hoje, a historiadora já se apresenta como escritora e conquistou reconhecimento, inclusive do próprio ídolo.
CONQUISTA
Este ano, Maria Bethânia completa 50 anos de carreira e 70 de idade. Como parte da celebração, a artista está preparando um livro de poesias chamado “Poesia de Maria”, ainda sem data de lançamento. A obra será formada por poemas criados por poetas de todo o Brasil, que foram selecionados por meio de concurso.
Um dos 25 escolhidos é Raquel Anderson. Ela enviou seu poema, “Menina de Trancinha”, sobre sua infância no Pantanal e Aquidauana, e recebeu com emoção a notícia da aprovação. “Confesso que fui às lágrimas”, relata.
Para compor a obra, Raquel fez questão de usar palavras que agradam Maria Bethânia. “Eu já percebi que ela gosta muito de ‘pirilampos’, então utilizei no poema, por exemplo”.
Raquel também está prestes a lançar seu primeiro livro, “Oswaldão, obséquios pantaneiros”, que relata contos da vida do seu pai, Oswaldo, um típico homem pantaneiro.
Com lançamento previsto para o fim do ano, ela finalmente se reconhece uma escritora e credita muito desse crescimento artístico a seu ídolo. “Maria exerceu uma forte influência sobre mim”, define.
“Meu orgulho maior agora é de poder levar o nome de Mato Grosso do Sul e Aquidauana, cidade onde nasci, para o cenário nacional”, conclui.
MÚSICA
Outros artistas, de outros segmentos, também relatam como seus ídolos os ajudaram a seguir o caminho artístico e encontrar a própria identidade.
O músico Alexandre Bijos, baixista da banda Lynks, de Campo Grande, conta que sua maior inspiração é o Oasis, grupo de rock britânico, autor de hits como “Wonderwall” e “Champagne Supernova”.
“Eu e meu irmão, Gustavo, vocalista da Lynks, descobrimos o Oasis quando eles lançaram o primeiro álbum, ‘Morning Glory,’ em 1999”, conta. “Na época, eu já tocava instrumento há bastante tempo. Mas o Oasis foi determinante para eu escolher seguir a vida musical. Não foi o único fator, mas foi determinante”, diz.
Hoje, a banda Lynks apresenta várias referências ao rock britânico. “Se você escutar o nosso som, é fácil de perceber”, pontua Alexandre. Grupos como Oasis, Coldplay, Beatles e The Verve estão presentes no processo criativo do grupo, que produz música autoral e tem um álbum lançado, “Live and Let Lynks”.
EXPRESSÃO ARTÍSTICA
José Augusto Antunes Neto, 19 anos, nutre admiração por diversos artistas da música pop e da moda. Gisele Bündchen, Madonna, Cher, Kylie Minogue e Lady Gaga são alguns dos nomes que inspiram o jovem.
Criativo e apaixonado por cultura pop, José tornou-se um dos novos nomes do cenário de drag queens de Campo Grande. Com suas composições ousadas, o jovem desperta atenção e interesse do público.
Ele conta que, para criar suas roupas, escuta suas artistas favoritas e as utiliza recomo referências visuais.
“Há certas músicas e álbuns que fazem com que minha criatividade trabalhe melhor”, explica. “Por exemplo, a Madonna é uma pessoa supercriativa, inovadora, chocante e questionadora. São coisas que prezo muito como drag, e a Madonna impulsiona a querer isso cada vez mais para mim”.
José, ou Cruella, já se apresentou na noite com visual e performances inspirados em Madonna, Kylie Minogue, Gisele e outros. Além de suas criações próprias, totalmente originais, que surgem em sessões criativas ao som das cantoras favoritas.
A artista plástica Marilena Grolli relata que, no início de sua produção artística, ainda nos tempos de faculdade, descobriu e se conectou com o artista norueguês Edvard Munch.
“Eu me identificava muito com a expressão da dor. Ele passou por muitas tragédias e, na época, eu passava também”, conta Marilena.
Algumas de suas primeiras séries artísticas, como “Tormentos”, tem Munch como grande referência.
“É aquela coisa de a obra conversar com você e te tocar de alguma forma”, resume Marilena.

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