Camila Márdila sempre teve uma relação de curiosidade e preconceito com a televisão. Reconhecida antes no teatro e, principalmente, no cinema, a atriz decidiu que, em vez de “correr” atrás de um papel no vídeo, esperaria as coisas acontecerem naturalmente. “A ideia de ficar no ar por tantos meses com a mesma personagem não me parecia tão interessante. Não ter essa ansiedade toda por estar na tevê fez com que eu fosse me apaixonando pelos estúdios aos poucos e sem muita pretensão”, garante. Com três séries e uma supersérie no currículo, chegou Camila integra pela primeira vez o elenco de um folhetim tradicional em “Amor de Mãe”. Na trama, ela vive a misteriosa Amanda, jovem em busca de vingança e disposta a tudo para interferir nos planos megalomaníacos com poderoso Álvaro, empresário vivido por Irandhir Santos. “É uma personagem muito bem articulada e que sabe o que quer. De um modo geral, esse acerto de contas com o Álvaro acaba a tornando uma espécie de heroína, já que ele está diretamente ligado a crimes de corrupção e poluição ambiental. É um papel que fala ao social”, valoriza.
Camila Márdila, a Amanda de "Amor de Mãe", da Globo. (Foto: Divulgação) A possibilidade de se sentir intimidada com as instalações gigantes e tecnológicas do novíssimo MG4, estúdio onde é gravada a atual novela das nove, logo se dissipou quando Camila percebeu que estava cercada de amigos. Além de ter sido convidada para o projeto pela autora Manuela Dias e pelo diretor José Luiz Villamarim, com quem trabalhou em “Justiça” – sua estreia na tevê –, ela acabou se encontrando com parceiros de outras produções nos sets, casos de Adriana Esteves, Vladimir Brichta, Enrique Diaz e Regina Casé. “Trabalhar com essas pessoas é muito motivador. Estamos vivendo esse projeto há algum tempo já e monotonia é algo inexistente nessa jornada”, garante. Contratada por obra pela emissora, Camila teve de encarar a série de adiamentos sofridos por “Amor de Mãe” ao longo dos últimos dois anos. Por conta disso, acabou perdendo alguns trabalhos no teatro e no cinema. Vivendo desde sempre os altos e baixos da carreira de atriz, Camila respira aliviada com o suporte financeiro, mesmo que momentâneo, que a televisão proporciona. “Não me tornei atriz para ficar rica. Mas é claro que é bom ver as contas todas pagas. Geralmente, nas peças que faço eu mais gasto do que ganho dinheiro. Então, além de prazeroso, os salários na tevê são bem-vindos”, brinca, entre risos.
Filha de uma dona de casa e um bancário, o futuro de Camila sempre foi motivo de preocupação para os pais. Natural de Taguatinga, região metropolitana do Distrito Federal, e decidida a enveredar pelo teatro desde criança, ela teve de convencer os dois de que conseguiria se destacar mesmo nascida e criada longe do eixo Rio-São Paulo, e sem qualquer artista na família. “Foi tudo sempre muito difícil em casa. Minha família é grande e meus pais tiveram de escutar muitas piadas sobre a minha opção pelas Artes Cênicas. Em Brasília todo mundo só pensa em passar em algum concurso público. Eu queria uma vida diferente”, explica. A verdade é que ela bem que tentou deixar a atuação para trás. Na faculdade, escolheu Comunicação Social e acabou se aproximando do “povo” do cinema local. Em pouco tempo, fez um teste e acabou estrelando seu primeiro longa, “Do Outro Lado do Paraíso”, elogiado filme de André Ristum, o que acabou lhe valendo um chamado para os testes de outro longa, o premiado “Que Horas Ela Volta?”, sucesso de Anna Muylaert.
Na pele de Jéssica, jovem pobre, nordestina e abandonada pela mãe, Camila atuou ao lado de Regina Casé, com quem também dividiu o prêmio de Melhor Atriz do prestigiado Sundance, festival americano de cinema independente. “As pessoas até hoje falam do filme e espero que falem para sempre. O longa da Anna tocou em questões muito profundas do Brasil atual e foi a minha grande escola. A recepção foi inesperada. Só fui para os Estados Unidos receber o prêmio porque meu irmão me deu a passagem de presente”, lembra. Foi o longa que abriu as portas da tevê para Camila, que acabou se destacando em produções como “Treze Dias Longe do Sol” e “Onde Nascem Os Fortes”. “Fiz o caminho inverso. Estou descobrindo a tevê aos poucos e tenho a liberdade de fazer apenas o que realmente me toca. ‘Amor de Mãe’ tem tudo a ver com todos os trabalhos que fiz até aqui e a Amanda ainda vai aprontar bastante até o final”, promete.


Reprodução obra "A procura da caça", de Lúcia Martins
“Onça que Chora”, um dos trabalhos inéditos da nova exposição
Reprodução obra Florescer no Pântano, de Lúcia Martins


