Com 67 anos e mais de três décadas de trajetória, Sílvia Pfeifer mantém a coerência que sempre marcou sua carreira. Atriz, ex-modelo e figura de referência na cultura brasileira, ela segue em atividade com a liberdade de quem construiu uma imagem pública sólida, sem abrir mão da discrição e da autonomia sobre seus próprios passos.
Desde a estreia na televisão, em Top Model (1989), Sílvia conquistou espaço com atuações que uniram presença cênica, sobriedade e entrega. Participou de produções marcantes como O Clone, Belíssima, Caminho das Índias, Pérola Negra e Alto Astral, além de
trabalhos no teatro e no cinema. Ao longo dos anos, transitou com naturalidade entre diferentes gêneros e formatos, sempre com critério na escolha de seus projetos.
Hoje, evita a exposição excessiva e atua de forma mais pontual. Prefere os bastidores silenciosos da criação às estratégias de visibilidade acelerada. “Nem tudo precisa ser divulgado. O essencial continua sendo o processo: o texto, a escuta, o tempo de maturação”, afirma. A atuação de Sílvia também ultrapassa a ficção.
Interessada em temas ligados à cultura, ao envelhecimento com qualidade e à representatividade da mulher madura, ela acompanha de perto discussões que envolvem a indústria do entretenimento e a forma como ela representa as diferentes fases da vida.
Com postura firme e presença respeitada, Sílvia Pfeifer segue sendo uma referência. Aos 67 anos, sustenta uma trajetória marcada por escolhas consistentes e uma relação honesta com o próprio tempo.
A atriz é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana, e em entrevista ao Caderno ela fala sobre carreira, novos projetos e a celebração de trê décadas de trajetória.
A atriz e modelo Sílvia Pfeifer é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Jeff Porto - Diagramação: Denis Felipe - Por: Flávia VianaCE - Quando você olha para trás, da modelo à atriz, qual foi o momento que virou a chave e te fez dizer: “é isso que eu quero para a minha vida”?
SP - Eu acho que não teve necessariamente um momento de chave, mas a partir do momento que eu experienciei me preparar para um filme que eu acabei não fazendo e a Bia Lessa me levou pelas mãos até a Rede Globo mostrando o meu material, porque foi ela que eu também me preparei com ela.
E eu pegar logo uma protagonista numa minissérie, embora eu tenha recebido muitas críticas e depois logo ser chamada para uma novela de oito, eu vi que eu tinha possibilidade de me desenvolver na profissão e que eu gostei da profissão. E o quanto que me abriu um horizonte do que é o trabalho de ator, a vastidão do trabalho de ator. E aí a mosquinha mordeu. O mosquinha da arte de representar mordeu e picou, me picou.
CE - Sua estreia em Top Model marcou toda uma geração. O que daquela fase ainda te acompanha até hoje?
SP - É curioso, assim, todo mundo fala em Top Model, a minha estreia em Top Model. Eu não fiz Top Model, eu fiz um desfile em Top Model, eu fiz um desfile como modelo, eu não era atriz. Mas acho que realmente acredito que tenha marcado uma geração exatamente por mostrar ali o universo das top models.
CE - Você sempre foi muito criteriosa nas escolhas. O que faz seus olhos brilharem quando lê um novo roteiro?
SP - Vamos lá. O que me faz meus olhos brilharem quando eu leio o roteiro, primeiro, as histórias batem na gente ou não, o personagem bate na gente ou não, a gente se sente tocada por algum motivo. Ou porque o personagem a gente nunca fez, ou porque é um personagem colorido por si só. E leia-se de passagem, colorido não necessariamente é um personagem bom, tá? o personagem mal da história, ele já é colorido por si só.
Porque ele traz uma força, mesmo que negativa, para a nossa realidade, diríamos assim, ele é um personagem colorido. Então, o projeto como um todo também é importante. quem está dirigindo, ter a experiência de ser dirigida por uma outra pessoa, onde a gente sempre aprende, o elenco. Então, tem várias questões. Fazer um personagem também que a gente nunca fez também é muito interessante, porque a gente trabalha também outros caminhos. A gente tem que buscar outros recursos.
CE - Entre TV, cinema e teatro, em qual lugar você sente que ainda consegue se reinventar mais?
SP - Onde eu consigo me reinventar mais, cinema, teatro ou televisão, bom, eu acho que em termos de crescimento de estrutura como ator, é do teatro que a gente aprende mais, que a gente tira mais. Repetir, repetir, criar. é necessário um conhecimento, uma base e a direção também é muito importante.
Então, dali a gente cresce. Agora, a televisão, ela demanda uma experiência, uma sensibilidade, uma coisa única, você tem que criar ali na hora. tudo bem, quanto mais estofo você tem, mais você vai poder resolver questões ali de como melhor atuar. Mas são dois veículos completamente diferentes, que dão satisfação completamente diferente para a gente. É muito bom a gente sair de um dia de gravação, onde a gente fez boas cenas, ou cenas mesmo que sejam difíceis e que a gente não tem certeza se a gente foi bem, mas que demandou da gente um exercício. Eu não fiz tanto cinema, eu fiz menos cinema proporcionalmente às outras artes, mas o cinema para mim ainda é talvez o mais difícil, onde eu sinto menos o que é realmente que eu estou entregando.
CE - Chegar aos 67 anos ativa e admirada é uma conquista rara. O que mudou na sua relação com o tempo e com o espelho?
SP - O que mudou aos 67 anos, olha só, eu me olho no espelho, eu vejo alguma coisa que não está tão boa, que não estava ali naquele lugar, mas eu gosto muito, eu gosto do que eu vejo. eu acho que eu tenho uma sorte, tenho um DNA uma genética muito forte eu acho que eu tive uma trajetória de cuidados que hoje em dia nada radical, mas que hoje em dia são frutos que eu colho para essa para essa fase da vida e eu fico muito bem eu estou sinceramente feliz de como eu estou envelhecendo, mas o espelho não deixa de ser um alerta, olha só, cuida disso, se questiona se está bem, está feliz, eu acho que é um momento que realmente a gente conversa com a gente mesmo.
CE - A televisão brasileira mudou muito desde que você começou. Como você vê a forma como a mulher madura é retratada hoje?
SP - Como eu vejo a televisão retratando a mulher madura, olha, as mulheres maduras que aparecem na televisão estão muito bem. Se colocam muito bem, são mulheres maduras, que antigamente a gente dizia madura, achando que estava já numa idade muito avançada. Hoje em dia é uma mulher jovem, produtiva, cheia de luz, de conquistas, de atuações. até em várias áreas, eu só acho que não escrevem, infelizmente, para essas mulheres maduras, tanto que cada vez existem menos papéis, o elenco fica muito mais voltado para o público jovem.
E isso é uma pena, porque tem-se muito o que contar, tem-se muito o que questionar, tem-se muito o que pensar, o que refletir sobre uma idade madura. e a proximidade, o outro passo seria a velhice, muito mais. Tem inúmeras coisas que podem ser levantadas, questionamentos, medos, dificuldades que a velhice pode trazer e eventuais conflitos com outras gerações mais novas, mais jovens.
A atriz e modelo Sílvia Pfeifer é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Jeff Porto - Diagramação: Denis Felipe - Por: Flávia VianaCE - Você já comentou que gosta mais do processo do que da exposição. O que acontece nos bastidores que mais te alimenta como artista?
SP - O que me alimenta nos bastidores é a troca, a troca com o humano, com o ator onde você não só tem a troca também como dicas, ideias e o contrassenar, a parceria, a gente tem muita química com um ator, às vezes mais com um ator do que com outro e isso é uma coisa, às vezes, até meio inexplicável, mas o humano, quando a gente encontra um ator onde a gente trabalha bem e ainda tem uma boa relação, não precisa nem ser amizade, uma boa relação e que aquela pessoa também nos estimule como gente, como pessoa que nos dê exemplos, eu acho isso fundamental, é um trabalho de sucesso e onde o bastidor é bom, é muito mais prazeroso ainda.
CE - Houve algum momento em que você pensou em deixar a carreira de lado, ou esse desejo nunca chegou?
SP - Olha, eu nunca tive vontade de deixar a carreira, não, mas eu me questiono, porque eu venho trabalhando cada vez menos. Embora eu tenha feito agora uma participação, eu fiz uma participação. E ainda é pós-pandemia, e a gente não rejuvenesce no sentido de... a vida não anda pra trás, anda pra frente. Então me assusta um pouco a perspectiva de trabalhar cada vez menos, ou muito pouco como atriz.
CE - Como você enxerga o papel das redes sociais nos dias de hoje e de que forma você costuma utilizá-las no seu dia a dia?
SP - As mídias sociais, elas são necessárias para qualquer trabalho, muito mais para o nosso, talvez. Eu tenho ainda uma dificuldade ou uma preguiça ou uma lentidão para realmente interagir. Eu tenho fases. E talvez eu também não entenda tanto quanto eu entendo, ou deveria entender, na realidade. Então, eu acho que é um ponto que eu deveria, sim, desenvolver. Eu acho importante a gente se comunicar e usar isso como um meio de comunicação com o público em geral.
CE - O que ainda te move a dizer “sim” para um novo trabalho depois de mais de três décadas de estrada?
SP - Bom, o que me faz aceitar um trabalho é não só o gostar de trabalhar, de ser atriz, porque a gente só é aquele profissional a partir do momento que a gente está trabalhando naquela profissão.
Não adianta ser formada em odontologia, por exemplo, e não exercer a profissão. Até uma vez eu vi uma, estou falando isso, estou me lembrando de uma entrevista, acho que da Fernanda Montenegro, falando que a gente é ator se a gente exerce a profissão, então não exercer a profissão é muito frustrante. Então assim, um convite me move, poxa, vou exercer essa profissão. Se o trabalho for melhor ainda, o personagem for melhor ainda do que a gente pensou, do que a gente esperou, é um super presente. Mas qualquer trabalho é trabalho e não é demérito nenhum a gente trabalhar por necessidade e ou trabalhar por desejo daquele específico trabalho, aquele específico convite.



