A atriz e apresentadora Jacqueline Sato é descendente de japoneses, indígenas, espanhóis, portugueses e alemães. Sua primeira experiência na televisão foi como apresentadora do “Sessão Super Herois”, quando tinha apenas 12 anos de idade. Aos 17, começou a estudar atuação e estreou, no teatro, com “Uma Peça Por Outra”, direção de Brian Penido Ross, e “Antígona”, direção de Sérgio Ferrara.
De volta à televisão, em 2010, estreou nas novelas como Bianca em “Corações Feridos”, no SBT. Multifacetada e amante da natureza e dos animais, apresentou, entre 2011 e 2012, o programa “Encantador de Cães”, na RedeTV. Na ocasião, o reality show alcançou o top 3 entre as maiores audiências do canal.
Durante 2013 e 2014, ela interpretou Jéssica, uma tatuadora sensual e divertida em “Além do Horizonte”, na Rede Globo. Antes mesmo da obra acabar, Jacque foi convidada para viver Sandrinha em “Na Mira do Crime”, série de TV produzida pela Fox e Rede Record, exibida em janeiro de 2015. Ainda no mesmo ano, foi convidada para interpretar Harumi em “Psi”, série da HBO indicada ao Emmy, e para integrar o elenco da peça “A Lenda do Vale da Lua”, apresentada em São Paulo, no Teatro Porto Seguro.
Jacqueline também é a voz da música de abertura da versão brasileira do anime japonês “Doraemon”, sucesso no ar há mais de 40 anos no Japão.
No ano seguinte, de 2016 a 2017, ela teve um de seus maiores desafios: interpretar Yumi, um dos papéis principais em “Sol Nascente”, na Rede Globo.
2017 foi o ano em que deu vida à sua primeira protagonista, Marina, na série de TV “(Des)encontros”, do Canal Sony. A série foi ao ar em 2018 e, no mesmo ano, ela foi vista nas telonas pela primeira vez, vivendo Caroline, professora de yoga e ex-namorada de Virgílio (Mateus Solano), protagonista do filme “Talvez uma História de Amor”, da Warner Bros., com direção de Rodrigo Bernardo.
De volta à Rede Globo, em 2018, integrou o elenco da novela de época “Orgulho e Paixão”, interpretando a médica Mariko. Já o ano de 2019 começou com Jacqueline dublando uma das protagonistas, Melissa Shield, do filme “My Hero Academia: 2 Herois”, famoso anime japonês. Em seguida, integrou o elenco de seu segundo filme, “10 Horas para o Natal”, dirigido por Cris D’Amato e lançado em dezembro de 2020.
Também em 2020, dublou desenhos e animes (a série “My Hero Academia” e “Astroboy”), animações (“Cats e a Gatolândia”), filmes ( “Ice” e “Cosmoball”), entre outros. Em setembro do mesmo ano, ela voltou ao ar apresentando na Band o programa “Encantadores de Pets” e a série “Bruce Lee: A Lenda”.
Jacqueline Sato - DivulgaçãoAlém do trabalho como apresentadora até meados de 2021, Jacqueline deu vida também a Ayumi na série “Os Ausentes”, dirigida por Caroline Fioratti e Raoni Rodrigues, que estreou em julho do mesmo ano na HBO Max.
Em 2023, a atriz estreou no Star+ com a série “A História Delas”, onde contracena com nomes como Letícia Spiller, Cris Vianna, Emma Araújo, Bia Arantes e outros. Na trama, interpreta Mirella, uma ex-modelo, dona do Miralaser, um estabelecimento que oferece depilação definitiva, e casada com o personagem do Leo Jaime.
No ano seguinte, a artista estreou no dia 01 de agosto o programa “Mulheres Asiáticas” que aborda representatividade, preconceito, e valoriza a pluralidade e riqueza da cultura destes povos e seus descendentes. Criado por Jacqueline, a atração do canal E!, teve a primeira temporada com enfoque na vida das mulheres nipo-brasileiras.
Em setembro, a atriz retornou à Globo em “Volta por Cima”, trama das 7, dando vida à Yuki, uma mulher jovem, bonita, ética e inteligente, que será secretária de Silvia Pires Saboia (Lellê), e acaba se metendo em problemas ao se apaixonar pelo homem errado.
Jacqueline tem entre seus próximos lançamentos o longa-metragem “Uma Praia em Nossas Vidas”, dirigido por Guto Arruda Botelho e ambientado nos anos 80.
Membro do Emmy Internacional, a artista também é CEO da House of Cats, associação de proteção aos animais, que já ajudou mais de 2000 gatinhos a encontrarem um lar. Engajada também em pautas ambientais, Jacqueline, que usa sua voz e plataforma para abordar pautas importantes, como sustentabilidade, preservação da natureza, incentivo ao slow fashion e outras mudanças de hábitos que geram menos impacto ambiental, tornou-se em 2021 a nova Embaixadora do Greenpeace Brasil.
Jacqueline é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana, e em entrevista ao Caderno ela fala sobre carreira, trabalhos e novidades.
A atriz e apresentadora Jacqueline Sato é a Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Tiago Carvalho - Diagramação: Denis Felipe - Por: Flávia VianaCE - Você acabou de gravar o filme “Uma Praia em Nossas Vidas”. Como surgiu o convite para participar desse projeto?
JS - Conheci o Guto, tempos atrás, e nós conversamos muito sobre a vida, sobre nossas profissões, o que cada um já estava realizando e o que ainda gostaríamos de realizar. Foi uma linda surpresa quando recebi o convite, diretamente dele. Uma porque lembrava desse projeto dele, que quando o conheci ainda estava numa fase mais inicial.
Então, ver que aquele projeto estava se concretizando já era, por si só, motivo de ficar feliz. Outra por saber que ele gostaria da minha participação, o que me encheu de alegria, pois amo cinema, quero fazer cada vez mais e voltar para as telonas com uma obra tão sensível e que está sendo realizada com tanto carinho e cuidado é maravilhoso demais.
CE - O que mais te chamou atenção no roteiro e no arco da sua personagem?
JS - O roteiro trata de relações familiares, principalmente os contrastes intergeracionais, delineando muito bem o conservadorismo e machismo, versus a liberdade e as novas formas de nos relacionarmos, que estavam latentes e brotando naquela época (anos 80). Gostei muito de como tudo foi costurado, as linhas do passado e do presente, e a profundidade que há no roteiro.
Minha personagem em si, é uma mulher de espírito livre, independente, e que não cai na hipocrisia que tantos faziam questão de sustentar naquele universo. Eu adorei, pois foge do lugar comum e de qualquer estereótipo que, tão frequentemente, somos colocadas. Muitas coisas me chamaram a atenção no roteiro, mas o principal é que, através das relações e narrativa tão bem construída, você acaba de ler e fica refletindo sobre as escolhas que fazemos na vida, e suas consequências. Pelo menos pra mim, reforçou o quão bom é vivermos alinhados com a nossa verdade, seja ela bem aceita ou não.
CE - Ao longo da sua carreira, você vem transitando entre diferentes gêneros e formatos. O que sente que este trabalho acrescenta à sua trajetória?
JS - Eu amo poder me expressar dentro das múltiplas formas existentes nessa profissão. A sétima arte sempre me encantou e foi uma das maiores razões de eu querer ser atriz. Então, participar de um longa metragem, ainda mais um longa como este, que eu sei o quão significativo é para quem o criou, se torna ainda mais especial.
Na minha trajetória, acrescenta em muitos sentidos, desde realização pessoal, aprendizado, experiência com uma direção e elenco com os quais eu ainda não havia trabalhado, e reafirmação de que, sim, é possível transitar como atriz entre os diferentes formatos, TV, teatro, cinema, e realizar, tudo isso sem deixar de nutrir as outras funções que tenho ocupado enquanto produtora e roteirista. Algo que, anos atrás, me parecia impossível, mas a vida tem me provado que, sim, não só é possível, como também é maravilhoso — uma atividade só engrandece a outra.
CE - Sua presença na tela tem inspirado muita gente, especialmente jovens asiáticos e descendentes que ainda buscam se reconhecer nas narrativas brasileiras. Como você percebe essa responsabilidade?
JS - Na verdade, me emociona receber essa sua pergunta e imaginar que minha trajetória tenha esse impacto todo. Quando comecei, sentia profundamente essa falta de referências e de identificação dentro das narrativas brasileiras, então, saber que tenho conseguido colaborar para transformar esse cenário já é grandioso demais.
Brinco que eu nem escolhi, mas acabou se tornando parte da minha missão. Quando comecei eu queria trabalhar, tinha ideia dessa falta de representatividade, mas não fazia ideia do tamanho da “encrenca”, da dificuldade em transformar estruturas tão arraigadas, de conseguir abrir o olhar das pessoas para que nos enxergassem enquanto parte da brasilidade.
Ainda hoje é desafiador demais. Tem momentos que cansa, mas desistir jamais. De novo, é o viver de acordo com a minha verdade, que me baliza e me fortalece. Quando estamos fazendo escolhas a partir desse lugar tão genuíno, da nossa essência mesmo, não importa o quão gigante seja a barreira, a sensação é de que, ou a ultrapassamos, ou deixamos de ser quem somos.
E escolher deixar de ser quem se é, é muito pior do que enfrentar qualquer obstáculo. Hoje, reconheço e fico muito feliz em perceber que fiz e seguirei fazendo escolhas compatíveis com a criação de um imaginário coletivo a respeito de nós, asiáticos e descendentes, que gerem identificação e uma representação longe dos estereótipos, que por tantas décadas era a única opção para artistas com estas raízes que, mesmo desconfortáveis, aceitavam.
Afinal, parecia ser o único caminho. Houve muita narrativa equivocada e “engolição de sapo”, até hoje ainda há. Mas busco não compactuar com projetos que estejam repetindo estes padrões, sem responsabilidade racial e criativa e, com isto, já vejo os efeitos positivos, as novas oportunidades, o como isso reverbera na sociedade, o feedback das pessoas que, finalmente, podem dizer que se sentiram representadas e se identificaram com algo da obra, e a certeza de que, atualmente, existem novos caminhos.
E quando não existir, prefiro escolher usar da minha existência para criá-lo. Você me perguntou sobre responsabilidade, e eu sei que sozinha não mudo o mundo, mas sei que muita coisa que parece ser um incomodo ou uma dor individual, principalmente quando relacionada a questões raciais, na verdade, é coletiva.
Busco fazer escolhas que sejam benéficas não só para o presente e o que tange a minha vida, mas para o todo e futuro também. Desde muito nova tinha essa mentalidade da interconexão de tudo, e busco viver a vida fazendo escolhas conscientes, seja no âmbito profissional ou pessoal, ou nas causas ligadas à racialidade ou ao meio ambiente.
A atriz e apresentadora Jacqueline Sato é a Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Tiago Carvalho - Diagramação: Denis Felipe - Por: Flávia VianaCE - No início do ano, retornou as novelas com "Volta por Cima". Nela, você interpretou uma personagem que enfrentava grandes desafios pessoais. Como foi o processo de preparação para esse papel? O que mais te atraiu na construção dessa personagem e na mensagem da trama?
JS - Foi maravilhoso fazer essa novela e ser a Yuki. Ela deu voz a dores de tantas mulheres que sofrem relações abusivas. São muitas as mulheres que passam por situação de cárcere privado, muito mais do que podemos imaginar. No meu processo, pesquisei bastante, assisti a entrevistas, documentários, li relatos e bebi o mais próximo das fontes reais.
Depois, através de diferentes métodos, fui buscando trazer isso para o meu corpo, para que fosse o mais verossímil possível. Em diversos momentos, mulheres que passaram por situações parecidas, me chamavam de canto e diziam que com elas tinha sido assim, que eu estava conseguindo passar muito bem toda a agonia e também a força das mulheres que enfrentam situações como essa, pra mim, ao mesmo tempo que ficava feliz por meu trabalho estar sendo bem feito, me impressionava o número e a variedade de mulheres que relataram suas histórias.
Em muitos casos, mulheres que, num primeiro olhar, você jamais diria que passaram por isso. Assim como a Yuki, que começava a trama sem ninguém nunca suspeitar que ela tinha esse passado e ainda sofria. Com certeza, essa não obviedade e as múltiplas camadas dela foi o que mais me chamou a atenção em relação a essa personagem. E em relação à trama, o fato dela ser uma mulher que foi vítima, sim, mas encontrou caminhos e força para superar, e ainda conscientizar outras mulheres é algo memorável. As cenas finais de sororidade entre Yuki e Roxelle foram muito emblemáticas e ressoaram demais entre as pessoas.
CE - Em "Mulheres Asiáticas", você teve a oportunidade de estar não só em frente às câmeras, mas também nos bastidores, participando da criação. Como foi equilibrar esses dois papéis?
JS - Foi incrível! Algo que pretendo repetir. Trazer à vida uma ideia sua, e poder atuar em diversos segmentos, escolhendo pessoas talentosas que você acredita e confia serem as melhores para cada uma das funções é algo incomparável. A sensação de acompanhar cada detalhe, de cada etapa e, finalmente, ver a obra pronta e sendo apreciada pelo público é uma das melhores coisas que já senti. É muito trabalho, detalhe atrás de detalhe, que buscamos realizar com todo o cuidado e o resultado fica ali registrado pra sempre.
Claro que teve momentos em que pensei: “será que vou aguentar?”, e é bom demais ver que atravessamos tudo isso, chegamos na estreia e emocionamos muitas pessoas. Como diz, Lu Minami, uma das pesquisadoras “não é fácil fazer algo pela primeira vez” e, neste caso, era duplamente “primeira vez”: primeira vez que um programa como este estava sendo feito, tanto em relação a formato, quanto à temática; e minha primeira vez atuando como criadora, produtora e roteirista. Tivemos desafios sim, mas o saldo foi muito positivo e deixou com vontade de seguir realizando mais e mais.
CE - Quais aprendizados dessa experiência você gostaria de levar para futuros projetos?
JS - Afinar a escuta da própria intuição para tomar decisões mais rápido. Confiar mais em mim. Conhecer melhor cada pessoa que passa a integrar o processo. E sofrer menos quando algo parece “dar errado”, pois, na maior parte das vezes o que aconteceu foi para que algo ainda melhor acontecesse.
CE - Você tem planos em trabalhar mais também por trás das câmeras? Algum projeto em vista?
JS - Sim! Tenho escrito e produzido outros projetos. Escrever é algo que sempre quis, desde antes da faculdade, fiz também cursos de roteiro e sabia que um dia também realizaria esse ofício. Agora, produzir nunca foi algo que orbitou meu desejo, mas descobri que tenho habilidade para isto e tenho avançado bastante nesse fazer.
Pois, é extremamente importante e está cheio de projeto escrito que não consegue se concretizar. Tanto não quero que os meus se percam nesse limbo, quanto quero colaborar para que os de outras pessoas, as quais admiro e acredito no projeto, cheguem às suas estreias da forma como merecem. Estou envolvida com 10 projetos andando em diferentes fases, no momento.
Jacqueline Sato - DivulgaçãoCE - Seu engajamento em causas da preservação do meio-ambiente é notório. Como enxerga a responsabilidade de artistas e pessoas públicas na defesa de questões ambientais?
JS - Quanto mais longe sua voz chega, mais pessoas e ações você pode influenciar, para algo que trará boas consequências ou não. Cada um escolhe o que faz com esse alcance todo que, querendo ou não, é poderoso. Agradeço o reconhecimento daquilo que já consegui realizar e afirmo que quero realizar muito mais em relação a esta causa que, pra mim, é de extrema urgência. Eu sempre tive muito amor pela natureza e consciência do que a humanidade vem fazendo, desde criança sabia que queria agir em prol da conservação e inovações que tornassem a vida mais sustentável.
Quase cursei engenharia ambiental, mas ao escolher o caminho da arte e da comunicação já sabia que através da minha profissão eu poderia colaborar com essa conscientização e escolho diariamente fazer isso. Faz parte de quem eu sou. Seria melhor se cada vez mais pessoas estivessem despertas a colaborar com essa e outras causas? Sem dúvida.
Ter mais artistas e pessoas públicas envolvidas ajudaria? Com certeza. Mas lutar por uma causa precisa partir de uma escolha genuína, se não, não se sustenta e também soa falso. Por isso, sigo fazendo a minha parte e torço que mais e mais pessoas se sensibilizem e se sintam impelidas a agir também, dentro daquilo que está ao alcance de cada uma.
CE - Que papel você acredita que instituições como a House of Cats desempenham hoje na conscientização sobre proteção e adoção de animais?
JS - Você já viu que eu procuro ser otimista, né? Se eu acredito no poder de uma pessoa levar conscientização, o poder de várias pessoas unidas é ainda maior. A House of Cats é muito presente nas redes sociais e, todos nós, seguimos diversos perfis e somos impactadas por diferentes mensagens em poucos minutos.
Ser um perfil que constantemente traz imagens de animais que foram abandonados e estão disponíveis para adoção, ou que recém foram adotados, que relembra a nossa responsabilidade em proteger, cuidar, castrar, estes seres que a humanidade domesticou e que, hoje, grande parte depende de nós para sobreviver, é um trabalho de formiguinha que tem surtido efeitos. Já conseguimos lares responsáveis para quase 3 mil gatinhos, e isso significa que muitas famílias já transformaram sua visão em relação ao que é ser tutora ou tutor de um animal de estimação.
Cada uma destas famílias segue incentivando a adoção e a proteção dos animais. Cada um destes animais, segue sendo amado como merece, deixou de estar em situação de risco nas ruas e de, possivelmente, dar cria a 12 filhotes em um ano e, ele junto com seus filhotes, darem cria a 66 novos filhotes no segundo ano e, continuando assim, ao final de apenas 5 anos, somam cerca de 12.680 animais em situação de rua.
Sim, o número é impressionante. E é por isto que nós, que trabalhamos com proteção animal, batemos tanto na tecla da importância da castração. Instituições como a nossa colaboram diretamente na mudança de mentalidade das pessoas em relação ao como se relacionar com estes outros seres, e ajudam a dar uma vida melhor tanto ao adotado, quanto ao adotante. Pois nessa relação, todos ganham.


