Talvez não exista um lugar mais campo-grandense que a Avenida Afonso Pena. A rua larga, com um canteiro no meio, tornou-se uma marca registrada da Cidade Morena, uma preciosidade que é a morada de figueiras centenárias, incrivelmente resistentes à ação do tempo.
Parte da história da Capital, as árvores foram cultivadas em 1921 por um dos primeiros adoradores de plantas que pisaram nessas terras, o então intendente e juiz de Direito Arlindo de Andrade Gomes.
“Ele tinha uma chácara onde hoje é a Maracaju, perto do Córrego Segredo. Vendia muitas mudas de frutas, de várias espécies, e foi ele quem plantou as figueiras da Afonso Pena”, conta o professor Arnaldo Rodrigues Menecozi, do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul.
A chácara ficava mais precisamente onde é o atual Hospital do Câncer, na Rua Marechal Rondon, na margem esquerda do Córrego Segredo, em local considerado distante na época, pois a vila era situada nas ribas do Córrego Prosa, quando só existia a Rua 26 de Agosto e se iniciava a abertura da Rua 7 de Setembro, então quintal dos moradores da primeira.
Segundo os documentos enviados pelo Instituto Histórico, no local eram cultivadas 150 variedades de roseiras, as mais finas flores e as mais belas árvores ornamentais, com diversas frutas europeias encontradas em São Paulo e no Rio Grande do Sul.
“Enxertos de maçãs e peras têm ali perfeito desenvolvimento, floração abundante e frutífera regular. As ameixas do Japão e os morangos frutificam como no Rio Grande. Os kakis dão extraordinariamente e o pessegueiro está em terra própria. A uva dá com abundância e espécies finas, americanas, sempre enxertadas, produzem muito, como também o marmelo, o abricó, o ananás, os sapotis e os abacates”, destacam os registros.
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Arborizada
Pode-se dizer que foi Arlindo o responsável por iniciar o processo de arborização de Campo Grande, isso em 1921. “Na época, a cidade tinha entre 8 e 9 mil habitantes no máximo. Eram poucas as ruas e a Avenida Afonso Pena não ia até onde é hoje, acabava bem antes”, ressalta o professor Arnaldo Rodrigues.
Segundo os arquivos do instituto, Arlindo de Andrade nasceu em Pernambuco, no dia 16 de abril de 1884, no município de Timbaúba, em um velho engenho de açúcar denominado Palma, de propriedade de seus pais, Manoel da Cunha Andrade Gomes e Maria Cavalcanti de Andrade, pertencentes à aristocracia rural do Norte, já em irremediável decadência.
Depois de um período em Recife, onde atuou como jornalista e se formou em Direito, Arlindo decidiu que se aventuraria no então Mato Grosso. Porém, o amor pela natureza, iniciado no velho engenho da família, nunca o deixou.
“Ele foi um visionário, nós tivemos alguns prefeitos visionários. No caso do Arlindo, ele olhou a cidade do ponto de vista da arborização. Como ele gostava de plantas, decidiu plantá-las. Dizem, pelas descrições, que a chácara era muito bonita, quando vinham autoridades aqui, iam para a chácara dele. O Arlindo era uma pessoa benquista na cidade”, frisa.
Na época da plantação das figueiras, Arlindo aprovou o Código de Posturas, em abril de 1921, que obrigava o plantio de árvores no terreno e criava condições tributárias para a sua manutenção.
Para dar o exemplo, o intendente Arlindo plantou as árvores do canteiro central da Avenida Afonso Pena, as quais ele mesmo regava, toda tarde, ao sair do expediente.
“Você imagina, Campo Grande é hoje uma das capitais mais bem arborizadas do Brasil. Quando você tem um bom exemplo, as pessoas que vêm a seguir querem manter o seu exemplo”, pontua o professor.
Cuidado
Para celebrar o centenário desses grandiosos exemplares, a Prefeitura de Campo Grande, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana (Semadur), realizará o monitoramento e os tratos culturais mais indicados para a preservação das figueiras.
Desta forma, como parte das ações de manejo da arborização urbana de Campo Grande, serão realizadas novas avaliações, diagnósticos e, então, o tratamento fitossanitário indicado para cada figueira, objetivando prolongar a permanência e dar melhores condições de vida, tendo em vista o importante papel que desempenham na arborização de Campo Grande.
Com o tomógrafo adquirido pela Semadur, que oferece melhor precisão no diagnóstico individual, é possível avaliar as condições de resistência do lenho destas árvores, como uma medida auxiliar na análise de riscos, bem como na tomada de decisões pela gestão municipal.
Também será realizada a aplicação do óleo de neem, um bioprotetor natural utilizado no combate de pragas e de fungos, proporcionando tratamento e maior longevidade às figueiras.



As pinturas de Isabê também estarão na Casa-Quintal 109 de Manoel de Barros, museu na antiga residência do poeta, no Jardim dos Estados - Foto: Divulgação


Filme lança hoje - Foto: Divulgação


