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Cinema B+: And Just Like That: No que Carrie se meteu?

"And Just Like That" volta tentando se reencontrar, mas ainda sem saber quem é

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A terceira temporada de And Just Like That estreou sinalizando que talvez — finalmente — tenha encontrado um caminho. Mas ainda está longe de recuperar o brilho de outrora.

Eu sei, eu sei. Quem acompanha minha coluna acompanhou a progressão de fã incondicional à ‘reclamona’ de plantão de algo que não supera o original, mas a questão talvez seja um pouco mais profunda do que isso.

Se Carrie Bradshaw foi um ícone dos 30 aos 40 e tantos anos, agora, aos 60, parece apagada, sem grandes ambições ou conflitos. “No que essa mulher se meteu?”, ela pergunta ao fim do primeiro episódio, ecoando as dúvidas de tantas fãs que ainda não entenderam por que a série se afastou tanto daquilo que a tornou lendária.

Nessa terceira temporada, que sempre pode ser a última (embora eu duvide), a familiaridade com as personagens — especialmente as novas — ajuda, mas as histórias propostas ainda seguem sem refletir os temas que antes nos capturavam quando Carrie, Miranda e Charlotte eram solteiras, cheias de dúvidas, desejos e dilemas urbanos.

Engana-se quem pensa que Sex and the City era só sobre arranjar namorado: falava de amizade, trabalho, identidade, sexo, perdas e escolhas. Tudo isso parece ter se diluído.

Seria um problema mais existencial? Uma recusa de seu público de “envelhecer”? O fato é que And Just Like That não chega perto do fenômeno que Sex and The City foi há 27 anos, e não está conversando com as cinquentonas que devoravam a série.

Tampouco, com personagens na casa dos 60, fala com as jovens de 30 ou 40. Um dos problemas cruciais criativos – um sinal claro da geração das personagens e tema das duas temporadas anteriores – está em se ajustar às mudanças culturais e trazer inclusão e diversidade para uma série que glorifica marcas de luxo e um estilo de vida aspiracional impossível de ser real.

Ao responder a lista de reclamações do que faltava ou do que era “errado” (como o paradoxo de serem mulheres independentes e ainda se pautarem por casamentos e relacionamentos amorosos como identificação ou ainda mesmo idealizar o relacionamento tóxico de Carrie com Mr. Big como um ideal romântico, entre outras coisas), And Just Like That ficou arrastada e confusa.

O pânico de arranhar Carrie e cancelá-la a tornou uma personagem apagada, quase passiva. Tanto que uma das melhores frases do episódio de estreia dessa temporada traz a ótima Seema Patel falando com Carrie que gostaria de a ter conhecido quando ela tinha mais vida e era mais ousada. Obrigada, Seema!

Ainda que essas queixas sejam pertinentes, a temporada parece estar encontrando um caminho. Os dramas da estreia não foram exatamente marcantes, mas terminamos com a volta de Carrie falando em off e isso sempre ajudou a costurar as situações.

A fórmula que deu certo sempre era abrir o episódio com um questionamento e fazer todas passarem por situações que reforçavam ou mudavam suas posições, mas ela não foi resgatada. Assim, parece que cada um está em um momento diferente de vida, sem muita conexão.

O episódio abre algum tempo incerto depois do fim da segunda temporada, com Carrie ainda terminando sua mudança para o novo endereço. Charlotte está às voltas com um dilema improvável com seu amado buldogue, Richard Burton e acaba ignorando compromissos com as filhas. Inconsistente com quem sempre foi, mas vejamos até que ponto isso vai.

Sua vizinha, Lisa, agora ganha mais destaque e a vemos enfrentando tensão profissional ao tentar emplacar um projeto documental para a PBS sobre dez mulheres negras anônimas — e é pressionada a incluir Michelle Obama. De anônima, a ex-primeira-dama não tem nada, claro, mas aqui está uma das coisas que estão sendo corretas em And Just Like That.

Lisa e sua família são mais do que a inclusão necessária no universo de Carrie e companhia. Em suas passagens, sempre vemos as questões de racismo estrutural endereçadas e essa discussão do trabalho de Lisa também é sobre isso. Causa estranhamento? Mas um que é bem-vindo.

Cinema B+: And Just Like That: No que Carrie se meteu? - Divulgação HBO MAX

Miranda, por sua vez, ainda é o problema de And Just Like That. Seu protagonismo nas temporadas anteriores foi fonte de muitos problemas e sacrifícios e outras personagens. Agora ela está novamente com uma carreira, está resolvida com sua sexualidade, mas ainda vive como uma nômade depois que ficou se encostando nas casas dos outros por duas temporadas. Ela anunciou que vendeu a casa no Brooklyn, espero que encontre seu espaço.

Nesse episódio, decidida a explorar o universo queer de Manhattan, ela acaba na cama com Mary (Rosie O’Donnell), que só revela ser freira após perder a virgindade com ela — uma trama que me pareceu sem pé nem cabeça. Não ousa brincar com a fé dos outros, mas não ousa o suficiente para justificar essa passagem na série. Mais uma decisão que confirma como a criação ainda está perdida.

Enquanto isso, Seema rompe com Ravi, e Carrie tenta manter aceso o romance com Aidan — mas com dificuldade. Aidan pede que ela não ligue para não interferir no acompanhamento de seu filho, então eles se comunicam por cartões-postais sem palavras, apenas corações ou nada mesmo. Quando se falam ao telefone, é para sexo, mas mesmo isso soa desconectado.

Em meio à insônia, Carrie se levanta e começa a escrever. “No que essa mulher se meteu?”, e a pergunta se amplia. Porque, no fundo, não é só sobre ela. É sobre a série. Sobre nós. Sobre o que acontece quando personagens icônicos envelhecem, mas suas histórias não amadurecem junto?

And Just Like That quer ser diversa, contemporânea, leve — e às vezes até consegue. A nova temporada começa com promessas tímidas: menos solenidade, mais humor, lampejos do charme antigo. Mas ainda tropeça em roteiros corridos, subtramas que evaporam e uma certa dificuldade de aceitar que envelhecer é mais do que trocar de endereço ou de parceiro.

O problema talvez não seja Carrie ter 60. O problema é que, aos 60, ela parece vazia — não de dores, mas de perspectiva. E nós, que voltamos por afeto, assistimos de longe, tentando nos reconectar com mulheres que um dia foram espelhos. Hoje, são vitrines: belas, caras, distantes.

Seguimos assistindo mais por nostalgia do que por entusiasmo real, esperando que uma cena, uma linha, uma troca de olhares, nos lembre por que essa história já nos pegou de jeito. A pergunta segue sem resposta — e talvez nunca tenha uma. Mas o simples fato de ainda estarmos perguntando já é, por si, revelador.

No que essa mulher se meteu? Talvez na tentativa de reviver um tempo que já passou. E a gente, junto com ela.

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Cinema B+: 10 filmes para assistir no Natal de 2025: entre novidades e clássicos eternos

Sugestões da nossa colunista de cinema para o fim de ano que equilibram conforto, repetição afetiva e algumas boas surpresas do streaming

20/12/2025 14h30

Cinema B+: 10 filmes para assistir no Natal de 2025: entre novidades e clássicos eternos

Cinema B+: 10 filmes para assistir no Natal de 2025: entre novidades e clássicos eternos Foto: Divulgação Prime Vídeo

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Há anos encerro o ano com dicas de filmes e séries para atravessar o fim de dezembro — e quem acompanha minhas colunas já sabe: Natal, para mim, é revisitar o que já amo. É ritual, repetição afetiva, memória acionada pela trilha sonora certa ou por uma história que já conhecemos de cor. Por isso, a lista tende a mudar pouco. Não é preguiça. É escolha.

Existe um mercado fonográfico e audiovisual inteiro dedicado ao Natal, que entrega, ano após ano, produtos descartáveis, previsíveis e — ainda assim — confortantes. Eles existem para preencher o silêncio entre uma refeição e outra, para acompanhar casas cheias, para oferecer finais felizes sem exigir atenção plena. Em 2025, esse mercado deixa algo ainda mais claro: o Natal virou um ativo estratégico — e estrelas ajudam a sustentá-lo.

De blockbusters de ação a comédias familiares e retratos mais irônicos do cansaço emocional, as produções do ano revelam diferentes formas de explorar a mesma data. E, como toda boa tradição de fim de ano, a lista também abre espaço para um clássico que, mesmo não sendo natalino, atravessa gerações como parte indissociável desse período

Operação Natal Amazon Prime Video
Aqui, o Natal é tratado como evento global, literalmente. Operação Natal aposta em ação, fantasia e ritmo de blockbuster para transformar o dia 25 de dezembro em cenário de missão impossível. Tudo é grande, barulhento e deliberadamente exagerado.

É o exemplo mais claro do Natal-espetáculo. O filme existe como veículo de estrela para Dwayne Johnson, que transforma a data em entretenimento de alta octanagem, longe de qualquer delicadeza afetiva.

Um Natal Surreal Amazon Prime Video
Neste filme, o Natal deixa de ser acolhimento para virar ponto de ruptura. Michelle Pfeiffer interpreta uma mulher que decide simplesmente desaparecer da própria celebração depois de anos sendo invisível dentro da dinâmica familiar. O gesto desencadeia situações absurdas, desconfortáveis e reveladoras.

A presença de Pfeiffer requalifica o projeto. Não é um Natal infantilizado, mas um retrato irônico do cansaço emocional, da maternidade esvaziada e da pressão simbólica que a data carrega.

A Batalha de Natal Amazon Prime Video
O Natal volta ao território da comédia familiar clássica. Eddie Murphy vive um pai obcecado por vencer uma disputa natalina em seu bairro e transforma a celebração em um caos crescente de exageros, erros e humor físico. Murphy opera no registro que domina há décadas. É o Natal como bagunça coletiva, desenhado para virar tradição doméstica e ser revisto ano após ano.

My Secret Santa Netflix
Uma mãe solteira em dificuldades aceita trabalhar disfarçada de Papai Noel em um resort de luxo durante o Natal. O plano se complica quando sentimentos reais entram em cena. O filme cumpre com precisão a cartilha da comédia romântica natalina, com química funcional e uma premissa simpática o bastante para sustentar o conforto esperado do gênero.

Cinema B+: 10 filmes para assistir no Natal de 2025: entre novidades e clássicos eternosMy Secret Santa Netflix - Divulgação

Man vs Baby Netflix
É para os fãs de Mr. Bean, apesar de não ser “ele”. Rowan Atkinson volta como Mr. Bingley, um adulto despreparado precisa sobreviver a um bebê imprevisível em plena temporada de festas. O que poderia ser um Natal tranquilo vira uma sucessão de pequenos desastres.
Funciona quando assume o humor físico e o exagero, ideal como filme de fundo para casas cheias.

All I Need for Christmas Netflix
Uma musicista em crise profissional encontra, durante o Natal, a chance de reconexão pessoal e afetiva ao cruzar o caminho de alguém que parecia seu oposto. Produção que aposta no tom acolhedor e na ideia de recomeço como motores emocionais simples, mas eficazes.

A Merry Little Ex-Christmas Netflix
Alicia Silverstone e Oliver Hudson sustentam uma trama previsível, mas ainda assim, bem natalina. Ex-relacionamentos, ressentimentos antigos e um Natal que força reencontros. A tentativa de manter a civilidade rapidamente desmorona. Um filme que reconhece que o passado nunca está totalmente resolvido, especialmente em datas simbólicas.

Champagne Problems Netflix
Filme que anda liderando o Top 10 desde novembro, traz uma executiva americana viaja à França para fechar um grande negócio antes do Natal e se vê envolvida em dilemas profissionais e afetivos. Menos açucarado, aposta em melancolia leve e conflitos adultos, usando o Natal mais como pano de fundo do que como solução.

Jingle Bell Heist Netflix
Dois trabalhadores frustrados planejam um assalto na véspera de Natal, quando ninguém parece prestar atenção. Cheio de reviravoltas e troca o romance pelo formato de filme de golpe, oferecendo uma variação divertida dentro do gênero natalino.

A Noviça Rebelde Disney+
Não é um filme natalino, mas poucas obras ocupam um lugar tão fixo no imaginário do fim de ano. Em 2025, o musical completa 60 anos e segue atravessando gerações como ritual afetivo de dezembro. Música, família, infância e acolhimento fazem dele uma tradição que resiste ao tempo e às modas.

No fim, a lógica permanece: filmes de Natal não precisam ser memoráveis para serem importantes. Precisam estar ali — como trilha de fundo, como pausa emocional, como promessa silenciosa de que, por algumas horas, tudo vai acabar bem. Em 2025, isso já é mais do que suficiente. Feliz Natal!

"REI DO BOLERO"

Voz de 'Você é doida demais', Lindomar Castilho morre aos 85 anos

História de sucesso mudou após um dos feminicídios de maior repercussão no País, quando em 30 de março de 81 matou sua mulher, a também cantora Eliane de Grammont, com cinco tiros

20/12/2025 13h30

Lili De Grammont e seu pai, Lindomar, em foto compartilhada nas redes sociais.

Lili De Grammont e seu pai, Lindomar, em foto compartilhada nas redes sociais. Reprodução/Redes Sociais

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Conhecido como "Rei do Bolero", Lindomar Castilho morreu neste sábado, 20, aos 85 anos. A nota de falecimento foi postada pela filha do artista, a coreógrafa Lili De Grammont, em suas redes sociais.

A causa da morte não foi informada e o velório está marcado para esta tarde no Cemitério Santana, em Goiânia.

"Me despeço com a certeza de que essa vida é uma passagem e o tempo é curto para não sermos verdadeiramente felizes, e ser feliz é olhar pra dentro e aceitar nossa finitude e fazer de cada dia um pequeno milagre. Pai, descanse e que Deus te receba, com amor… E que a gente tenha a sorte de uma segunda chance", escreveu Lili.

Nascido em Rio Verde, Goiás, Lindomar foi um dos artistas mais populares dos anos 1970. Brega, romântico, exagerado. Um dos recordistas de vendas de discos no Brasil. Um de seus maiores sucessos, "Você é doida demais", foi tema de abertura do seriado Os Normais nos anos 2000.

Seu disco "Eu vou rifar meu coração", de 1973, lançado pela RCA, bateu 500 mil cópias vendidas.

Crime e castigo

A história de sucesso, porém, mudou após um dos feminicídios de maior repercussão no País. Em 30 de março de 1981, Lindomar matou a mulher, a também cantora Eliane de Grammont, com cinco tiros. Ela tinha 26 anos.

Os dois foram casados por dois anos, período em que a cantora se afastou temporariamente da carreira para cuidar da filha Lili. Depois de sustentar o relacionamento abusivo, Eliane pediu o divórcio.

Eliane foi morta pelo ex-marido no palco, durante uma apresentação na boate Belle Époque, em São Paulo. Ela cantava "João e Maria", de Chico Buarque, no momento em que foi alvejada

Lindomar foi preso em flagrante e condenado a 12 anos de prisão. Ele foi liberado da pena por ser réu primário e aguardou o julgamento em liberdade. O cantor cumpriu quase sete anos da pena em regime fechado e o restante em regime semi-aberto. Em 1996, já era um cidadão livre.

O caso tornou-se um marco na luta contra a violência doméstica no Brasil, impulsionando o movimento feminista com o slogan "Quem ama não mata".

 

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