Seria curioso olhar para mim, no passado, e imaginar que estaria aqui para recomendar um gênero que nunca foi meu favorito (sci fi) ou filme que eu tenha visto com os olhos abertos o tempo todo por causa de estar apavorada. Pois é, como tudo muda! Apreciei tanto Alien: Earth que quase entrei em uma crise existencial!
Mas há um diferencial que me faz encarar meus medos: Ridley Scott. O diretor britânico pode não acertar em todos seus filmes ou séries, mas é um gênio que deixou clássicos visualmente impactantes e histórias inesquecíveis, sejam de época, da atualidade ou de um futuro distópico. Lembrem, Alien, o Oitavo Passageiro tinha uma protagonista feminina, questionava o avanço da tecnologia, mostrava a ameaça da Inteligência Artificial, a ganância de grandes corporações e o perigo alienígena de sangue literalmente ácido, que caçava humanos para encubar seus ovos, explodi-los por dentro e ainda buscar mais hospedeiros.
A parte do alienígena, que os iniciados e especialistas sabem que é um xenomorfo, pode ser metáfora, mas 46 anos depois – sim, Scott colocou isso tudo nas telas em 1979 – o resto é assustadoramente atual. E com a série Alien: Earth, o showrunner Noah Hawley conseguiu elevar toda equação para algo extremamente profundo, assustador e brilhante.
Para os fãs da franquia Alien, a série é respeitosa e detalhista. Para os que não conhecem nada, ainda é incrível. O investimento de produção é de nos deixar envolvidos a tal ponto que é difícil lembrar que não estamos no cinema. Só outra série alcançou o mesmo feito também em 2025: Andor (absolutamente a minha favorita do ano). Isso porque com esse spin-off que funciona como prequela para o filme de 1979 – a ação se passa três anos antes do filme de Scott, produtor da série – e traz todos os questionamentos humanos que estavam nos filmes anteriores, com a diferença de que muita coisa ali é hoje atual.
Em 2120, a Terra é controlada por corporações em vez de governos, e elas disputam entre si o avanço tecnológico a qualquer custo, para, entre outras possibilidades, encontrar a fórmula da imortalidade. Assim, uma nave de pesquisa no espaço passa por problemas (sim, uma citação do filme original) e despenca no planeta, mas em uma área da competição e isso detona vários problemas: de negociação, medo e domínio.
Sim, a nave trazia em si o apavorante Xenomorfo que extinguiu toda forma humana usada como hospedeiros. Uma vez na Terra, sua ameaça é tratada de forma distinta pelas corporações que não se importam em sacrificar humanos.
Para falta de sorte do alienígena, a terra do próximo século convive com vários tipos de “cyborgs” — humanos alterados com tecnologia. Tem os “synths”, que são robôs completos, como o androide Ash (interpretado por Ian Holm no filme original) e uma nova categoria que são os “híbridos”, nesse caso, mentes humanas transferidas para um corpo sintético. São eles a melhor arma para tentar deter o predador que cospe ácido.
Nesse cenário, temos um Peter Pan do mal, um que é aficionado pelo clássico e um exemplo clássico de narcisista maligno, o vilão sem remorso e trilionário irritante, Boy Kavalier (Samuel Blenkin). Seu maior projeto é experimentar com híbridos, transferindo cérebros de crianças para corpos adultos. São seus “lost boys”. A líder e original é Wendy (Sydney Chandler).
Cinema B+: Se você estiver se perguntando: Sim, Alien:Earth é imperdível - DivulgaçãoEla parece ter poderes físicos e cibernéticos ilimitados que só ficam mais fortes. Quando Wendy descobre que seu irmão Hermit (Alex Lawther) é um socorrista que está investigando o acidente da espaçonave contaminada, consegue se infiltrar, junto com seus companheiros synths, em uma missão de busca e resgate.
Mesclada por clássicos do rock pesado (o primeiro episódio usa Mob Rules, do Black Sabbath), Alien: Earth navega pelo medo – real ou imaginado – num embate científico, econômico e psicológico que é fácil de acompanhar e ainda assim incrível. Basicamente humanos insensíveis querem o que está na espaçonave, seja por lucro, descoberta ou para matar e proteger outros. E o Xenomorfo só quer procriar e destuir.
Hawley, que já foi brilhante em sua criação de Fargo, entre outras, é mais do que um fã da franquia, ele consegue criar tensão constante em cada episódio, com cenas gráficas e violentas que têm seu contexto. Ele entendeu como explorar o fato cruel de que os humanos são apenas alimento (literal) e que, predadores podem vir do Espaço, mas os piores são mesmo os que estão por aqui. Ele traz mais personagens idiossincráticos e surpreendentes, com alma e profundidade.
Eu vi oito dos dez episódios para poder fazer a resenha e fiquei impactada profundamente com o resultado. O elo mais fraco pode ser sua estrela, a atriz Sydney Chandler, mas ela está cercada por um elenco que é tão elevado que consegue equilibrar o perigo. O fato é que Alien: Earth promete agradar à gregos e troianos e isso sem fugir do conteúdo canônico de Alien, trazendo novidade e novo fôlego para a franquia. Sensacional.



