Por trás das embalagens de alimentos nos supermercados existe um complexo processo que raramente não envolve adição de alguma substância química, seja para alterar gosto, cor, textura ou simplesmente para fazer com que os itens durem mais. A maioria dos consumidores não faz a mínima ideia do que aconteceu com o produto antes de passa-lo no caixa. Então, como saber até onde o rótulo que diz “natural” está falando a verdade?
A doutora em engenharia de alimentos, professora associada e diretora da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Federal do Pará Vanessa Albres Botelho, que ainda por cima é filha de sul-mato-grossenses, afirma que é muito raro encontrar alguma comida embalada que não contenha pelo menos um aditivo.
“Sabe por quê? Porque a partir do momento em que ele sai da fábrica ele já começa a perder a validade, seja por alterações físico-químicas ou microbiolóigicas”, afirma.
Nesse sentido, é possível dizer que alimentos naturais mesmo são aqueles colhidos diretamente da horta ou as carnes encontradas nos açougues.
Dessa forma, explica Vanessa, muitas marcas já começaram a mudar o que vem escrito nos rótulos estampando a informação “minimamente processados”. Nesses casos, os alimentos passam apenas por processos de limpeza, remoção de partes não comestíveis ou não desejadas, fracionamento, secagem, embalagem, pasteurização, resfriamento, congelamento, fermentação e outros processos que não envolvem a adição de ingredientes ao alimento original (nem elementos mais simples, como sal, açúcar e óleo).
E não basta ter essa informação em mãos na hora de fazer as compras. É preciso ler atentamente as embalagens para não cair em armadilhas.
FUNÇÃO DE CADA SUBSTÂNCIA
A doutora em engenharia de alimentos afirma que um dos procedimentos mais comuns na indústria alimentícia é a adição de ácido cítrico (maioria dos alimentos), ácido fosfórico (refrigerantes) ou ácido málico (sucos) para reduzir o PH, tornando-os microbiologicamente mais seguros para consumo.
Outro tipo bastante comum de aditivo é o conservante. “A pergunta que fica é? Eles são necessários? Se eu quero que o produto dure mais tempo, não tem jeito, teremos que utilizar. Os conservantes são utilizados em muitos produtos industrializados e existem diversos tipos, cada um mais adequado para diferentes tipos de produtos”, afirma Vanessa.
“As pessoas precisam entender é que não estamos sozinhos no mundo. Estamos cercados de microrganismos e toda vez que aplicamos um processo térmico em um alimento in natura nós eliminados a contaminação inicial, seja de bactérias patogênicas (que causam doenças) ou até mesmo microrganismos deteriorantes, que são aqueles que não causam doenças. Então após o processo, até o contato com o ar pode recontaminar o produto.”, afirma.
QUAIS INFORMAÇÕES OBSERVAR NO RÓTULO DOS ALIMENTOS?
Para os aditivos, não há uma tabela nutricional como a que aparecem os carboidratos, gorduras, etc. “Então, apesar da indústria utilizar valores seguros para a saúde, de acordo com o estabelecido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, uma pessoa pode, ao longo do dia, ingerir muitos alimentos industrializados e acabar tendo prejuízos para a sua saúde”, afirma.
Dessa forma, uma boa iniciativa é dar uma olhada na “lista de ingredientes” que muitos rótulos trazem.
Por exemplo, os conservantes mais comuns, para que se possa identifica-los, são: ácido sórbico, ácido benzoico, ácido propiônico, dióxido de enxofre, nitrito, nitrato, ácido acético, acetatos, ácido lático e ácido p-hidroxibenzóico.
Outra dica é observar que a ordem dos ingredientes descrita nos rótulos sempre é do ingrediente que tem maior quantidade para que o que tem menor quantidade e os aditivos estão sempre por último.
“Muitas empresas colocam no rótulo “sem conservantes”, mas usam outros aditivos, como os antioxidantes e acidulantes. Isso induz o consumidor ao erro e várias empresas já foram processadas por isso. Toda vez que o consumidor se sentir enganado ele pode fazer uma denúncia à Anvisa”, afirma Vanessa.
Outro fator interessante para medir a quantidade de aditivos é o preço. Segundo a doutora em engenharia de alimentos, normalmente quanto mais baratos, maiores são as quantidades de produtos químicos. Contudo, a regra tem algumas exceções.
“Você pode encontrar aditivos em um presunto caríssimo, por exemplo, porque sem nitritos não temos presunto. Este é o motivo de muitos médicos e nutricionistas suspenderem ou reduzirem ao máximo o uso de embutidos pelos seus pacientes”, afirma.
EFEITOS
E o que o consumo descontrolado de substâncias químicas acarreta? Segundo Vanessa, em excesso, podem causar alergias, hipersensibilidades, problemas no sistema digestivo, diabetes, indução de morte celular por apoptose e até fragmentação de DNA, “o que sugere riscos de indução de instabilidade genética e de carcinogenicidade a longo prazo”, completa.
Não se discute decisões relacionadas ao estilo de vida. Para Vanessa, o ideal é o bom senso, nem pender para um lado neurótico, tampouco encher três carrinhos de supermercado em cada compra.
“Eu sempre gosto de lembrar daquela frase que diz que a diferença entre o veneno e o remédio é a dose. Então, eu recomendo o bom senso; uma dieta equilibrada e com um número de alimentos industrializados cada vez menor, na medida do possível. E não podemos esquecer de praticar atividade física e cuidar também da saúde mental”, conclui.
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Daniel Dalcantara (SP) - Foto: Divulgação
Foto: Divulgação / Alexis Prappas
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