Bloqueio criativo é algo que escritores e jornalistas têm de vez em quando. É aquele momento em que olhamos para a tela e nada, nenhuma frase nos ocorre.
Há quem diga que estes momentos, quando superados, são mágicos e podem produzir ótimos textos. Tenho minhas dúvidas. Não me lembro a última vez que isto aconteceu comigo, mas nesta semana estou sendo tomada pelo conhecido “branco” – que também pode ser chamado de “apagão”. O começo até que é fácil, mas no segundo parágrafo a coisa desanda de vez.
Em tempos idos, costumava carregar uma caderneta para anotar todas as ideias que me vinham à cabeça. Parei com este hábito e passei a confiar na memória, o que, convenhamos, foi uma péssima escolha.
Dizem que, depois de algum tempo de vida, nosso cérebro (ou hardware) fica sobrecarregado com tantas informações e, às vezes, pifa. O primeiro comprometimento é a memória. Não sei se falam isto para nos confortar ou se é verdade pura. Talvez por isto ande tão enjoada de notícias, de ler tudo o tempo todo, como sempre fiz.
Praticamente desliguei a TV e só passo os olhos pelos jornais do dia, sob força da profissão. E, claro, não suporto mais sites de notícias, tampouco redes sociais. Ultimamente, só uma coisa me toma o tempo: as séries de TV. E, correndo o risco de ser julgada por incautos e puristas, estou praticamente viciada.
Consigo assistir a seis, sete, até oito horas seguidas de uma série. E, como todo viciado, sempre digo que vou parar no próximo episódio. A bola da vez, ou a droga da vez, é uma série chamada “Mad Men”, que conta a história de agências de publicidade norte-americanas nos anos sessenta. São sete temporadas e já vi seis, em pouco mais de uma semana.
Acompanho cada cena na pequena tela do meu notebook, pois minha TV, antiga, não possui o dispositivo da Netflix. E é aí que mora o perigo, pois costumo assistir deitada, confortavelmente, às vezes nem tanto, na minha cama. Isto para quem, há anos, aboliu a televisão do quarto de dormir é infração das mais graves.
Uma das vantagens de morar sozinha é não ter que dar satisfações a ninguém. Ou seja, posso passar horas e horas agarrada à telinha do computador que ninguém vai me dizer coisa alguma.
Tampouco vão me interromper ou dizer que estou passando dos limites. Nada. Não tenho nenhum tipo de intervenção. E posso me dar ao luxo de não atender o telefone, a campainha e muito menos o interfone. Viva a solitude! Eu sei, parece loucura, mas é simplesmente vício.
Como o cigarro, o álcool, jogo ou as drogas e o celular.
A compulsão é a mesma – só muda a substância. O ser humano tem a capacidade de se agarrar muito fácil a tudo que lhe tire da realidade.
Neste caso, a série “Mad Men” me leva a um tempo em que a vida parecia, realmente, bem mais simples, e as pessoas, quase ingênuas. O cigarro ainda não fazia mal, o uísque era a bebida da hora, homens e mulheres tinham papéis definidos, ninguém falava em academia de ginástica, a palavra de ordem era paz e amor, e os Beatles estavam na crista da onda.
Ou seja, difícil resistir. Só mesmo a crônica de terça, mesmo assim meio torta, para me trazer de volta à superfície e furar o bloqueio. A literatura, no meu caso, é o que sempre me salva. Ainda bem.
Ryan Keberle, trombonista - Foto: Divulgação / Alexis Prappas

Marcio Benevides, Maria José falcão e Fabiana Jallad
Andreas Penate e Monica Ramirez


