Enrique Diaz nasceu no Peru, mas como ele mesmo diz, ele só nasceu devido à profissão do pai. O ator é brasileiríssimo. "Então, eu nasci no Peru, mas eu não sou peruano, sou natural do Peru, só, sou brasileiro, brasileiríssimo", afirma.
Enrique tem cinco irmãos, entre eles está o também ator Chico Diaz. Muitos não os acham tão parecidos, já outros chegam a elogiar Enrique pelos trabalhos feitos por Chico. O ator já está acostumado a essas situações que se repetem sempre, e ele se diverte, e diz que acha que tudo acontece da mesma forma com seu irmão.
Ator e diretor premiado, consagrado e com trabalhos marcantes no teatro, no cinema e na TV.
Enrique também fez parte de elenco da primeira e da segunda versão da novela Pantanal, um marco na televisão brasileira em 1990 e em 2022.
Entre atuar e dirigir existem momentos e personagens que marcaram a e marcam os caminhos e a carreira do ator. Diaz é casado com a também atriz Mariana Lima há 25 anos com quem tem duas filhas, Elena e Antônia.
Logo após o remake de Pantanal, Diaz abraçou com muito amor o personagem Timbó na novela Mar do Sertão, novo sucesso da TV Globo, e também está dirigindo as consagradas atrizes Renata Sorrah, Andrea Beltrão, Ana Baird e Marieta Severo na peça "O espectador" no Teatro Poeira Rio de Janeiro.
Capa exclusiva do Correio B+ desta semana, Enrique Diaz conta ao Caderno sobre seus atuais e antigos trabalhos, sua carreira atual, família e também sobre o sucesso de Pantanal do qual fez parte.
Pra nós, é uma satisfação enorme poder compartilhar com os leitores do Correio essa Capa e entrevista!
CE - Enrique, você nasceu no Peru, chegou a viver lá?
ED - Eu nasci no Peru sim; eu vim do Peru muito, muito novo, com menos de dois anos de idade. Meus irmãos, que são muitos, são cinco, nasceram em vários países diferentes, porque meu pai trabalhava na Organização dos Estados Americanos e não era diplomata, ele era um técnico, mas tinha que se mudar a cada três anos. Então, eu nasci no Peru, mas eu não sou peruano, sou natural do Peru, só, sou brasileiro, brasileiríssimo, e só voltei ao Peru uma vez, quando eu estava filmando na tríplice fronteira Brasil, Peru e Colômbia, e peguei um barquinho, fui até o Peru, fui almoçar numa cidade bem pequenininha e voltei; mas tenho muita vontade de visitar os lugares mais conhecidos do Peru, ficar um pouco lá. Adoraria.

CE - Você tem muitos irmãos, entre eles o Chico Diaz.
É normal confundirem vocês por serem tão parecidos?
ED - Acontece ainda de me confundirem com o Chico. E a vida toda foi um pouco assim, ou da pessoa falar: você estava ótimo naquele trabalho... Aí eu falo: esse trabalho eu não fiz, foi o Chico, meu irmão.
Tem gente que acha a gente nem um pouco parecido. Tem gente que acha que é muito. Tem gente que confunde por causa da voz. E eu acho engraçado. Faz parte da minha vida e talvez da dele. Hoje mesmo, o motorista que veio me buscar aqui para ir gravar deixou um recado: oi, Chico ...
Aí eu falei: Não sou o Chico, sou o Enrique... E tem gente que não acredita. Uma vez, num bar, o cara estava meio bêbado e falou: ah, Chico! Eu falei pra ele: não sou o Chico. E ele me respondeu: Ah, Chico até parece. Quase tive que mostrar a identidade. Só que estava sem identidade, o que foi um problema.
CE - A sua estreia na TV foi em Pantanal em 1990 na extinta TV Manchete, que na época você fez o filho do Gil e da Maria.
ED - Eu nem considero a minha estreia na televisão como sendo “Pantanal”. Eu tenho uma memória de eu ter feito coisa antes. De um caso especial da Globo, com o Flávio Guarnieri como ator, e que era dirigida pelo Piere, que foi um diretor conhecido. Eu acho que foi antes isso; mas, enfim, fiz sim “Pantanal” naquela época, foi muito rapidinho. Não fui para o Pantanal naquela época e gravei só uns dois dias. Foi muito rapidinho.

CE - No remake de Pantanal você fez o papel do Gil que foi seu pai. Como aconteceu o convite para o remake, você ficou surpreso?
Fiquei muito feliz de estar no Pantanal agora, acho que tem uma série de significados muito bonitos, tanto como essas duas produções tendo sido dois marcos da televisão brasileira de maneiras diferentes, mas fortes, trabalhos muito bons, como por uma questão da idade, do tempo passando, de me ver em momentos diferentes, em contextos diferentes, mas com essa moldura aí do próprio trabalho e me ver bem mais jovem; não tinha filhos na época, era um personagem bastante indignado, de uma forma jovial contra as injustiças sociais e tal.
E esse outro personagem que é o pai, que é o Gil, que eu fiz agora nessa versão atual, que tem aquela rebeldia dentro dele, aquela indignação dentro dele, mas é muito mais conformado com as perdas e com as derrotas, com os filhos que ele perdeu...
Então, tem uma beleza mesmo do tempo e do padecimento ali, de uma situação de desequilíbrio social radical que se mantém. E, ao mesmo tempo, esse lugar que é o Pantanal, que tem uma imagem de não ser só um bioma importantíssimo e um assunto importantíssimo, mas também imagem para além do tempo, fora do tempo, que poderia ser uma pré-história aqui, no sentido daquele lugar que não está indevassado, mas que lembra a gente de uma relação com a natureza muito diferente.
Então, é muito bonito e triste ao mesmo tempo saber que a gente ainda está ignorando os apelos da urgência da emergência climática, né? Por sorte, agora com o governo Lula, a gente está pelo menos começando a falar sobre isso e colocando o Brasil provavelmente numa dianteira, numa liderança da discussão do meio ambiente.

CE - E como foi pra você fazer parte mais uma vez de um projeto de tanto sucesso como Pantanal?
ED - E tem essa questão de um projeto desse tamanho, que poderia talvez ser arriscado, porque é uma coisa provavelmente muito cara e com uma logística muito difícil, ter dado tão certo, né?
Eu fiquei muito feliz da gente, eu junto com a Juliana, especialmente, e com o Túlio, que fez o nosso filho, aquele meu papel da outra versão, de a gente fazer parte da inauguração dessa saga, né, que tem essa questão da migração, dos personagens tendo que ir pro Pantanal perdendo tudo e aquilo dar início a uma saga que foi tão bonita, tão bem-sucedida na televisão.
A gente fica feliz. E com uma equipe e um elenco muito legais, muito bacanas, cujo convívio foi sensacional simplesmente naquela situação tão específica que é ficar no Pantanal, nas fazendas, pegando carros que demoravam horas pra chegar na locação ou indo de avião monomotor. Foi uma aventura bem grande, mas muito bonita. Fiquei feliz de a novela ser um sucesso.
CE - Logo após você já se envolveu em Mar do Sertão com o Timbó, fale um pouco dele pra gente?
ED - Sim, foi uma coisa muito boa. Tanto antes, em “Amor de Mãe”, o personagem que eu fazia que era muito legal e divertido, leve, e passar para o “Pantanal”, que era uma história densa, dramática, o personagem sem humor e com muita tristeza...
E aí passar para o Timbó, pra “Mar do Sertão”, que é uma novela com uma cara muito diferente, com um tipo de humor diferente, um tipo de estilo de gênero muito diferente, muito mais leve, muito mais engraçado mesmo. O Timbó parte de uma tradição de personagens pitorescos que vieram ali no Suassuna, passaram pelos cordéis, pelos cantadores.
Vieram lá da Idade Média. Tem umas figuras bem conhecidas como o Cancão de fogo, o Malasartes, o Lazarillo de Tormes. Ele é um tipo de emblema de uma cultura muito brasileira, né? Quer dizer, existe lá na Idade Média espanhola e tudo, mas ele se tornou muito familiar no Brasil, assim como o Arlequim. E no Brasil ele é muito conhecido, o cara que é muito malandro, uma espécie de sobrevivente, mesmo, com uma ética meio dúbia, mas também muito carismático, muito amoroso.
E no caso do Timbó, especificamente, essa amorosidade, essa afetividade, aparecem muito em função da família, da relação com a família, dessa manutenção amorosa, afetiva, do núcleo familiar e de claramente querer o bem das pessoas, embora a malandrice toda dele que não tem fim. Então, é um cara muito inteligente, que mesmo sendo analfabeto, consegue enrolar as pessoas na sua esperteza. Então, ele é muito divertido, muito bem-humorado e ao mesmo tempo erra muito.
Tem uns laivos de machismo que a Tereza, mulher dele, tem que dar uma reprimida. E ele é um presente para um ator, porque ele é a melhor pessoa do mundo para conviver e é uma energia muito boa. A novela é muito adorável e a gente tem uma relação muito boa com a equipe e elenco. Então, está um momento muito feliz assim com esse trabalho.

CE - No Rj você está dirigindo Marieta Severo, Renata Sorrah e Andrea Beltrão em "O espectador".
ED - A gente está em cartaz no Teatro Poeira com “O Espectador”, uma dramaturgia minha e do Márcio Abreu, a partir do “O Espectador Condenado à Morte”, do Matei Visniec, um autor romeno.
Esse foi o convite do próprio teatro, da Marieta e da Andreaa, que estavam reabrindo o Teatro Poeira, que é delas, e é um dos espaços mais importantes do Rio de Janeiro, depois de todo período de pandemia, né? Um teatro de duas atrizes, criado, fundado e mantido por duas atrizes com quem eu tenho uma relação de muito amor e há muito tempo já.
A gente trabalhou juntos em 89 e depois em alguns outros momentos, na televisão e também no teatro, no caso da Marieta. Então, é um convite realmente amoroso, que me deixou superfeliz. Eu, na verdade que fui chamado. Chamei o Marcio para dirigir junto e é uma peça muito legal, superdivertida, super celebrativa do teatro e da presença.
Depois desse tempo de muitas coisas online, foi muito, muito importante fazer essa peça e estar em cartaz. Foi um processo muito criativo, dessas atrizes sensacionais, brilhantes e com experiência enorme, e se colocando em cena quase como, não vou dizer iniciante, porque não tem como imaginar isso, mas com uma abertura de criatividade, abertura de processo criativo e de colaboração muito forte, muito bonito.
A peça carrega isso tudo no acontecimento ali da cena. E são atrizes com muita personalidade, cada uma muito diferente da outra, as quatro. E aí, portanto, você vê ali uma espécie de naipe de instrumentos muito afinados com solos, trios....
É o coletivo. É uma peça muito legal, muito divertida, e elas brilham muito. É muito prazeroso. Eu vou lá também sempre que posso, vou lá assistir. Está em cartaz pelo menos até final de fevereiro.
CE - Enrique, atuar ou dirigir? Ou são momentos diferentes?
ED - Eu tenho uma questão antiga com essa coisa de atuar e dirigir, e também com outros tipos de trânsito, televisão, cinema, tipos de personagens, gêneros. Eu gosto muito do deslocamento. Gosto muito de relativizar valores, experiências e ter desafios de naturezas diferentes.
Então, me agrada essa alternância. Muitas vezes eu fiz as duas coisas ao mesmo tempo e tenho claramente atuado mais do que dirigido. Tenho gostado de atuar. Tenho gostado de abandonar um pouco o tipo de controle e de gerência que a direção requer e focado mais no tipo de escuta e de performance que a atuação pede, que está no fluxo, no estar escutando os outros, estar escutando a direção, estar jogando.
Claro que a direção também é um jogo e também é feita de escuta. Mas eu em determinado momento dei uma cansada um pouco até do aspecto ligado a algum poder ali que a direção parece que chama, né? E aí tive a oportunidade muito boa de atuar, então fui gostando de não me sentir o centro do controle ali, né? Mas às vezes eu tenho saudade de dirigir.
Aconteceu na peça, por exemplo, uma circunstância muito boa, que era esse momento celebrativo, apesar de a gente ter ensaiado na época Bolsonaro ainda, mas tinha uma força da celebração ali do teatro e o fato de ter dirigido junto com o Marcinho, então a gente ia batendo bola, jogando, era muito legal.
Mas tenho vontade de dirigir cinema ou televisão. Pode até ser em colaboração, talvez. Eu gosto muito da natureza da colaboração, sabe? E gosto de ter um olhar de direção, mesmo na atuação.
Gosto do que a experiência me deu também, de poder olhar para a cena não só pensando no lugar que eu vou estar, mas na cena como um todo, como dramaturgia, como pensamento, como curva, como processo. Isso me ajuda muito na atuação. Inclusive na televisão, quando é muito rápido, entender logo do que se trata a cena, quais são os focos principais. Eu gosto muito das duas coisas.

CE - Sei que é uma pergunta clichê, mas você tem personagens e projetos mais marcantes?
ED - Eu acho a variação dos personagens e projetos e parcerias e dramaturgias superimportantes e me agrada muito esse caminho sinuoso, abrindo espaços de experiências diferentes e tal. Mas eu tenho uma boa memória desse período mais recente em que eu atuei mais, sabe?
E tive personagens e projetos que foram muito bons, assim, de qualidade mesmo, talvez imaginando desde o “Felizes para Sempre”, aquela série do Euclydes Marinho, dirigida pelo Fernando Meirelles, que foi em 2014. E nesses últimos oito anos eu tive um caminho muito feliz em termos de personagens que têm muito espaço pra trabalho.
Claro que qualquer personagem pequeno, grande, ou de um jeito X ou Y tem um espaço ali, mas tem o espaço que o personagem, a curva que o personagem faz, o tipo de particularidade e de desenvolvimento que o personagem tem dentro da dramaturgia, eles dão uma oportunidade, né? Então teve esse personagem do Claudinho, do “Felizes pra Sempre”, um personagem sensacional e canalha, teve “Justiça”, que era o Douglas, que era um personagem que era um policial, figura, frágil e ao mesmo tempo truculento. Faz uma curva também dramática, muito boa com a Adriana Esteves e com a Leandra Leal.
Teve “Onde Nascem os Fortes” também, que era mais violento, mais cínico e ao mesmo tempo engraçado. E aí “Amor de Mãe”, que é o Durval, que é uma figura bem leve, inocente, aérea. Todo esse bloco aí, “Pantanal”, o Gil e depois o Timbó, esse bloco inteiro desses trabalhos, dessa década aí eu acho, eu acho muito ricos nas suas singularidades e nas suas diferenças.
Eu acho que eu pulei algum dentro da ordem. Ah, teve “O Mecanismo” também, que é uma série complexa e difícil, mas que é um personagem também sensacional, inteiramente cínico, inteiramente irônico, que era o Ibrahim. E, então, são materiais de dramaturgia, de texto, de projeto, de roteiro que claramente desenham ótimos personagens. E vários desses projetos, os projetos também eram muito bons. Tenho sido bem feliz fazendo esses trabalhos todos.
CE - Qual é o momento do Enrique Diaz hoje? E como é o Enrique em família? Pai, marido, filho?
ED - Olha, hoje eu estou, sei lá, ficando velho, ficando maduro, ao mesmo tempo me preocupando menos com algumas coisas que me preocupavam antes e ao mesmo tempo sendo mais capaz de deixar a vida me levar. De ter menos medo das perdas e, portanto, agradecendo mais.
Sabendo saborear mais o que tem, o que está acontecendo agora, e querendo aprender mais a me relacionar com as pessoas e deixar certas besteiras para trás. Sabe, besteiras que eu digo, dificuldades ou complicações que a gente inventa, que a gente não precisa, que a gente inventa; estou num processo de maturação mesmo.
Estou muito ligado nas minhas filhas, na minha mulher e celebrando muito a volta da democracia, porque a gente também passou por um negócio muito terrível. Claro que não acabou, que está aí no calcanhar da gente, no esôfago da gente, porque faz parte do nosso corpo coletivo, mas a gente está se livrando e está num caminho muito mais bonito, muito mais saudável, muito mais florescente.
E estou bem feliz com isso. Eu estou cada vez mais ligado na minha família nuclear, à minha mulher, às minhas filhas. Eu estou com uma relação muito forte com a minha família nuclear e com os meus irmãos também, de uma outra maneira, é claro, né? Mas estou bem atento, estou dando muita importância para esses vínculos de afeto assim.

CE - Quando se desliga do trabalho (se é possível.rs), o que gosta de fazer? Novos Projetos?
ED - Recentemente, nos últimos anos, o trabalho tem sido muito presente. A relação até de coisas que eu leio e que eu vejo estão muito ligadas ao trabalho que eu estou fazendo ou a possíveis projetos. Assim, os interesses de lazer acabam apontando muitas vezes para desejo de criação, né? E para mim isso sempre foi bastante saudável.
Não, não tenho tirado muitas férias. Tô precisando, querendo. Mas, em geral eu fico ligado em ter os momentos de vazio, de ficar sem fazer nada, de caminhar, de fazer atividade física e de ver histórias, seja na literatura, seja no cinema, que eu gosto mais. E, também, de encontrar pessoas. Tem uma coisa de geração, da minha idade, e tudo o que a gente passou agora de pandemia, de isolamento total, que é de tentar resgatar os encontros.
Não da maneira ansiosa como era, talvez antigamente, que a gente era mais jovem, parecia que tudo tinha que estar ligado a essa instância social coletiva, mas com mais qualidade. Tem sido bom encontrar os amigos. E tem sido bom também conhecer pessoas novas assim. Tenho gostado disso. Fora isso, não tenho tido nenhuma atividade permanente, de coisas que eu faça, assim... Daqui a pouco vou voltar a fazer coisas mais organizadas.
Mas uma prainha, uma cachoeirinha, uma caminhada, adoro... Projetos novos, eu tenho, mas tá tudo meio flutuante. Tem os projetos novos pra longe, no sentido da criação de possibilidades, tem projetos novos, de convites, mas eu não tenho nada ainda fechado. Estou preferindo deixar mais aberto. Por enquanto. Tô cansado um pouco, trabalhando demais.