Para além da fofura, o risco. Símbolo da tranquilidade e do jeito pacato de Campo Grande, as capivaras se tornaram estrelas dos parques urbanos e áreas verdes da Capital.
Aparecem nas fotos dos turistas, inspiram memes e encantam moradores que caminham à beira dos lagos ao entardecer. Mas, por trás da fama de mascotes da cidade, há um alerta: a convivência próxima com esses animais exige cuidados.
A médica veterinária Patrícia Pacheco explica que a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) é o roedor de maior porte do mundo e um animal semiaquático, dependente da água para sobreviver.
“Passam boa parte do dia submersas, principalmente para se refrescar e regular a temperatura do corpo, e saem ao amanhecer e no fim da tarde para se alimentar”, afirma Patrícia.
Esses hábitos explicam a presença das capivaras em locais como o Parque das Nações Indígenas, com lagos e áreas úmidas ideais.
Vivem em grupos de 10 a 20 indivíduos e mantêm uma estrutura social cooperativa, com cuidado coletivo dos filhotes, o que aumenta a sobrevivência dos jovens.
Em outros estados, elas também podem ser encontradas em locais ao ar livre de características parecidas com as do Parque das Nações Indígenas. Exemplo: a Lagoa Central de Lagoa Santa (MG), na região metropolitana de Belo Horizonte.
Herbívoras, alimentam-se de gramíneas e plantas aquáticas. Para aproveitar melhor os nutrientes, praticam a cecotrofia, ingerindo fezes macias para digerir o alimento e absorver vitaminas, como a vitamina C, que não produzem naturalmente.
Comunicativas, emitem sons variados – grunhidos, assobios e estalos – e marcam território por odores. Apesar da proximidade com humanos, continuam sendo animais silvestres e o contato direto pode causar estresse e alterar seu comportamento natural.
As capivaras vivem em grupos de 10 a 20 indivíduos e mantêm uma estrutura social cooperativa, com cuidado coletivo dos filhotes, o que aumenta a sobrevivência dos jovens - Divulgação
CARRAPATO E FEBRE
O carrapato-estrela e, por consequência, a febre maculosa são os riscos invisíveis mais frequentes que as capivaras oferecem aos humanos. O principal alerta é a febre maculosa brasileira, doença transmitida pelo carrapato-estrela (Amblyomma sculptum).
As capivaras não transmitem a doença diretamente, mas são hospedeiras amplificadoras, que permitem ao carrapato completar seu ciclo.
“Elas têm alta tolerância ao parasita e à bactéria Rickettsia rickettsii”, diz Patrícia, que também é biomédica e atua como professora no curso de medicina veterinária da Estácio.
“Em locais com muitas capivaras, o número de carrapatos aumenta, elevando o risco para pessoas e animais domésticos”, explica a especialista.
O perigo está no contato indireto. O carrapato passa 95% do tempo no ambiente, esperando por um hospedeiro. Ao caminhar na grama alta ou sentar na vegetação, a pessoa pode ser picada sem perceber.
A veterinária alerta que, apesar disso, é possível aproveitar os parques com segurança. Basta seguir algumas orientações.
> Evite contato direto com as capivaras e nunca as alimente;
> Use roupas adequadas, como calças e camisas de manga longa, de cores claras;
> Permaneça nas trilhas e calçadas, longe da vegetação rasteira;
> Aplique repelente com Icaridina ou Deet (ativo químico que reforça a proteção, interferindo no olfato dos carrapatos e dos insetos, além de criar uma barreira protetora na pele humana);
> Revise o corpo e os pets ao voltar para casa, observando axilas, virilha e couro cabeludo.
INSPEÇÃO CORPORAL
Reforçando: a inspeção corporal imediata é essencial, já que a transmissão só ocorre após o carrapato ficar fixado por várias horas.
Caso seja encontrado, deve ser removido com pinça fina, sem torcer o corpo do inseto. Nos dias seguintes, fique atento à febre alta, dor de cabeça e mal-estar. Esses sinais de alerta exigem atendimento médico.
MANEJO
Eliminar as capivaras não é solução. Patrícia lembra que o caminho é o manejo integrado de carrapatos, com ações de prevenção e educação.
Animal semiaquático: maior roedor do mundo, a capivara depende da água para sobreviver - Divulgação
Isso inclui manter a grama baixa, instalar portais de tratamento com acaricidas, controlar a reprodução das fêmeas e promover campanhas de conscientização.
Essas medidas, somadas ao monitoramento da fauna, permitem um convívio mais seguro entre pessoas e animais.
Com manejo adequado e respeito aos limites da natureza, as capivaras seguem como um dos símbolos mais queridos de Campo Grande, lembrando que a harmonia com o ambiente começa com responsabilidade.
*SAIBA
Os carrapatos não são insetos. São aracnídeos, como as aranhas e os escorpiões, artrópodes pertencentes à classe Arachinida.
Presente em quase todos os continentes, eles são ectoparasitos (parasitas externos) de vertebrados (mamíferos, répteis, aves e anfíbios), ocorrendo em animais silvestres, domésticos e mesmo no homem, alimentando-se do sangue (hematófagos).
Os carrapatos têm duas fases de vida: o parasitismo (no hospedeiro) e a fase de vida livre (solo, tocas, buracos, ninhos e vegetação). Os carrapatos se hospedam e transmitem diversos agentes patogênicos (vírus, bactérias, riquétsias e protozoários) ao homem (hospedeiro acidental) e aos animais.
Entre as doenças transmitidas ao homem, estão a febre maculosa brasileira e a borreliose de Lyme – infecção bacteriana que, além de febre, dor de cabeça e fadiga, causa uma erupção cutânea. Existem outras doenças transmitidas por carrapatos, que só atingem animais.



