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Filhos de ateus buscam a fé fora de casa

Filhos de ateus buscam a fé fora de casa

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09/05/2011 - 21h41
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Larissa Queiroz recebe uma carta de uma instituição filantrópica e, dentro do envelope, descobre um terço de plástico de brinde. A filha Beatriz, de sete anos, adora a novidade e coloca no pescoço na mesma hora. “Expliquei que aquilo não era um colar, disse do que se tratava e me parece que ela ficou ainda mais interessada”, conta a mãe recifense que vive em São Paulo. Desde então, a pequena pede para rezar toda noite. Outro dia, convenceu o pai a levá-la a uma missa pela primeira vez.

As novas gerações de céticos, agnósticos e ateus não casam na igreja, não batizam seus filhos, nem têm religião ou falam de fé. Eles simplesmente desconsideram a existência de Deus. “Esse assunto jamais foi tocado aqui casa, inclusive escolhemos a escola com base nisso. Descartamos todas aquelas com qualquer enfoque religioso”, completa Larissa.

Mas isso não impede que, em alguns casos, seus filhos sintam a necessidade e até cobrem uma discussão sobre fé e religião. De acordo com Eduardo Rodrigues da Cruz, professor do Programa de pós-graduação em Ciências da Religião da PUC de São Paulo, os psicólogos cognitivos tem estudado o assunto com crianças de várias faixas etárias. “Suas conclusões: todos somos naturalmente teístas, e, à medida que crescemos, vamos diversificando nossas posturas”, afirma o doutor em teologia, que também é mestre em física. Ou seja, para ele, a fé é uma postura “natural”, que é racionalizada conforme amadurecemos

Crente por natureza
 

O polêmico cientista britânico Richard Dawkins também defende essa ideia. Conhecido como ‘devoto de Darwin’, em seu bestseller “Deus, um delírio”, o autor sugere que todas as crianças são dualistas (aceitam que corpo e alma sejam duas coisas distintas) e teleológicas (demandam designição de um propósito para tudo) por natureza. Assim, o darwinista dá conta de explicar o que poderíamos chamar de hereditariedade religiosa na qual, inevitavelmente, acabamos por seguir a opção de fé de nossos pais. Só que nem sempre é assim.

Em uma noite de mais de uma hora de apagão, escuro total e absoluto, Beatriz, a filha de Larissa, teve uma ideia: "vamos rezar para a luz voltar”. “Eu lógico, relutante, tentei explicar que não adiantaria, mas ela insistiu, insistiu e rezamos. Um minuto depois, a luz voltou”, descreve. Em seu blog, Larissa desabafa: “será que temos como evitar isso? Estou achando que não”.

Marina de Oliveira Pais, carioca, é filha de pai ateu. Sua mãe, assim como muitos brasileiros, foi batizada, mas não pratica nenhuma religião. “Minha mãe não sabe dizer de que doutrina é, por isso também nunca soube muito bem no que acreditar. Eu tinha fé na ‘força do pensamento’, que se pensássemos positivo atrairíamos coisas positivas e se pensássemos negativo atrairíamos coisas negativas”, diz a jovem de 22 anos.

Quando decidiu morar sozinha pela primeira vez, Marina conheceu Bernardo Nogueira, de 20 anos. Apaixonada, ela conseguiu resistir aos convites da família do namorado para ir a uma igreja evangélica só por alguns meses. Mas relata que, já na primeira vez que assistiu ao culto, teve certeza de que estava no lugar certo. “Fiquei maravilhada”, descreve.

Ela então mudou drasticamente seu estilo de vida. “Cortei a bebida, as baladas e os palavrões. Hoje meus pais respeitam minha situação de convertida justamente por essas minhas mudanças comportamentais”, afirma.

Sentir-se acolhida em uma doutrina que se baseia na Bíblia é justamente o que importa hoje para Jaqueline Slongo, de 23 anos. Depois de um tempo separados, ela voltou a viver na cidade natal de Curitiba com o pai ateu. Ironicamente, por conta de uma bolsa de estudos, a então adolescente foi estudar em um colégio católico. O retorno à cidade grande, onde as desigualdades sociais são mais gritantes, o descobrimento da Bíblia e a fase de mudanças, levantaram muitos questionamentos. “Comecei a me questionar sobre a existência de Deus, fazia perguntas para as freiras do colégio, mas as respostas não me saciavam", lembra.

Black out


Jaqueline começou a achar que havia alguma coisa errada entre o que lia e o que pregavam suas 'instrutoras espirituais'. "Elas me mandavam rezar, mas eu não curtia”, confessa. Seu pai viajava muito e, como não acreditava em Deus, a filha preferia não falar sobre o assunto com ele. O processo foi sofrido, e aconteceu em meio às transformações da adolescência, à ausência dos pais, e à angústia causada por sintomas de depressão. “Eu era muito agressiva, rebelde, intolerante. Não tinha amigos e sempre me isolava”, conta.

Ela então buscou alívio e conforto na religião. Hoje, a estudante se considera protestante, mas passou por diversas comunidades cristãs diferentes. Diz que não se importa com rótulos, mas sente que é preciso estar em grupo. “Acho importante a vivência em comunidade, pois é no relacionamento com outros que seu caráter se constrói”, afirma.

Com o pai, ficou cinco anos sem poder comentar nada sobre sua fé. Até que, há três meses, consciente da mudança espiritual da filha, ele lhe pediu que comentasse, ‘de forma sucinta’, no que exatamente ela acreditava. A partir de então, ela diz, ele tem pedido que também reze por ele.

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Páscoa B+: Você escolheu o melhor ovo de Páscoa? Saiba mais

Descubra 8 verdades e armadilhas ao escolher seu ovo de chocolate nesta Páscoa

19/04/2025 15h00

Páscoa B+: Você escolheu o melhor ovo de Páscoa? Saiba mais

Páscoa B+: Você escolheu o melhor ovo de Páscoa? Saiba mais Foto: Divulgação

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Páscoa e chocolate formam uma dupla perfeita para milhares de pessoas, independentemente da idade. Quanto maior o ovo de chocolate, melhor! E não faltam opções em sabores, texturas e recheios — sem contar a vantagem de trazer benefícios à saúde.

Para muitos, o chocolate é o “alimento da felicidade”. Quando as coisas não vão bem, basta um pedaço para tudo parecer melhor. E há explicações científicas para isso.

O chocolate é rico em vitaminas, esteróis, fosfolipídios, alcaloides e polifenóis, substâncias com efeitos antioxidantes, anti-hipertensivos, anti-inflamatórios, antiaterogênicos e antitrombótico, que contribuem na prevenção de doenças cardiovasculares, anemia, sistema imunológico, mas dependem da concentração de cacau.

Por isso, é importante ficar atento às armadilhas dessas delícias, que muitas vezes contêm excesso de açúcar, gordura e até podem causar uma espécie de “dependência”.

Como é difícil resistir à tentação — especialmente na Páscoa — o Prof. Dr. Durval Ribas Filho, médico nutrólogo, Fellow da The Obesity Society – TOS (EUA), presidente da ABRAN (Associação Brasileira de Nutrologia) e docente da pós-graduação CNNUTRO, compartilha algumas dicas valiosas com o B+:

De olho no cacau

Quanto maior a concentração de cacau, mais saudável o chocolate. Na prática, os melhores são os mais escuros e amargos, pois contêm mais compostos benéficos à saúde e menos adição de açúcar, leite e gorduras.

Bem-estar a cada mordida

Os chocolates com 70% de cacau ou mais ajudam a promover a sensação de felicidade. Isso se deve à presença de teobromina — um alcaloide semelhante à cafeína — e à feniletilamina, responsável por estimular o prazer. Com moderação, o chocolate também pode contribuir para o aumento da serotonina, ajudando a reduzir ansiedade e estresse.

Sem excessos, sem privações

A porção ideal é de 30 a 40 gramas por dia, preferencialmente com alto teor de cacau. Na Páscoa, com tanta variedade, não é preciso se privar — basta manter o equilíbrio. O consumo exagerado de chocolates ricos em açúcar, gordura e leite pode prejudicar o funcionamento do fígado e causar sintomas como náuseas, refluxo, diarreia, dor de cabeça e mal-estar por alguns dias. Atenção: a vida continua depois da Páscoa.

Nem todo chocolate é igual

Prefira os amargos ou meio amargos. Os chocolates ao leite, mais populares, têm baixa concentração de cacau e alto teor de açúcar e gordura, o que eleva o valor calórico e reduz os benefícios à saúde.

Atenção aos rótulos

Diabéticos, intolerantes à lactose, celíacos e veganos devem observar atentamente os ingredientes. Prefira produtos com menor teor de açúcar, gordura e carboidrato — e maior concentração de cacau. Versões diet (sem açúcar) nem sempre são menos calóricas, pois podem conter mais gordura e os produtos light apenas indicam redução de, no mínimo, 25% em algum ingrediente.

Ressaca pós-Páscoa

Se exagerou no chocolate, aposte em uma alimentação mais leve: frutas, legumes, verduras, pouca carne vermelha e carboidratos complexos, como batata-doce. Reduza pães, massas e biscoitos e mantenha-se bem hidratado.

Congele e faça a Páscoa durar mais

Siga as orientações de conservação da embalagem e evite variações bruscas de temperatura ou exposição ao Sol. O armazenamento em geladeira pode alterar a textura do chocolate. Mas é possível congelar. Corte o ovo em pedaços, embrulhe em papel-alumínio e guarde em pote hermético. Depois, descongele somente o que for consumir.

Cuidado com o consumo emocional

Quando o chocolate é consumido para aliviar emoções como ansiedade, tristeza ou estresse — mesmo sem fome —, pode indicar compulsão alimentar, um transtorno relacionado à saúde mental. Fique atento aos sinais de dependência

CULTURA

Entenda como a Páscoa mudou de ovos decorados para tradição do chocolate

Levantamento apontou que 52% dos brasileiros pretendem comprar ovos de chocolate na Páscoa

19/04/2025 14h32

O tamanho dos ovos de chocolate veio com o crescimento e desenvolvimento das indústrias.

O tamanho dos ovos de chocolate veio com o crescimento e desenvolvimento das indústrias. Bruno Henrique / Arquivo / Correio do Estado

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Recentemente divulgadp pela empresa de pesquisa e inteligência de dados Nexus, um levantamento apontou que 52% dos brasileiros pretendem comprar ovos de chocolate na Páscoa, o que nesse caso representa que cada um pretende adquirir em média três produtos.

Mas como os tradicionais ovos decorados, que eram presenteados no passado, transitaram para os ovos feitos de chocolate, que dominam as prateleiras dos comércios e são aguardados ansiosamente nesta época do ano pelas crianças?

Ana Beatriz Dias Pinto é doutora em Teologia e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), ela explicou que a transição dos ovos decorados para os de chocolate seguiu uma adaptação do mercado.

“Embora o ovo seja símbolo ancestral de fertilidade e vida (presente antes mesmo do cristianismo, em rituais pagãos e em tradições cristãs orientais), a prática de presentear ovos de chocolate é resultado de um processo de industrialização e mercantilização da Páscoa, que se intensificou ao longo do século XIX e permanece há 175 anos”, afirmou. 

História

Segundo a professora e pesquisadora, a fabricação dos primeiros ovos de chocolate começou na França e na Alemanha por volta de 1850.

“Foi uma forma de presentear com algo mais gostoso e bonito. Antes eram ovos de galinha, pato, avestruz, muito frágeis e visualmente enriquecidos com pinturas e adornos, mas que geralmente tinham tamanhos menores.”

O tamanho dos ovos de chocolate veio com o crescimento e desenvolvimento das indústrias.

“Há países onde já vi ovos do tamanho de uma pessoa”, disse Ana Beatriz.

Para a pesquisadora, “por conta deste marketing, os ovos de chocolate acabam servindo ao consumismo de mercado, mas sua dimensão simbólica para a Páscoa verdadeira não está associada às campanhas publicitárias, brinquedos e embalagens festivas, assim como a vela, o coelho, o círio pascal e as flores,. ela é um elemento que fala sobre a vida, o renascimento”.

O consumismo que pode ser representado pelos números da indústria. A Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Bala (Abicab) estimou que a produção do setor neste ano deve atingir cerca de 45 milhões de unidades.

Apesar do aumento nos preços do produto por causa da crise da produção do cacau, ainda assim são números expressivos. 

 

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