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Gabriel Stauffer: "Eu me senti honrado de estar em uma novela histórica, que representou tanta coisa para a teledramaturgia brasileira"

O ator é destaque da primeira fase de uma das novelas mais importantes da história da televisão brasileira, Pantanal, que estreia segunda feira, 28 de março

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Colaborou - Denise Neves

Gabriel Stauffer, 33 anos, é de Curitiba (PR), mas mora no Rio de Janeiro (RJ), desde 2010. É filho de pais cariocas e tem uma irmã 4 anos mais nova que trabalha com circo.

Ele é formado em Publicidade e Propaganda pela PUC-Rio e já trabalhou como redator publicitário. 

Gabriel também tem formação como ator pela CAL (Casa das Artes de Laranjeiras), e no último ano de faculdade em Publicidade e Propaganda, decidiu seguir carreira de ator após ser abordado na rua por uma “caça-talentos” em Curitiba.

 

Gabriel vive uma fase importante em sua carreira, e está cheio de novidades.

Na Netflix ele é Joel na série “De Volta aos 15”, onde vive um triângulo amoroso com Camila Queiroz e Breno Ferreira. 

A série, que é protagonizada por Camila Queiroz e Maisa dividindo o mesmo papel, que conta a história de Anita, uma mulher de 30 anos que, por estar insatisfeita com a sua vida, ganha a chance de ter 15 anos novamente.  

“Me enviaram um teste falando do projeto. Eu fiz e gostaram, depois fiz outro e umas duas semanas depois me ligaram dizendo que eu passei. E fiquei muito feliz quando li toda a temporada, me surpreendi com o final”, relembra ele.

O ator também integra o elenco da primeira fase de “Pantanal”, próxima novela das 21h, no papel do Dr. Gustavo, psicólogo apaixonado por Madeleine (Bruna Linzmeyer) que será vivido por Caco Ciocler na segunda fase da trama.

“A gente conversou bastante no on-line (eu e o Caco). Falamos sobre o personagem, as nossas primeiras impressões, o que queríamos botar... No meu último dia de gravação no estúdio, pude encontrá-lo e passar o meu bastão para ele”, explica.

Com experiência em teatro, cinema e TV. Gabriel já participou de diversos espetáculos teatrais, como “Lazarus”, com direção de Felipe Hirsch; “Simonal - O Musical”, com direção de Pedro Brício e “O Grande Circo Místico”, com direção de João Fonseca, atuação que lhe rendeu o Prêmio Cesgranrio como Melhor Ator de Teatro Musical de 2014.  

Na televisão participou de séries como “Sob Pressão” e “Nada Será Como Antes” e “Todas as Mulheres do Mundo”, essa última indicada ao Emmy Internacional. Também integrou o elenco das novelas “A Força Do Querer” e “O Sétimo Guardião”; todas transmitidas pela Rede Globo.  

 

No cinema, esteve nos filmes “Entre Irmãs”, de Breno Silveira, e “O Livro dos Prazeres”, de Marcela Lordy, como par romântico de Simone Spoladore.

Para entrarmos no ritmo da estreia de Pantanal, Gabriel conversou com exclusividade com o Correio B+ desta semana e falou sobre todas essas estreias além da sua relação a profissão e outros projetos...

CE: Como é a sua relação com o teatro? Pode contar um pouco da sua experiência com o circo e o musical?

GS: “Assim que eu me formei em Artes Cênicas, eu passei a fazer testes para musicais e passei a investir em aulas de canto. No meu segundo teste para um musical, eu passei. No qual eu fiz o Frederico, protagonista de ‘O Grande Circo Místico’.”

 

CE: Você já estreou em novelas na TV Globo... Como foi esse processo?

GS: “Eu comecei a fazer testes para audiovisual em 2015. Em 2017, passei para fazer ‘A Força do Querer’, fazendo o Claudio, par da Ivana. Foi um personagem que deu muito certo, ainda mais com esse núcleo... Foi um lugar de muito aprendizado, sendo a minha primeira novela logo em uma das maiores emissoras de TV do mundo. Depois, fiz ‘O Sétimo Guardião’, e, agora, ‘Pantanal’, na qual me sinto muito honrado e feliz de estar fazendo essa novela.”

 

CE: E desses personagens, qual você destaca?

GS: “O Claudio, por ter sido o primeiro. Ali eu aprendi muito. E, agora, o Dr. Gustavo, que tem um pouco mais de complexidade. É um personagem que me deu chance de trabalhar outras coisas, além de poder dividir ele com outra pessoa que trabalha nesse papel, é superlegal também.”

 

CE: Falando na atualidade... Sobre Pantanal, você já conhecia? E o Mato Grosso do Sul?

GS: “Não conhecia! Uma das coisas mais legais da minha profissão é essa chance que a gente tem de conhecer lugares que normalmente não conheceríamos se trabalhássemos com outra coisa... O Pantanal foi uma experiência muito marcante. Aqui a gente tá acostumado com telas e celulares, e lá você vê o horizonte, animais caçando, as pessoas têm outro tempo para pensar, para ver as coisas, e é muito bonito poder reparar nessas coisas.”

 

CE: Um momento marcante para você nas gravações no Pantanal...

GS: “O pôr do sol com um laranja lindo, meio amarelado, que só o Pantanal tem. Além dos bichos que a gente vê pelo meio do caminho, que não estamos acostumados a ver. É uma coisa maravilhosa, eu ficava encantado. Foi o que mais me tocou.”

 

CE: Você trabalhou junto com o Caco Ciocler que fará a segunda fase do seu personagem?

GS: “A gente conversou bastante no on-line. Falamos sobre o personagem, as nossas primeiras impressões, o que queríamos botar... No meu último dia de gravação no estúdio, pude encontrá-lo e passar o meu bastão para ele.”

 

CE: E o que podemos esperar do Dr. Gustavo?

GS: “Um cara que ama muito, ele tem quase que uma fixação pela Madelaine (interpretada por Bruna Linzmeyer) e faz de tudo para estar perto dela e da família dela. Ele também é muito racional, é um rapaz que ouve muito as pessoas. Ele não poupa esforços para ter a Madeleine perto dele, tanto que ele vai até o Pantanal só para buscar ela e trazer para o Rio de Janeiro.”

 

CE: Você acaba de fazer uma série que estreou há pouco tempo na Netflix, chamada “De Volta Aos 15”. Como surgiu a oportunidade e como está sendo a experiência de fazer esse trabalho?

GS: “Me enviaram um teste falando do projeto. Eu fiz e gostaram, depois fiz outro e umas duas semanas depois me ligaram dizendo que eu passei. E fiquei muito feliz quando li toda a temporada, me surpreendi com o final. Eu já imaginava que a série seria legal, mas não pensava que fosse ter tanta repercussão. Foi top 10 em mais de 30 países e a 4ª série de língua não inglesa mais assistida nos primeiros 10 dias. Foi muito bacana.”

 

CE: Além de “Pantanal”, tem outros projetos em vista para esse ano?

GS: “Por enquanto, não. Estou curtindo as estreias tanto de ‘De volta Aos 15’ e de ‘Pantanal’. E tivemos a confirmação da 2ª temporada da série, que talvez seja gravada ainda nesse ano.”

CE: Tem algum personagem que você gostaria de ter a oportunidade de interpretar?

GS: “Tem tantos... Da dramaturgia clássica e não clássica... Mas vou deixar essa resposta para o universo (risos).”

 

CE: Dá para perceber que você se encontrou na arte... Mas, ainda assim, tem vontade de voltar a trabalhar com Publicidade algum dia?

GS: “Acho que nunca mais (risos). Eu fui muito feliz na Publicidade, trabalhando com isso eu exercitava a minha escrita, que é algo que eu gosto muito, mas acho que não volto mais para uma agência para sentar e ficar fazendo propaganda, não.”

 

CE: O que tira o Gabriel do sério?

GS: “Muita coisa. Desde casa desarrumada a preconceito, pessoas intolerantes às diferenças dos outros etc.”

CE: Um lugar ideal para levar o Gabriel para passear?

GS: “Praia.”

 

CE: Um sonho?

GS: “Poder concretizar os meus filmes e mostrar para o mundo o que eu vim para fazer.”

CE: E se você pudesse definir a experiência de ter feito “Pantanal” em uma palavra, qual seria?

GS: “Engrandecedora. Eu me senti poderoso de estar em uma novela histórica que representou tanta coisa para a teledramaturgia brasileira e ao mesmo tempo tão pequeno de estar em um lugar muito grande com pessoas talentosíssimas no meio daquele Pantanal imenso... Então, acho que essa dicotomia entre coisa grande e pequena que fez toda essa experiência ser engrandecedora.”

ENTREVISTA COM BIANCA

"A fauna pantaneira é a base musical das nove composições de 'Pantanal Jam'"

Cantora Bianca Bacha, da Urbem, fala como a paisagem natural de Miranda afetou o processo de criação e gravação do segundo álbum da banda, sobre a diferença entre o canto com letra e as vocalizações que são a sua marca e anuncia projetos nos EUA e Espanha

15/12/2025 11h00

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste ano

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste ano Divulgação / Alexis Prappas

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ENTREVISTA COM BIANCA

Recuperando para o leitor: como se deu a oportunidade do encontro e da parceria com o Ryan para o projeto do álbum “Pantanal Jam”?

Conhecemos Ryan Keberle no Campo Grande Jazz Festival [em março de 2024] e com ele tivemos uma troca musical instantânea. Tocamos juntos em um show no Sesc [Teatro Prosa] em setembro de 2024 e, a partir de lá, tivemos a certeza de que ainda faríamos muita música juntos.

No Pantanal, onde Ryan esteve pela primeira vez durante as gravações, ficou nítido que ele conseguiu transpassar para o repertório o encantamento que ele estava vivendo em meio a toda aquela natureza.

É o segundo disco, nove anos depois de “Living Room”. O que “Pantanal Jam” representa para a Urbem?

Este projeto é o nosso território sonoro: onde a música que criamos se entrelaça à natureza que nos guia em forma de jam. Na música, uma jam significa um encontro musical sem aviso prévio, as coisas vão acontecer ali na hora, portanto, o inesperado é bem-vindo e, com ele, você improvisa.

Qual seria o conceito geral do álbum?

O conceito do álbum nasce da escuta profunda da fauna pantaneira. Os cantos dos pássaros, o esturro da onça e os sons das águas e dos ventos não são efeitos nem pano de fundo: são a base musical das nove composições. A natureza atua como um músico a mais na banda de jazz, dialogando conosco em frases de pergunta e resposta.

Sandro Moreno registrou esses sons in loco, mergulhando no Pantanal para captá-los com precisão. Depois, analisou esse vasto material para identificar melodias, ritmos e motivos que se tornariam a essência das composições.

E, para fechar o ciclo, o álbum também foi gravado no coração do Pantanal. Com geradores a gasolina e um estúdio móvel, nós, a Urbem e o trombonista Ryan Keberle, levamos a música para o ambiente que a inspirou. E ali criamos, novamente in loco, em plena natureza selvagem.

Que tipo de referências buscaram para os arranjos, as sonoridades e as texturas?

Toda a referência e textura do álbum “Pantanal Jam” nascem dos próprios sons do Pantanal. A imersão no território e a escuta atenta transformaram cantos de pássaros, esturros, movimentos da água e vozes da mata em matéria-prima musical.

Cada faixa traduz essa convivência direta com a fauna e seus ritmos naturais, convertendo sons de bichos em música. Viva, orgânica e profundamente enraizada na paisagem pantaneira.

Isso está bastante perceptível. Os sons e toda a atmosfera do Pantanal atravessam o mood e talvez a própria concepção dos temas. Pode comentar um pouco mais sobre essa presença de elementos da natureza – e dessa natureza tão singular de MS – na criação de vocês?

A fauna, a luz, o silêncio amplo, os ventos, os cantos e até os vazios típicos da paisagem pantaneira influenciam diretamente a forma como criamos. É como se o ambiente nos orientasse musicalmente: às vezes guiando uma melodia, às vezes sugerindo um pulso, às vezes impondo uma pausa.

Esse encontro com a natureza não é decorativo, é estrutural. Ela atravessa tudo, o gesto musical, o espírito do disco e a maneira como a banda se relaciona com o som.

No “Pantanal Jam”, a paisagem não é cenário: é presença, é voz, é parceria criativa. É música.

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste anoFoto: Divulgação / Alexis Prappas

Onde exatamente estiveram e gravaram? E quando foi?

As gravações foram feitas na Fazenda Caiman, em junho deste ano, num cenário que não poderia ser mais inspirador. Foram escolhidas pela produtora três locações diferentes, e para cada uma delas, três músicas.

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste anoFoto: Divulgação / Alexis Prappas

Com uma equipe ultraprofissional que trouxe segurança e leveza para uma gravação ao vivo numa condição completamente inusitada.

E quanto ao repertório? Como chegaram às nove canções do disco?

Entre as composições, temos duas músicas do Paulo Calasans [“Swingue Verdejante” e “Suspiro da Terra”], um dos maiores produtores, arranjadores e instrumentistas do País, além de duas canções do Ryan Keberle junto com Sandro Moreno [“Paisagem Invertida” e “Entre Folhas”] e cinco composições nossas [“Espiral”, “Pluma”, “Voo Curvo”, “Barro” e “Canção do Ninho”].

Penso que o Pantanal é experimentado de um jeito bem particular por cada pessoa. Como é para você? Como aquele ambiente lhe toca e eventualmente interfere no seu jeito de cantar?

Tudo ali era extremamente inspirador. Dormir e acordar naquele lugar por alguns dias já me fazia até respirar de jeito diferente, com menos pressão e mais imersão.

Isso com certeza influenciou no jeito de cantar. Porém, o mais impressionante era saber que estava gravando um disco com toda aquela fauna ao redor, um jacaré no lago ao lado e uma onça a alguns quilômetros.

Embora domine há duas décadas o canto com letra e muitas vezes cante dessa forma em apresentações ao vivo, na Urbem, você investe sempre nos vocalizes e scats.

Todas as músicas do álbum “Pantanal Jam” usam a voz como instrumento, ou seja, não há letras nas músicas. Além de ser uma característica jazzística, esse estilo de canto se aproxima mais do cantar dos pássaros, a busca por seus fonemas e emissões.

Cada música exige uma altura e um escolher apropriado de sílabas que encaixem com a afinação e a expressão.

Adoro o canto com letras. Ali você tem palavras, interpreta, coloca ênfases. É até uma emissão de voz diferente. Só que comecei a me encantar com o mundo do jazz e toda essa coisa do canto que não usa palavras, o vocalize. E comecei a ouvir cantoras que cantam assim.

Tatiana Parra [cantora, compositora e professora paulistana] canta assim, nossa, de um jeito maravilhoso. A [portuguesa] Sara Serpa também. Tem também as divas mais antigas que faziam mais questão de improviso, o scat singing.

O canto sem palavra é muito desafiador porque ele é mais cru, mostra mais imperfeições de respiração, de emissão, de escolha de sílabas. E é muito improvisado. Porque a cada dia você pode usar uma sílaba diferente, pode caracterizar de uma outra forma.

Num dia vou fazer “u”, no outro dia posso fazer “a”, no outro posso fazer “e”. E você tem que descobrir ali, numa forma você com o seu corpo. E além de ter o desafio de você demonstrar o interpretar com emoção sem ter palavras.

Então é muito jazz [risos]. E acho muito bonito. Sempre vai ser um desafio. Sou com o meu corpo, com as palavras que eu escolho, que nem sempre são pensadas.

Claro que tem uma questão técnica de que o “i” você vai mais para um agudo, no “u” também; nos graves, você vai para outras escolhas, as consoantes também interferem. Gosto muito de passear pelas duas áreas. Tanto a área da interpretação com letra quanto a área dos vocalizes e texturas.

E Nova York? Pode contar um pouco sobre a recente temporada de vocês por lá?

O “Pantanal Jam” foi lançado em novembro deste ano com um show memorável em Nova York, durante a feira internacional de turismo Visit Brazil Gallery [na Detour Gallery], e a recepção foi extraordinária.

Pessoas do mundo inteiro, agentes de turismo, diretores da National Geographic, fotógrafos de natureza e profissionais de diversas áreas assistiram ao show com atenção absoluta.

Desde a primeira música, compreenderam nossa proposta e permaneceram maravilhados até o fim. Foi um momento histórico para Mato Grosso do Sul e para a arte sul-mato-grossense.

Esse resultado só foi possível graças ao apoio total da Fundtur e do seu diretor-presidente, Bruno Wendling, que acreditou no projeto desde o início e se comprometeu a nos apoiar tanto nas etapas de captação no Pantanal quanto no lançamento em Nova York. Além disso, segue impulsionando a campanha contínua de apresentar o “Pantanal Jam” ao mundo.

E faz sentido: ouvir o Pantanal desperta o desejo de visitá-lo, conhecê-lo e preservá-lo. O projeto reúne arte, natureza, conservação, turismo e toda a beleza única do nosso bioma, uma combinação que emociona e conecta o público global ao coração do Pantanal.

Além do álbum que já está lançado em todas as plataformas, temos uma série de vídeos das nove músicas e um minidocumentário.

Quando teremos shows da Urbem? Quais os próximos passos e projetos da banda?

A Urbem se sente profundamente entusiasmada em seguir os passos de Manoel de Barros, da família Espíndola, de Guilherme Rondon, Paulo Simões, Grupo Acaba, Geraldo Roca e tantos artistas que sempre beberam dessa fonte primária que é o Pantanal, transformando-a em arte para o mundo.

Recentemente, pesquisadores de Harvard e professores da UFMS colheram sons do Pantanal [pelo projeto Pantanal Sounds, que conta, entre outros, com nomes como o do violoncelista e professor William Teixeira], e esse movimento nos inspirou a ir a campo gravar os sons pantaneiros e a fazer composições dentro da nossa linguagem jazzística, incorporando esses registros naturais ao nosso modo de compor e evidenciando em música as belezas pantaneiras.

Temos planos de retornar aos Estados Unidos em breve e estamos em diálogo com a Embaixada do Brasil em Barcelona, onde palestraremos em março.

Além disso, a Urbem participará do Campo Grande Jazz Festival de Rua, no dia 21 de dezembro [neste domingo], em uma jam session com músicos locais e de São Paulo.

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MÚSICA

Entre onças e tuiuiús, o jazz

Em parceria com o trombonista Ryan Keberle, com nove composições inspiradas na exuberância do Pantanal, URBEM lança segundo álbum; 2º Campo Grande Jazz Festival celebra o gênero na Capital, com apresentações gratuitas

15/12/2025 10h00

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro Moreno

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro Moreno Divulgação / Alexis Prappas

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Sem dar muitos detalhes, o baterista Sandro Moreno, quando conversou comigo, em junho, sobre o álbum que a Urbem gravaria com Ryan Keberle, adiantou que o projeto seria “algo muito especial”.

Após o show – memorável, diga-se – que fizeram juntos no Teatro do Mundo, o quarteto campo-grandense – além de Sandro, Bianca Bacha (vocais), Ana Ferreira (piano), Gabriel Basso (contrabaixo) – e o trombonista norte-americano foram para a zona rural de Miranda e se instalaram na Fazenda Caiman.

Foi lá que a magia aconteceu. Na estrada desde 2013 e com apenas um álbum lançado até então, “Living Room” (2016), a banda disponibilizou “Pantanal Jam” no Spotify no dia 29 de outubro, três dias antes do show que realizaria em Nova York, em um evento na Detour Gallery que uniu arte, gastronomia e turismo para promover o Pantanal.

São nove faixas criadas e gravadas com extremo apuro e sensibilidade, que alcançam os músicos da Urbem e Ryan num ponto bem elevado de suas capacidades.

Os temas soam como se os cinco artistas tivessem se deixado abraçar pela contagiante pregnância da natureza de Miranda, e Bianca Bacha confirma isso em entrevista exclusiva.

Melodias, pulsações e andamentos foram se definindo conforme eles mergulhavam em tudo que viam, ouviam e sentiam por ali: ventos, o canto das aves, “o esturro da onça”, como Bianca relata. Ouvindo os sons naturais, captados previamente por Sandro, que assina a produção musical do projeto, cada um estabeleceu sua conversa criativa com o Pantanal.

O registro dos sons naturais – de aves, por exemplo — introduz, se mescla ou faz a ponte para uma execução instrumental (voz inclusa) coesa e deveras inspirada, que não força a barra para sorver e devolver, em forma de música, a fartura que o habitat de Miranda oferece.

“Suspiro da Terra”, doce e pulsante, e “Paisagem Invertida”, essa mais selvagem e misteriosa, são uma prova disso.

Ryan pontua, preenche ou arremata sempre com uma precisão e desprendimento envolventes. Ana, como se ouve em “Espiral”, migra da base para os solos numa transparência que comove. Gabriel – em “Canção do Ninho”, por exemplo, que começa e segue na cama dos gomos que vai colhendo ao longo do tema – parece deter a justa medida para o desempenho de seu baixo.

"Foi uma grande honra participar da criação do ‘Pantanal Jam’. Os sons da Pantanal, do modo como Sandro captou, tiveram um papel direto no processo de composição das duas músicas que fiz para o álbum.

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro MorenoRyan Keberle, trombonista - Foto: Divulgação / Alexis Prappas

O tom e os ritmos dos sons naturais do Pantanal, inspirados por ideias musicais e paisagens sonoras próprias, criaram um clima que eu tentei capturar nas minhas composições. Quando nós gravamos, literalmente no meio de um dos lugares mais selvagens e remotos do mundo, a beleza e a energia natural nos inspirou a ouvir a natureza e um ao outro mais profundamente, o que resultou numa performance musical que demonstra uma profunda comunicação musical.

Adoro os músicos e a música da Urbem. E, desde que tocamos juntos em diversas ocasiões anteriores, eu compus as minhas músicas especificamente com o talento e a habilidade musical especial deles em mente” - Ryan Keberle, trombonista.

Sandro é um laboratório inquieto, dos pedais aos pratos de condução. E Bianca conduz os vocais numa têmpera e numa fruição que se articula como síntese do conjunto.

Comparações e referências são uma tentação no mundo do jazz. Mas a qualquer palpite sobre “Pantanal Jam”, é melhor calar e ouvir. É um álbum estimulante para esse silêncio de dentro, que nos faculta as melhores emoções da escuta e da experiência musical.

Brazilian jazz? Jazz? Ouça. Música apenas. E quanta música! Embrenhada e revelada nos refúgios de um lugar mágico, onde a natureza se recobra e o espírito se fortalece.

A Urbem lança “Pantanal Jam” hoje, às 18h, no Centro de Convenções Arquiteto Rubens Gil de Camillo. Apareça.

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