Quando Mato Grosso do Sul nasce, em 1977, jornalistas, intelectuais, instituições e rodas universitárias perguntam: “Qual é nossa identidade cultural?” Agora, depois de quase meio século, podemos visualizar uma expressão própria que, no entanto, continua misturando linguagens, porque a cultura é um processo dinâmico.
Este é o tema de “Margarida – Retratos Culturais de Mato Grosso do Sul” (Life Editora), novo livro de Lenilde Ramos, que ocupa a cadeira 31 da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.
O fio condutor da nova obra da autora de “História sem Nome” (na terceira edição) e “João da Moto” é Margarida Simões Corrêa Neder. Lenilde foi apresentada a ela por Norma Jornada, outra peça central dessa história.
A escritora potencializa as lembranças de Norma com uma pesquisa que conta como o trabalho dessas duas mulheres contribui com o desenvolvimento cultural de MS. Um detalhe: Margarida é tia do compositor Paulo Simões.
RIO DE JANEIRO
A história começa no Rio de Janeiro, com a família Simões Corrêa, e passa por Maracaju, onde nasce Margarida, em 1925. Depois vai para Campo Grande, onde ela se casa com Alfredo, um dos filhos de Rachid Neder. Além dos seis filhos biológicos, Margarida praticamente adota oito meninas, entre as quais, Norma Jornada e suas cinco irmãs.
O objetivo é dar a elas uma educação formal, que se amplia para as artes. Na casa sempre cheia, circulam também os amigos dos moradores, entre eles, um menino chamado Almir Sater.
Com o apoio das filhas do coração, Margarida se torna estilista de moda clássica, promove desfiles em Campo Grande e São Paulo e cria a empresa Eme Ene. Além dos filhos, ela também se preocupa com o sobrinho Paulo Simões, cada vez mais ligado à música.
TREM DO PANTANAL
Em 1975, Simões e Geraldo Roca vão a Machu Picchu, no Peru, e trazem na mochila a música “Trem do Pantanal”, que neste ano completa 50 anos. Em 1983, Almir Sater e Paulo Simões fazem uma viagem histórica ao Pantanal, a Comitiva Esperança, época em que os modelos de Margarida dão lugar a tuiuiús, onças-pintadas, camalotes e camisetas com letras de músicas de compositores locais.
Daí em diante, o espaço Eme Ene assume o papel de difusor das raízes do novo estado. No fim dos anos 1980, o secretário de Cultura Humberto Espíndola incentiva o intercâmbio de Mato Grosso do Sul com as fronteiras latinas.
Em La Paz, Paulo Simões conhece a Peña Naira, lugar que cultua as artes locais, e propõe à sua tia fazer o mesmo em Campo Grande.
Assim nasce a Peña Eme Ene, movimento que, durante 10 anos, divulga a música, a dança, a poesia e a culinária regional, fortalece o turismo de eventos e promove a fusão dos retratos culturais de MS: de Délio e Delinha a Guilherme Rondon, da música paraguaia ao folclore, do caldo de piranha à saltenha, das pinturas de Anna Ballatore à poesia de Emmanuel Marinho.
Essa história foi abordada por Lenilde no dia 8, em uma das rodas de conversa da Bienal Pantanal, no Centro de Convenções Rubens Gil de Camillo.
Mas há bem mais no livro de Lenilde Ramos, que registra a riqueza dos tempos que “reforjaram em Mato Grosso do Sul uma gente audaz”. Com prefácio de Pedro Ortale e apresentação de Humberto Espíndola, “Margarida” tem a arte de capa assinada por Saulo Flores Sampaio e design gráfico de Marília Leite Ramires.
O lançamento é amanhã, às 19h30min, na Estação Cultural Teatro do Mundo, na Rua Barão de Melgaço, nº 177, Centro (leia entrevista com a escritora na página B4).


