Tatiana Maganha, Thalia, Vic Amaral, S. Fujita, Sélia (com “S” mesmo), Márcia Chaves, Gabi Pottratz, Laura Meneses, Jackson Rocha, Brend Gimenez.
Grave bem esses nomes, esses e todos os outros que fazem parte da exposição coletiva “O Traço, A Mancha e A Queima – Um Encontro de Potencialidades”, com trabalhos assinados pelos alunos dos cursos livres de artes visuais do Sesc Cultura realizados de fevereiro a novembro deste ano.
A mostra retoma a pauta da galeria do Sesc Cultura no dia 17 de janeiro.
Se você ainda não conferiu, vale a visita. São 140 obras de técnicas variadas que ecoam o aprendizado e a inquietação criativa de jovens – ou nem tão jovens assim – instigados pelo desafio de materializar a sensibilidade pessoal em pinturas, esculturas, desenhos e colagens.
O resultado é um mosaico bem diversificado do que se anda aprontando na Capital em termos de arte contemporânea.
Alguns trabalhos destacam-se, pela ousadia temática, pelo apuro formal e por certa sofisticação nos arremates, mas o melhor mesmo é o visitante apreciar o conjunto da obra para tirar suas próprias conclusões.
De paisagens bucólicas a citações diretas ao modernismo brasileiro, “O Traço, A Mancha e A Queima” torna-se um programa de encher os olhos.
REFERÊNCIAS
Muitos dos artistas identificam-se apenas com o prenome na assinatura das obras. Sélia e Elisa dedicaram-se a pintar retratos. Carmen, uma borboleta de cores fortes que ocupa quase toda a tela.
Wilson, um perfil de Jesus Cristo. Masted, um unicórnio meio lisérgico. E Ana Valentina, um jogo cromático de círculos que pode ser associado às composições multicor da conhecida artista carioca Beatriz Milhazes.
A apropriação de referências, aliás, parece ter sido recorrente no momento da criação das peças, sem agravo à qualidade dos trabalhos, que trazem o viço e o risco das autorias ainda em processo de afirmação.
Vic Amaral, por exemplo, que homenageou o bluesman Zé Pretim (1954-2021) com um desenho, talvez se aproxime dos metaesquemas de Hélio Oiticica (1937-1980) em sua colagem de fundo encarnado.
Ana Rita Moraes exercitou argila e cerâmica ao revisitar o óleo “Abaporu” (1928), de Tarsila do Amaral (1886-1973).
AGRADÁVEL E GRATUITO
Com o óleo sobre tela “A Mulher com Gato”, Tatiana Maganha também evoca, de algum modo, Anita Malfatti (1889-1964), colega de modernismo – e de vida – de Tarsila.
“Tive uma experiência muito agradável”, afirma Tatiana, que foi aluna da turma de pintura.
“Professor excelente, local com ótima infraestrutura, um curso completo que fomenta arte e cultura”, desmancha-se a criadora, que já possui licenciatura em Artes Visuais pelo Instituto de Ensino Superior da Fundação Lowtons de Educação e Cultura (IESF).
“Todos os cursos foram gratuitos, os alunos só compravam o material. Isso permite que pessoas de baixa renda possam fazer.
Alguns ateliês que têm ótimos cursos aqui na cidade, às vezes, têm mensalidades caras, e isso desestimula”, avalia Tatiana.
Além de “A Mulher com Gato”, ela produziu a obra “O Sonho”, uma colagem em técnica mista com uso de papel, pequenos objetos, como uma chave ou uma tesoura, e óleo sobre tela. Uma Paris retrô e bem-vestida acena em referências diretas na proposta da criadora.
TERAPÊUTICO
“Sou professora de arte e, com o tempo, a gente para de pintar, de produzir, só tem tempo para planejar aulas e aplicar em sala."
"O tempo passa e vamos esquecendo as técnicas de pintura. Então, eu quis relembrar e aperfeiçoar essas técnicas que aprendemos na faculdade."
"Aprendi no início do curso, que teve aulas teóricas também, sobre as técnicas de cada movimento artístico, o círculo cromático, as cores complementares, enfim, o professor mesclava o teórico e depois a aula prática”, comenta a artista.
“O curso foi uma terapia para mim também”, prossegue Tatiana, que enfrentava uma crise de depressão quando decidiu fazer as aulas.
“A arte, a pintura, me fazia sair de casa, me dava prazer aprender e produzir, e isso me deixava feliz”, afirma a professora.
Entre outras práticas, os alunos de pintura tiveram ainda lições de luz e sombra, de esfumato e de pintura chapada, percorrendo, assim, técnicas mais contemporâneas e do passado, a exemplo da pintura impressionista e expressionista.
PARA INICIANTES
Além do curso “Técnicas de Pintura”, foram realizados outros dois: “Expressão em Desenho” e “Modelagem e Cerâmica”.
Conduzidos pelo artista Kaio Ratier, os três tiveram foco voltado aos interessados nas práticas, porém sem experiência prévia ou conhecimento aprofundado das linguagens e dos meios de expressão.
Na realidade, experientes e neófitos acabaram se misturando. “A exposição faz parte do planejamento e é uma forma de encerrar e celebrar todo o trabalho realizado”, afirma Ratier.
“A coletiva destaca a importância de conhecer e expressar os valores fundamentais da linguagem visual por meio das experiências, das interpretações, do contato com os diferentes materiais e de todo o processo aprendido nas aulas, buscando sempre afirmar que viver e fazer arte é possível para todos”, resume o artista.
“Acho significativo esse espaço de aprendizado da teoria e da prática das artes plásticas, com abertura para artistas, estudantes que já trabalham com arte e também pessoas que têm vontade de aprender e realizar algum trabalho artístico."
"Os cursos promovem, além de técnicas clássicas e mais atuais, o espaço do aluno se desenvolver em seu próprio processo criativo”, completa Ratier.
PRESENCIAL E ON-LINE
O artista conta que os três cursos foram programados de forma híbrida, com aulas presenciais e on-line, em esquema de rodízio de alunos.
“A abordagem da história da arte foi desde a técnica mais clássica do esfumato de Leonardo Da Vinci até a colagem e a pintura matérica mais conceitual”, diz Kaio.
“A modelagem da argila e o descobrimento do processo que é transformar uma escultura de argila em cerâmica foram bastante importantes para os alunos, assim como as noções de luz e sombra para representação do volume até o traço do giz pastel oleoso”, complementa.
DESTAQUES
Entre as criações que mais lhe impressionaram, Kaio Ratier cita o óleo “Ossos do Ofício I”, da aluna Ana Rita, que aborda uma crítica ao ideal de beleza imposto pelas grandes marcas da indústria da moda.
Já Tatiana Maganha, que também costuma praticar a fotografia artística por conta própria, ficou vidrada nos trabalhos da tatuadora Thalia.
Com uma abordagem contundente da condição feminina, a body-artist fez os cursos de “Expressão em Desenho” e “Modelagem e Cerâmica”.
Após o recesso, a exposição fica em cartaz até 31 de janeiro, com entrada franca. Horários: segundas e sextas-feiras das 8h às 17h; terças, quartas e quintas-feiras das 12h às 21h.
“O Traço, A Mancha e A Queima”
Onde: Sesc Cultura, localizado na Avenida Afonso Pena,
nº 2.270 – Centro.
Mais informações: (67) 3311-4300, ou pelo WhatsApp (67) 3311-4417.


A maior estátua de Nossa Senhora de Fátima do mundo foi inaugurada recentemente em Crato, no Ceará. Com 54 metros de altura, a imagem supera o tamanho do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, que tem 38 metros. Ela foi esculpida pelo artista Ranilson Viana, de Petrolina, em Pernambuco. Lá, o escultor moldou as peças gigantes, que começaram a ser transportadas para o município cearense em outubro de 2024. Segundo a prefeitura de Crato, todos os caminhões envolvidos na logística precisaram ser escoltados em razão do imenso tamanho das peças. A nova escultura deverá reforçar o turismo religioso na região conhecida como Cariri.
André Salineiro e Isabel Salineiro
Winnie Bastian
Foto: Instagram / Divulgação


