O audiovisual brasileiro tem um jeito muito peculiar de abordar a temática das drogas.
Geralmente, o uso decadente e o tráfico envolvem a parcela mais pobre da população. Ou então, mostra-se uma visão glamourizada do uso recreativo por jovens de classe média.
Dispostos a rever esses estereótipos, os roteiristas George Moura e Sergio Goldenberg querem mostrar na série “Onde Está Meu Coração” a problemática por um viés realista e familiar.
“A droga não diferencia cor, religião e muito menos classe social. São vidas viradas do avesso e adoecidas, tanto do dependente quanto dos que se relacionam com ele”, avalia Goldenberg.
Pensada exclusivamente para o Globoplay e sucessivamente adiada por conta da pandemia, o forte apelo da produção acabou garantindo uma estreia especial na faixa “Tela Quente” da próxima segunda, dia 3 de maio, na Globo.
Em seguida, os 10 episódios completos estarão disponíveis para os assinantes do serviço de “streaming”.
A ideia de “Onde Está Meu Coração” surgiu na cabeça de Goldenberg em uma rotineira manhã de 2018.
Ao deixar a filha na escola, na Zona Sul do Rio de Janeiro, observou um jovem de origem visivelmente abastada, onde a boa vestimenta contrastava com os olhos transtornados e os pés descalços.
A imagem ficou na sua cabeça e logo foi discutida com George. Assim, formou-se mais um capítulo da frutífera parceria que já rendeu títulos como “Amores Roubados”, “O Rebu” e “Onde Nascem Os Fortes”.
“Encontramos no vício uma forma trágica e forte de falar sobre relações familiares”, analisa George.
Na trama, Amanda, de Letícia Colin, é uma médica residente, de classe média alta, séria e dedicada a seus pacientes.
Porém, a pressão da realidade do hospital público em que trabalha e as expectativas da família geram uma forte angústia na jovem.
Nos momentos de fuga da realidade, ela e o marido, Miguel, de Daniel de Oliveira, gostam de experimentar coisas novas e ilícitas.
Em um desses arroubos de “diversão”, acabam embarcando na viagem do crack.
Ele mantém o controle sobre si mesmo, mas Amanda acaba entrando no trágico espiral da dependência.
“De repente, Amanda já não tem mais domínio sobre si mesma. Ela é roubada de sua própria vida e começa a enfrentar a luta para tentar se manter minimamente lúcida e saudável”, destaca Colin.
Quando a médica perde o controle, as contradições familiares também vêm à tona.
Seus pais, a executiva Sofia e o médico David, papéis de Mariana Lima e Fábio Assunção, divergem sobre qual tipo de tratamento a filha deve encarar.
As constantes brigas expõem um casamento corroído pelo tempo e recheado de segredos que podem colocar tudo a perder.
“Essa família, que era superfeliz, precisa enfrentar seus próprios dramas. O David é um sujeito muito pragmático e frio, mas terá de reconhecer os próprios sentimentos para poder ajudar a filha e salvar o casamento”, conta Assunção.
Em cena, Fábio e Mariana reeditam, 25 anos depois, a parceria de sucesso de “O Rei do Gado”, onde ele era o rebelde Marcos e ela a insegura Liliana.
“O Fábio foi um parceiro incrível, me recebeu com carinho e cuidou para que minha entrada no mundo da Globo não fosse tão árdua. A série é nosso reencontro perfeito”, elogia Mariana.
Gravada ao longo do primeiro semestre de 2019 em diversas locações da cidade de São Paulo, “Onde Está Meu Coração” foi mais um texto de Goldenberg e Moura feito na medida para a direção de José Luiz Villamarim.
Entretanto, ocupado com as gravações de “Amor de Mãe”, o diretor acabou sugerindo à dupla que a série deveria ter o olhar feminino de Luísa Lima, nome em ascensão dentro da Globo.
Depois de integrar diversas equipes de direção sob a batuta de nomes como Denise Saraceni, Dennis Carvalho e, em especial, do próprio Villamarim, a série marca sua estreia como diretora artística.
“Tenho a preocupação em olhar para esses personagens tentando compreender suas questões, suas dificuldades, seus fracassos, sem julgamento. Não vamos aliviar a droga, nem glamourizar seu uso, mas desejamos gerar empatia com o público”, explica Lima.

Helio Mandetta e Maria Olga Mandetta
Thai de Melo


