Quando o isolamento social começou a ser aplicado, houve quem apostasse no aumento dos divórcios. Afinal de contas, marido e mulher que antes eram acostumados a conviver em pequenas porções de seus dias passaram a estar juntos horas a fio, expondo diferenças e gerando conflitos. Isso levou muitos a sentarem juntos no divã sob a mediação de um psicólogo para tentar salvar o relacionamento.
“A vida em isolamento não tem sido fácil para ninguém. Para muitos casais então, compartilhar a vida de forma tão intensa tem sido um verdadeiro desafio”, disse ao Correio do Estado a terapeuta de casais Luana Caroline Nunes da Silva.
Na lista das reclamações mais frequentes estão o próprio aumento na convivência, a dificuldade de lidar com as diferenças, falta de diálogo, monotonia e falta de individualidade.
Apesar da pandemia ter dado um “empurrão” a mais, a procura pela terapia de casais tem aumentado nos últimos tempos, conforme Luana, graças a quebra de certos preconceitos de que a medida realmente funciona.
“Nós temos a cultura da psicoterapia individual e a psicoterapia de casal ou grupo às vezes causa medo de exposição na frente do outro com a ajuda de um terceiro”, afirmou à equipe de reportagem Camila Soares, mestre em psicológica clínica pela Universidade de São Paulo (USP).
A terapia de casal tende a oferecer um ambiente propicio para que o casal possa colocar as questões que mais o incomodam para juntos buscarem saídas para os problemas.
O problema, segundo Camila, é que muitas pessoas ainda carregam a ideia de que a terapia de casal é a última esperança na tentativa de salvar o casamento.
“Normalmente as pessoas estão tão cansadas dos próprios conflitos que a disponibilidade de mudança acaba prejudicada. É como se a pessoa não tivesse mais energia para investir na relação”, afirmou a mestre em psicológica clínica.
Luana acrescenta que, na realidade, o casal sequer precisa estar em “pé de guerra” para buscar esse tipo de ajuda. “Pode ser pensada de forma preventiva, quando percebem que a relação está passando por dificuldades”, afirmou a psicóloga ao Correio do Estado.
E FUNCIONA?
O sucesso do tratamento está atrelado ao desejo que ambos têm de fazer dar certo, a minimização dos conflitos e relação mais satisfatória para ambos com espaço para uma comunicação mais reflexiva e assertiva, diz Luana.
Porém, é preciso fazer uma ressalva: nem sempre o casal termina o processo juntos, esclarece Camila.
“O sucesso é quando o casal encontra o que buscava. A psicoterapia ajuda o casal a perceber, entender e enxergar o que está acontecendo e a partir disso fazer uma escolha: seja pela continuidade ou não”, pontua a mestre em psicologia clínica.
QUEM PROCURA MAIS?
No consultório de Luana, a procura tem sido maior de casais jovens, com pouco tempo de casados e até que ainda se encontram namorando.
“Em minha concepção, não existe necessariamente um período exato para que essa crise ocorra, depois de algum de tempo de relacionamento as divergências vão aparecendo e se tornando mais incômodas”, afirma.
Ou seja, para quem ainda duvidava, o serviço não apenas existe como é uma importante ferramenta, especialmente para quem passou a conflitar com o companheiro durante o isolamento.
A grande questão é que ambos precisam estar dispostos a participar e a mudar para que o efeito seja o esperado.

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